quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Pedro Pires lidera observadores que já sabem que as eleições em Angola são... livres e justas

 


Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*
 
Assim se vê a força dos dólares de sangue do regime angolano do MPLA. Até os observadores eleitorais são escolhidos a dedo. A escolha varia entre invertebrados, corruptos, cegos e similares.
 
Quem melhor do que Pedro Pires para chefiar a Missão de Observadores da União Africana? Estando à vista, por muito benevolentes e ingénuos que sejam os que se interessam por Angola, a possibilidade de fraudes na votação de sexta-feira, nada melhor do que escolher um observador amigo e que, em 2001, ganhou as eleições presidenciais cabo-verdianas à custa de uma fraude.
 
No dia 16 de Junho de 2010, quando recebeu o seu homólogo da Guiné Equatorial, ficou a saber-se que o então presidente de Cabo Verde era cada vez mais apologista da entrada do reino de Teodoro Obiang Nguema Mbasogo na Comunidade de Países de Língua(?) Portuguesa.
 
Na altura, os mais ingénuos estranharam que Pedro Pires tenha barrado os jornalistas quando estes, numa coisa a que se chama liberdade de imprensa, se aproximaram para chegar à fala com Teodoro Obiang Nguema Mbasogo.
 
Pedro Pires impediu as câmaras da televisão de filmarem a entrada para o veículo oficial que levou Obiang Nguema para a Assembleia Nacional, o que gerou manifestações de repúdio dos jornalistas, tal o ineditismo do gesto, que foi mostrado e comentado de forma crítica pela televisão local.
 
Segundo a Repórteres Sem Fronteiras, em 2009 Cabo Verde tinha caído do 36º para 44º lugar em matéria de liberdade de imprensa. Se calhar, na altura enquanto presidente e agora como chefe da Missão de Observadores às eleições de Angola, proteger um ditador é até uma qualidade, sobretudo petrolífera, que pode render muitos pontos.
 
Obiang, que a revista norte-americana “Forbes” já apresentou como o oitavo governante mais rico do mundo, e que depositou centenas de milhões de dólares no Riggs Bank, dos EUA, tem sido acusado de manipular as eleições e de ser altamente corrupto.
 
“Mas o que é que isso importa”, perguntará certamente Pedro Pires, tal como fazem José Eduardo dos Santos, Armando Guebuza ou Pedro Passos Coelho.
 
Obiang, também ele amigo do “querido líder” do MPLA, que chegou ao poder em 1979, derrubando o tio, Francisco Macias, foi reeleito com 95 por cento dos votos oficialmente expressos (também contou, como é hábito, com os votos dos mortos), mantendo-se no poder graças a um forte aparelho repressivo, do qual fazem parte os seus guarda-costas marroquinos.
 
“Mas o que é que isso importa”, perguntará certamente Pedro Pires, tal como fazem José Eduardo dos Santos, Armando Guebuza ou Cavaco Silva.
 
Recorde-se que gozando, como todos os ditadores que estejam no poder, de um estatuto acima da lei, Obiang riu-se à grande e à francesa quando em 2009 um tribunal... francês rejeitou um processo que lhe fora intentado por recorrer a fundos públicos para adquirir residências de luxo em solo gaulês, com a justificação de que – lá como em qualquer parte do mundo - os chefes de Estado estrangeiros, sejam ou não ditadores, gozam de imunidade.
 
Os vastos proventos que a Guiné Equatorial recebe da exploração do petróleo e do gás natural poderiam dar uma vida melhor aos 600 mil habitantes dessa antiga colónia espanhola, mas a verdade é que a maior parte deles vive abaixo da linha de pobreza.
 
Mas se, por exemplo, em Angola há 70% os pobres, porque carga de chuva não podem também existir, democraticamente, na Guiné Equatorial?, perguntará certamente Pedro Pires, tal como fazem José Eduardo dos Santos, Armando Guebuza ou Paulo Portas.
 
Reconheça-se, contudo, que tomando como exemplo Angola, a Guiné Equatorial preenche todas as regras para entrar de pleno e total direito na CPLP. Não sabe o que é democracia mas, por outro lado, tem fartura de petróleo, o que é condição “sine qua non” para comprar o que bem entender… incluindo observadores do tipo Pedro Pires.
 
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
 
Título anterior do autor, compilado em Página Global: Forças Armadas de Angola, supostamente apartidárias, apoiam o candidato do MPLA
 

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