domingo, 16 de outubro de 2011

PALAVRAS VAZIAS




RODOLPHO MOTTA LIMA* – DIRETO DA REDAÇÃO

Na semana passada, pretendi colocar em discussão o uso indevido da palavra “democracia”, vocábulo que nos é muito caro, mas que vem sendo abastardado pela sua pretensa identificação semântica com “capitalismo” ou “liberalismo” . Será que realmente estamos em uma democracia só porque vivemos debaixo de um sistema que garanta a livre expressão?   Se o que nos cerca são  desigualdades históricas, crônicas, onde a fome e a miséria estão presentes, essa é , realmente, uma “democracia”?   
  
Algumas outras expressões consagradas, no campo da política ou da economia,  sempre me incomodaram.   Lembro que, quando jovem, o pessoal da direita se referia aos exploradores – aí entendidos os latifundiários, os coronéis do açúcar, os grandes capitalistas, etc – como a “classe produtora”, desprezando totalmente, no processo de produção da riqueza nacional, os trabalhadores do campo e da cidade, numa demonstração clara, pela seleção vocabular, de segregação social. Hoje esse termo é menos usado, mas encontra um certo substituto na palavra “empreendedor”, que parece querer referir-se tão somente aos que, detendo o capital, podem criar empresas.

Outra palavra que não me cai bem aos ouvidos, pela generalização com que hoje é empregada, é o termo “consumidor”.  Parece que se está extinguindo  o “cidadão”, palavra que remete a  todos os direitos e deveres do ser humano em uma sociedade democrática, trocada por esse  vocábulo que revela claramente a essência de uma economia “de mercado”, na qual as pessoas valem pelo que possuem ou podem possuir e só nessa condição devem agir.

Aliás, a palavra “mercado” também é incomodativa, porque ocupa, hoje, destaque equivalente ao dos magos e demiurgos de antigamente, quase um deus a comandar o espetáculo da desigualdade social. Quando ouço declarações de que “o mercado está nervoso”, confesso que eu é que fico, diante desse disparate metonímico. Nem vou dizer aqui, ainda no plano da economia, o que penso da “lei da oferta e da procura”, pois certamente seria trucidado verbalmente pelo pessoal do economês. Mas sempre me pareceu estranho que, havendo maior procura por um bem, este tenha que ter seu valor aumentado:  é o mesmo bem, sua produção demandou o mesmo custo, mas ele passa a “valer mais” porque há mais gente que o tem como objetivo. Confortável para quem produz, não?  Mas e o outro lado, como é que fica?  Fica pagando mais...

Na relação de palavras ou conjunto de palavras que me parecem exotéricas, está a expressão “segredo de Estado”. Afinal, que é o Estado, quem é o Estado?  Em boa hora, em episódio recente, o Governo parece que acabou entendendo que não poderia declinar da divulgação  dos fatos  da história brasileira , para o conhecimento geral do povo. Sei que certas recalcitrâncias se fazem ainda em nome de uma malfadada “governabilidade”, mais uma palavra perversa que coloca certos políticos ou grupos em condição de, velada ou escancaradamente, chantagear o Governo, condicionando seu apoio a medidas sérias em troca de decisões não tão sérias, como, por exemplo, a de condenar ao silêncio fatos significativos de nossa história. É coisa petrificada na política nacional: nenhum partido governa sem o PMDB, essa aberração política que pode estar á esquerda ou à direita, desde que atendidas suas conveniências de desfrute do poder. E a esse processo de submissão  se dá o nome de “governabilidade”...

No campo da política, e em outros,  a mídia usa e abusa de uma palavra que me causa espécie: “o especialista”. Você pode apostar que, quando a mídia tem interesse em disseminar tal ou qual opinião, sempre há de mencionar um “especialista” que, ouvido, diz exatamente o que se pretende que ele diga. Trata-se de especialistas por conveniência... O que me lembra Darcy Ribeiro, que, ao falar sobre especialistas, dizia que há pessoas que, quanto mais se aprofundam no saber do que sabem, mais ignorante ficam no resto.

Estava no meio desta coluna quando ouvi alguém falar na tal de “falta de vontade política”, para justificar a ausência de uma atitude por parte de um determinado governo. Ora, quando qualquer governo não faz alguma coisa é porque não quer fazer , ou porque não acredita naquilo, ou porque pretende outra coisa.  Sendo assim, “vontade política de não fazer” seria uma expressão melhor... Fazendo aqui uma autocrítica, porque  eu mesmo já usei  muitas vezes  essa expressão, cá para nós,  “vontade política” é eufemismo vazio, tão vazio quanto a palavra “atitude”, impiedosamente usada hoje por cronistas  esportivos para mostrar que o atleta X ou Y deve agir no sentido W ou Z...

O que você acha da expressão “clamor da opinião pública”, quando utilizada pela mídia a serviço de seus objetivos nem sempre confessados? A “opinião pública” é , quase sempre, a opinião que se publica, ou seja, a opinião que segue a linha político-ideológica do  órgão midiático que a apregoa.

Seguimos , assim, nesse cotidiano repleto de palavras vazias, ou enganosas, ou falsas. E este texto não tem o propósito ou a pretensão de vê-las  banidas, que essa é uma luta inglória, mas quer propor, pelo menos, um convite ao enfrentamento. Afinal, em outro contexto, Drummond já havia afirmado: “Lutar com as palavras é a luta mais vã. No entanto, lutamos”.  

*Advogado formado pela UFRJ-RJ (antiga Universidade de Brasil) e professor de Língua Portuguesa do Rio de Janeiro, formado pela UERJ , com atividade em diversas instituições do Rio de Janeiro. Com militância política nos anos da ditadura, particularmente no movimento estudantil. Funcionário aposentado do Banco do Brasil.

Moçambique: FRELIMO “ABERTA AO DIÁLOGO” EM PROL DA UNIDADE NACIONAL – PR Guebuza




LAS - LUSA

Maputo, 16 out (Lusa) - O Presidente de Moçambique, Armando Guebuza, disse hoje que o partido que dirige, FRELIMO, está disponível para o diálogo "com todas as forças políticas" do país no sentido da unidade nacional.

"Estamos sempre abertos ao diálogo, com todas as forças políticas e com todos os segmentos da sociedade para partilharmos os desafios da nação e contribuir na promoção da consciência nacional, da inclusão e da mobilização de todos para a sua participação no processo de desenvolvimento deste nosso Moçambique", salientou Guebuza.

O chefe de Estado e presidente da FRELIMO, no poder em Moçambique desde 1975, falava na sessão de encerramento da VI Sessão Ordinária do Comité Central daquele partido.

"Somos um exemplo eloquente de um povo que evolui na sua consciência de nação desde o tempo em que o Presidente Eduardo Mondlane arquitetou a unidade nacional", disse Guebuza.

À margem da reunião, o secretário para a Mobilização e Propaganda da FRELIMO, Edson Macuascá, disse que o partido prevê admitir, em 2012, 300 mil novos membros e criar 30 mil novas células.

Atualmente a FRELIMO tem 3.361.313 membros, enquadrados em 256 mil células do partido, acrescentou Macuacá.

*Foto EPA

PRESIDENTE BRASILEIRA VIAJA A PRETÓRIA PARA CÚPULA DO FÓRUM IAS




PRENSA LATINA

Brasília, 16 out (Prensa Latina) A presidenta Dilma Rousseff viaja hoje a Petória para assistir à V Cúpula do Fórum de Diálogo IAS (Índia, Brasil e Africa do Sul), e posteriormente realizar visitas oficiais a Moçambique e Angola.

Rousseff deve chegar amanhã a Petória, onde na terça, junto a seus homólogos da África do Sul, Jacob Zuma, e da Índia, Manmohan Singh, examinará temas de interesse global, entre eles os atuais desafios econômico-financeiros, indica uma nota de imprensa do Ministério brasileiro de Relações Exteriores.

Também, prossegue, analisarão outros assuntos, como a paz, a segurança internacional e o desenvolvimento sustentável, no contexto da preparação para a Conferência das Nações Unidas sobre esse tema, denominada Rio+20, a se realizar em junho do ano que vem no Rio de Janeiro.

Os mandatários farão também um balanço das atividades dos grupos de trabalho setoriais do IAS, em particular os relativos a defesa, energia e ciência e tecnologia, entre outros.

A reunião, refere a informação do Itamaraty, abordará ademais os avanços da cooperação prestada pelo Fundo IAS para o alívio da fome e da pobreza.

Recorda que desde sua criação em 2004, esse Fundo realiza nove projetos em seis países, entre eles, a recoleta de residuos sólidos no Haiti e a melhoria agropecuária na Guiné Bissau, bem como outras iniciativas em Laos, Serra Leoa, Timor Leste, Sudão e Sudão do Sul.

Em 2006, o Fundo IAS foi premiado pela Organização das Nações Unidas como modelo de colaboração entre nações em desenvolvimento e em 2010, recebeu o galardão Metas de Desenvolvimento do Milênio.

Dados oficiais divulgados pela chancelaria brasileira refletem que o fluxo comercial entre os três países cresceu quatro vezes de 2003 a 2010, passando de quatro bilhões 380 milhões de dólares no primeiro ano mencionado para 16 mil 100 milhões de dólares no segundo.

arc/ale /cc

Indignados – Portugal: Assembleia Popular aprovou concentração para dia da votação do OE




RTP

Lisboa, 16 (out) - A Assembleia Popular reunida no sábado em frente ao Parlamento aprovou uma concentração para o mesmo local para o dia da votação na generalidade do Orçamento do Estado para 2012.

Fonte da organização indicou 29 de outubro como a data da realização da votação na generalidade do Orçamento do Estado para 2012, mas, de acordo com o calendário definido em conferência de líderes parlamentares, a votação na generalidade será nos dias 3 e 4 de novembro e a votação final global no dia 29 de novembro.

No sábado, durante a Assembleia Popular, foi ainda aprovada uma nova manifestação, ainda sem data marcada, bem como a convocatória de uma greve geral.

*Foto em Lusa

Portugal: OS PASSARÕES DA GAIOLA DOURADA




FAVORES COM FAVORES SE PAGAM – QUE FAVORES?

Trazemos do Expresso um curiosa divulgação sobre vários ex-governantes e figuras políticas que evoluíram exponencialmente na iniciativa privada e em outros “tachos” que lhes assentam nas medidas e possibilitam vencimentos-fortuna que ultrapassam o nosso entendimento.

Ex-governantes, autênticos passarões em gaiolas de ouro, que sistematicamente sobem em flecha nas suas condições financeiras e de carreira deixam-nos a meditar sobre que favores terão feito na vigência dos seus cargos governamentais que depois lhes abrem as portas para vencimentos que podemos considerar imorais e misteriosos. Ainda a considerar que favores não cobrarão ao serviço dos que os contratam puxando os galões de ex-governantes.

Não é a máfia que funciona assim, numa rede interminável de influências, chantagens e falcatruas? (Fernando Silva – Redação PG)

Veja os rendimentos de 15 políticos portugueses antes e depois de passarem pelo Governo 

Carlos Paes e Jaime Figueiredo (infografia), em Expresso

O jornalista António Sérgio Azenha investigou e analisou os rendimentos de 15 políticos antes e depois de passarem pelo Governo português. O resultado está no livro 'Como os políticos enriquecem em Portugal', da editora Lua de Papel

O repórter baseou-se nas declarações de património e rendimentos apresentadas pelos políticos ao Tribunal Constitucional, desde 1995, ano em que a informação passou a estar disponível, e reconstituiu o percurso de crescimento económico de 15 antigos governantes. Veja como Jorge Coelho, Dias Loureiro e outros multiplicaram os seus ordenados.

- VER NO ORIGINAL - (gráfico animado)

“PRIMAVERA PORTUGUESA” HÁ-DE CHEGAR




ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal defende que o fenómeno das 'Primaveras Árabes' foi provocado pela asfixia da liberdade e pela falência de regimes autoritários e que os países em mudança pedem conselhos e informações a Portugal.

Traduzindo as afirmações de Paulo Portas na Tunísia, um dia destes o fenómeno das 'Primaveras Árabes' também chegará a Portugal.

Diz Paulo Portas que essas mudança foram provocadas pela asfixia da liberdade e pela falência de regimes autoritários. Ora é exactamente isso que se passa no reino lusitano a norte – embora cada vez mais a sul – de Marrocos.

A liberdade já não respira e o regime de Lisboa é autoritário, para além de desonesto. A liberdade sé existe para pensar o que o regime quer, e o regime mostra todo o seu autoritarismo e desonestidade ao querer que os seus súbditos paguem as dívidas cometidas por outros, nem que para isso tenha de sobreviver – na melhor das hipóteses – a pão e água.

Quanto aos conselhos e informações sobre Portugal, faz todo o sentido. É que à velocidade com que se afunda, o reino lusitano ou desaparece  ou, com sorte, consegue flutuar até ao norte de África.

"Muitos destes países pedem muita informação a Portugal e solicitam muitos constitucionalistas, muitos políticos experientes no nosso país, para lhes poderem dizer o que é que aconteceu há cerca de quatro décadas em Portugal e como é que se fez a transição de uma Constituição para outra, de um regime para outro. Nós nessa altura tivemos seis governos provisórios até chegarmos à normalidade constitucional", disse Paulo Portas na Tunísia.

Mal irão esses países se seguirem os exemplos de todos quantos, uns mais do que outros – é certo, levaram Portugal a este putrefacto estado ao fim de trinta e tal anos. E, já agora, foram eles: Adelino da Palma Carlos, Vasco Gonçalves, Pinheiro de Azevedo, Mário Soares, Nobre da Costa, Mota Pinto, Lurdes Pintasilgo, Sá Carneiro, Pinto Balsemão, Cavaco Silva, António Guterres, Durão Barroso, Santana Lopes, José Sócrates e Pedro Passos Coelho.

Para o ministro dos Negócios Estrangeiros foram a falta de soluções, a ausência de liberdade e o poder prolongado de regimes autoritários as causas das mudanças nos países do Norte de África.

Quando disse isto, estaria Paulo Portas a pensar no seu grande, embora recente, amigo José Eduardo dos Santos?

Por alguma razão, digo eu que nem sou “africanista de Massamá”, a primeira deslocação oficial do ministro Paulo Portas foi a Angola. Não foi, creio, na Primavera, mas foi a forma mais natural de, no âmbito da diplomacia económica, incentivar ainda mais a OPA (Oferta Pública de Aquisição) do MPLA sobre Portugal.

No contexto da Lusofonia, Paulo Portas visitou um país em que 70 por cento da população vive na miséria. Quererá isso dizer alguma coisa? Não. Com certeza que não. Portugal tem outras preocupações bem mais petrolíferas.

Aliás, Paulo Portas não se esqueceu de felicitar o único Estado da CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, à qual Luanda preside, que têm há 32 anos o mesmo presidente e que nunca foi eleito. Isto para além de ser (des)governado pelo mesmo partido, o MPLA, desde 1975.

Que importa que Angola seja de facto, que não formalmente, uma ditadura? Sim, o que é que isso importa tanto para o governo português como para uma Presidência supostamente social-democrata ou para um ministro democrata-cristão?

A única coisa que conta nas ocidentais praias lusitanas é o petróleo, que é um bem muito – mas muito - superior aos direitos humanos, à democracia, à liberdade, à cidadania.

Reconheça-se, contudo, que a hipocrisia não é uma característica específica de Portugal, se bem que tenha nela alguns dos seus mais latos expoentes.

E como Angola tem petróleo (grande parte roubado na sua colónia de Cabinda), ninguém se atreve a perguntar a Paulo Portas se acha que Angola respeita os direitos humanos, ou se é possível que a presidência da CPLP seja ocupada por um país cujo presidente está no poder há 32 anos, sem ter sido eleito. Neste caso, ninguém fala de Primaveras…

Paulo Portas, como não poderia deixar de ser, não vê o que se passa mas amplia o que gostava que se passasse. Vai daí não se cansa (embora sem a mesma efusividade de José Sócrates) de enaltecer os méritos do regime angolano.

É claro que em Angola, tal como nos restantes países da Lusofonia, existem muitos seres humanos que continuam a ser gerados com fome, nascem com fome e morrem, pouco depois, com fome. Mas, é claro, morrem em... português... o que significa um êxito também para Portugal.

Paulo Portas, tal como Cavaco Silva, Passos Coelho e José Sócrates, tem razão. O importante é mesmo os famintos e miseráveis da Lusofonia saberem dizer, em bom português, “não conseguimos viver sem comer”. Continuarão, como até aqui, sem comida, sem medicamentos, sem aulas, sem casas, mas as organizações internacionais vão perceber o que eles dizem.

Recordam-se que, no dia 6 de Maio de 2008, o músico e activista Bob Geldof afirmou, em Lisboa, que Angola é um país "gerido por criminosos"? Ele disse, mas nem Cavaco, nem Sócrates, nem Passos Coelho, nem Paulo Portas ouviram.

E não ouviram porque as verdades são duras e o capataz do reino angolano, Eduardo dos Santos, não iria gostar que eles dissessem que ouviram.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.


Portugal - Indignados: Trânsito cortado na rua de São Bento por causa da manifestação




TSF – 20:06

O trânsito está cortado em parte na rua de São Bento, em Lisboa, devido à concentração de cerca de uma centena de manifestantes em frente à Assembleia da República.

Os carros deixaram de poder circular entre a rua Nova da Piedade e a Calçada da Estrela por volta das 19:15. Mais de uma centena de pessoas estão concentradas em frente ao Parlamento, a maioria sentados na estrada.

Pelo segundo dia consecutivo, a zona em frente à Assembleia da República é palco de uma assembleia popular.

*Foto em Lusa

UN GRUPO DE INDIGNADOS OCUPA UN HOTEL EN EL CENTRO DE MADRID





Tras la asamblea de anoche en la Puerta del Sol, un grupo de activistas decidió instalarse en un edificio abandonado en la calle Carretas

La idea de ocupar un espacio en Madrid planeó anoche en varias ocasiones durante la asamblea celebrada en la Puerta del Sol tras la multitudinaria manifestación del 15-O.

Llegaron noticias de que en Barcelona los indignados habían ocupado varios hospitales y la sede de la televisión autonómica, TV3, y en Madrid algunas voces pidieron ocupar Telemadrid o el pirulí de RTVE. El plan se concretó finalmente a pocos metros de la puerta del Sol, en el hotel Madrid de la calle Carretas.

“La idea es liberar espacios para el uso común”, explicaba una joven. Un compañero añadía que se trata de “hacer pública la propiedad privada”. El tema de la falta de espacios comunes y la cantidad de edificios abandonados se ha debatido ampliamente en asambleas de barrios, aseguran, pero la decisión de ocupar este edificio, que sabían que estaba abandonado, fue espontánea. No tienen decidido aún qué uso darán al inmueble ni cuánto tiempo se quedarán, pero barajan entre otras ideas mantenerlo para alojar a familias desahuciadas por el impago de hipotecas. En todo caso, afirman, “se le dará el uso que la gente quiera, el que las asambleas de barrio decidan”.

Como cuentan varios indignados –prefieren no identificarse- que han pasado la noche de guardia ante el edificio para tratar de impedir cualquier posible intento de desalojo, “un grupo de personas que quería hacer algo más dinámico, poner un colofón al día festivo”, decidió tomar el hotel sobre las doce y media de la noche. Antes, se acercaron a la sede de la cadena SER, en la cercana Gran Vía, para pedir que emitiesen un manifiesto que hasta el momento no ha sido difundido. Aproximadamente a las tres y media de la mañana, los ocupas leyeron un comunicado en el que han anunciado su intención de permanecer y mediante el que se declararon no violentos.

Tras una ocupación, las 72 horas siguientes son críticas. Si la policía no interviene durante ese espacio de tiempo para desalojar a los nuevos inquilinos del lugar abandonado, según relatan, podrán quedarse hasta que el dueño del inmueble presente una denuncia y esta siga su curso legal, y eventualmente, un juez emita una orden de desalojo. Para tratar de evitar la intervención policial en esas 72 primeras horas, unas 50 personas han pasado la noche en las aceras, ante el hotel. Desde una ventana del primer piso del edificio, quienes estaban dentro les han lanzado mantas y sábanas para protegerse del frío, que ya empieza a dejarse notar en Madrid.

La policía no ha intervenido durante la madrugada. Solo cerca de las ocho de la mañana, cuando comenzaba a amanecer, un grupo de municipales se ha acercado al lugar para informarse sobre sus intenciones y pedirles, tranquilamente, que despejasen la acera para que los peatones que circulan por el céntrico lugar pudiesen transitar sin problemas. “Han sido muy majetes y muy educados”, relataba un joven que ha pasado la noche en vela antes de irse a trabajar. Apuntaba, sin embargo, que otros dos agentes que pasaron en coche ante ellos les gritaron “¡guarros!, como llaman los nazis a los hippies”.

Preguntados sobre si el Movimiento 15-M respalda la ocupación, los jóvenes indignados aclaran que “el 15-M no es un autoridad, sino personas que salen a la calle a luchar”. Las asambleas si quieren apoyan las acciones o si no, se desvinculan, recuerdan. “Para muchos esta acción es una respuesta legítima, aunque hay gente dentro del movimiento que no lo ve”, reconocen. Subrayan, no obstante, que en el 15-M “no todo son espacios cerrados de decisión”, y que en los inicios, allá por el mes de mayo, se decidió que se podían emprender individualmente acciones pacíficas. “Esto es un acto de desobediencia civil”, declaran. Por la mañana les han llegado noticias sobre otra ocupación ocurrida durante la noche en una calle perpendicular a la Gran Vía.

Cuando se iban acercando las diez de la mañana, el número de jóvenes que hacían guardia ante el hotel se había reducido considerablemente, y los que quedaban esperaban el relevo –“y cualquier aportación voluntaria, como comida, café…”-. Dada la espontaneidad de la ocupación, el cambio de turno no estaba completamente asegurado. Confiaban, eso sí, en que sus mensajes a través de la red social Twitter consigan a llevar hasta allí “a los que no estén aprovechando la mañana del domingo para dormir”. Lo que tenían claro los de dentro, y los de fuera, es que de ahí no piensan moverse. Al menos no voluntariamente.


London: Second night for Occupy London protesters outside St Paul’s Cathedral





A makeshift camp has been set up outside St Paul’s Cathedral, with anti-capitalist protesters set to bed down for a second night in London’s financial district.

Around 2,000 to 3,000 gathered in the area around the London Stock Exchange on Saturday as a movement that began in New York with Occupy Wall Street spread worldwide.

Tents were pitched at the foot of the steps of St Paul’s last night after police cordoned off Paternoster Square, where the stock exchange is located.

Hundreds of people camped overnight and clergymen told protesters this morning they had no problem with their presence as Sunday services took place as normal.

Between 200 and 300 remain there tonight, Scotland Yard said, but “the mood is calm”, according to a spokesman.

Earlier The Reverend Dr Giles Fraser, Canon Chancellor of St Paul’s Cathedral, said that while he hadn’t given his specific backing to the occupation of St Paul’s Churchyard he supported the democratic right to protest.

He said: “People have a right to protest and it’s been very good natured.

“Church went down well this morning. There were no problems. We had no problems getting people in. People were very helpful.”

Dr Fraser also said he had asked police to move off the steps this morning in order to allow worshippers better access to the cathedral.

He said: “The police have been very good as well. I haven’t seen any trouble, I understood there might have been some but I haven’t seen any trouble.

“The police were trying to protect the building for us which was very good of them.

“Earlier this morning I asked them if they’d leave because I didn’t feel that it needed that sort of protection.”

Asked what he thought about protesters staying another night, he said: “It’s cold, isn’t it going to be cold tonight? We’ll see how it goes, we’re taking one day at a time and it’s really good to see it’s all worked out well for us today.”

Dr Fraser said he had talked about the protest in his sermons this morning.

He said: “The gospel reading was about God and money quite extraordinarily, so I did preach about it.

“Some people from the protest came in for mass, it was really good to see them as well.”

One protester, a pensioner from London who gave her name as Ruth, said: “The vicar said he had no problem with us being here, he could see we weren’t here against the church, we were here against the stock exchange.

“He said that the bad news was that the cathedral’s bells are really loud, that our samba band was loud last night but we ain’t seen nothing yet, and that it would wake us all up.

“We said that’s absolutely fine with us and we’re delighted to have his support.”

The Met Police said it had made efforts to ensure the protest was largely peaceful.

Eight arrests have been made, and six of those arrested have been charged.

A 17-year-old girl is still in police custody, on suspicion of assaulting police, and a 41-year-old woman arrested on suspicion of assaulting police has been released on bail.

Those charged will appear at City of London Magistrates’ Court tomorrow.

Michael Firth, 39, of Claremont Road, Surbiton, Surrey, was charged under the Public Order Act. Benjamin James Marsh, 28, of no fixed address, was charged with the possession of cannabis. Justin Nickol, 30, of High Street, Walton-on-the-Naze, Essex, was charged with failing to remove covering, contrary to the Public Order Act. Nigal James McCorkell, 24, of Belgrade Road, north London, was charged with affray.

A final man, details of whom were not released by police, was charged under the Public Order Act.

Occupy London Stock Exchange supporter Anna Jones claimed “a disproportionate amount of force” was used by police against protesters outside St Paul’s.

She said: “We have seen people kettled, grabbed and thrown off the steps forcefully by the police. This was entirely unnecessary. None came here to have a fight with the police.”

A spokesman for the protesters said the demonstration was to “challenge the bankers and the financial institutions which recklessly gambled our economy”.

“This occupation and 20 other occupations all around the UK have been directly inspired by what’s happening all across America and especially Wall Street,” he added.

Well-known activists including Julian Assange and Peter Tatchell were among the protesters in London yesterday.

Mr Assange, creator of the WikiLeaks website, addressed the crowds on the steps of St Paul’s. A spokeswoman for the protesters said he had been challenged by police for wearing a mask as he walked to the protest.

Activists carried banners with slogans such as “We are the 99%” and “Bankers got a bailout, we got sold out”.

From Tahrir Square to Times Square: Protests Erupt in Over 1,500 Cities Worldwide




Posted Oct. 16, 2011, 1:08 a.m. EST by OccupyWallSt

Tens of Thousands in Streets of Times Square, NY

Tens of Thousands Flood the Streets of Global Financial Centers, Capitol Cities and Small Towns to "Occupy Together" Against Wall Street Mid-Town Manhattan Jammed as Marches Converge in Times Square.

New York, NY -- After triumphing in a standoff with the city over the continued protest of Wall Street at Liberty Square in Manhattan's financial district, the Occupy Wall Street movement has spread world wide today with demonstrations in over 1,500 cities globally and over 100 US cities from coast to coast. In New York, thousands marched in various protests by trade unions, students, environmentalists, and community groups. As occupiers flocked to Washington Square Park, two dozen participants were arrested at a nearby Citibank while attempting to withdraw their accounts from the global banking giant.

"I am occupying Wall Street because it is my future, my generations' future, that is at stake," said Linnea Palmer Paton, 23, a student at New York University. "Inspired by the peaceful occupation of Tahrir Square in Cairo, tonight we are are coming together in Times Square to show the world that the power of the people is an unstoppable force of global change. Today, we are fighting back against the dictators of our country - the Wall Street banks - and we are winning."

New Yorkers congregated in assemblies organized by borough, and then flooded the subway system en mass to join the movement in Manhattan. A group calling itself Todo Boricua Para Wall Street marched as a Puerto Rican contingent of several hundred playing traditional music and waving the Lares flag, a symbol of resistance to colonial Spain. "Puerto Ricans are the 99% and we will continue to join our brothers and sisters in occupying Wall Street," said David Galarza Santa, a trade unionist from Sunset Park, Brooklyn. "We are here to stand with all Latinos, who are being scapegoated by the 1%, while it is the bankers who have caused this crisis and the banks who are breaking the law."

While the spotlight is on New York, "occupy" actions are also happening all across the Midwestern and the Southern United States, from Ashland, Kentucky to Dallas, Texas to Ketchum, Idaho. Four hundred Iowans marched in Des Moines, Iowa Saturday as part of the day of action:

"People are suffering here in Iowa. Family farmers are struggling, students face mounting debt and fewer good jobs, and household incomes are plummeting," said Judy Lonning a 69-year-old retired public school teacher. "We're not willing to keep suffering for Wall Street's sins. People here are waking up and realizing that we can't just go to the ballot box. We're building a movement to make our leaders listen."

Protests filled streets of financial districts from Berlin, to Athens, Auckland to Mumbai, Tokyo to Seoul. In the UK over 3,000 people attempted to occupy the London Stock Exchange. "The financial system benefits a handful of banks at the expense of everyday people," said Spyro Van Leemnen, a 27-year old public relations agent in London and a core member of the demonstrators. "The same people who are responsible for the recession are getting away with massive bonuses. This is fundamentally unfair and undemocratic."

In South Africa, about 80 people gathered at the Johannesburg Securities Exchange, Talk Radio 702 reported. Protests continued despite police efforts to declare the gathering illegal. In Taiwan, organizers drew several hundred demonstrators, who mostly sat quietly outside the Taipei World Financial Center, known as Taipei 101.

600 people have begun an occupation of Confederation Park in Ottawa, Canada today to join the global day of action. "I am here today to stand with Indigenous Peoples around the world who are resisting this corrupt global banking system that puts profits before human rights," said Ben Powless, Mohawk citizen and indigenous youth leader. "Native Peoples are the 99%, and we've been resisting the 1% since 1492. We're marching today for self- determination and dignity against a system that has robbed our lands, poisoned our waters, and oppressed our people for generations. Today we join with those in New York and around the world to say, No More!"

In Australia, about 800 people gathered in Sydney's central business district, carrying cardboard banners and chanting "Human need, not corporate greed." Protesters will camp indefinitely "to organize, discuss and build a movement for a different world, not run by the super-rich 1%," according to a statement on the Occupy Sydney website.

The movement's success is due in part to the use of online technologies and international social networking. The rapid spread of the protests is a grassroots response to the overwhelming inequalities perpetuated by the global financial system and transnational banks. More actions are expected in the coming weeks, and the Occupation of Liberty Square in Manhattan will continue indefinitely.

Occupy Wall Street is a people powered movement that began on September 17, 2011 in Liberty Square in Manhattan’s Financial District, and has spread to over 100 cities in the United States and actions in over 1,500 cities globally. #OWS is fighting back against the corrosive power of major banks and multinational corporations over the democratic process, and the role of Wall Street in creating an economic collapse that has caused the greatest recession in generations.The movement is inspired by popular uprisings in Egypt, Tunisia, Spain, Greece, Italy and the UK, and aims to expose how the richest 1% of people who are writing the rules of the global economy are imposing an agenda of neoliberalism and economic inequality that is foreclosing our future.

Papandreou – Grécia: “CHEGOR A HORA DE AGIR DE MANEIRA COLETIVA E DECISIVA




Económico com Lusa

O primeiro-ministro grego apelou à União europeia (UE) para solucionar de maneira "colectiva e decisiva" a crise da dívida.

"Chegou a hora de agir de maneira colectiva e decisiva, estou convencido que a Europa pode e vai fazê-lo para que nós conduzamos em segurança a Grécia e a Europa para a saída da crise", afirmou Georges Papandreou.

A Grécia "vai levar a bom porto todos os seus compromissos, mas não somos a Atlântida que resolverá sozinha todos os problemas da Europa, nenhum país europeu consegue, nem mesmo a Alemanha", adianta o dirigente grego.

"O nosso combate é garantir que a Grécia não saia do euro" e "proteger o interesse da imensa maioria dos seus cidadãos, que viveriam uma verdadeira catástrofe se o país falisse", insiste o primeiro-ministro grego, excluindo que um acordo europeu possa abrandar o esforço de rigor.

"Eu queria poder garantir a todos uma solução imediata, uma vida melhor mas não posso", reconhece.

O primeiro-ministro grego também exclui qualquer perspectiva de demissão, uma hipótese evocada pelos media em Setembro, e a opção por um governo de unidade nacional, outro cenário avançado pela imprensa

Alemanha – DEUTSCHE BANK NEGOCEIA PERDÃO ATÉ 50 POR CENTO DA DÍVIDA GREGA




Económico com Lusa

O presidente do Deutsche Bank está a participar nas negociações para o perdão até 50% da dívida grega, escreve hoje o diário alemão ‘Bild’, citado pela EFE.

Segundo o jornal, que cita fontes não identificadas do Governo alemão, a banca privada está disponível para aceitar um perdão até 50% (bastante acima dos 21% acordados na cimeira de 21 de Julho), faltando apurar se a decisão pode ser fechada até ao final da semana.

Os países da zona euro pretendem ter pronto um pacote de soluções contra a crise das dívidas soberanas antes do Conselho Europeu do próximo dia 23 em Bruxelas, indicou no sábado o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, à saída da reunião do G20 em Paris.

Os meios de comunicação alemães têm nos últimos dias vindo a admitir como facto irreversível a reestruturação da dívida grega, e um perdão consequente, que estimam entre os 50 e os 60% da dívida. A decisão terá um forte impacto nos credores e na situação dos bancos privados expostos à dívida pública grega.

Josef Ackermann, que é também presidente da Associação Internacional da Banca (IIF), pronunciou-se na última quinta-feira contra a proposta defendida pelo presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, de recapitalização da banca europeia, considerando-a contraproducente, com o argumento de que seria um sinal claro de que se prepara a reestruturação da dívida grega.

O RUÍDO DAS RUAS E O MONÓLOGO DO DINHEIRO




SAUL LEBLON – CARTA MAIOR, em Blog das Frases

O que a banca tem retrucado em diferentes versões e cúpulas encontra sua síntese ilustrativa num episódio da semana que termina. O presidente da Comissão Européia, Manuel Barroso, sugeriu que bancos eventualmente socorridos por dinheiro público deveriam suspender o pagamento de bônus aos dirigentes, bem como a distribuição de dividendos aos acionistas.

Os gatos gordos imediatamente rechaçaram a dieta magra e retrucaram: querem carne fresca do matadouro público, sem renunciar à prerrogativa de fatiá-la no prato em nacos suculentos para saciar a gula pantagruélica.

O mundo gira e volta sempre à mesma pergunta de uma crise que caminha para o seu 5º ano sem solução: quem pagará a conta da implosão da ordem neoliberal, feita justamente de um acúmulo diluviano de passivos podres excretados do crédito desregulado?

A lenga-lenga em torno da 'capitalização' do sistema bancário do euro, que carrega cerca de 6,5 trilhões de dívidas de governos, a metade, suspeita-se, impagável, reflete esse impasse.

Otimistas imaginam que uma injeção de 300 bilhões de euros bastaria para anestesiar a aflição dos mercados. O colchão de liquidez, explicam , devolveria a confiança em ações e títulos de captação do setor bancário, lubrificando novamente a crucial engrenagem do crédito .

Espíritos menos afeitos à ligeireza contábil discordam. A desconfiança nos bancos do euro, argumentam, decorre em boa parte das suspeitas quanto à solvência de dívidas soberanas que entopem suas carteiras. Os 300 bi de euros da Grécia seriam apenas uma delicada cobertura do bolo indigesto, que contém camadas espanholas, italianas, portuguesas, irlandesas etc

Sem uma solução para o conjunto, a incerteza persistirá ; com ela, o risco sistêmico de uma quebradeira.

O custo de afastar de vez o fantasma pode ascender a catastróficos dois trilhões de euros, sobre os quais volta a mesma arguição: quem patrocinaria uma transfusão de tal calibre para estabilizar 'buracos' bancários?

Governos injetariam dinheiro público em bancos problemáticos de seus países? Se a origem do impasse decorre justamente do colapso fiscal dessas economias, de onde sairia o dinheiro para o socorro bancário? E quem compraria os títulos emitidos com essa finalidade por Tesouros combalidos?

De Portugal, vem o sinal que justifica o receio das ruas. O primeiro -ministro Pedro Passos Coelho anunciou pela tevê, na última 5ª feira, que além dos cortes em pensões e orçamentos sociais, bem como das privatizações 'heróicas', a carga horária dos funcionários do Estado será ampliada em meia hora a partir de 2012. Sem remuneração equivalente.

Ao criatividade da direita lusitana indica que há uma solução neoliberal para a crise do neoliberalismo. Algumas horas por dia de trabalho forçado --em regime de exceção, naturalmente, a exemplo das ditaduras redentoras-- adicionaria certa elasticidade à rigidez das contradições produzindo economias necessárias à salvação da banca e do sistema.

Ao contestar esse monólogo com seu ruído pluralista, as ruas não devem dar ouvidos a quem as enxerga como uma Babel incompreensível. Seu problema não decorre de uma deficiência lógica inerente às exclamações coletivas em defesa da saúde pública, da educação, do emprego, das aposentadorias dignas. Decorre apenas da ainda insuficiente escala dos decibéis com que essas coisas são ditas. Um flanco que, como se viu neste sábado, marcha com disposição para ser superado.

100 MIL INDIGNADOS EM LISBOA - “PASSOS, LADRÃO, NÃO LEVAS UM TOSTÃO”


Os manifestantes invadiram a escadaria da Assembleia da República (Foto: Miguel Manso)

Cláudia Carvalho – Público - ontem

100 mil manifestantes, segundo a organização

O encontro estava marcado para as 15h em vários pontos do país, mas só mais tarde é que as manifestações portuguesas começaram a ganhar força. A organização aponta para 100 mil pessoas na manifestação de Lisboa, o jornal espanhol El País baixa a estimativa para 30 mil. Ainda não há resultados à vista, mas já há uma nova manifestação agendada: 26 de Novembro.

O alvo foi claramente o primeiro-ministro, que há dois dias anunciou os cortes previstos para o Orçamento de Estado de 2012. "Passos, ladrão, não levas um tostão" foi o principal slogan gritado nas ruas, mas houve também referências à troika e ao anterior Governo. Só são conhecidos os números da organização, mas há quem diga que ficaram abaixo da última grande manifestação, no dia 12 de Março. A organização foi a mesma, mas desta vez uniram-se ao protesto mundial United for Global Change, que partiu dos indignados espanhóis e se espalhou este sábado por mais de 80 países.

Ao contrário dos confrontos violentos entre a polícia e os manifestantes italianos em Roma, em Portugal não houve incidentes graves. Fica apenas registado um momento de tensão em Lisboa, quando os milhares de manifestantes ocuparam a escadaria do Parlamento, obrigando a polícia a recuar e a pedir reforços.

Também no Porto ficou marcado o momento em que os manifestantes cortaram o cabo da bandeira de Portugal que está no mastro da câmara municipal. Entre críticas e aplausos houve ainda incentivos à queima da bandeira. Segundo a polícia estiveram nos Aliados um máximo de 10 mil a 12 mil pessoas, mas a organização avança o número de 25 mil pessoas.

Estudantes, desempregados, reformados e famílias, foram milhares os indignados que apareceram em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Évora, Faro e Angra do Heroísmo, pedindo uma mudança de posição do Governo, numa luta contra a precariedade, o desemprego e a corrupção. Exigiram uma maior democracia e o fim do capitalismo. Ouviu-se "A dívida não é nossa" como justificação.

Em ambiente de festa e descontraído, com alguns momentos de tensão e exaltação, os manifestantes não esqueceram a velha máxima "O povo unido, jamais será vencido" e durante horas fizeram-se ouvir, numa manifestação bastante barulhenta, entre tambores improvisados e apitos, contra as políticas de austeridade.

No fim do protesto, à semelhança do que aconteceu a 12 de Março, os milhares de manifestantes reuniram-se nas escadas dos Parlamento numa "assembleia popular" para debater contributos possíveis que ajudem a combater a crise. Entretanto, Assunção Esteves, presidente da Assembleia da República, já fez saber que está disponível para receber e ler estas propostas.

*Título Página Global

Angola – Brasil: AGENDA DE DILMA CARREGADA


Embaixadora do Brasil (à direita) anuncia a reunião da Comissão Mista Bilateral - Fotografia: Mota Ambrósio

ADELINA INÁCIO – JORNAL DE ANGOLA

A Presidente brasileira, que chega a Luanda, na quarta-feira, vem a Angola aprofundar a cooperação mútua e abrir nova fase nas relações política e económica entre os dois países, disse, na sexta-feira, ao Jornal de Angola, embaixadora daquele país.

Ana Cabral afirmou que Dilma Roussef vem a Angola para analisar as perspectivas de cooperação e testemunhar o crescimento e o desenvolvimento do país.

A diplomata referiu que a Presidente brasileira vai tratar também com as autoridades angolanas a participação dos dois países em fóruns e organizações internacionais.

Dilma Rousseff, no dia seguinte à chegada, homenageia o primeiro Presidente de Angola e fundador da Nação, com a deposição de uma coroa de flores no monumento a Agostinho Neto, no Largo da Independência, em Luanda.

Da agenda da Presidente do Brasil consta também um discurso na Assembleia Nacional, um encontro, com mulheres que fazem parte do Executivo e outro, com a comunidade do seu país.  Angola e o Brasil devem negociar acordos nas áreas de geologia e minas, segurança social, combate ao tráfico de drogas e de formação.

Dilma Rousseff, antes de visitar Angola, desloca-se à África do Sul para participar, em Pretória, na Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da Índia, Brasil e África do Sul (IBAS) – grupo criado, em 2003, para promover a cooperação – e a Moçambique. “Temos grande aproximação com Angola porque estamos não só na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), como também noutras organizações ”, lembrou ao, Jornal de Angola, Ana Cabral. A diplomata disse que a Presidente Dilma Rousseff vai também abordar o apoio que Angola tem dado ao processo de reforma do sector de Defesa e Segurança da Guiné-Bissau.

O Brasil, declarou, acompanha, com “muita atenção”, o projecto de recuperação das Forças de Defesa e Segurança da Guiné-Bissau realizado por Angola. A embaixadora anunciou a realização, para breve, de uma reunião da Comissão Mista Angola/Brasil para analisar a cooperação técnica em vários domínios, em que devem participar cerca de 20 ministérios dos dois países.

“Vamos discutir projectos de cooperação com as autoridades angolanas e abrir uma nova fase da cooperação mútua, o que é importante para a concertação política e económica”, declarou. A embaixadora revelou que, entre 2009 e 2010, a balança comercial entre os dois países atingiu cerca de 1,4 mil milhões de dólares e que o Brasil tem uma linha de crédito para Angola de três mil milhões de dólares.

Concertação política

Ana Cabral reafirmou que os dois países vão trabalhar em conjunto para manter a segurança na Zona de Paz e Cooperação do Atlântico, criada, em 1986, pelas Nações Unidas, constituída por Angola, Argentina, Benim, Brasil, Camarões, Cabo Verde, República do Congo, Costa do Marfim, República Democrática do Congo, Guiné Equatorial, Gabão, Gâmbia, Ghana, Guiné-Bissau, Libéria, Namíbia, Nigéria, Senegal, São Tome e Príncipe e Serra Leoa.

OS PROFESSORES QUE NÃO TEMOS EM ANGOLA




FILIPE ZAU – JORNAL DE ANGOLA, opinião

Debrucei-me em artigos anteriores, através de um exaustivo relato histórico, sobre as dificuldades das instituições de formação de professores, em oferecerem aos candidatos à docência, os saberes e as competências necessárias ao perfil de saída dos futuros agentes de ensino, certificados para leccionar, entre outras instituições, em escolas do ensino médio normal, do ensino geral e, muito particularmente, do ensino primário em regime de monodocência.

Contudo, devo salientar, se, durante a administração colonial, as dificuldades na formação de professores estiveram, até 1961, ligadas a abjectos princípios de assimilacionismo cultural, no pós-independência, por razões de ordem conjuntural, não se tornou possível dotar as instituições de formação de professores de estabilidade e de recursos necessários, para que a educação pudesse levar a cabo, o que, hoje, sob pressão, lhe é exigida. Porém, como o sistema educativo é complexo, não é possível dar respostas imediatas a expectativas políticas de curto prazo.

Os Institutos Superiores de Ciências da Educação

Como pudemos analisar, os Institutos Superiores de Ciências da Educação (ISCED), que deveriam formar adequadamente professores para leccionarem nos Institutos Médios Normais (IMN), ex-Institutos Normais de Educação (INE), não conseguem cumprir com esse desiderato. Na prática, os recém-licenciados nos ISCED deixam de se autoproclamar professores e passam a considerar-se (e a ser considerados), por exemplo: psicólogos, historiadores, sociólogos… Posteriormente, como licenciados, procuram, em primeira instância, exercer uma outra actividade laboral, que lhes proporcione um melhor salário, melhores regalias e maior prestígio social. Se, entretanto, não encontrarem esse emprego, então, vão dar aulas sem deixar de aguardar por uma nova oportunidade de emprego fora da docência.

Por seu turno, grande parte dos docentes dos ISCED têm de formar professores, quando, eles próprios, sendo ou não muito doutos numa determinada área do conhecimento, normalmente, não têm a necessária formação pedagógica para leccionar numa instituição de formação de professores. Assim sendo, não podem cumprir com o papel profissional que lhes cabe numa instituição específica para a formação de professores. Os próprios ISCED, de acordo com a Lei de Bases do Sistema de Educação, são ensino superior. Porém, são, também, instituições de formação de professores. Dependem do subsistema do ensino superior, mas não têm qualquer vínculo com o subsistema de professores.

As instituições de ensino médio normal

Os IMN e as Escolas do Magistério Primário, que deveriam ser alimentados em docentes pelos ISCED, com a falta dos mesmos partem para o recrutamento de professores estrangeiros ou, então, para o recrutamento apressado de ensinantes nacionais, que, acreditamos, podem dominar o conteúdo de ensino, mas não têm, normalmente, qualquer competência pedagógica para trabalharem numa instituição de formação de professores. Todavia, como dão aulas, mesmo não tendo o perfil profissional adequado, passam, também eles, a serem considerados professores/formadores, em pé de igualdade com qualquer outro profissional que dê aulas com a necessária formação académico-pedagógica.

Os professores que finalizam os IMN (ex-INE), tiveram como professores, na sua maioria, ensinantes que não são profissionais de ensino e, posteriormente, irão (ou não) – dependendo de possíveis outras oportunidades no mercado de trabalho – dar aulas, como professores, a crianças e adultos em escolas públicas e privadas. Mas, como os estudantes formados nos IMN que optam pela docência são, em cada ano lectivo, muito poucos para dar resposta ao número crescente de crianças que, obrigatoriamente, irão iniciar a vida escolar, recrutam-se jovens candidatos à docência sem qualquer preparação pedagógica e, muitas vezes com duvidosa certificação académica.

São muitos destes jovens, desencantados por não terem conseguido uma outra ocupação, que se candidatam à docência, trabalham logo de seguida nas escolas e ficam a aguardar por uma formação contínua, que lhes proporcione uma capacitação pedagógica. Assim, em cada ano lectivo, se vai “desenrascando” a situação, hoje minimizada com Zonas de Influência Pedagógica (ZIP’s).

A principal questão em jogo

Imaginemos uma Faculdade de Medicina onde haja professores que não sejam médicos; uma Escola de Enfermagem onde haja professores que não sejam médicos, nem enfermeiros; e um hospital onde os doentes são tratados por pessoas certificadas por essas hipotéticas instituições, onde, por vezes, nunca assistiram a aulas práticas, por falta de docentes para o efeito? Pense-se agora em “professores” (que a bem da verdade não o são) e que, de um momento para o outro, passam a dar aulas aos nossos filhos e netos?Mas, será que haveria outras alternativas para garantir, em cada ano lectivo, o funcionamento das instituições de ensino? Na conjuntura histórica, político-militar, económica e social que vivemos desde a independência, digo, sem qualquer hesitação, que não, pois só demagogicamente poderíamos dizer o contrário. O Brasil, por exemplo, independente desde 1822, tinha, ainda em finais da década de 80, professores leigos; ou seja, professores com apenas a 4ª série (4ª classe). Contudo, não podemos perder o pé do conhecimento das nossas reais dificuldades em matéria de docência, nem considerar que as situações provisórias de um determinado momento histórico deixaram, com o tempo, de ser atípicas para passarem a ser normais.

Estando a educação repleta de agentes de ensino que se formaram (ou não) como professores – uns desejosos de encontrarem uma outra ocupação profissional que lhes garanta um melhor salário e um maior prestígio social e, outros, apelidados de “professor” quando, na realidade, nunca o foram – o que fica em jogo? Apenas o desejo de se alcançar o mais rapidamente possível a qualidade de ensino.

Só através “do saber, do saber-fazer e do saber situar-se”, nos diferentes níveis de formação docente, se encontrarão os pré-requisitos indispensáveis para uma instrução adequada, pois cabe, em primeira instância, ao professor profissionalmente capacitado, como interventor social de excelência, preparar e formar crianças, jovens e adultos que, mais tarde, venham a participar, activamente, na vida produtiva, cultural e no exercício pleno da nossa cidadania.

Não se pondo em causa a competência profissional dos que são e dos que não são professores, das muitas questões ligadas à reforma educativa (reformulação em profundidade dos objectivos gerais da educação, programas escolares, conteúdos, métodos pedagógicos, estruturas e meios pedagógicos adequados a realidade angolana; melhoria das aprendizagens e enquadramento pedagógico dos alunos; formação inicial e em exercício dos professores; modernização e reforço da inspecção escolar; melhoria da qualidade e quantidade de manuais escolares; melhoria do trabalho metodológico e do processo docente educativo das escolas; garantia da participação da comunidade nos trabalhos da escola, isto é, a garantia da relação entre a escola e a comunidade; redução do analfabetismo e expansão do programa de recuperação do atraso escolar), um só aspecto polémico vem emergindo como descrédito da reforma educativa: o ensino primário em regime de monodocência.

A monodocência no ensino primário

Após a análise do perfil de muitos “hipotéticos” professores que leccionam no ensino primário, há afirmações que se manifestam contra a monodocência pelo facto de não haver ensinantes capazes de darem as áreas curriculares de todo o ensino obrigatório de seis classes. Eu diria, que, muitos desses ensinantes, em situação normal, nem sequer deveriam dar aulas. Contudo, como a reforma educativa é um processo em constante aperfeiçoamento, para além das ZIP’s, o apoio formativo e pedagógico aos agentes de ensino com maiores dificuldades terá de lhes ser proporcionado, através do emprego de princípios andragógicos na formação contínua e no uso de material de apoio sobre os conteúdos a ensinar e como os leccionar.

A monodocência no ensino primário, independentemente de quatro, seis, ou até mesmo, sete classes (como ocorre, hoje, em grande parte dos países subsaharianos e não só), obedece, entre outros aspectos: a razões de ordem psicopedagógica, tal como as metodologias de aprendizagem que estão em consonância com a psicologia do desenvolvimento e a psicologia das idades.

No Brasil, por exemplo, há um projecto da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, que “está colocando um só professor para ensinar português, ciências, matemática e todas as disciplinas básicas no 6º ano (antiga 5ª série) do ensino fundamental. Pelo sistema tradicional de ensino, os alunos têm aula com um só professor até o 5º ano (antiga 4ª série) e, a partir do 6º, têm diversos professores, especializados nas disciplinas que leccionam. Actualmente, 53 turmas fazem parte do projecto, mas, no ano que vem, o sistema pode ser ampliado para todas as escolas da rede. Segundo a secretária Cláudia Costin, a ideia é adiar a transição, pois alunos com 11 anos são muito novos para passar pela mudança. Entre as vantagens do projecto, Costin aponta a criação de um vínculo afectivo mais forte entre aluno e professor. ‘O professor fica muito mais tempo com a turma.’ Para Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP, o projecto também favorece a interdisciplinaridade. ‘Por ser apenas um professor vai forçar que articulações entre disciplinas seja mais presente.’ Quanto à formação segundo a secretária, apesar de não terem formação específica na área, os professores não têm problemas para ensinar os conteúdos. ‘Estamos falando de ensino fundamental. Não existe a hipótese de o professor não conhecer o conteúdo.’ Eles também têm auxílio de apostilas e recebem supervisão semanal. Para Maria Márcia Malavasi, da Faculdade de Pedagogia da Unicamp, é essencial que os docentes passem por cursos para saber ensinar os conteúdos. ‘É muito difícil um professor ter domínio de todas as áreas de conhecimento’, afirma. Malavasi levanta também a hipótese de o projecto representar ‘uma estratégia para baratear os custos com mão-de-obra na escola.’ A assessoria da secretaria disse que o projecto não tem a ver com economia, apenas com a questão pedagógica. [Luiza Bandeira (27 de Abril de 2011), No Rio um só professor ensina matemática, ciência e português, Folha de São Paulo, São Paulo].

* Ph. D em Ciências da Educação e Mestre em Relações Interculturais

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