sexta-feira, 25 de maio de 2012

Guiné-Bissau: Um país com dois presidentes e dois chefes de governo



Mussá Baldé, da Agência Lusa

Bissau, 25 mai (Lusa) - A Guiné-Bissau é um país com a particularidade de ter dois presidentes da República, um interino e outro de transição, e outros tantos primeiros-ministros, sendo que um é de transição e o outro é 'de jure'.

Com o golpe de Estado militar ocorrido a 12 de abril, o Presidente Raimundo Pereira, que estava no cargo interinamente devido à morte do Presidente eleito, Malam Bacai Sanhá, foi substituído por Serifo Nhamadjo, presidente em exercício do Parlamento que é agora Presidente da República de Transição.

Raimundo Pereira esteve detido durante alguns dias pelos militares, depois foi posto em liberdade e agora a partir de Portugal diz que ainda é o "Presidente legítimo da Guiné-Bissau por não ter renunciado ao cargo" aquando do golpe de Estado.

Só que no terreno a realidade parece ser outra. Os militares, alguns partidos e a CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) designaram Serifo Nhamadjo Presidente 'de facto' da Guiné-Bissau.

O novo Presidente da Guiné-Bissau foi incumbido pela CEDEAO da tarefa de conduzir a transição de 12 meses e preparar e realizar eleições gerais no final desse período.

Por outro lado, enquanto o primeiro-ministro 'de jure', Carlos Gomes Júnior, cujo mandato devia terminar em novembro deste ano, foi convidado em certos fóruns internacionais na qualidade de chefe do Governo da Guiné-Bissau, no país há um outro primeiro-ministro para chefiar o executivo de transição.

O engenheiro informático Rui Duarte de Barros já formou o seu Governo e, segundo disse, começou a trabalhar para preparar o país para novas eleições.

A bicefalia no topo do Estado não se fica por aqui. Na realidade a Guiné-Bissau tem dois ministros dos Negócios Estrangeiros. Mamadu Saliu Djaló Pires (MNE do Governo deposto, que se encontrava fora do país no dia do golpe de Estado) viaja - a partir de Portugal- fala e responde em nome do país nas conferências e fóruns internacionais.

Mas no terreno, a partir de Bissau, desde quarta-feira já existe um novo chefe da diplomacia guineense: Faustino Imbali.

Quando confrontado com o facto de os dois responsáveis depostos com o golpe de Estado (Raimundo Pereira e Carlos Gomes Júnior) afirmarem que são Presidente e primeiro-ministro legítimos da Guiné-Bissau, porque não renunciaram aos seus cargos, o porta-voz do Comando Militar, autor do golpe de Estado, Daba Na Walna desdramatizou a situação.

"Podem até ser Presidente e primeiro-ministro 'de jure' mas 'de facto' a realidade é outra aqui no terreno", acrescentou Na Walna, que falava, na terça-feira, naquela que disse ser a última conferência do Comando Militar.

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