quarta-feira, 28 de setembro de 2011

AFINAL, O QUE SÃO AS DAMAS DE BRANCO?




ANTÓNIO TOZZI, Miami – DIRETO DA REDAÇÃO

Miami (EUA) - Enquanto o mundo discute a formação do Estado da Palestina – que, para mim, já deveria existir há muito tempo-, os jovens velhos cubanos dão mais uma mostra que não perceberam que o tempo passou e o mundo evoluiu. São jovens velhos mesmo. Autointulam-se membros da União de Jovens Comunistas, mas, na verdade, não passam de jovens com ideias velhas, porque, convenhamos, ninguém com ideias arejadas pode ainda acreditar em comunismo. Sobretudo no comunismo à moda cubana.

Pois não é que estes “jovens”, integrantes da tropa de choque castrista, foram valentes e impediram a manifestação de 35 senhoras que formam o grupo Damas de Branco, o qual denuncia, de maneira pacífica, os excessos do governo cubano por manter presos dissidentes que ousam criticar Castro e seus camaradas. Aliás, os tais “simpatizantes” devem mesmo ser funcionários públicos ou parentes deles – os únicos que não querem perder a boquinha porque senão terão de começar a trabalhar e ganhar o suor com o próprio rosto em vez de viver de futricas e dedodurismo contra os opositores.

A líder das dissidentes Damas de Branco, Laura Pollán, e as demais 35 mulheres foram hostilizadas, neste sábado, em Havana, por 300 seguidores do regime para impedi-las de realizar uma caminhada até a igreja onde comemorariam o dia da Virgem das Mercedes, padroeira dos presos. Os estudantes universitários e membros da União de Jovens Comunistas cercaram a casa da líder do grupo e empurraram e bateram em outras mulheres. Segundo Laura, “são sempre os mesmos, que seguem ordens de cima, não o povo que sofre sob o domínio dos governantes”.

O governo acusa as Damas de Branco e os demais opositores, de serem mercenários a serviço dos Estados Unidos e de provocar desordens para mostrar um suposto aumento da repressão, além de manter as provocações, apesar de 130 presos políticos terem sido liberados entre julho de 2010 e março de 2011 com a intermediação da Igreja, comandada pelo cardeal Jaime Ortega.

A oposição, por sua vez, garante que houve um aumento da repressão e protesta contra a manutenção mais de 500 presos políticos, e das contínuas prisões como a de três dissidentes detidos neste sábado em Havana quando iam a uma reunião.

Na verdade, este regime apenas se mantém às custas de repressão porque o povo já cansou da falta de liberdade. E os governantes convenientemente se escudam nos EUA para justificar as condições de vida do povo cubano. A economia vai mal? Culpa dos EUA. Falta comida? Culpa dos EUA. Ou seja, Cuba é incapaz de manter o que promete simplesmente por ter sido vítima da queda do Muro de Berlim. Antes, Fidel Castro conseguia enganar porque os soviéticos pagavam um preço irreal pelos artigos produzidos em Cuba, como açúcar e tabaco, mascarando a ineficiência produtiva da ilha. Agora, ao participar do mercado mundial, ficou escancarada a falta de competitividade do país, e os irmãos Castro ficam suplicando ajuda ao Brasil, à Venezuela e à China e a outros países numa tentativa de evitar o caos total.

Eles condenam o embargo comercial promovido pelos EUA como o grande vilão. Aqui, cabem alguns esclarecimentos: 1) o embargo só é mantido porque nenhum governante americano quer irritar os cubanos da Flórida que, equivocadamente, acham que isto serve como ajuda ao regime. Não é verdade, o principal punido é o próprio povo cubano; 2) o embargo não tem mais razão de ser após o final da Guerra Fria. O governo americano deveria suspender o embargo e resgatar o povo cubano daqueles governantes ineptos e dogmáticos.

Tão dogmáticos como parte da comunidade cubana que aqui vive. Imagine só que alguns exilados queriam proibir a apresentação do cantor Pablo Milanés pelo simples fato dele ser simpatizando do regime cubano – embora o artista não tenha poupado críticas a Fidel Castro em Miami, para surpresa de muita gente. Ou seja, os dois lados são extremamente radicais.

Outra bobagem repetida à exaustão – e na qual muitos acreditam – é o fato de que Cuba resistiu ao ataque dos EUA. O episódio da Baía dos Porcos não passou de uma aventura mal sucedida de alguns exilados cubanos que foram à ilha a bordo de avionetas para tentar derrubar Fidel Castro contra o desejo dos irmãos John e Bob Kennedy que não queriam provocar a então poderosa União Soviética. Se os EUA tivessem enviado mesmo suas Forças Armadas, Cuba seria dominada em um dia e o regime derrubado em poucas horas. Isto até parece o canto da carochinha para comunista dormir…

*Foi repórter do Jornal da Tarde e do Estado de São Paulo. Vive nos Estados Unidos desde 1996, onde foi editor da CBS Telenotícias Brasil, do canal de esportes PSN, da revista Latin Trade e do jornal AcheiUSA

«O colectivo de hoje faz vénia aos poderosos de dinheiro e influentes na política» - Gusmão




Eduardo Pedrosa Marques – A Bola

Durante a cerimónia de atribuição do Grau de Honoris-Causa, o primeiro-ministro timorense manteve a toada crítica no seu discurso perante as injustiças sociais:

«O indivíduo, como o colectivo de hoje, ficou reduzido ao automatismo do pensar e tornou-se adicto à droga do marketing. O colectivo de hoje encontra-se estilizado nos mais altos ideais da ditadura moderna que faz vénia aos poderosos de dinheiro e influentes na política. As empresas de armamento arrecadam triliões de dólares de lucro com as guerras que não perspectivam um final decisivo, em tempos menos próximos. Há milhões de seres humanos que estão sob a ameaça de morrerem de fome.»

Xanana Gusmão expressou sentimentos, dando o mote para o caminho que entende ser o correcto para o futuro:

«No mínimo, tenho a liberdade de pensar em voz alta que os indivíduos no poder perderam o sentido humanista no tratamento dos problemas do colectivo. No mínimo também, não estou impedido de perceber que a decisão desses indivíduos ficou enjeitada nos volumosos relatórios dos proeminentes grupos prestigiados por analisar outros. E responsabilizar os outros somente os outros. Os jovens de hoje são a promessa do futuro.
 
Um futuro necessariamente diferente, de maior humanismo e de maior justiça social, de maior respeito mútuo e de verdadeira paz. Esse futuro já deveria ter tido o seu início… como reparação do presente!

Nota de Página Global

Algumas postagens mais em baixo, a seguir, compreenderá que este PM timorense mente com quantos dentes tem. Caso contrário não teria a atitude antidemocrática, intolerante, mal educada e de ditador, que poderá ler na descrição reportada, em que abandonou uma assembleia dos estudantes timorenses em Coimbra, a que presidia... por não estar disposto a ouvir o discurso de um timorense, que mal o havia iniciado. Este comportamento boçal não é surpresa, mas, uma vez mais, fica para os mais ingénuos e idolatras o cair da máscara de um enorme farsante. (AV)

VIGÍLIA EM LISBOA CONTRA “CEGUEIRA ABSOLUTA” DE PORTUGAL SOBRE ANGOLA




HUGO TORRES - PÚBLICO

José Eduardo Agualusa critica "postura idiota" de empresários

Solidariedade e democracia foram duas palavras muito repetidas na “vigília por Angola” que, ao final da tarde desta quarta-feira, juntou cerca de 50 pessoas no Rossio, em Lisboa. “O objectivo não era ter muita gente”, era “despertar consciências” e impedir que os recentes acontecimentos no país degenerem em mais violência.

“Não podemos deixar que o nosso silêncio permita banhos de sangue em Angola”, disse ao PÚBLICO Jorge Silva, vice-presidente da associação Solidariedade Imigrante, uma das entidades organizadoras da vigília. “Está na hora de José Eduardo dos Santos e o MPLA respeitarem os direitos democráticos do povo angolano.”

A 3 de Setembro, reivindicações idênticas nas ruas de Luanda levaram 18 pessoas a serem detidas e mais tarde condenadas a penas de prisão de 45 dias a três meses, por desobediência, resistência e ofensas corporais.

”O MPLA pode manifestar-se, mas um punhado de jovens faz tremer o regime ao ponto de o fazer usar uma violência desmedida”, lamentou Jorge Silva. “É importante erguer a nossa voz para que em Angola não se continue a reprimir. As manifestações têm de se fazer antes de haver um banho de sangue – e não depois”, observou.

As prisões “não foram um bom sinal”, sublinha José Eduardo Agualusa. O escritor angolano, que esteve no Rossio, alertou para a “possibilidade duma explosão de violência, grande e descontrolada”. “Angola é mais instável do que era a Líbia ou o Egipto. A situação é mais dramática – o fosso [entre ricos e pobres] é maior.”

José Eduardo Agualusa acredita que há algumas semelhanças com os países das revoltas árabes. Eduardo dos Santos (o líder há mais anos no poder, 33), defendeu, “ainda vai a tempo de abandonar o poder com dignidade, preservando a sua fortuna pessoal e contribuindo para o desenvolvimento do país como empresário”.

A Portugal, o escritor não poupou críticas: “Tem sido sempre muito tímido. Porta-se, desde sempre, muito mal. A posição de Portugal é de grande submissão ao regime angolano. Agora, mais ainda”. Agualusa refere-se às crescentes relações comerciais da “sociedade civil” com Angola. O que, diz, constitui “uma postura idiota”.

“Se houve algo que as revoltas na Líbia, no Egipto e na Tunísia nos mostraram, foi que as ditaduras não são assim tão estáveis. E talvez não sejam o lugar mais apropriado onde investir”, avisa. “Não há sequer a tentativa de perceber o que se está a passar em Angola. A cegueira é absoluta.”

“Contra isto é muito difícil lutar”

A associação Solidariedade Imigrante e José Eduardo Agualusa foram apenas dois dos responsáveis pela vigília desta quarta-feira. A lista de promotores conta ainda com Os Amigos do Bloco Democrático em Portugal, a Associação Tratado de Simulambuco – Casa de Cabinda e a SOS Racismo. Mas alguns dos panfletos distribuídos foram deliberadamente adulterados.

“Alguém pegou nos panfletos e manipulou-os: retirou a Solidariedade Imigrante e introduziu o nome do Rafael Marques. E enviou-os assim, por e-mail”, contou Jorge Silva, sugerindo ao PÚBLICO que o autor da falsificação a fez de má-fé. Rafael Marques, activista e jornalista angolano, telefonou esta manhã a Jorge Silva a pedir explicações, que lhe disse tratar-se de uma manipulação alheia à organização da vigília.

Ao lado do vice-presidente da Solidariedade Imigrante, uma mulher desabafou: “Contra isto é muito difícil lutar”.

“JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS DEVE ABANDONAR O PODER” - Agualusa





O escritor angolano José Agualusa afirmou hoje que o presidente José Eduardo dos Santos deve abandonar o poder e iniciar um processo democrático, durante um encontro em Lisboa que juntou vários angolanos, como o ativista Rafael Marques.

"O presidente ainda está a tempo de abandonar o poder e retomar o processo democrático. Ele pode sair preservando a sua honra e a sua fortuna pessoal. Pode contribuir para o desenvolvimento do país como empresário", disse o escritor à Agência Lusa.

José Agualusa fez parte de um grupo de cerca de duas dezenas de pessoas que se juntou esta tarde no Rossio, em Lisboa, para participar numa vigília de solidariedade com os 21 jovens angolanos detidos em Luanda a 3 de Setembro.

Numa alusão às recentes revoluções ocorridas nos chamados países da "primavera árabe" (Tunísia, Egito e Líbia), José Agualusa referiu que o fosso social é muito maior em Angola do que era na Líbia e que o regime é muito mais frágil, embora menos autoritário.

"O facto de ser menos autoritário deixa margem para que as pessoas respirem e explica que até agora não tenha havido uma explosão social, mas as condições para isso acontecer estão lá", alertou.

Presente na iniciativa esteve também o ativista e jornalista angolano Rafael Marques, que em declarações à Agência Lusa afirmou que as recentes manifestações em Luanda representam uma tomada de consciência das pessoas para os problemas do país.

"Representam [as manifestações] uma tomada de consciência dos angolanos. É fundamental que os angolanos saibam gerar solidariedades para que as mudanças que são necessárias para o bem do país ocorram de forma pacífica", afirmou.

O activista sublinhou que a atitude dos jovens manifestantes foi um exercício de liberdade e de expressão e que por isso não devem permanecer presos.

"Quando chegar a Luanda vou visitá-los à cadeia. Só assim teremos uma verdadeira democracia e estabeleceremos elos de solidariedade entre todos aqueles que lutam pela liberdade", sublinhou.

No dia 3 de Setembro, dezenas de jovens foram detidos durante uma manifestação contra o presidente angolano, José Eduardo dos Santos. Dos 21 que foram julgados, 18 foram condenados a penas entre os 45 e os 90 dias de prisão efetiva.

Outros 27 jovens que haviam sido detidos no dia 8, quando apoiavam os que estavam a ser julgados, foram todos absolvidos.

*Foto em Lusa

Xanana Gusmão abandonou reunião com estudantes timorenses instantes depois do seu início




JEE - LUSA

Coimbra, 28 set (Lusa) -- O primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, abandonou hoje à tarde um encontro com timorenses que estão a estudar em Portugal, poucos instantes depois do início da reunião, na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (UC).

Xanana Gusmão saiu da sala quando um timorense que vive "em Portugal há 30 anos", mestrando em Ciências Jurídicas naquela Faculdade, Gaspar da Costa Sobral, afirmou, no início da sua intervenção, que "os discursos de ocasião são muito bonitos", mas "o que é preciso é uma política de educação".

O primeiro-ministro de Timor-Leste levantou-se da mesa em que presidia à sessão, com a presença de cerca de uma centena de timorenses, dirigiu-se a Gaspar da Costa Sobral e, depois de lhe dizer que não estava ali "para ouvir políticas", saiu da sala, em passo acelerado.

Enquanto se dirigia para o exterior do edifício, para tomar, de imediato, a viatura em que seguiu para Lisboa, onde encerra na quinta-feira a visita a Portugal, Xanana Gusmão, foi acompanhado, além da sua comitiva, por muitos dos participantes da reunião, que o tentavam "acalmar" e "demovê-lo da sua decisão", mas em vão, sem sequer obter qualquer palavra do chefe do governo de Timor-Leste.

Na mesa da sessão, além de Xanana Gusmão, estavam também os ministros da Educação e dos Negócios Estrangeiros timorenses (o titular da pasta das Infraestruturas estava entre a assistência), a embaixadora deste país em Lisboa e o reitor da UC.

Depois de uma breve intervenção do presidente da Associação de Estudantes Timorenses em Coimbra (AETC), Ivo Pinto, a embaixadora de Timor-Leste em Portugal apelou aos participantes para colocarem as suas perguntas de forma muito breve e objetiva, para ser possível esclarecer a maior quantidade possível de questões.

Surgiu então a intervenção de Gaspar da Costa Cabral, em função da qual Xanana Gusmão abandonou a reunião, que tinha sido iniciada cerca de cinco minutos antes, deixando a generalidade dos presentes "surpreendidos" e divididos entre apoiantes e críticos daquela decisão.

"Não esperava esta atitude do Primeiro-Ministro, que está a construir com dificuldade uma democracia em Timor", mas não pode ter comportamentos "anti-democráticos" como este, disse à Agência Lusa Gaspar da Costa Sobral.

Gaspar da Costa Sobral "cometeu um erro, mas eu não estava à espera" desta reação de Xanana Gusmão, considerou Ivo Pinto, que "sobretudo", ficou "surpreendido e muito triste".

O encontro deveria ter servido para "os estudantes timorenses em Coimbra colocarem as suas questões e propostas e ouvirem os planos do ministro da Educação", acrescentou o líder da AETC, lamentando o desfecho da reunião.

Igualmente instado pela Agência Lusa, o reitor da UC, João Gabriel Silva, considerou o episódio uma "questão interna de Timor-Leste", que "não põe minimamente eu causa os objetivos" desta deslocação de Xanana Gusmão a Coimbra.

"No que diz respeito à UC, correu muitíssimo bem", salientou o reitor, recordando que o principal objetivo da atribuição, por esta instituição, do título de doutor 'honoris causa' ao primeiro-ministro de Timor-Leste (cuja cerimónia decorreu na manhã de hoje) é "o reforço das relações" daquele país com Portugal e de "defesa da língua portuguesa".

O que está em causa, sustentou João Gabriel Silva, "é o espaço lusófono" e a "universalidade da língua portuguesa" que, sem Timor-Leste, ficaria reduzida a "um assunto quase só atlântico".

*Foto em C Notícias

CENÁRIO ECONÓMICO MUNDIAL “NÃO ASSUSTA, SÓ REVOLTA” – Xanana Gusmão




JLS - LUSA

Coimbra, 28 set (Lusa) -- O primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, hoje distinguido com o título de doutor 'Honoris Causa' pela Universidade de Coimbra, defende que todos os países são responsáveis por mudar o cenário económico mundial.

"Todos nós temos uma quota-parte na mudança deste cenário mundial que não assusta, só revolta", disse Xanana Gusmão aos jornalistas, após a cerimónia que decorreu na Universidade de Coimbra.

O chefe do Governo timorense frisou que um grupo de 17 países subdesenvolvidos, em que Timor-Leste se integra, está a "levantar uma voz para ser ouvida pela comunidade internacional" sobre a eficiência da ajuda aos países pobres e necessitados.

"Nós os pequenos, nós os pobres, nós os afetados por conflitos, afetados por erros, por incapacidade de construir um Estado democrático, uma sociedade tolerante, estamos a juntar a voz. E posso dizer que estamos a ser ouvidos", disse o chefe do Governo timorense.

"A discussão deve ser permanente", adiantou.

Questionado sobre se, nos dias de hoje, ainda se considera um resistente, admitiu que sim, definindo a resistência como "um espírito de desejo de mudança".

Sobre os problemas económicos a nível mundial, Xanana Gusmão frisou que enquanto a Europa e os Estados Unidos atribuem culpas recíprocas sobre a situação, aos países subdesenvolvidos cabe cumprir as regras oriundas do que classificou como uma "balança de poderes e influências".

"Somos nós sempre os culpados, somos nós que temos de obedecer a todas as regras", disse.

Sobre a distinção 'Honoris Causa' pela Faculdade de Letras de Coimbra afirmou sentir-se "pequeno, mas muito honrado".

"Devo confessar que nunca esperei, sinto-me levado a um cume demasiado alto", sublinhou Xanana Gusmão.

*Foto em A Bola

VIVAM SEM COMER E MORRAM SEM DAR DESPESA




ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA

Quatro em cada dez portugueses admitem fazer cortes no orçamento familiar para poderem comprar medicamentos em resultado do novo regime de comparticipação dos fármacos.

Dito assim, até parece que os portugueses o fazem de livre vontade. Mas, na verdade, eles são obrigados a isso, tal como são obrigados a outros cortes, desde logo optando por aprender a viver sem comer.

O barómetro "Os portugueses e a saúde", que será divulgado amanhã, revela que os cortes na compra de medicamentos passaram de 4,5% para 14,5%.

Segundo o estudo, cujo conteúdo nunca será lido pelos ministros deste governo (por óbvia, entenda-se, falta de tempo), 1,2 milhões de portugueses afirmam que tais cortes implicarão deixar na farmácia alguns dos medicamentos necessários, sendo a população idosa, não activa, com níveis de instrução mais baixos a mais atingida com tal medida.

E tudo se deve, lamentavelmente, ao facto de os portugueses ainda não terem percebido os nobres, altruístas e beneméritos intentos do Governo quando sugere (impõe, vá lá) que os cidadãos vivem sem comer e morram sem ficar doentes.

Nesta altura, se calhar os portugueses estão tentados a dizer que estão entregues à bicharada. Mas não é assim. Desde logo porque a bicharada não gosta de se alimentar de corpos esqueléticos, famintos e em estado terminal.

Acresce que, mais uma vez bem, o Governo continua a dar sobejos exemplos de que também está a apertar o cinto. Convém não esquecer, por exemplo, que os membros da equipa de Passos Coelho também faz greve de fome para ajudar a pôr o país em e na ordem. É claro que só o fazem entre as refeições, mas já é alguma coisa.

Recordam-se de a então ministra da Saúde de Portugal, Ana Jorge, ter apelado no dia 2 de Junho do ano passado às famílias portuguesas para fazerem “sopa em casa” em vez de gastarem em “fast food”, aproveitando a necessidade de contenção económica e como forma de combater a obesidade?

“É bom que as pessoas deste país tenham a noção que a obesidade implica um tratamento sério e alteração de comportamentos, desde que se nasce, ou melhor, até durante a gravidez”, realçou a então ministra (hoje deputada), acrescentando que “é necessário modificar os comportamentos alimentares e de sedentarismo que as pessoas estão a ter” em Portugal.

Melhor do que comer sopa é, e um dia destes ainda vamos ver o actual primeiro-ministro a falar disso, fazer o mesmo que o indiano Prahlad Jani que – diz ele e até tem testemunhas ditas credíveis - não come nem bebe há mais de 70 anos.

Até agora, sobretudo porque os portugueses são uns desmancha-prazeres, os resultados em Portugal não são animadores. Todos os que tentaram seguir, por correspondência, o método de Prahlad Jani estiveram muito perto mas, quando estavam quase lá... morreram.

*Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Espanha: DESCOBERTA VALA COMUM COM 600 CORPOS DE VÍTIMAS DO FRANQUISMO




DESTAK - LUSA

Uma vala comum com cerca de 600 corpos de vítimas do franquismo foi descoberta em Jerez de La Frontera, na região da Andaluzia, sul de Espanha, anunciou hoje uma das associações que investiga as vítimas da ditadura espanhola.

A descoberta, anunciada pelo Fórum para a Memória, está a ser considerada a segunda mais importante descoberta do género até ao momento em Espanha, depois de uma vala comum descoberta em 2008 na região de Málaga com 2.840 corpos.

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Timor-Leste: REFORMA NO ENSINO BÁSICO PRETENDE ABOLIR LÍNGUA PORTUGUESA




TIMOR DIGITAL – reposição em Página Global

«Combate à iliteracia»

Díli – O Conselho de Ministros timorense está a preparar o diploma legal, com vista a eliminar a Língua Portuguesa do sistema de ensino básico em Timor-Leste. A medida não é consensual dentro do Executivo de Xanana Gusmão.

A manutenção do português como língua oficial do país volta a ser questionada no seio da sociedade timorense, numa altura em que se começam a vislumbrar as bandeiras dos partidos políticos tendo em vista as eleições de 2012. Uma fonte próxima do Governo garante que a reforma no ensino básico tem vindo a provocar desentendimentos políticos que poderão ameaçar a coligação que sustenta a Aliança da Maioria Parlamentar (AMP).

Xanana Gusmão e Kirsty Gusmão, Embaixadora da Boa Vontade para a Educação e esposa do Primeiro-Ministro, têm sido os principais promotores da ideia que poderá estar no centro do debate político das próximas eleições.

A estratégia que conta com o apoio do Instituto Nacional de Linguística e do Conselho Nacional de Educação, poderá relançar a questão linguística no centro do debate e ameaçar a própria maioria que suporta o actual Governo.

O combate à iliteracia constitui o forte argumento apontado para a reforma que Xanana Gusmão pretende avançar. No entanto, tal estratégia para a educação é apontada por «muitas vozes» como potenciadora da fragmentação linguística de Timor-Leste e como uma cedência ao lobby anglo-saxónico.

Ironicamente, a AMP, que defendeu a utilização do Português junto da ONU e da União Europeia e que votou favoravelmente à utilização da língua de Camões pelo menos uma vez por mês no Parlamento de Timor-Leste, será a responsável por tal medida que inevitavelmente afasta os jovens de uma das línguas oficiais do país.

Esta medida pode pôr em causa o envio de mais de uma centena de professores de português, que nos últimos anos têm vindo a assegurar o ensino da língua aos professores timorenses do primeiro ciclo. Esta vertente da cooperação tem absorvido grande parte do esforço orçamental que Portugal reserva para Timor-Leste, principal destinatário da cooperação portuguesa no seio da CPLP.

O Governo da oitava nação a adoptar o Português como língua oficial, pode assim abrir caminho para que as gerações mais jovens, que falam principalmente Tétum e Indonésio, deixem de se expressar em Português.

(c) PNN Portuguese News Network – em 2011-08-09 18:22:53

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Universidade: Xanana Gusmão regressou a Coimbra para doutoramento honoris causa





Foi com “incontrolável emoção” que Xanana Gusmão recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade de Coimbra. Depois da surpresa da notícias, chegada por SMS – e recebida com um singelo “não, não pode ser – , o símbolo maior da resistência timorense regressou a Coimbra e voltou a sentir “a consciência vagante do aluno ‘ad eternum’ da Faculdade de Direito”.

O discurso de Xanana na cerimónia centrou-se nas críticas à globalização e aos líderes mundiais. “Um dos elementos que avivaram a chama da resistência, no país que me fez indivíduo, foi o slogan de uma nova ordem mundial. Quatro décadas depois, a nova ordem mundial ficou subordinada à globalização de ideias, políticas, regras e critérios formuladas por um pequeno grupo de indivíduos… numa globalização real da… atrofia das mentes”, começou por dizer.

“Hoje, o mundo perdeu o rumo (…) a liberdade ficou subjugada pelos interesses dos poderosos, a democracia violentada para a defesa dos mais fortes, os direitos humanos espezinhados pelos interesses económicos e a justiça restrita aos segmentos mais frágeis de coletivos”, acrescentou.

“O mundo necessita de coragem para romper as barreiras dos interesses que, pretensamente globais, conduzem a atos de injustiça”, concluiu.

Xanana lamentou ainda que os indivíduos – como o coletivo de hoje – continuem “subdesenvolvidos, porque ou lhe pagam para não produzir ou não tem emprego e lhe negam oportunidades”. O resultado está à vista: “milhões de seres humanos estão sob a ameaça de morrerem de fome”.

No final, ficou uma mensagem de otimismo: “os jovens de hoje são a promessa do futuro. Um futuro necessariamente diferente, um futuro de maior humanismo e de maior justiça social, um futuro de maior respeito mútuo e de verdadeira paz… em todo o globo e para todos os seres humanos. E esse futuro já deveria ter dado início… como reparação do presente!”

Xanana Gusmão foi recebido na Universidade de Coimbra de forma calorosa por alguns alunos timorenses. Na cerimónia marcaram presença algumas figuras importantes de Coimbra, de Portugal e de Timor, como D. Ximenes Belo, Nuno Crato (ministro da Educação), Almeida Santos (antigo presidente da Assembleia da República) ou Barbosa de Melo (presidente da Câmara de Coimbra).

A atribuição do grau de doutor honoris causa a Xanana Gusmão, pela Faculdade de Letras, foi proposta por Eduardo Lourenço. O elogio ao apresentante esteve a cargo de Sousa Ribeiro e a apresentação de Xanana foi feito por José Augusto Cardoso Bernardes.

José Augusto Cardoso Bernardes lembrou que a “parcimónia” com que a Faculdade de Letras atribui esta distinção, tendo apenas aberto, até agora, duas exceções para distinguir Vergílio Ferreira e José Saramago. Voltou a fazê-lo com Xanana. “E tem boas razões para tanto”, considera: “trata-se, em primeiro lugar, de uma personalidade portadora de um crédito político da maior relevância: impediu a absorção do seu país por uma potência vizinha”.

Mas, além de lutador, foi também escritor e pintor, recordou o docente da Faculdade de Letras. “Pelos seus méritos carismáticos e também pelas metamorfoses que atravessou, Xanana Gusmão pode ser considerado um verdadeiro herói do século XX”, declarou.

José Augusto Cardoso Bernardes frisou também o papel de Xanana na escolha do Português como língua oficial de Timor e comparou o líder timorense a Eduardo Lourenço: “celebremos a feliz circunstância de ver hoje lado a lado o incansável lutador do espírito que é Eduardo Lourenço e o lutador cívico que é Kay Rala Xanana Gusmão”.

Já Sousa Ribeiro, além de elogiar o apresentante, falou dos tempos “mais do que nunca difíceis” que a universidade enfrenta. No entanto, apesar das dificuldades, considera deve ambicionar “muito mais do que uma sobrevivência mesquinha e sem horizontes”.

“Momentos como o que estamos a viver nesta sala recordam-nos que essa universidade é possível e que não estamos, na verdade, inapelavelmente condenados ao destino de uma universidade em ruínas”, afirmou.

*Foto em A Bola

Guiné-Bissau: CPLP E CEDEAO SEM ACORDO SOBRE PLANO CONJUNTO




ANGOLA PRESS

Washington - A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e a Comunidade da África Ocidental (CEDEAO) vão continuar a negociar um acordo sobre a concretização do plano conjunto para a Guiné-Bissau, segundo fontes diplomáticas ouvidas pela Agência Lusa.  
 
De acordo com as mesmas fontes junto da ONU em Nova Iorque, esperava-se que o acordo pudesse ser fechado na reunião de segunda-feira do grupo de contacto para a Guiné-Bissau, que teve lugar em Nova Iorque, mas persistem divergências entre as duas organizações em relação ao conteúdo.  
 
De acordo com uma fonte presente na reunião, a CEDEAO pretende ver registado "um papel de maior liderança" na aplicação do plano para a Guiné-Bissau, independentemente da realidade no terreno".  
 
Angola tem-se assumido, em nome da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), como principal ator da reforma das Forças Armadas e polícia guineense, considerada condição essencial para a estabilidade do país.  
 
Na reunião participaram os ministros dos Negócios Estrangeiros e Angola, Nigéria, Guiné-Bissau e ainda o secretário de Estado dos Assuntos Externos de Cabo Verde, além do presidente da CEDEAO e de representantes da União Europeia.  
 
 Na reunião foi feito um ponto de situação por cada um dos presentes e no final divulgado um comunicado, que refere que os membro do grupo internacional de contacto estão a trabalhar para que seja assinado, "no menor espaço de tempo possível", um memorando de entendimento entre CEDEAO, CPLP e Guiné-Bissau para aplicação do roteiro.  
 
"Ainda persistem algumas divergências entre as versões da CPLP e CEDEAO", referiu outra fonte presente na reunião.  

 
Em declarações à Agência Lusa na sexta-feira, à margem do encontro de chefes da diplomacia da CPLP em Nova Iorque, o ministro angolano das Relações Exteriores afirmou que as emendas ao acordo em discussão incluem "como trabalhar para aplciação da reforma das Forças Armadas".  

A Guiné-Bissau "conseguiu, bem ou mal, praticamente preencher um longo período sem crises. É de encorajar, temos de ajudar a consolidar as suas instituições e a reforma do exército é uma delas", adiantou o ministro de Angola, que actualmente preside à organização lusófona. 
 

Brasil: Bombeiros de países de língua portuguesa discutem emergência em grandes eventos





Começa hoje no Recife a 4º Assembléia Geral da União dos Bombeiros dos Países de Língua Portuguesa (UBPLP).

Até o próximo sábado, representantes de Brasil, Portugal,  Cabo Verde, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe, Moçambique, Timor-Leste e Angola.

O objetivo é debater a proteção civil e emergências nos grandes eventos, como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. O encontro acontece no Internacional Palace Hotel, na Avenida Boa Viagem.

A DÍVIDA É ILEGAL E IMORAL




Elaine Tavares - de Florianópolis - Correio do Brasil

No Brasil é assim: tudo pode ser adiado, menos o pagamento das dívidas externa e interna. E isso não é conversa de “esquerdista”. É coisa firmada na lei. Quem explica é Maria Lucia Fatorelli, da Auditoria Cidadã da Dívida. Segundo os estudos feitos pelo movimento que luta por uma auditoria, levantados desde as informações oficiais, só no ano de 2010 o orçamento nacional foi consumido em 44,93% (635 bilhões de reais) para pagamento de juros das dívidas. Isso significa que do bolo todo que o governo tem para gastar quase a metade já nasce morto. Da outra metade que resta para investimentos, o governo gasta apenas 2,89% com educação e 3,91 com saúde. Por conta disso, mais de 60% dos brasileiros não tem água tratada nem saneamento. Isso na sétima economia do mundo.

Diante desses números, Fatorelli mostra como e por que a dívida acaba consumindo o dinheiro que deveria servir para dar uma vida melhor à população. Segundo ela, a Constituição, no artigo 166, estabelece que um deputado só pode pedir aumento no orçamento se indicar de onde virão os recursos. Mas se o aumento do orçamento incidir sobre o pagamento do serviço da dívida isso não é necessário. “Isso configura claramente um privilégio e foi aprovado. Está lá, na Constituição”. Da mesma forma, a Lei de Diretrizes Orçamentárias define que o orçamento deve ser compatível com o superávit, assim como a famigerada Lei de Responsabilidade Fiscal obriga os governantes a cortar gastos no social, mas não os dispensa do pagamento da dívida. Ou seja, a dívida sempre em primeiro lugar, pois, se o governante não pagar, vai preso. “Mas ninguém vai preso se as pessoas morrem nas portas dos hospitais, se as crianças não têm escola”.

Fatorelli explica que o privilégio para o pagamento da dívida segue no desenho das metas da inflação, diretriz de política monetária proposta pelo Fundo Monetário Nacional que é seguida a risca pelo governo brasileiro. Isso se expressou, por exemplo, na criação da taxa Selic, a qual boa parte da dívida esteve e está atrelada. Essa taxa sempre é elevada, cada vez que há um suposto perigo para os investidores. Isso significa que quem investe nos papéis da dívida nunca vai perder.

Conforme Maria Lúcia o governo trabalha com inverdades no que diz respeito à política monetária. Um exemplo é justamente esse de tornar necessário o aumento da taxa Selic para conter a inflação. “Isso não é verdade. Aumentar a taxa Selic não controla a inflação nos preços existentes, porque eles decorrem da privatização. A luz privatizada, a água privatizada, a saúde, etc. O aumento dessa taxa só serve aos que têm papéis da dívida”. Outra conversa furada é a de que o excesso de moeda provoque inflação. “A montanha de dólares que entra no país só acontece porque o próprio governo isenta as empresas multinacionais de imposto. Não é decorrente da circulação de mercadorias reais. É fruto do movimento virtual de papéis”.

A entrada de dinheiro se dá da seguinte forma. Nas operações de mercado aberto (bolsa) que hoje superam meio trilhão de reais, o Banco Central entrega títulos da dívida para os bancos e fica com os dólares. Nessas operações, o Banco Central – que em tese é o Estado brasileiro – só consegue amealhar prejuízos. Em 2009 foram 147 bilhões de prejuízos, em 2010, 50 bilhões e neste primeiro semestre de 2011 já foram 44 milhões. Por conta disso, Fatorelli insiste em dizer que os gestores do Estado são responsáveis sim por essa política que arrocha cada dia mais a vida do povo. Os bancos lucram e o povo é quem paga a conta.

Outra coisa que muito pouca gente sabe  - porque a mídia não divulga – é que todo o lucro das empresas estatais é direcionado, por lei, para pagamento da dívida. O mesmo acontece com os recursos que os estados da federação pagam ao governo central. Toda e qualquer privatização que acontece carrega o valor da venda para pagamento da dívida, assim como os recursos que não são utilizados no orçamento também passam para o bolo do pagamento da dívida.

Maria Lúcia Fatorelli afirma que essa é uma estratégia de manutenção de poder e acumulação que não mudou sequer um centímetro com o governo de Lula ou Dilma. Os papéis da dívida rendendo 12% ao mês são o melhor negócio que alguém pode ter. Tanto que em 2010 houve um acréscimo de mais 12 bilionários no Brasil e desse número, oito são banqueiros. A lógica do pagamento da dívida garante risco zero aos investidores, que são os mesmos que financiam as campanhas eleitorais e patrocinam a mídia. Assim, tudo está ligado.

No meio dessa farra de dinheiro público indo para bolsos privados, há uma ilusória distribuição da riqueza. O governo acena com pequenos ganhos aos pobres, como é o caso da bolsa família. Vejam que esse programa consome apenas 12 bilhões ao ano, enquanto a dívida leva 635 bilhões. O governo também coloca como um grande avanço o acesso das classes C e D a produtos baratos e o acesso a crédito e financiamento. Mas na verdade, o que promove é o progressivo endividamento dessas pessoas. Por outro lado, o Brasil tem um modelo tributário que é um dos mais injustos e regressivos. “Quem ganha até dois salários mínimos tem uma carga tributária bem maior do que os demais trabalhadores. E os ricos, no geral, são isentos de imposto. Já os empresários são frequentemente presenteados com deduções generosas, inclusive sobre despesas fictícias, que nunca foram feitas, enquanto os trabalhadores não podem deduzir do imposto despesas reais como aluguel, remédios, óculos”.

A ilusão de que as contas estão boas também se dá na espalhafatosa decisão de pagar adiantado ao FMI, que trouxe dividendos políticos a Lula, mas acarretou em mais rombos aos cofres públicos, tirando dos gastos sociais para colocar no bolso dos banqueiros. Foi um resgate antecipado de títulos da dívida, feito com ágio de até 70%, para que não houvesse qualquer perda aos investidores.

Agora em 2011 o governo de Dilma Roussef iniciou anunciando o corte de 50 bilhões do orçamento, como um “ajuste necessário”. Faltou dizer, necessário para quem? Para os especuladores. Há que pagar a dívida. O Brasil consome um bilhão de reais por dia no pagamento da dívida. Fatorelli procurar dar uma visão concreta do que seria um bilhão. “Imaginem um apartamento, desses bem finos, que custa um milhão de reais. Um bilhão equivaleria a cem edifícios de 10 andares, sendo um apartamento por andar. É isso que sai do nosso país todos os dias”.  Não é sem razão que enquanto os trabalhadores são massacrados e não recebem aumento salarial, os bancos tenham auferido um lucro de 70 bilhões de reais no ano passado. É a expressão concreta da regra do mundo capitalista: para que um seja rico, alguém tem de ser escravo.

Na verdade o processo da dívida externa e também da dívida interna deveria sofrer uma auditoria e é nessa luta que um grupo de pessoas anda já há algum tempo. Maria Lúcia Fatorelli foi membro da comissão que auditou as dívidas do Equador, quando o presidente Rafael Correa decidiu realmente saber como funcionava o rolo compressor e ilegal da dívida daquele país. Segundo ela, no Equador, comprovou-se que mais de 70% da dívida era ilegal, fruto de anos e anos de acordos espúrios e irresponsáveis, muito parecidos com os que foram feito no Brasil. Correa decidiu não pagar e 95% dos seus credores aceitaram a proposta sem alarde, pois sabiam que se fossem discutir na justiça internacional correriam o risco de ter de devolver muitos bilhões.

Hoje, no Brasil, uma auditoria provaria muitas ilegalidades e até crimes de lesa pátria. Como explicar, por exemplo, que se pague 12% ao mês aos investidores enquanto o Banco Central brasileiro aplica suas reservas em bancos estrangeiros, que pagam juros pífios? Como aceitar que o Banco Central acumule prejuízos enquanto encha as burras dos investidores dos papéis podres? Por isso que a tão falada crise não pode ser vista como uma mera crise financeira. Ela é social e ambiental, pois coloca o salvamento dos bancos acima até da vida do planeta.

Como funciona o esquema dos papéis podres

Há um mito de que no mundo capitalista quem manda no movimento das coisas é o mercado. Ele define tudo, preços, valor, tudo baseado na oferta e procura. Assim, em nome desse mito criou-se a concepção de desregulamentação do mercado. Ou seja, o estado não pode interferir nesse movimento. Assim, o mercado, que é bem espertinho, sem um equivalente concreto de riqueza decidiu criar os famosos papéis podres, ou ativos tóxicos, ou derivativos. E o que é isso? Bom, para entender há que se fazer um bom exercício de abstração.  Imagine que a pessoa compra uma casa e ela vale um milhão. Aí a pessoa define que daqui a um ano ela estará valendo dois milhões, então vai ao mercado de ações e vende dois milhões em papéis. Desses dois milhões, apenas um tem valor real, está ali, consolidado em uma casa real. O outro milhão é fictício. Ele só existe no desejo.  Imagine que venha um furacão e danifique a casa. Lá se vai aquele milhão em papel podre, e quem comprou esses papéis perde tudo que investiu. Foi mais ou menos isso que aconteceu na crise imobiliária estadunidense.

Agora imagine que os bancos fazem isso todos os dias. Eles jogam ações no mercado e não precisam provar que essas ações têm uma correspondência real. Os derivativos são nada mais nada menos do que apostas. O mercado sabe que é uma aposta, e para não perder ele estabelece um seguro. Assim, se acontecer dos derivativos virarem pó, eles não perdem nada. E quem é que paga para os bancos continuarem quebrando a vida real dos que investem nos papéis podres? Nós. Porque quando os bancos entram em risco de quebra, como aconteceu lá nos Estados Unidos, o Estado vai e socorre. Para se ter uma idéia, na crise, o banco central estadunidense chegou a repassar 16 trilhões de dólares para salvar os bancos da bancarrota. O que mostra que é uma falácia esse negócio de “mercado livre”. O mercado só é livre quando há lucros, quando há prejuízos quem paga a conta é povo.

Então, quando aparece na televisão a crise na Grécia, os protestos na Espanha, na Itália, Irlanda, França e mesmo no Brasil, já se pode saber que o que está acontecendo é exatamente isso. Os países estão se endividando para salvar investidores e pagar as dívidas que contraem nessa roda viva de papel podre. Assim, define Fatorelli, a crise no setor financeiro dos países é falsamente transformada em crise da dívida. E os países então colocam sob os ombros do povo o pagamento de suas “apostas” mal feitas ou ilegais.

No Brasil a dívida externa chega a 350 bilhões e a dívida interna aos 2,5 trilhões. A dívida bruta consome 70% do PIB e o governo paga os maiores juros do mundo. É uma festa interminável para os investidores mundiais, sem risco algum. O governo de FHC consumiu, só em juros, dois trilhões de reais, o governo Lula, 4,7 trilhões. Tudo o que se diz na televisão sobre os problemas que o estado tem com o orçamento é mentira. Há dinheiro suficiente, mas ele é usado para enriquecer, sem riscos, os investidores. Não bastasse isso, ao longo dos anos, as taxas de juros, que garantem os maiores lucros do mundo, são definidas por “especialistas”. Desse grupo que orienta os juros 51% são representantes dos bancos e 35% representam o sub-grupo de gestão de ativos. Ou seja, eles atuam em interesse próprio. Só isso já bastaria para se dar início a uma séria investigação sobre o tema da dívida. Porque da forma como tudo acontece, assoma claramente a intenção do prejuízo à nação. Vem daí a proposta de uma auditoria, aos moldes da que fez o Equador. Mas, para isso precisaria haver uma decisão política. Por que será que ela não acontece? É hora de a gente pensar…

*Elaine Tavares é jornalista, editora do boletim do IELA-UFSC.

OS ESCRAVISTAS CONTRA LULA




Martín Granovsky – Página/12 - Carta Maior

Em meio ao debate sobre a crise econômica internacional, Lula chegou a França. Seria bom que soubesse que, antes de receber o doutorado Honoris Causa da Sciences Po, deveria pedir desculpas aos elitistas de seu país. Um trabalhador metalúrgico não pode ser presidente. Se por alguma casualidade chegou ao Planalto, agora deveria guardar recato. No Brasil, a casa grande das fazendas estava reservada aos proprietários de terras e escravos. Assim, Lula, agora, silêncio, por favor. Os da casa grande estão enojados. O artigo é de Martín Granovsky, do Página/12.

Podem pronunciar “sians po”. É, mais ou menos, a fonética de “sciences politiques”. E dizer Sciences Po basta para referir o encaixe perfeito de duas estruturas: a Fundação nacional de Ciências Políticas da França e o Instituto de Estudos Políticos de Paris. Não é difícil pronunciar “sians po”. O difícil é entender, a esta altura do século XXI, como as ideias escravocratas seguem permeando os integrantes das elites sul-americanas. Na tarde desta terça, Richar Descoings, diretor da Sciences Po, entregará pela primeira vez o doutorado Honoris Causa a um latino-americano: o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. Descoings falará e, é claro, Lula também.

Para explicar bem sua iniciativa, o diretor convocou uma reunião em seu escritório na rua Saint Guillaume, muito perto da igreja de Saint Germain des Pres. Meter-se na cozinha sempre é interessante. Se alguém passa por Paris para participar como expositor de duas atividades acadêmicas, uma sobre a situação política argentina e outra sobre as relações entre Argentina e Brasil, não está mal que se meta na cozinha de Sciences Po.

Pareceu o mesmo à historiadora Diana Quattrocchi Woisson, que dirige em Paris o Observatório sobre a Argentina Contemporânea, é diretora do Instituto das Américas e foi quem teve a ideia de organizar as duas atividades acadêmicas sobre a Argentina e o Brasil, das quais também participou o economista e historiador Mario Rapoport, um dos fundadores do Plano Fênix há dez anos.

Naturalmente, para escutar Descoings foram citados vários colegas brasileiros. O professor Descoings quis ser amável e didático. Sciences Po tem uma cátedra de Mercosul, os estudantes brasileiros vão cada vez mais para a França, Lula não saiu da elite tradicional do Brasil, mas chegou ao máximo nível de responsabilidade e aplicou planos de alta eficiência social.

Um dos colegas perguntou se era correto premiar alguém que se jacta de nunca ter lido um livro. O professor manteve sua calma e o olhou assombrado. Talvez saiba que essa jactância de Lula não consta em atas, ainda que seja certo que não tem título universitário. Certo também é que, quando assumiu a presidência, em 1° de janeiro de 2003, levantou o diploma que os presidentes recebem no Brasil e disse: “É uma pena que minha mãe morreu. Ela sempre quis que eu tivesse um diploma e nunca imaginou que o primeiro seria o de presidente da República”. E chorou.

“Por que premiam a um presidente que tolerou a corrupção?” – foi a pergunta seguinte.

O professor sorriu e disse: “Veja, Sciences Po não é a Igreja Católica. Não entra em análises morais, nem tira conclusões apressadas. Deixa para o balanço histórico esse assunto e outros muitos importantes, como a instalação de eletricidade em favelas em todo o Brasil e as políticas sociais”. E acrescentou, pegando o Le Monde: “Que país pode medir moralmente hoje outro país? Se não queremos falar destes dias, recordemos como um alto funcionário de outro país teve que renunciar por ter plagiado uma tese de doutorado de um estudante”. Falava de Karl-Theodor zu Guttenberg, ministro de Defesa da Alemanha até que se soube do plágio.

Mais ainda: “Não desculpamos, nem julgamos. Simplesmente não damos lições de moral a outros países”.

Outro colega perguntou se estava bem premiar alguém que, certa vez, chamou Muamar Kadafi de “irmão”.

Com as devidas desculpas, que foram expressadas ao professor e aos colegas, a impaciência argentina levou a perguntar onde Kadafi havia comprado suas armas e que país refinava seu petróleo, além de comprá-lo. O professor deve ter agradecido que a pergunta não tenha mencionado com nome e sobrenome França e Itália.

Descoings aproveitou para destacar Lula como “o homem de ação que modificou o curso das coisas”, e disse que a concepção de Sciences Po não é o ser humano como “uns ou outros”, mas sim como “uns e outros”. Marcou muito o “e”, “y” em francês.

Diana Quattrocchi, como latino-americana que estudou e se doutorou em Paris após sair de uma prisão da ditadura argentina graças à pressão da Anistia Internacional, disse que estava orgulhosa que Sciences Pos desse o Honoris Causa a um presidente da região e perguntou pelos motivos geopolíticos.

“Todo o mundo se pergunta”, disse Descoings. “E temos que escutar a todos. O mundo não sabe sequer se a Europa existirá no ano que vem”.

Na Sciences Po, Descoings introduziu estímulos para o ingresso de estudantes que, supostamente, estão em desvantagem para serem aprovados no exame. O que se chama discriminação positiva ou ação afirmativa e se parece, por exemplo, com a obrigação argentina de que um terço das candidaturas legislativas devam ser ocupadas por mulheres.

Outro colega brasileiro perguntou, com ironia, se o Honoris Causa a Lula fazia parte da política de ação afirmativa da Sciences Po. Descoings observou-o com atenção antes de responder. “As elites não são só escolares ou sociais”, disse. “Os que avaliam quem são os melhores são os outros, não os que são iguais a alguém. Se não, estaríamos frente a um caso de elitismo social. Lula é um torneiro mecânico que chegou à presidência, mas segundo entendi não ganhou uma vaga, mas foi votado por milhões de brasileiros em eleições democráticas”.

Como Cristina Fernández de Kirchner e Dilma Rousseff na Assembleia Geral das Nações Unidas, Lula vem insistindo que a reforma do FMI e do Banco Mundial está atrasada. Diz que esses organismos, tal como funcionam hoje, “não servem para nada”. O grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) ofereceu ajuda para a Europa. A China sozinha tem o nível de reservas mais alto do mundo. Em um artigo publicado no El País, de Madri, os ex-primeiros ministros Felipe González e Gordon Brown pediram maior autonomia para o FMI. Querem que seja o auditor independente dos países do G-20, integrado pelos mais ricos e também, pela América do Sul, pela Argentina e pelo Brasil. Ou seja, querem o contrário do que pensam os BRICS.

Em meio a essa discussão, Lula chega a França. Seria bom que soubesse que, antes de receber o doutorado Honoris Causa da Sciences Po, deve pedir desculpas aos elitistas de seu país. Um trabalhador metalúrgico não pode ser presidente. Se por alguma casualidade chegou ao Planalto, agora deveria guardar recato. No Brasil, a casa grande das fazendas estava reservada aos proprietários de terras e escravos. Assim, Lula, agora, silêncio, por favor. Os da casa grande estão enojados.

Tradução: Katarina Peixoto

Fotos: Ricardo Stuckert/Instituto Lula - divulgação

ARISTIDES PEREIRA FOI PARA A BOA VISTA PARA SER SEPULTADO EM CERIMÓNIA PRIVADA




JSD - LUSA

Cidade da Praia, 28 set (Lusa) -- O corpo do primeiro Presidente de Cabo Verde, falecido há uma semana em Portugal, seguiu hoje de avião para a ilha da Boavista, terra natal de Aristides Pereira, onde será sepultado numa cerimónia privada.

Em câmara ardente na sede da Assembleia Nacional (AN, sede do Parlamento cabo-verdiano) desde segunda-feira, a urna com o corpo de Aristides Pereira foi transportada numa viatura militar num longo cortejo até ao aeroporto da Cidade da Praia, onde lhe foram prestadas as últimas honras militares.

Presentes estiveram os representantes máximos de todos os órgãos de soberania de Cabo Verde e ainda Pedro Pires, ex-Presidente cabo-verdiano (2001/11), que será um dos poucos que assistirá à cerimónia fúnebre em Fundo Figueiras (norte da ilha da Boavista), junto com familiares e alguns antigos combatentes.

No aeroporto, uma companhia da 3.ª Região Militar dispôs-se em parada e disparou três salvas de tiros, ao mesmo tempo que, a partir do comando, nos arredores da capital cabo-verdiana, se dispararam 21 tiros de canhão quando a urna, levada a ombros de oficiais das Forças Armadas, foi transportada para o avião.

Na zona VIP do aeroporto estiveram presentes o chefe de Estado, Jorge Carlos Fonseca, o presidente da AN, Basílio Ramos, o primeiro-ministro, José Maria Neves, várias individualidades ligadas à Justiça e ainda um elevado número de antigos combatentes, que acompanharão também o funeral na Boavista, a que nenhum jornalista terá acesso.

Aristides Pereira, que contava 87 anos, faleceu a 22 deste mês em Coimbra, em cujos hospitais da universidade local se encontrava desde 03 de agosto para ser assistido a uma fratura no colo do fémur.

O primeiro Presidente de Cabo Verde (1975/91), além de ser diabético, acabou por ser vítima de uma pneumonia, que não conseguiu ser debelada devido ao seu fraco estado de saúde.

*Foto em Lusa

Moçambique: MORREU COMANDANTE DA GUERRILHA ANTI-COLONIAL BONIFÁCIO GRUVETA




PMA - LUSA

Maputo, 28 set (Lusa) -- O comandante da frente militar da província da Zambézia, centro de Moçambique, da guerrilha contra o colonialismo português, general Bonifácio Gruveta, morreu hoje em Maputo aos 68 anos vítima de doença, informou a Assembleia da República moçambicana.

Bonifácio Gruveta juntou-se ainda jovem à Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), movimento que combateu o regime colonial no país e hoje partido no poder, tendo dirigido a frente de combate da Zambézia, uma das quatro que o movimento abriu no início da luta armada.

Depois da independência de Moçambique, a 25 de junho de 1975, Bonifácio Gruveta foi nomeado governador da Zambézia, de onde era natural, e morreu na função de deputado à Assembleia da República de Moçambique e membro do Conselho de Estado.

A imprensa moçambicana associou-o nos últimos tempos a empresas responsáveis pela pilhagem de madeira exportada de Moçambique para a China, uma imputação que o general rejeitou veementemente.

RAPIDINHAS DO MARTINHO – 47




MARTINHO JÚNIOR

NAMBUANGONGO HERÓICO

I - A “Resenha histórico-militar das campanhas de África – 1961 – 1971”, 2º tomo, documento do Estado Maior das Forças Armadas Portuguesas elaborado pela Comissão para o Estudo das Campanhas de África, não deixa margem para dúvidas: desde Março de 1961, altura em que Salazar deu a ordem “para Angola e em força”, que Nambuangongo, enquanto essa confrontação durou, foi uma referência de 1ª grandeza para a geo estratégia portuguesa.

Na região de Nambuangongo, os portugueses não só aplicaram uma das malhas mais densas de implantação de forças militares e dos seus serviços de inteligência, de ocupação e intervenção em Angola, como desde a “Operação Viriato” (http://www.rtp.pt/guerracolonial/?id=92&t=0#thumb92), foram experimentando a eficácia de todo o tipo de armas que a OTAN lhes ia fornecendo, desde os blindados “half track”, veículos com esteiras na retaguarda e rodas à frente, espingardas automáticas G-3 e HK-21 de origem alemã, aviões T-6 e Fiat G-91 (http://pt.wikipedia.org/wiki/Fiat_G.91 - http://www.areamilitar.net/DIRECTORIO/Aer.aspx?nn=28&P=77&R=FA), até aos bombardeamentos com “napalm” e desfolhantes…

Nambuangongo assistiu em Março de 1961 a uma das mais dramáticas e sangrentas iniciativas guerrilheiras da UPA no norte de Angola e, particularmente em 1965, ao esforço de luta do MPLA em direcção da sua 1ª Região Político Militar, com a entrada intacto do “Destacamento Cienfuegos” e depois com as tentativas dos Destacamentos “Kamy” (que foi praticamente dizimado ao atravessar as áreas de actuação da UPA) e “Ferraz Bomboko”, cujos integrantes foram detidos pelo regime de Mobutu, sendo obrigados a regressar à República do Congo (Brazzaville), tendo as suas armas sido arrestadas.

Na 1ª Região Política Militar o MPLA, com os enormes sacrifícios próprios duma resistência que foi sendo isolada e se constituiu numa enorme bolsa, ocorreram actos heróicos extraordinários que envolveram a população que compunha o movimento de libertação: tiveram de produzir por exemplo o seu próprio vestuário a partir da casca dum determinado tipo de árvores que por lá existe, buscavam o sal em algumas minas que se encontram dispersas na natureza em algumas das matas dos Dembos e utilizaram fossos dissimulados nos caminhos de pé de acesso às suas bases, tal como faziam os vietnamitas a fim de, com esses obstáculos procurar inviabilizar as incursões das tropas portuguesas e unidades autóctones como os Grupos Especiais.

O isolamento ocorreu desde 1965 até ao fim da campanha militar colonial, pelo que se pode imaginar a capacidade de resistência da população afecta ao movimento de libertação.

Os aspectos sócio-culturais dessa resistência deveriam ser imortalizados por exemplo através dum museu ao ar livre, que reconstituísse uma das bases que se implantaram na 1ª Região Política Militar, como por exemplo a base Brno, onde existem ainda alguns vestígios antigos desse tempo.

Esse museu poderia integrar um vasto projecto ambiental, tendo em conta a existência de condições naturais como as da Coutada do Ambriz, onde a FNLA aliás fazia também actividades de guerrilha e luta contra o colonialismo, a partir da Central do Alto Dande.

É lógico que em Nambuangongo existem antigos combatentes da UPA e do MPLA, que estiveram relacionados com as respectivas guerrilhas, cujos depoimentos, se recolhidos, ainda não foram publicados, estando-se a perder um enorme acervo histórico e de conhecimento humano no campo da antropologia, por exemplo.

Muitos desses antigos guerrilheiros são camponeses, fiéis às suas origens e às culturas existentes na região, alguns pouco letrados ou mesmo analfabetos, que recebem pensões no âmbito dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria e pouco mais…

Alguns desses guerrilheiros eram pioneiros nas bases do MPLA, ou mulheres membros da OMA, que participaram nos sacrifícios comuns do isolamento e da resistência.

II - Cinquenta anos depois do início das Campanhas Militares Portuguesas (Guerra Colonial – http://www.guerracolonial.org/index.php?content=18&category=4 – http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Colonial_Portuguesa), trinta e seis anos depois da independência e já com dez anos de ausência de tiros no país, Nambuangongo continua a ser um dos lugares mais isolados do norte de Angola, apesar da recuperação de infra estruturas e estruturas que se vai fazendo por todos os recantos do país.

Se Nambuangongo foi a região das mais sacrificadas na longa guerra que o colonialismo travou contra a 1ª Região, está agora numa periferia político-administrativa “pouco atraente” e, devido à sua situação físico-geográfica, há muito por fazer em termos de estradas, de pontes e de estruturas sociais.

Tal como Nambuangongo, praticamente todo o leste, onde o MPLA implantou a sua guerrilha, sofre do mesmo tipo de problemas e continua sub valorizado, perdendo-se com isso muito do respeito humano e dignidade que a história merece, o que comprova quão o homem está relegado para um 2º plano…

“A independência partiu de Nambuangongo”, afirmou o administrador municipal Van-Dúnem Oereira João Mbinda numa entrevista ao Jornal de Angola a 7 de Julho de 2009 (http://jornaldeangola.sapo.ao/14/7/entrevista_a_independencia_partiu_de_nambuangongo):

“Jornal de Angola - Como caracteriza a situação do município de Nambuangongo?

Van-Dúnem Pereira João - Há uma evolução significativa, comparativamente ao passado. Posso dizer que em relação aos últimos sete anos, tudo mudou ou está a mudar.

JA - Em que aspectos?

VPJ - O município beneficiou de uma nova malha rodoviária, que está a facilitar a circulação de pessoas e bens. A estrada que liga Caxito a Muxaluando está a ser asfaltada a partir da comuna de Kicabo, no município do Dande, e da comuna de Balacende. Os trabalhos de terraplanagem pararam, porque a empresa encarregada das obras alegou haver problemas com os custos. Mas isso não tem nada a ver com o Governo. É entre as subempreiteiras. Uma parte não está a honrar os compromissos assumidos. O equipamento de terraplanagem foi retirado das obras. Informaremos ao Governo Provincial do Bengo, para ver se a situação se resolve e o trabalho continua, pois o tempo é propício.
JA - Como é feita a circulação?

VPJ - Durante o período das chuvas tivemos constrangimentos muito grandes, fundamentalmente no troço entre Kicanga Sala e Muxaluando, a sede do município. São apenas seis quilómetros, mas a circulação era difícil. Muitas viaturas ficaram danificadas neste percurso e por isso a movimentação era feita a pé. Com a ajuda das empresas Soconinfa e Cafanda conseguimos arranjar uma alternativa que estamos neste momento a utilizar. A empresa Cafanda está igualmente a terraplenar o troço Muxaluando-Cagi Mazumbo-Kicunzo e Zemba para facilitar o trânsito para estas comunas, que era feito com muitas dificuldades.

Há também trabalhos de desmatação a partir do desvio de Balacende para Margarido e Kagi Mazumbo, que estão a ser efectuados pela empresa Africampos.

JA - São estradas de acesso às comunas de Nambuangongo?

VPJ - Não. Há também um trabalho levado a cabo na comuna da Bela Vista, no município do Ambriz. Hoje para ir ao Ambriz, a partir de Nambuangongo, já não é necessário chegar a Caxito. A partir da comuna do NGombe entra-se para a estrada do Zala, do Zala para a Bela Vista e está-se no Ambriz. Este é um grande ganho. O troço que sai da comuna de Kicanga Sala para Quixico também é aberto brevemente, havendo já uma empresa a trabalhar na estrada.

JA – A cobertura sanitária às populações é boa?

VPJ - Ainda não caminhamos para o bom. As obras deste sector pararam. O empreiteiro a quem foram adjudicadas as obras de construção dos centros de saúde das comunas de Canacassala e de Cagi Mazumbo desviou os recursos financeiros. A obra do centro de Canacassala ficou a meio e a do Cagi Mazumbo, ficou nos alicerces. A desculpa tem sido os constrangimentos da via.

JA - E aceita a justificação ?

VPJ - Não. Não pode servir, pois mesmo na comuna de Canacassala, onde não houve obstáculos desse género, as obras pararam. O Governo pagou a execução das obras até 90 por cento do seu valor total. Não havia razão para o empreiteiro abandoná-las.

JA - Que medidas tomou?

VPJ - Pedimos autorização ao Governo da província, notificámos o empreiteiro, informamos as Obras Públicas, como órgão de tutela, mas infelizmente ele adoeceu. O processo está com as Obras Públicas.

JA - Na sede do município também há problemas?

VPJ - O centro de saúde da sede, construído pela empresa FDV, já tinha sido inaugurado em Novembro do ano passado e tem estado a satisfazer no mínimo. Estamos, neste momento, a construir o Hospital Municipal, mas as obras estão com um ligeiro atraso por causa dos impedimentos da via que não permitiram o transporte dos inertes de Kicanga Sala para a sede. Com o termo das chuvas e a regularização da via as obras vão recomeçar.

Acreditamos que até ao final do ano vamos beneficiar de muitas estruturas hospitalares, pois além destes investimentos, inseridos no quadro do Programa de Investimentos Públicos, vamos construir também alguns postos de saúde no âmbito do programa local, concretamente nas localidades de Kicanga Sala e Kicanga Samba, na comuna do NGombe. Em termos de quadros técnicos, a Direcção Provincial de Saúde do Bengo tem ajudado. No último concurso recebemos mais 15 técnicos. Hoje temos dois médicos e um técnico superior de laboratório.

JA - Qual é o quadro no domínio da educação e ensino?

VPJ - Podemos dizer que os passos dados têm sido seguros. Além das quatro escolas funcionais do I ciclo, construídas com carácter definitivo, foi inaugurada, recentemente, na sede do município, uma escola do II ciclo, que lecciona da décima à décima terceira classes. Podemos dizer que estão consolidadas as bases do ensino médio no nosso município. Começámos com um núcleo do ensino médio e hoje temos a felicidade de receber uma escola nova, construída desde a base, com seis salas onde já funciona o primeiro ano do II ciclo.

JA - Tem corrido tudo bem?

VPJ – Bem não, porque temos problemas gritantes provocados pela falta de professores. Temos estado a fazer uma campanha muito forte e felizmente estamos a ser bem sucedidos. Na escola do II ciclo já se pode falar em perto de 80 por cento de docentes, que asseguram o ensino.

Nas escolas do I ciclo há uma conjugação de esforços entre a Administração e o Governo da Província. Nesse último concurso, recebemos mais 15 professores que vão assegurar os dois ciclos de ensino”.

Seria normal que, tendo em conta os aspectos históricos inerentes ao movimento de libertação, Nambuangongo tivesse um muito maior acompanhamento e projecção em todos os angolanos e também na imprensa angolana oficial todavia, nem o facto de ter sido ali onde há cinquenta anos eclodiu um dos episódios do início da luta armada, nem o facto de ter sido ali onde a resistência enfrentou limites inimagináveis face ao poderio da opressão, faz com que o município seja lembrado.

Essa gritante falha de memória a tão poucos quilómetros de Luanda contribui para votar ao ostracismo muitos desses antigos combatentes que por lá permaneceram, numa altura em que se vão construir (é preciso acreditar que sim) um milhão de casas habitáveis e com urbanização: talvez algumas delas lhes dessem abrigo e às suas famílias, por que foi lá que “a independência partiu” e afinal quanto da independência ainda lá não chegou…

A nível público não se sabe pois se muitas das preocupações do administrador entrevistado foram resolvidas, se há frequência escolar por parte do universo de jovens em idade escolar, se os centros de saúde mereceram completa recuperação e estão funcionais, se os antigos combatentes estão a ter uma vida digna, se há construção habitacional urbanizada e em que termos, se há água potável no município e nas comunas, quais são os problemas de energia, qual o estado de funcionamento das cooperativas agrícolas que foram implantadas, o que se passa com as estradas, com as pontes, com a chuva, com os rios…

O vazio que existe, pelo menos em termos de informação pública, acerca de Nambuangongo, reflecte bem a nossa preocupação conforme a nossa última reflexão sobre a “luta contra a pobreza”, quando proliferam as ideologias, os comportamentos, as atitudes e as mentalidades que caracterizam o elitismo.

Os Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria deveriam estar neste momento, por exemplo, a beneficiar da construção das casas que foram erigidas pelo “Consórcio Comandante Loy SA” (http://www.ccloy-sa.com/index.php?option=com_content&task=view&id=19&Itemid=1), mas também nesse grupo subsistem os problemas que levam à não entrega do que já está pronto:

1 – O valor da aquisição, estimado à volta dos 70.000 USD, não pode ser coberto por créditos a quem recebe 16.000,00 Kwz mensais.

2 – Há problemas de organização, administração e gestão desse consórcio (inclusive questões de ordem financeira), que apontam para um fiasco da iniciativa; a atestar isso pode-se verificar que na página internet, deixam de haver sinais a partir de Fevereiro de 2010!

O Consórcio ficou-se pelo “lançamento de pedras” (http://www.ccloy-sa.com/index.php?option=com_content&task=view&id=27&Itemid=2)!...

Será que estão à espera que a maior parte dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria morram, “facilitando” desse modo as coisas?...

Para se perceber que afinal Nambuangongo existe e que existe um enorme tributo que não está solvido em relação às comunidades heróicas que alimentaram a resistência nos Dembos por identificação com o movimento de libertação, com o povo angolano e para com África, houve em 2010 uma visita ilustre, a visita de Manuel Alegre, candidato à presidência portuguesa (http://jornaldeangola.sapo.ao/20/0/politico_portugues_manuel_alegre_visita_municipiode_nambuangongo).

Nambuangongo, onde esteve integrado na força militar de ocupação portuguesa, foi para Manuel Alegre a revelação da encruzilhada duma tensão entre o sentido da vida e as trevas da opressão.

O sentido da vida vestia-se até com casca de árvore, por que nada mais possuía para cobrir sua nudez, tinha fome, até o sal tinha de descobrir na floresta, definhava com a miséria, com o paludismo endémico, mas teimosamente manteve-se de pé e enfrentava as trevas da opressão, o poder das armas que a OTAN colocou à disposição de quem pretendia perpetuar fascismo e colonização!

Por incrível que isso possa parecer, era a guerrilha que correspondia até aos incentivos ambientais e ecológicos, por via duma cultura que soube até tirar partido da natureza, sem a ferir, que se contrapôs às poderosas armas da OTAN, na mais densa ocupação militar durante os treze anos de Guerra Colonial em Angola, treze anos em que o “napalm” e os desfolhantes não respeitaram nem o homem, nem a Mãe Terra!

Há cinquenta anos que essas armas da OTAN em África estão sempre do lado da rapina e das trevas da opressão, agora talvez mais dissimuladas, mais subtis, mas omnipresentes por que foram reforçadas com os conceitos do AFRICOM e as novas elites, por que não possuem memória histórica, são capazes até de embarcar nesses “novos conceitos”, recorrendo até a novas tecnologias… em mais uns quantos “Jogos Africanos”!...

Por isso, quando Manuel Alegre (o homem e não só o poeta) recorda Nambuangongo,  (parece-me ser dever lembrar “Nambuangongo meu amor”), é tempo de resgatar todos os Nambuangongos do subdesenvolvimento, da marginalidade, das periferias e do esquecimento, sem preconceitos elitistas, sem os “mercados” fundamentalistas do neo liberalismo, sem rapaces parcerias que estimulam egoísmo, nem domínio que obstrui justiça social, sem desequilíbrios, nem foço de desigualdade, mas sobretudo respeitando tão indómita cultura de libertação, com solidariedade, com paz, com identidade, com dignidade, com o aprofundamento da democracia, respeitando toda a pureza e energia com sentido de vida que vem das profundezas da vontade do ser humano.

O tributo a Nambuangongo é antes de mais um tributo aos homens que, arrostando com todos os sacrifícios e riscos, tendo como única aliada a própria natureza, tornaram possível levar avante essa saga que teve seu início e perdura de geração em geração em busca de mais amor, justiça, paz, democracia e felicidade.

III - Nambuangongo Meu Amor

Em Nambuangongo tu não viste nada
não viste nada nesse dia longo longo
a cabeça cortada
e a flor bombardeada
não tu não viste nada em Nambuangongo
Falavas de Hiroxima tu que nunca viste
em cada homem um morto que não morre.
Sim nós sabemos Hiroxima é triste
mas ouve em Nambuangongo existe
em cada homem um rio que não corre.
Em Nambuangongo o tempo cabe num minuto
em Nambuangongo a gente lembra a gente esquece
em Nambuangongo olhei a morte e fiquei nu. Tu
não sabes mas eu digo-te: dói muito.
Em Nambuangongo há gente que apodrece.
Em Nambuangongo a gente pensa que não volta
cada carta é um adeus em cada carta se morre
cada carta é um silêncio e uma revolta.
Em Lisboa na mesma isto é a vida corre.
E em Nambuangongo a gente pensa que não volta.
É justo que me fales de Hiroxima.
Porém tu nada sabes deste tempo longo longo
tempo exactamente em cima
do nosso tempo. Ai tempo onde a palavra vida rima
com a palavra morte em Nambuangongo.

http://pt.weblog.com.pt/arquivo/cat_manuel_alegre.html

Martinho Júnior, Luanda.

Foto: “Operação Viriato” – http://www.guerracolonial.org/index.php?content=175

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