quinta-feira, 25 de outubro de 2012

GUINÉ-BISSAU, TERÁ SIDO MAIS UMA INTENTONA?

 

Eugénio Costa Almeida* – Pululu*
 
Na madrugada do passado domingo alguns indivíduos terão atacado o quartel da base da força aérea em Bra, nos subúrbios da capital Bissau, por volta das 3horas locais, mais especificamente, e segundo as actuais autoridades militares, terá visado o paiol daquele quartel.
 
A consequência terá sido a morte de 6 pessoas, algumas delas com farda militar vestida, desconhecendo-se, porque as mesmas autoridades não o confirmam, se seriam todos dos rebeldes ou, também, de militares do quartel.
 
De acordo com os militares do actual e quase que auto-proclamado CEMGFA, general António Indjai, o mentor e do golpe de Abril de 2012 e verdadeiro chefe de Estado da Guiné-Bissau, teria sido um grupo de rebeldes que teriam vindo de fora do país e liderados por um capitão apoiante de Carlos Gomes Júnior, o capitão Pansau N´Tchama, e proveniente, nas vésperas, de Portugal.
 
De notar que este mesmo militar, segundo algumas fontes, um comendo, estará estado envolvido no atentado e subsequente assassínio do presidente Nino Vieira e do responsável máximo das Forças Armadas, Batista Tagmé Na Waie, em Março de 2009.
 
Talvez por isso não tenham sido surpreendentes as primeiras acusações do porta-voz do governo provisório, que de legítimas só o são para a CEDEAO, tenham convergido para Portugal e para a CPLP.
 
Nada mais óbvio, porque estas duas entidades continuam a considerar autênticas as autoridades apeadas pelo Golpe enquanto as duas partes não se sentarem a uma mesa, em plena igualdade e resolvam as questões que se mantém pendentes.
 
Recorde-se que, oficialmente – reforço, oficialmente – o actual Governo liderado pelo presidente interino Manuel Sherifo Nhamadjo, não tem o apoio da Organização das Nações Unidas, da União Europeia e da CPLP. Estas organizações afirmam que seu governo permanece sob a influência de um Exército que nunca se submete ao Poder político e persiste no golpismo.
 
Ora, as horas e os dois dias subsequentes foram de perseguições e detenções por parte dos militares de Indjai.
 
Entre os detidos e agredidos, como demonstram algumas fotos de jornalistas em Bissau, estão o advogado Silvestre Alves, líder do Movimento Democrático Guineense MDG), e Iancuba Djola N’Djai, da FRENAGOLPE, Frente Nacional contra o Golpe de Estado de Abril passado, e, mais grave ainda, este terá sido detido dentro da sede do PAIGC.
 
Ora, parece que tudo começa a conjugar que o tal ataque contra Bra mais não terá sido que uma tentativa. Mais uma, de consolidar o Golpe de Estado de Abril, ainda que só aceite pela CEDEAO.
 
Por isso, não terá sido estranho que Indjai, Yalá e a CEDEAO se tenham reunido de urgência após as situações que á posteriori aconteceram.
 
Ou seja, tudo indica que mais não aconteceu que uma Intentona!
 
Ora como recorda o jornalista António Aly Silva, no seu blogue “Ditadura do Consenso” o local do ataque, a base aérea de Bra, é “o domínio do Batalhão de Pára-Comandos e, a par do Batalhão de Mansoa, uma das mais habilitadas unidades das Forças Armadas da Guiné-Bissau”. O seu efectivo completo, “é de cerca de 1.000 homens”, um “volume [considerado mais que] suficientemente dissuasor para levar um grupo aparentemente desorganizado e escasso a tentar tomá-lo de assalto”.
 
O antigo líder presidencial, entretanto derrubado, e actual líder do PRS, Kumba Yalá é encarado nos meios diplomáticos, em particular, nos que acompanham a situação na Guiné Bissau, como “principal obstrutor” de qualquer consenso que tenha a participação do PAIGC num futuro governo de Transição a ser criado, no âmbito das organizações internacionais mediadoras.
 
Por outro lado, o actual ministro das relações Exteriores da Guiné-Bissau, Faustino Imbali, terá pedido, por pressão do general Indjai, a substituição de Joseph Mutaboba como representante do Secretário-geral ONU, eventualmente agastado com declarações deste sobre aspectos da situação no país. Este pedido acabou por ficar sem efeito devido aos “ouvidos moucos” da ONU.
 
Ora, a actual situação na Guiné-Bissau não pode persistir sob pena do país continuar a regredir no seu desenvolvimento com as naturais consequências nefastas, para o Povo Bissau-guineense.
 
Não são com Intentonas e com falinhas mansas da CPLP e de uma certa Comunidade Internacional que a situação se resolverá.
 
Não esqueçamos que o país que viu reconhecida a independência em 1974 tem persistido em efectuar Golpes de Estado e está conectado, nomeadamente pelo Departamento de Estado dos EUA, como uma plataforma que os cartéis de drogas da América Latina para a Europa usam, em particular o seu enorme labirinto de ilhas pouco controlados.
 
24Out2012
 
©Publicado no Notícias Lusófonas, na rubrica "Manchete", em 24.Outubro.2012
 

Sem comentários:

Mais lidas da semana