quinta-feira, 3 de maio de 2012

GOVERNO USA A MENTIRA COMO SOPORÍFERO




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

O ministro-adjunto e dos Assuntos Parlamentares de Portugal mostrou-se hoje (numa manifesta demonstração de hipocrisia) preocupado com a taxa de desemprego de 15,3% registada em Março.

"São números preocupantes. O desemprego tira-nos o sono e é muito motivador para o trabalho que estamos todos os dias a desenvolver", disse Miguel Relvas. Se, eventualmente, fosse verdade, as vítimas (um milhão e duzentas mil) estariam acordadas 24 horas por dia.

Nem nesta matéria o ministro consegue ser original. Já no dia 25 de Março, Miguel Relvas afirmou que o desemprego é aquilo que verdadeiramente "tira o sono" ao Governo.

Está-se mesmo a ver, não está? Ninguém acredita que o governo tenha insónias ou durma mal por causa do desemprego que, por sinal, apenas atinge os outros. E, como é hábito, com o mal dos outros – mesmo que portugueses - pode bem, e de que maneira, este governo.

"Estão todos os dias nas nossas preocupações e nós não arranjamos desculpas, ao contrário de outros. Se há circunstância que nos tira o sono verdadeiramente, são os números alarmantes do desemprego", afirmou nesse dia Miguel Relvas aos porta-microfones que estavam à entrada para o Congresso do PSD.

Admitindo, como remota tese académica, que é verdade, o que dirão os portugueses desempregados, mesmo sabendo-se que são cidadãos de segunda e que, por isso, não gozam dos mesmos direitos da casta superior? O que dirão quando, para além do sono, lhe tiram a comida, o presente, o futuro, a casa, a escola dos filhos, a saúde da família?

"António José Seguro disse que o doutor Pedro Passos Coelho revela ser o primeiro-ministro mais insensível de Portugal e eu disse que, durante seis anos, ele primeiro foi presidente da comissão de Educação, depois foi presidente da comissão de Economia, e não lhe conheço nenhuma divergência de fundo com o engenheiro Sócrates e do Governo do engenheiro José Sócrates que levou Portugal quase à bancarrota", disse Miguel Relvas do alto da sua cátedra de perito dos peritos.

De facto, dizer que um primeiro-ministro que mente, que institui um regime esclavagista, que é forte com os fracos e fraquinho com os fortes, é insensível peca necessariamente por… defeito.

Quem disse que “estamos disponíveis para soluções positivas, não para penhorar futuro tapando com impostos o que não se corta na despesa”, não foi o líder do PS mas sim Pedro Passos Coelho.

Quem disse “aceitarei reduções nas deduções no dia em que o Governo anunciar que vai reduzir a carga fiscal às famílias”, não foi o líder do PS mas sim Pedro Passos Coelho.

Quem disse “vamos ter de cortar em gorduras e de poupar. O Estado vai ter de fazer austeridade, basta de aplicá-la só aos cidadãos”, não foi o líder do PS mas sim Pedro Passos Coelho.

Quem disse “ninguém nos verá impor sacrifícios aos que mais precisam. Os que têm mais terão que ajudar os que têm menos”, não foi o líder do PS mas sim Pedro Passos Coelho.

Quem disse “para salvaguardar a coesão social prefiro onerar escalões mais elevados de IRS de modo a desonerar a classe média e baixa”, não foi o líder do PS mas sim Pedro Passos Coelho.

Quem disse “posso garantir que não será necessário despedir pessoas nem cortar mais salários para sanear o sistema português”, não foi o líder do PS mas sim Pedro Passos Coelho.

Goste-se ou não, João Ribeiro, do Secretariado Nacional do PS, tem razão quando diz: "Com mais de um milhão de portugueses à procura de emprego, com milhares de portuguesas e portugueses a adiar consultas médicas por não terem dinheiro para transporte ou taxas, com tantos idosos a racionarem medicamentos, não é tolerável que o porta-voz do governo PSD-CDS se dedique a jogar com as palavras e a atacar o líder do PS".

Dir-me-ão, com razão que não contesto, que PS e PSD são fuba do mesmo saco. Apesar disso, importa ter memória para o que gostamos e para o que não gostamos. Importa, igualmente, perguntar como é possível manter um governo em que um primeiro-ministro mente?

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: SIM, COMO É POSSÍVEL? – Leia também a entrevista a Orlando Castro em ORLANDO CASTRO, JORNALISTA, "O PODER DAS IDEIAS ACIMA DAS IDEIAS DE PODER"

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