sábado, 9 de junho de 2012

O DIA DE PORTUGAL E DOS SEM RAÇA




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

Amanhã, nas ocidentais praias lusitanas a norte, embora cada vez mais a sul, de Marrocos comemora-se o “Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas”. A bem, é claro, da Nação onde, em tempos, também era o dia da raça.

Comemora-se, creio, também o nobre facto de uma nação valente que tem mais um milhão e duzentos mil desempregados, 20% de gente na miséria e outro tanto que já a sente a bater à porta.

Comemora-se, creio, o facto de António Borges, o consultor do Governo que defende a redução urgente dos salários, ter ganho em 2011 a módica quantia de 225 mil euros livres de impostos.

Comemora-se, creio, um brilhante exemplo, entre muitos outros, de António Mexia (presidente executivo da EDP) que auferiu a simbólica quantia de 3,1 milhões euros, o que traduzido significa que ganhou em cada mês 25 anos de salário médio de cada português.

Seja como for, sendo certo que há cada vez mais portugueses que o único sonho que têm nesta altura é serem apenas... pobres, Portugal festeja o seu dia, com cerimónias presididas pelo homem que nunca se engana e que raramente tem dúvidas, o Presidente da República.

Em Março de 2002, Cavaco Silva afirmava na Faculdade de Economia do Porto, numa conferência intitulada "Política Orçamental: Passado, Presente e Futuro", que o mal da economia portuguesa está nas finanças públicas, mas que o "medo" dos políticos dificulta a sua correcção, malgrado defender um quase poder de veto para o ministro das Finanças e considerava que Portugal teria no máximo um ano e meio para inverter a tendência de degradação da situação económica.

O que andou o actual presidente a fazer desde essa data? Andou, como anda, a gerir a gamela pública onde ele e muitos outros se juntam para mamar à custa dos escravos.

"Parece-me que as medidas que têm de ser tomadas para inverter a situação de marasmo e evitar grandes preocupações quanto ao que acontecerá na proximidade do alargamento da União Europeia e da redução dos apoios estruturais da Comunidade requerem um apoio parlamentar maioritário", afirmou o ex-primeiro-ministro. "Se não for assim, estou pessimista", acrescentou.

Para o economista e professor universitário, será, contudo, "muito complicado" para o próximo Governo resolver "o problema mais grave" que afecta a economia portuguesa: a crise nas finanças públicas. "Os políticos, como pessoas normais que são, têm medo, e será precisa muita coragem política para adoptar políticas necessárias, mas cuja viabilidade política é duvidosa", afirmou, sublinhando: "Não será nada fácil".

O que andou o actual presidente a fazer desde essa data? Andou, como anda, a gerir a gamela pública onde ele e muitos outros se juntam para mamar à custa dos escravos.

Lembrando que o Ecofin "está a olhar de forma muito particular para Portugal", Cavaco Silva defendeu que a solução passa, necessariamente, por "reforçar os poderes do ministro das Finanças", que deve contar com o apoio incondicional do primeiro-ministro e dispor "de um poder quase de veto sobre os restantes ministérios".

O objectivo é, dizia há dez anos, assegurar a concretização de medidas que se antevêem impopulares, como as reformas da saúde - apostando na gestão privada dos hospitais públicos - e educação, a extinção de alguns serviços públicos, a contenção nas transferências para as autarquias, o equilíbrio das contas externas e o assegurar de "disciplina" nas empresas públicas.

Neste particular, o ex-primeiro-ministro considerou ser necessário acompanhar "quase à semana o endividamento de determinadas empresas públicas, nomeadamente no sector dos transportes e do audiovisual.

O que andou o actual presidente a fazer desde essa data? Andou, como anda, a gerir a gamela pública onde ele e muitos outros se juntam para mamar à custa dos escravos.

Quanto à evasão e fraude fiscais, apontou como única solução viável "um claro levantamento do sigilo bancário" sustentando que, mesmo face ao risco de fuga de capitais, "em situação de crise" esta medida se impõe. Imperativo é ou era também "restituir a credibilidade à política orçamental" portuguesa, cuja "imagem de facilitismo e laxismo influenciou negativamente a actuação das empresas e agentes económicos e acabou também por estimular o adiamento de certas reformas estruturais".

"A nossa política orçamental continua a ser a grande fonte de ineficiência económica" em Portugal e é a "primeira razão do mau comportamento da produtividade", considerou, defendendo a realização de orçamentos plurianuais.

O que andou o actual presidente a fazer desde essa data? Andou, como anda, a gerir a gamela pública onde ele e muitos outros se juntam para mamar à custa dos escravos.

Hoje, como quase sempre, Cavaco Silva sacode a água do capote e continua (como se, para além de presidente da República, não andasse há um monte de anos na política portuguesa) a esquecer-se de que quem não vive para servir não serve para viver.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: O DONO MANDA… E ELE ASSINA!

Portugal: Rui Rio defende que câmaras endividadas não devem ter eleições




O presidente da Câmara do Porto defendeu que as autarquias muito endividadas deveriam ser geridas por uma comissão administrativa e não ter eleições.

Rui Rio falava na Curia, distrito de Aveiro, como orador convidado da 2.ª universidade do poder local, organizada pelo PSD Nacional, JSD Nacional e Grupo Europeu do PSD (GEPSD), em que abordou questões relacionadas com os orçamentos municipais.

«Quando uma câmara está excessivamente endividada, quem vier depois a ganhar eleições não tem margem para tomar qualquer decisão política. As câmaras endividadas não deviam ter eleições, mas sim uma comissão administrativa para a gestão corrente, até estarem equilibradas», defendeu.

O presidente da Câmara do Porto manifestou o seu apoio às medidas do Governo para forçar as autarquias a terem uma gestão equilibrada, mas disse esperar que o PSD seja coerente nas próximas eleições autárquicas e não recandidate autarcas que fizeram má gestão.

«Estou para ver se o PSD nas autárquicas vai ser coerente e deixa de apoiar quem geriu mal. Vai o partido ter essa coerência ou dizer que só os do PS é que geriram mal?», questionou.

Ao dirigir-se a jovens quadros da JSD e possíveis candidatos, Rui Rio aconselhou a equilíbrio e seriedade na elaboração dos orçamentos municipais, que na maioria dos casos «estão viciados há muito tempo» em Portugal.

O autarca descreveu que a maioria dos endividamentos excessivos das câmaras não se deve aos endividamentos bancários mas às dívidas aos fornecedores.

Para fazer despesa, a receita é empolada, sobretudo as receitas extraordinárias, como a venda de terrenos que depois não se concretiza, ou pelo menos pelo montante inscrito, explicou.

Rui Rio aconselhou futuros autarcas a criarem «uma almofada» ou «conta-saco», colocando uma verba «bastante superior» numa rubrica de despesa, que depois possa ser transferida para outras rubricas se algo correr mal.

O autarca afirmou que é o que tem feito na Câmara do Porto e, mesmo assim, «é muito difícil se, a meio do exercício orçamental, é retirado cinco por cento do IMI, como o governo decidiu».

Opinião Página Global

Pois claro. Cá estão os FDP a defender a suspensão provisória da democracia, neste apelo salazarento referem isso mesmo para autarquias. Eles (políticos) desbundam, abundam em corrupção e roubos, fazem más gestões, e em vez de serem responsabilizados por isso, não. Quem se trama é a democracia. Não haver eleições por responsabilidade de autarcas, de políticos que usam e abusam da impunidade só pode ser fruto de mentecaptos salazarentos e nada mais que isso. Agora, instalada que está a barbárie dos ataques à democracia, à Constituição, às liberdades e aos Direitos dos portugueses, os Rios deste país a saque estão bem mais descarados. Manuela Ferreira Leite há cerca de um ano também defendeu um interregno da democracia. Os PSDs estão repletos de salazaristas, de ditadores abrigados na cor laranja de um pseudo partido social democrata. Não é por acaso que Portugal caminha, de ataque em ataque, para os tempos cinzentos e negros da ditadura salazarista. Agora com novas roupagens e novas tecnologias mas sempre com a mesma falta de justiça, de liberdade, de democracia. De Belém a São Bento, da Câmara Municipal do Porto até muitos outros negros horizontes a democracia em Portugal vai morrendo ante os olhos de um povo acarneirado, adormecido, que reage convulsivamente, em pequeno número e só para não dizer que nada diz nem nada faz para resistir. O resultado é esse mesmo: a ausência de resistência, de resposta adequeada e urgente aos ataques à democracia, à justiça, à liberdade, aos direitos consagrados constitucionalmente. Um povo que nem ao menos se insurge por tanto ser roubado, desconsiderado e desprezado, que espécie de povo é?

Começam as Festas de Lisboa… Menos sardinhas nas redes, mas mais gordinhas




Graciano Coutinho, jornalistaO Povo Online, Portugal Sem Passaporte

Instituto de Investigação das Pescas e do Mar explica porque é que há menos sardinhas na costa. Os preços por quilo variam pelo país, entre 0,5 a 2,05 euros, mas ao que tudo indica, os Santos Populares vão ser bem saborosos.

A programação das Festas de Lisboa arrancou quinta-feira à noite com um espectáculo de rua, na zona do Rossio e dos Restauradores, e estende-se até dia 30 de Junho com iniciativas em toda a cidade, que está ainda mais colorida e, nos bairros se sente o cheirinho a sardinha assada na brasa.

Nos últimos anos tem havido uma diminuição para cerca de metade do “stock” de sardinha na costa ibérica. Não se conhecem as causas deste fenómeno da baixa capacidade de renovação. Sabe-se que não tem a ver com a pesca, mas com vários factores, explica Paulo Mónica, do conselho directivo do Instituto de Investigação das Pescas e do Mar (IPIMAR).

“É mais fácil dizer quais não são as causas do que quais são. O que é claro é que não é devido a pesca. É um problema que se arrasta há anos em todo o planeta, diga-se de passagem, sendo tantos os parâmetros que não se consegue dizer qual o que motiva isso.”

“Pode ser temperatura da água? Pode. Pode ser competição entre as espécies? Pode. Podem ser todas juntas e mais quinze? Pode. Podem ser todos estes parâmetros”, diz Paulo Mónica.

Para tentar inverter esta situação, foram tomadas várias medidas no âmbito do chamado plano de gestão da pesca da sardinha. Uma delas é a redução das quotas de pesca.

“Houve uma quota que foi estabelecida desde Janeiro até 31 de Maio de nove mil toneladas, no seu conjunto é uma quota que implica uma redução considerável relativamente às quotas que existiam em anos anteriores. Há por exemplo uma proibição de pesca durante 48 horas ao fim-de-semana, para os pescadores não associados têm capturas diárias limitadas”, explica o responsável do IPIMAR.

Ao haver uma redução das quotas de pesca, há uma diminuição do “stock” e daí haver menos sardinha à venda no mercado. Os preços variam muito. Na última semana, a sardinha na lota de Viana do Castelo era a mais barata de todas com cada quilo a custar 51 cêntimos. A mais cara foi vendida na lota de Olhão a 2,05 euros.

Como habitualmente, a sardinha será o prato nas festas dos Santos Populares e, tudo indica, prometem ser boas. “Este ano a sardinha começou a engordar um pouco mais cedo do que o costume. Diria que sim, que vamos ter um Verão apetecível deste ponto de vista”.

Esperam-se boas sardinhas já para os Santos Populares, que começam na próxima semana em Lisboa.

Brasil: Vale paga ninharia de imposto. E o Pará, nem quer saber disso?




Lúcio Flávio* - Envolverde

De 1997, quando a Lei Kandir entrou em vigor, isentando de imposto a exportação de produtos semielaborados (ou não industrializados), até o ano passado, a antiga Companhia Vale do Rio Doce recolheu pouco mais de 540 milhões de reais em ICMS ao Pará pela venda ao exterior do minério de ferro de Carajás, o melhor do mundo. O ano recorde de pagamento do principal imposto estadual pela ex-estatal foi 2009, quando o valor chegou a R$ 197 milhões.

Nos 10 anos dos governos tucanos seguidos de Almir Gabriel e Simão Jatene, de 1997 a 2006, o recolhimento de ICMS somou R$ 236 milhões. Nos quatro anos de Ana Júlia Carepa, do PT, a soma foi de R$ 304 milhões.

Por incrível que possa parecer, de 1997 a 2001, a Vale contribuiu para o erário com menos de R$ 6 milhões em impostos sobre minério de ferro exportado, o principal item da pauta de exportação do Pará e do Brasil. Em 1997 a CVRD foi privatizada e, não por mera coincidência, entrou em vigor a famigerada Lei Kandir, de autoria do ex-ministro de Fernando Collor de Mello e então deputado federal por São Paulo, Antônio Kandir. O ICMS pago pela Vale foi então de R$ 18.828,37. Menos do que pagou ao tesouro estadual um supermercado da esquina.

O recolhimento deu um “enorme” salto no ano seguinte: foi para R$ 173 mil. Patinou em R$ 177 mil em 1999. Saltou para R$ 1,9 milhão em 2000 e foi multiplicado para R$ 4,5 milhões em 2001. Ou seja: em seis anos, a média anual de contribuição tributária da mineradora para o Estado foi de R$ 1,2 milhão. Parabéns ao deputado Kandir. E – provavelmente – otras cositas más para ele.

Aí a China atacou o mercado internacional com sua fome insaciável de aço. O ICMS recolhido em 2002 alcançou R$ 38 milhões. Baixou para R$ 26 milhões do ano seguinte, infletiu para R$ 38 milhões em 2004 e ficou pouco acima de R$ 60 milhões em 20005 e 2006.

Neste caso, sim, por mera circunstância quanto a políticas e realidades locais, a fatura tributária da Vale despencou para pouco abaixo de R$ 40 milhões entre 2007 e 2008, já no governo de Ana Júlia. Aparece então o fenômeno de 2009, dos R$ 197 milhões. Graças à recuperação da vitalidade da economia chinesa depois da crise financeira internacional. Mas entre 2010 e 2011 a queda voltou a ser brutal: para R$ 29 milhões e R$ 31 milhões nos dois anos, respectivamente. Nos quatro meses deste ano a conta ainda não chegou a R$ 12 milhões

O minério de ferro ainda é o grande negócio da Vale – no mundo, no Brasil e no Pará. Mas os números mudam com o avanço da mineradora sobre outras substâncias minerais depositadas no subsolo de Carajás. No mesmo período a exploração de ferro na nova mina, a de Serra Leste, subiu de R$ 6 milhões no acumulado até 2006 para R$ 299 milhões em 2001, sendo R$ 259 milhões só nesse último ano. Nesses 14 anos, a exploração do cobre da Serra do Sossego rendeu R$ 218 milhões de ICMS. A iniciante produção de níquel do Onça Puma e do Vermelho recolheu pouco mais de R$ 70 milhões.

Todo o Sistema Norte de mineração da Vale rendeu em 14 anos aproximadamente R$ 1,3 bilhão de ICMS ao Pará. A média é de menos de R$ 100 milhões por ano. O Pará vai viver disso?

Esta é a conta do povo. Agora, a contabilidade da empresa.

Em 2011 as exportações totais do Pará foram de 18,3 bilhões de dólares (em torno de R$ 33 bilhões), sendo quase US$ 17 bilhões (ou mais de 90% do total, ou mais de R$ 30 bilhões) de produtos de origem mineral, em bruto ou semielaborados – isentos de impostos, portanto.

A Vale exportou no ano passado 97 milhões de toneladas de minério de ferro de Carajás, com faturamento de 11,7 bilhões de dólares, correspondentes a quase 20 bilhões de reais. Pois bem: esses R$ 20 bilhões renderam R$ 30 milhões de ICMS. Ou 0,15%. Alíquota de desmoralizar qualquer erário; de massacrar qualquer povo. E fazer a festa de outro povo, como o chinês: desses 97 milhões de minério de ferro extraídos e exportados, 47 milhões (exatamente a metade do total) foram para a China, que pagou US$ 5,8 bilhões.

Dá uns US$ 120 por tonelada. É muito se comparado com os US$ 15/25 por tonelada do início de Carajás, na metade dos anos 1980. Mas quem possui minério igual? E quando ele acabar, não depois de 400 anos de exploração, conforme se previa inicialmente, mas em menos de um século, na escala atual de lavra? A partir de 2015 a produção passará para inacreditáveis 230 milhões de toneladas anuais?

Talvez continue a ser maravilhoso para os donos de papeis da Vale com direito a dividendos prioritários, mas e para o Brasil? E para o Estado do Pará? Quem garante? Quem sabe das coisas?

Todos deviam saber. Mas raros se interessam. O que é uma pena – e muito cara. Criei um blog (www.valeqvale.wordpress.com) justamente para conhecermos melhor essa portentosa companhia, esfinge ou cavalo de Tróia. Poucos se apresentaram. Agora estou colocando nas ruas um dossiê especial sobre a Vale (A Vale engorda. O Pará emagrece”, é o título da publicação, com 44 páginas).

É tentativa de provocar o debate, despertar o interesse e mobilizar a vontade dos paraenses. Mais tarde será irremediavelmente tarde. Como já está sendo. Os paraenses continuam desatentos ao movimento do maior trem de cargas do mundo, que leva o filé-mignon dos minérios de Carajás para o exterior, com destino certo: a Ásia. A história do Pará parou, como manda a dança. O trem, não.

* Lúcio Flávio Pinto é jornalista paraense. Publica o Jornal Pessoal (JP).

** Publicado originalmente no site Adital.

BANDEIRA VERDE PARA RIO+20




Fabiana Frayssinet, da IPS - Envolverde

Rio de Janeiro, Brasil, 8/6/2012 – Enquanto a Organização das Nações Unidas (ONU) hasteava sua bandeira nesta cidade que receberá uma de suas mais esperadas cúpulas mundiais sobre meio ambiente, a presidente Dilma Rousseff transmitia de Brasília a mensagem de que o combate à pobreza também pode ser verde. Dilma, usando uma blusa verde e azul, cores que simbolizam a rica biodiversidade brasileira, anunciou, no dia 5, um pacote de medidas verdes, dando um sinal ao país, e também ao mundo, que já a observa às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20.

Entre as políticas que Brasília levará adiante está a criação de novas áreas de extração de recursos naturais e unidades de conservação indígena, ao mesmo tempo em que ordena que as compras públicas priorizem empresas comprometidas com o cuidado com o meio ambiente. Contudo, estes não foram os únicos temas com os quais o governo buscou surpreender sua plateia ambientalista. A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, informou que foi registrado “o menor índice de desmatamento da Amazônia em toda sua história”.

Foi um anúncio de grande efeito diante da proximidade da abertura dos encontros da sociedade civil prévios à cúpula oficial patrocinada pela ONU, que acontecerá de 20 a 22 deste mês no Rio de Janeiro, para avaliar o que foi decidido nesta mesma cidade há duas décadas, na Cúpula da Terra, e definir uma nova agenda ambiental. O Brasil fez sua parte, e antes do estabelecido em suas metas internacionais, destacou a ministra, ao indicar que na chamada Amazônia Legal foram desmatados 6.418 quilômetros quadrados entre agosto de 2010 e julho de 2011.

“Esse dado representa metade do que foi em 1992, quando foi realizada a chamada Eco 92, e um terço menos do que foi em 2004, comparou a ministra ao falar no Dia Mundial do Meio Ambiente, que foi celebrado com cerimônias paralelas realizadas no Rio de Janeiro e em Brasília, onde Dilma recebeu autoridades das Nações Unidas. Uma mensagem expressa na métrica de números, porcentagens e metas que Dilma destacou uma e outra vez em seu discurso, em um momento em que chovem críticas de organizações ambientalistas e sociais.
As primeiras a acusam de realizar uma política ambiental “desenvolvimentista a todo custo” e as segundas de estar “submetida aos interesses do agronegócio”. A presidente respondeu dizendo que “estamos mergulhados nesse conceito de sustentabilidade traduzido pelos verbos crescer, incluir, proteger”. Dilma ressaltou ainda que, ao mesmo tempo em que pratica uma “agenda ambiental exemplar”, seu governo e o que o antecedeu desde janeiro de 2003, presidido por Luiz Inácio Lula da Silva, fizeram crescer o produto interno bruto em mais de 40% desde então, e permitiram que 40 milhões de pobres pudessem passar a integrar a classe média.

“Crescemos incluindo e nos transformamos em uma referência de preservação ambiental. É uma demonstração ao mundo de que é possível conseguir esses três objetivos e conjugar os três verbos”, reiterou Dilma, ao informar sobre a inclusão de 24 mil famílias pobres no programa Bolsa Verde, que estimula a busca de soluções rentáveis e sustentáveis. Porém, esses avanços detalhados pelo governo podem ser anulados rapidamente, por exemplo, com a estratégia de priorizar a construção de grandes complexos hidrelétricos na selva amazônica, segundo as organizações brasileiras que integram o Comitê de Defesa das Florestas.

Os ativistas também criticam a prospecção e exploração de combustíveis fósseis, que o governo considera imprescindível para enfrentar os novos desafios energéticos de uma nação com mais de 192 milhões de habitantes e uma classe média em constante crescimento. Dilma recordou que o Brasil tem uma das matrizes energéticas mais limpas. Entretanto, com a descoberta de novas e insondáveis reservas de petróleo no pré-sal do Oceano Atlântico próximas da costa, agora o governo também aposta em uma fonte não renovável e controversa.

Um dos grandes temas da Rio+20 é a economia verde, que se baseia em reduzir o uso de combustíveis de origem fóssil e a emissão de gases-estufa para priorizar o desenvolvimento sustentável, recordou o analista político Maurício Santoro, da Fundação Getulio Vargas. “O Brasil tem um discurso oficial simpático, mas políticas públicas que o contradizem”, criticou. “Coloca ênfase na exploração de petróleo nas camadas pré-sal e na construção de gigantescas hidrelétricas na Amazônia”, acrescentou.

Mário Mantovani, responsável pela organização ambiental SOS Mata Atlântica, disse à IPS que “o governo agora tem esse discurso para aliviar a série de erros estratégicos que cometeu”, como “retirar a proteção ambiental” do novo Código Florestal. Brenda Brito, secretária-executiva da não governamental Imazon, une-se ao coro de protestos do Comitê de Defesa das Florestas e, embora considere positivo o anúncio de novas áreas de preservação ambiental e reservas indígenas, pergunta até que ponto existe um compromisso do governo com a agenda verde.

“De fato, houve uma redução no desmatamento, mas vários pontos aprovados no Código Florestal podem colocar em xeque o que já foi conquistado”, alertou Brenda, ao lembrar à IPS alguns pontos dessa lei que, por exemplo, diminuem zonas de proteção de florestas. Esta é apenas a frente interna que Dilma deve vencer, em relação a outra que também existe em nível internacional com as potências industrializadas que estarão presentes na Rio+20.

Como recorda Maurício, a posição brasileira tem sido a das “responsabilidades comuns, apesar de diferenciadas”. Isto significa “que os países ricos e pobres têm de trabalhar juntos em questões ambientais, mas que a conta dos ajustes deve ser paga pelas nações do Norte, auxiliando os Estados em desenvolvimento com transferência de tecnologias limpas e recursos para adaptarem-se ao aquecimento global”, ressaltou. Envolverde/IPS

A APOSTA NO BRASIL



Paola Ligasacchi  - Carta Maior

A crise econômica mundial está fazendo com que a grande leva de latino-americanos, que deixou o continente na metade da década de 1990 rumo à Europa, tome o caminho de volta para casa. Em Roma muitos brasileiros resolveram retornar ao Brasil este ano por causa do agravamento da crise econômica que afeta mais gravemente os países do Mediterrâneo. A história de três brasileiras que migraram para trabalhar na Itália e voltaram no mês passado para o Brasil mostra essa tendência. O artigo é de Paola Ligasacchi.

O Brasil sempre foi um país de imigração. Agora, além dos estrangeiros que não param de chegar, o país recebe de volta brasileiros e brasileiras que trabalhavam na Europa

Os primeiros a chegarem como colonizadores foram os portugueses, depois os africanos que entraram como escravos. A partir de 1820 foi a vez dos espanhóis e alemães e em 1875 foram os italianos para trabalhar as terras do sul do Brasil. No início do século XX, os japoneses desembarcaram para trabalhar nas colônias rurais do estado de São Paulo e Pará. A partir da década de 70 o Brasil também passou a receber um grande número de sul-americanos e asiáticos - coreanos e chineses. A estabilidade econômica recente do Brasil com a moeda - o real forte tem contribuído para um processo de retorno de emigrados brasileiros e a redução do fluxo migratório observado até 2003.

Mas qual é hoje o impacto do continente americano sobre o resto do mundo? Desde 1492, na era dos descobrimentos, passando pela contribuição da América Latina a tantos países seja com metais preciosos, seja com alimentos e remédios, o Continente Americano volta a chamar a atenção do Velho Continente e dos migrantes no que se refere à percepção sobre o futuro.

A crise econômica mundial está fazendo com que a grande leva de latino-americanos, que deixou o continente na metade da década de 1990 rumo à Europa, tome o caminho de volta para casa. No Brasil, segundo dados do Ministério de Relações Exteriores, o fluxo migratório também se viu alterado no final da década de 90. De país que recebía a força de trabalho dos imigrantes, o Brasil passou a exportar mão-de-obra. Na década de 80, por causa da recessão econômica, o aumento da inflação e do desemprego e os baixos salários, cerca de 2,6 milhões de brasileiros emigraram do país entre os anos 80 e 90. Em anos recentes, porém, com o crescimento da economia brasileira, aliado às crises que afetam os pólos de desenvolvimento mundial, o número de emigrantes caiu significativamente.

Hoje assistimos a uma nova inversão dos fluxos migratórios, caracterizada não apenas pelo fluxo dos brasileiros, mas também pela entrada de novos imigrantes que estão desembarcando mais uma vez no Brasil. Segundo dados do Ministério da Justiça, o número de estrangeiros em situação regular no Brasil aumentou 52,4% no último semestre e continua crescendo.

Embora existam diferenças entre os países, e também entre as gerações, sobre a percepção do futuro - hoje há visões mais otimistas na China ou no Brasil do que em países da União Européia e nos Estados Unidos. Porque de fato atravessamos um tempo de rápidas transformações, mas isso não constitui um elemento novo em tempos críticos. Foi assim ao longo de todo o século XX com duas guerras mundiais que marcaram a primeira metade do século passado. Depois os anos da Guerra Fria com a ameaça de uma guerra nuclear. E, mais recentemente, notamos a mesma sensação de desorientação ao vermos como os Estados Unidos e agora alguns países da União Européia mergulharam numa crise econômica como se o capitalismo liberal tivesse chegado ao seu limite.

Até o início deste século XXI, os países poderiam encontrar modelos de desenvolvimento importados do Ocidente, do Leste e até mesmo resultante da combinação dos dois. Hoje esses marcos sinalizadores desapareceram e os "pilotos" que guiariam nossos destinos também. Mas o Brasil que enfrenta a crise com resistência começa a receber de volta brasileiros e brasileiras que há mais de vinte anos imigraram para a Itália.

Em Roma muitos brasileiros resolveram retornar ao Brasil este ano por causa do agravamento da crise econômica que afeta mais gravemente os países do Mediterrâneo. A história de três brasileiras que migraram para trabalhar na Itália e voltaram no mês passado para o Brasil mostra essa tendência. Marlete, Cacilda e Beatriz são três mulheres que chegaram a Roma para trabalhar e economizar em euros. Marlete tinha 28 anos quando veio trabalhar na capital italiana no final da década de 80, primeiro trabalhou em casa de famílias italianas, depois numa clínica para mulheres e nos últimos oito anos esteve como atendente numa das filiais de uma rede de padarias em Roma. Com cidadania ítalo-brasileira Marlete Campregher nunca se casou, não teve filhos e imigrou para a Itália com a vontade de um dia retornar ao Brasil onde era auxiliar de enfermagem. Há poucas semanas, depois de morar vinte e três anos na capital italiana voltou para Florianópolis onde deixou alguns parentes. Marlete pôde economizar dinheiro suficiente para conseguir comprar a casa própria em Blumenau, sua cidade natal.

“Em 1990 o Brasil não estava bem, não tinha a consideração que tem hoje e neste momento eu posso me permitir voltar para o meu país” diz Marlete, sempre agradecida por todas as oportunidades que teve aqui e pelos amigos que fez na Itália. Vamos embora da Itália com a cabeça erguida. Aqui vivi bem e agora como ainda estou jovem, tenho 49 anos, posso continuar a trabalhar no Brasil. Trabalhamos honestamente e com muita integridade, respeito por nós mesmas, conta Marlete ao lado da amiga brasileira Cacilda que também voltou no mesmo vôo para o Brasil.

A brasileira Cacilda Rodrigues que também morou mais de vinte anos em Roma foi para Goiânia onde moram seus filhos. Aqui ela trabalhou no consultório de uma médica italiana que se aposentou e fechou o consultório. Depois que seu marido faleceu, Cacilda disse que chegou a hora de voltar para estar mais perto da família que ficou em Goiás.

A manicure Beatriz dos Santos voltou com seu marido para o Paraná depois de morar onze anos em Roma. Trabalhava como manicure a domicílio. Ganhava bem, sempre foi reconhecida pelo trabalho e pontualidade por todas as suas clientes, mas decidiu acompanhar seu marido que sempre quis voltar ao Paraná. O marido de Beatriz trabalhava em Roma fazendo pequenos serviços como pintor, encanador, eletricista, mas não tinha a cidadania italiana como Beatriz e sempre pensou em retornar a Maringá. “Aqui eu felizmente trabalhei bem e foi uma facilidade porque tenho cidadania italiana pela minha descendência, mas meu marido não teve a mesma sorte e nos últimos tempos as oportunidades de trabalho começaram a diminuir. Por isso decidimos voltar“, conta Beatriz que volta animada com a possibilidade de engravidar e poder criar seu filho no Brasil.

A coragem e a determinação caracterizam a vida dessas três mulheres que migraram para trabalhar na Europa, economizaram em euros e agora regressam para o Brasil que pertence ao Novo Mundo e que volta a chamar a atenção mais uma vez do Velho Continente, mas agora como exemplo de um grupo de países latinoamericanos com modelos próprios e bem sucedidos.

De acordo com o último relatório sobre migração de 2012 na Itália, 93 mil italianos a mais deixaram a Itália rumo a outros países em relação ao ano passado. Apesar das estatísticas serem aproximadas uma vez que não é possível registrar todos aqueles que continuam a emigrar, a maioria trata-se de jovens desempregados além de profissionais recém formados em busca de uma oportunidade de trabalho fora da Itália onde a taxa de desemprego para os jovens até 25 anos já ultrapassa trinta e cinco por cento.

Enquanto a crise financeira que paralisa o mundo desde 2008 tornou-se também uma crise de consumo onde os países mais desenvolvidos passaram a cobrar da sua população o preço pago pelos desastres promovidos pela especulação financeira., no Brasil a opção por uma política de crescimento com inclusão social mostrou-se acertada. E isso chama de volta muitos brasileiros e acaba por atrair novos imigrantes.

HÁ OÁSIS NO ABISMO?




Carvalho da Silva – Jornal de Notícias, opinião

Como é possível, com que fundamentos e objetivos o primeiro-ministro (PM) afirmou esta semana que "os portugueses já não estão perante o abismo com que nos defrontámos há praticamente um ano atrás"? Passos Coelho, que já afirmou "só vamos sair da crise empobrecendo", surge contaminado pela "malvadez difusa" que caracteriza os contextos de profundas crises.

Uma análise rigorosa aos problemas com que se depara a União Europeia (UE) - onde estamos e de que dependemos em grande medida -, às duríssimas condições de vida e de trabalho dos portugueses e aos bloqueios estruturais da nossa economia só pode conduzir-nos, infelizmente, a conclusão oposta àquela.

Nestes últimos dias surgiram duras confirmações do caminho para o abismo que a UE está a percorrer. Há um ano, os países da UE em dificuldade eram três ou quatro, hoje são já a maior parte dos membros da Zona Euro. As estimativas económicas anunciadas para 2013 foram revistas em baixa e também para Portugal.

Espanha, nosso vizinho cuja economia nos influencia fortemente, está numa situação muito delicada e o governo clama por apoios contra a "entrada dos homens de preto". No dia 7, a agência Fitch desceu o seu rating em três níveis; as chantagens sobre este importante país vão prosseguir e os buracos não vão ser fáceis de tapar.

Joshka Fischer, ex-ministro alemão, afirmou recentemente que a Europa "está em chamas" e que a Sr.ª Merkel "anda a apagar o fogo com gasolina". Entretanto, a Agência Moody's baixou o rating de bancos alemães.

O egoísmo e a sobranceria exibida por setores económicos e políticos alemães agravam a situação dos países em maiores dificuldades, como é o caso de Portugal, e não vão resolver os problemas da Alemanha para o futuro.

Mário Draghi disse: "alguns dos problemas da Zona Euro" não têm origem na política monetária, mas sim na "falta de ação de outras instituições". Contudo, não se esperem soluções político-institucionais positivas com a atual relação de forças no plano político e com as orientações económicas e financeiras que se perspetivam.

Quando a Sr.ª Christine Lagarde diz "fechem os políticos numa sala até que concordem num plano", propondo-se ficar com as chaves da porta da sala, sabemos em que receitas de injustiças e exploração assentaria esse plano.

Paul Krugman, observando as orientações traçadas na última reunião do Conselho de Governadores do BCE, "gente que está numa situação confortável", diz que esta gente "é completamente louca face a tudo o que aprendemos nos últimos 80 anos. Mas estes tempos são de loucura, vestida em fatos chiques".

Por cá também temos os Srs. Borges & C.ª, nos seus fatos chiques, receitando as loucuras que empobrecem os portugueses.

A troika afirmou-se "preocupada" com a escalada do desemprego e, por isso, reclama mais flexibilização e desregulação do trabalho, mais cortes nos salários. Objetivamente propõe a eliminação da contratação coletiva sugerindo que em cada empresa os patrões estabeleçam o que "podem" pagar.

Esta ignóbil proposta é feita quando chegou ao presidente da República (PR), para promulgação, o texto da revisão do Código do Trabalho que ultrapassa a razoabilidade jurídico-constitucional e as condições necessárias para equilíbrios no funcionamento da sociedade. São inadmissíveis as alterações à organização do tempo do trabalho, aos regimes de cessação do contrato de trabalho e da contratação coletiva, à fiscalização e controlo do cumprimento das leis laborais. Será um escândalo se o PR o promulgar.

No último ano regredimos em todas as áreas do social e, esta semana, o que conhecemos de novas medidas na Saúde e no Ensino é um desastre. O desemprego é um drama nacional em crescendo. Todos os dias há uma família a pedir ajuda à Deco para pagar as contas da água, do gás e da eletricidade.

Portugal não é um oásis no abismo. Essa visão é delirante!

As palavras do PM de "reconhecimento e agradecimento aos portugueses" pelos sacrifícios feitos são, consciente ou inconscientemente, um exercício de malvadez. São os parabéns aos portugueses pela passividade com que se deixam explorar e enxovalhar.


Portugal: Protesto da CGTP reúne milhares de trabalhadores no Porto




Milhares de trabalhadores participam no Porto desde as 14.50 horas deste sábado, indiferentes à chuva e ao vento, numa manifestação convocada pela CGTP em defesa de uma nova política para o país.

Os trabalhadores estão a realizar um percurso de três a quatro quilómetros entre a Boavista e a zona de S. Bento, onde o secretário-geral da CGTP fará uma intervenção.

Manifestantes ouvidos pela Lusa exigiram Mais emprego e menos austeridade, mas também a resolução de problemas específicos dos seus setores.

"É preciso, é urgente uma política diferente" e "o país não se endireita com uma política de direita" são algumas das palavras de ordem entoadas.

A manifestação foi convocada em defesa de novas políticas para o país que promovam o emprego e as funções sociais do Estado.

A ação de protesto, que conta com a participação dos trabalhadores dos distritos a norte de Coimbra, é também uma forma de apoio às propostas que a CGTP tem apresentado para o país sair da crise, que passam, nomeadamente, por dinamizar a procura interna.

A CGTP convocou uma manifestação idêntica para Lisboa, para o dia 16, que contará com a participação dos trabalhadores dos distritos abaixo de Coimbra.

O DONO MANDA… E ELE ASSINA!




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

O sipaio que dirige, com funções delegadas pelo chefe do posto, o Jornal de Angola, órgão oficial do regime do MPLA, continua a assinar textos produzidos pelos donos do reino, desta vez tendo como alvo o deputado Raul Danda.

José Ribeiro, lá do alto da sua copa, diz que foi na Jamba que Raul Danda andou na escola de jornalismo, e que lá “nunca existiu lei e nos palcos políticos que pisa, também não”. O sipaio não faz a mínima ideia do que foi a Jamba, no contexto histórico, militar, político, social e cultural a altura, mas quanto aos palcos políticos actuais é um mestre. Daí o dizer que nestes nunca existiu lei… a não ser a do MPLA.

“Nós queremos que os leitores saibam do que é capaz um indivíduo sem escrúpulos, sem princípios e sem moral que evoca a lei para continuar pactuar com graves violações ao direitos humanos denunciadas ao Jornal de Angola por pessoas que deram a cara chamando a atenção para o perigo de essas práticas prosseguirem na província de Cabinda”, diz o texto parido pelos donos do reino e assinado por José Ribeiro.

Como o texto que aparece no pasquim do MPLA, embora certamente escrito por outro, assinado por José Ribeiro, terá de ser ele responsabilizado (isto se, um dia talvez, Angola vier a ser um Estado de Direito), entre outras coisas, por defender para Cabinda o que o regime de Salazar defendia para Angola. Ou seja, um regime colonialista onde impera a regra (também praticada pelo regime em Angola) de que até prova em contrário… todos são culpados.

O sipaio, até porque deverá ter aprendido alguma coisa com os colonos portugueses, sabe que Angola sonega aos cabindas os seus mais elementares direitos, amordaçando pela força todas as tentativas de colocar a força da razão acima da razão da força. Mas, mesmo assim e compreensivelmente, tem de cumprir as ordens do dono.

Ler que “o deputado Raul Danda, estendido ao comprido numa amálgama de palavras sem nexo, insinuações maldosas e raciocínios inconsistentes”, quer “impor ao Jornal de Angola uma censura à verdade de factos, acontecimentos e declarações de personalidades que são importantes para os leitores compreenderem o que de facto se passou e se passa em Cabinda”, faz-me acreditar que – mesmo sendo um eficiente sipaio – José Ribeiro nunca chegará sequer a chefe do posto. Aliás, quem nasce para ribeiro nunca chega (mesmo com o apoio do MPLA) a ser rio.

José Ribeiro afirma em defesa dos (im)polutos patrões que os amigos de Raul Danda são os que“encomendam a morte de civis isolados, desportistas e jornalistas nas estradas de Cabinda”, são os que “compraram explosivos e armas para destruir o aeroporto de Cabinda”.

Faltou ao sipaio acrescentar, mas certamente não faltarão oportunidades, que os amigos do deputado são também aqueles que assassinaram mais de 40.000 angolanos depois dos acontecimentos de 27 de Maio de 1977, acusados de serem apoiantes de Nito Alves.

Diz ainda a criatura que “Raul Danda está habituado a dizer sobre Cabinda o que lhe vem à cabeça, sem contraditório”, mas que “tem agora que se habituar a partilhar esse palco com os antigos dirigentes da FLEC que estão empenhados na paz e na reconciliação nacional. E que sabem que isso só é possível com verdade e não por trás do biombo dos falsos activistas dos direitos humanos”.

Curiosamente, e acho que no sua ânsia de ser mais do que um riacho, Ribeiro meteu água, ao falar de paz e reconciliação nacional. O sipaio está a reconhecer e - mais do que isso – a contrariar as teses do seu patrão que, desde há muito, diz que em Cabinda está tudo bem, na santa paz do representante divino em Angola, de seu nome José Eduardo dos Santos.

“Se Danda quiser revelar a verdade das mulheres queimadas nas fogueiras da Jamba, das senhoras violadas à frente dos maridos, dos assassinatos dos quadros mais válidos da UNITA, tem uma entrevista garantida no Jornal de Angola, da mesma maneira que temos publicado as suas posições como chefe da bancada da UNITA na Assembleia Nacional. E vai ser entrevistado pelo mesmo jornalista que tem feito os excelentes trabalhos que temos publicado sobre Cabinda. Ficamos à espera que pelo menos diga nas nossas páginas como se sentiu, como activista defensor dos direitos humanos, quando foi assassinado o mais velho Tchingunji, esse autêntico monumento da luta de libertação nacional”, diz o invertebrado e protocolarmente chamado de director do pasquim do regime.

Por mim, também garanto a José Ribeiro todo o espaço que ele entender se quiser falar, entre outros, do massacre de Luanda que visou o aniquilamento e de cidadãos Ovimbundus e Bakongos, onde morreram 50 mil angolanos, entre os quais o vice-presidente da UNITA, Jeremias Kalandula Chitunda, o secretário-geral, Adolosi Paulo Mango Alicerces, o representante na CCPM, Elias Salupeto Pena, e o chefe dos Serviços Administrativos em Luanda, Eliseu Sapitango Chimbili.

Ou do massacre do Pica-Pau em que, no dia 4 de Junho de 1975, perto de 300 crianças e jovens, na maioria órfãos, foram assassinados e os seus corpos mutilados no Comité de Paz da UNITA em Luanda.

Ou do massacre da Ponte do rio Kwanza, em que no dia 12 de Julho de 1975, 700 militantes da UNITA foram barbaramente assassinados, perto do Dondo (Província do Kwanza Norte), perante a passividade das forças militares portuguesas que garantiam a sua protecção.

Ou de, entre 1978 e 1986, centenas de angolanos terem sido fuzilados publicamente, nas praças e estádios das cidades de Angola, uma prática iniciada no dia 3 de Dezembro de 1978 na Praça da Revolução no Lobito, com o fuzilamento de 5 patriotas e que teve o seu auge a 25 de Agosto de 1980, com o fuzilamento de 15 angolanos no Campo da Revolução em Luanda.

Ou de, em Junho de 1994, a Força Aérea ter bombardeado a Escola de Waku Kungo (Província do Kwanza Sul), tendo morto mais de 150 crianças e professores, bem como entre Janeiro de 1993 e Novembro de 1994 ter bombardeado indiscriminadamente a cidade do Huambo, a Missão Evangélica do Kaluquembe e a Missão Católica do Kuvango, tendo morto mais de 3.000 civis.

Eu sei, reconheço, que tudo o que de mal se passou, passa ou passará em Angola é culpa da UNITA. Desde logo porque as balas das FALA (Galo Negro) matavam apenas civis e as das FAPLA/FAA (MPLA) só acertavam nos militares inimigos. Além disso, como também é sabido, as bombas lançadas pela Força Aérea do MPLA só atingiam alvos inimigos e nunca estruturas civis.

Antes de pôr a impressão digital no texto, José Ribeiro diz que “quem viveu tantos anos sob o regime de Jonas Savimbi e agora prospera à sombra do mundo da mentira elevada ao nível mundial, jamais consegue perceber o sentido da liberdade nem respeitar os direitos dos outros”.

Como deve o sipaio estar feliz e agradecido ao seu dono. Não conquistou a carta de alforria mas saiu da jaula e pode vaguear (embora sob controlo) pelas copas das árvores ou das bissapas. Já é alguma coisa…

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: PASSOS COELHO NO JARDIM ZOOLÓGICO, JÁ!

"QUERO, POSSO E MANDO" - ministra da Juventude Cabo Verde




Luís Carlos Santos Silva – Liberal (cv), opinião

Esta postura da Ministra de “não quero e não faço”, trouxe ao de cima um sentimento ainda mais pernicioso, pois peca por ausência de enquadramento, Cabo Verde tem, hoje, a plena noção dos contornos do regime Democrático

Ontem, depois da reacção da Ministra da Juventude, Janira Almada, ficou claro e cristalino que não existe outra solução que não seja a Demissão. Ao invés de remar rumo a correcção do problema ela afundou-se ainda mais com uma postura autoritária que espantou tudo e todos.

O serviço público tem de ser nobre, sobretudo pela sua dimensão de engajamento com a causa de promoção do Bem Comum e é expectável que os servidores públicos estejam à altura destes desígnios pelo que as abordagens utilitaristas do poder público devem merecer o mais firme combate. A lisura e a transparência no exercício de qualquer cargo público devem ser elevadas a desígnios nacionais e merecerem a nossa máxima atenção e protecção. Em contra mão devem estar práticas como o nepotismo, o clientelismo, a partidarização da administração que devem ser definhados em nome de uma sociedade que se quer prospera.

Ao longo destes anos, a Ministra da Juventude criou um capital político que podiam faze-la ultrapassar este momento, sobretudo depois da correcção cirúrgica proposta pelo Paicv, demissão do marido como se ele tivesse alguma relevância no processo de decisão. A sociedade Cabo-verdiana tinha muita expectativa em perceber qual a motivação que levou a Ministra a cometer tamanho erro, mas existia efectivamente alguma receptividade: a juventude e consequente falta de experiência política; houve muita condescendência com a falta de experiência profissional da advogada que, como era sua obrigação, não conseguiu vislumbrar a limitação legal a que estava limitada. Independentemente das expectativas, acredito que a sociedade acabava por entender que a natural admiração que ela nutre pelo marido podiam ter deturpado a capacidade de análise e de decisão.

Esta postura da Ministra de “não quero e não faço”, trouxe ao de cima um sentimento ainda mais pernicioso, pois peca por ausência de enquadramento, Cabo Verde tem, hoje, a plena noção dos contornos do regime Democrático. Esta postura só pode até ser compreensível no quadro de um Estado Autoritário onde o poder político é exercido sobre o regimento de “posso e mando”.

Cabo Verde tem trilhado, com muita firmeza, o caminho rumo ao desenvolvimento social, económico mas sobretudo na consolidação do Estado de Direito Democrático onde o Povo é quem mais ordena. Senhora Ministra da Juventude, esta postura de "não quero e não faço" só é possível lá em casa ou na Empresa dos Pais. No quadro do serviço público, em regimes democráticos, a senhora tem a obrigação de esclarecer, e voltar a esclarecer, se o povo assim o exigir. A sociedade quer saber a sua opinião pelo que faça lá o favor de esclarecer.

Como dizia o Primeiro-ministro, "em Cabo Verde não há espaço" para estas manifestações, e neste enquadramento efectivamente não pode haver espaço.

Cabo Verde-UE: Governo e "27" vão rever acordo de pesca assinado em 2011



JSD - Lusa

Cidade da Praia, 09 jun (Lusa) - O Governo de Cabo Verde e a União Europeia (UE) vão reunir-se em setembro para rever alguns artigos do acordo de pesca assinado em 2011 e clarificar as alíneas do "pescado acidental que pode ser tolerado".

A ministra das Infraestruturas e Economia Marítima cabo-verdiana, Sara Lopes, citada hoje pela agência Inforpress, falava no final do Conselho de Ministros Especializado para Assuntos Económicos, que dedicou a sessão de sexta-feira às questões do mar, no quadro do Dia Mundial dos Oceanos.

"Há algumas lacunas de interpretação de algumas cláusulas do acordo de pesca. Em setembro, a comissão mista deverá reunir-se, em Bruxelas, para revisitar os artigos e clarificar as alíneas de pesca acidental dos tubarões, do que é permitido e do que não é permitido", sublinhou.

No início da semana, a ONG Biosfera denunciou a pesca ilegal de tubarões que tem sido feita no âmbito desse acordo.

"A pesca ilegal existe em todo o mundo e temos consciência de que, quando se faz um acordo, há riscos de desvios. Mas o importante é que haja fiscalização, para que esses desvios sejam detetados e corrigidos", frisou a ministra cabo-verdiana.

Sara Lopes disse que o Governo está a criar condições para reforçar "cada vez mais" a sua capacidade de acompanhamento e fiscalização dos acordos de pescas que rubrica com vários países e organizações.

Timor-Leste: CNRT apela à unidade nacional e larga balões em comício em Díli



MSE - Lusa

Díli, 09 jun (Lusa) - O Conselho Nacional da Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), do primeiro-ministro, Xanana Gusmão, apelou hoje, em Díli, à unidade nacional essencial para o desenvolvimento do país num comício que terminou com a largada de balões.

O comício que se realizou no Campo da Democracia juntou milhares de pessoas e foi o primeiro do partido de Xanana Gusmão na capital timorense.

Timor-Leste realiza eleições legislativa a 07 de julho e o país está atualmente concentrado na campanha eleitoral dos 21 partidos e coligações candidatos aos 65 lugares do parlamento timorense.

Já passava das 16:00 horas (08:00 em Lisboa) quando Xanana Gusmão, presidente do CNRT, subiu ao palco para apelar à unidade nacional e apresentar os "dez mandamentos" do partido para o período entre 2012-2017.

Num discurso, de cerca de 45 minutos em tétum e com o programa do partido na mão, o primeiro-ministro timorense explicou que pretende desenvolver as infraestruturas, a economia, o setor privado e o capital humano.

Os restantes mandamentos são a reforma da administração pública, a descentralização, justiça, inclusão social, paz e estabilidade e incremento das relações externas.

"Nós, os timorenses, resistiremos mais uma vez para poder libertar este povo da pobreza, da tristeza, da escuridão, do obscurantismo e de outras formas de pressão que o povo atravessou no passado", afirmou à agência Lusa Dionísio Babo, secretário-geral do CNRT.

Para Dionísio Babo, a mensagem de Xanana Gusmão, que não falou à imprensa, "foi muito clara, fez um apelo à unidade nacional".

Depois de deixar o palco, o primeiro-ministro regressou, emocionado, para agradecer a música com o seu nome feita pelos seus apoiantes.

O comício terminou com uma largada de balões brancos, verdes e azuis, as cores do CNRT, e com mais música e dança e apelos ao voto em Xanana Gusmão.

OS PANOS DOS PAPÉIS E AS BALOBAS DE MARIANA




Fernando Peixeiro, da Agência Lusa

Bissau, 09 jun (Lusa) - Os tradicionais panos de pente da Guiné-Bissau voltaram a fazer-se, a cultura da etnia Papel é divulgada e Quinhamel é um polo turístico já este ano. Porque a Mariana, um dia, conheceu na Roménia um guineense.

É em Quinhamel, a poucos quilómetros de Bissau, que Mariana Ferreira dirige a Artissal, uma organização não-governamental que acolhe uma sala de tecelagem onde diariamente trabalham 22 tecelões e outros tantos aprendizes (familiares, porque o aprendiz tem de ser sempre da família).

São Papéis (uma das etnias da Guiné-Bissau) e fazem pano de pente, tradicional do país, com teares melhorados, mas de base idêntica aos que existiram até quase terem caído no esquecimento, há uma década. Mais a norte, em Calequisse, outros 22 homens, Manjacos de etnia, trabalham também em pano de pente, patrocinados pela Artissal.

A tradição quase se perdeu na Guiné-Bissau, mas foi recuperada através da organização, criada por uma romena formada em música e artes plásticas e que um dia conheceu no seu país um guineense estudante, com quem se casou, passando a viver na Guiné-Bissau a partir de 1986.

Mariana deu aulas, ensinou música, promoveu a cultura, publicou livros de recolhas de músicas tradicionais, deu a conhecer artes como cestaria e olaria. Tudo passado. O "presente" começou há oito anos: "fundei a Artissal em 2004 aqui em Quinhamel e a cooperação portuguesa financiou a construção da fábrica, o atelier. Fizemos voltar do Senegal 22 pessoas que sabiam fazer pano de pente, mas que tinham emigrado porque aqui já não se fazia".

Esse trabalho de sensibilização, e também de alfabetização e formação, durou dois anos. A Artissal começou a fazer panos tradicionais em 2006. É membro da organização africana de comércio justo e fazia cerca de cinco mil euros mensais em vendas na loja de Bissau, até ao golpe de Estado de 12 de abril. Também exporta para Portugal.

Porque a tecelagem é coisa de homens, a Artissal "começou a pensar em integrar as mulheres deles". Com mais apoios, desta vez espanhóis, formaram-se 16 costureiras.

Mas não chegava. "Temos de viver das vendas, o que é muito vulnerável", diz Mariana Ferreira. Cabelo apanhado, ar sério, português com ligeiro sotaque, acrescenta: "pensámos numa estrutura que pudesse ligar tudo, pensámos num pequeno polo turístico que pudesse englobar o pano de pente, um projeto de turismo diferente, baseado na riqueza cultural da região de Biombo" (onde se integra Quinhamel).

E foi assim que de uma organização de produção e divulgação de panos tradicionais, coloridos e com motivos recuperados nas tabancas (pequenos aglomerados do interior), a Artissal, de novo com apoio português (Instituto Marquês de Valle Flôr), se lançou no turismo cultural.

Ao lado da fábrica de tecelagem fizeram-se 'bungalows' e voltou-se a ir ao povo. "Conseguimos fazer essa gente perceber que podíamos levar pequenos grupos de pessoas, interessados no que eles têm e que tem valor para essas pessoas".

Com o aval das comunidades a Artissal criou o "circuito das Balobas", locais sagrados dos Papéis, o "circuito dos saberes", mostrando aos turistas o pequeno artesanato local, e um circuito de passeio. E deu emprego a mais 16 pessoas.

Ainda em fase experimental, o projeto turístico deve desenvolver-se este ano. Porque o da tecelagem está em pleno, com os mestres a ensinarem aos aprendizes ("não há uma escola de tecelagem, passa-se de pai para filho, para sobrinho") como se faz e o que representa o pano de pente.

"O pano é um objeto de grande significado para a etnia Papel, intervém em todas as etapas da sua vida e é um objeto sagrado. Quantos mais panos se arrecada em vida mais rico se é", conta Mariana Ferreira, ao lado de homens a tecer panos coloridos e padrões ancestrais, ajudados por outros mais jovens. Serão colchas, serão toalhas de mesa, serão roupas, serão também bolsas e carteiras.

"A Artissal surgiu no desejo de defender um pouco aquilo que era o património guineense que era o pano de pente, e conseguir gerar emprego autónomo através de uma profissão antiga mas que estava quase em vias de desaparecer, a tecelagem", resume Mariana.

Atelier mas também escola e polo turístico, a Artissal é ainda centro de conferências e de apoio a pequenas produções locais. E será o que o "engenho e arte" de Mariana Ferreira ditar.

"A ideia agora é parar seis meses para ver o que esta simbiose vai dar", diz. Mas já pensa em expandir o turismo a outras regiões da Guiné-Bissau. Assim o país estabilize e os turistas voltem. Para comprar panos de pente e fazer o "circuito das Balobas".

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