domingo, 9 de setembro de 2012

A PRÓXIMA REVIRAVOLTA NO MÉDIO ORIENTE

 


Wallerstein prevê: Palestina reocupará centro do debate internacional, por ação surpreendente do Egito e para desconforto de Washington e Telaviv
 
Immanuel Wallerstein* - Tradução: Gabriela Leite – Outras Palavras

Ao analisarmos a geopolítica do Oriente Médio, qual deveria ser o foco principal? Há pouco consenso na resposta, mas ainda assim esta é a questão-chave. O governo israelense tenta, constantemente e de modo diligente, fazer com que o foco seja o Irã. A maior parte dos observadores vê neste esforço uma tentativa de desviar atenções de sua falta de vontade em buscar negociações sérias com a Palestina.
 
De qualquer maneira, o esforço israelense falhou espetacularmente. O primeiro-ministro Benyamin Netanyahu foi incapaz de conseguir que o governo norte-americano se comprometesse com o apoio a um ataque israelense a Teerã. E a habilidade do Irã de reunir a maior parte do mundo não-ocidental — incluindo Paquistão, Índia, China, Palestina e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon — em uma reunião do Movimento Não-Aliado (NAM, em inglês) esta semana, evidencia a impossibilidade política de os israelenses concentrarem a atenção no Irã.
 
No último ano, o centro das atenções voltou-se para a Síria, não o Irã, mesmo que haja uma ligação entre os dois. Os primeiros a lutar para isso foram a Arábia Saudita e o Catar. Tiveram considerável sucesso. Alguns observadores sentem que foi um esforço para desviar as atenções dos problemas internos da Arábia Saudita e da opressão anti-xiita praticada nos países do Golfo, especialmente Bahrein.
 
O foco na Síria, no entanto, está prestes a chegar ao fim, por duas razões. Em primeiro lugar, o governo e sua principal oposição, o Exército Livre Sírio, estão mais ou menos travados em seu combate militar. Não parece que nenhum dos lados seja capaz de destruir completamente o outro. Significa que o aquilo que se pode chamar hoje de guerra civil continuará por um período longo e indefinido.
 
Obviamente, o que poderia terminar rapidamente com a guerra é uma intervenção militar externa. Mas nem os Estados Unidos, Europa Ocidental, Turquia, Arábia Saudita nem mais ninguém está pronto a mandar tropas para a Síria. Estão dispostos apenas a fazer ameaças — e isso não é o bastante para acabar os conflitos.
 
Mas, em segundo lugar, há a reentrada espetacular do Egito na cena geopolítica. O país tem agora um governo dominado pela Irmandade Muçulmana. O presidente, Mohamed Morsi, parece construir uma agenda bem diferente da de seus precedentes. E Morsi mostrou ser um político muito mais capaz de manobras astutas do que se supunha. O jornal Le Monde registrou isto em um editorial intitulado: “O astuto e surpreendente Morsi.”
 
O presidente voou a Teerã para a reunião dos não-alinhados, parando em Beijing no caminho. Ao fazê-lo, adiou para setembro o convite de Obama para uma visita oficial aos Estados Unidos — um compromisso que visava evitar a viagem efetivamente realizada. Morsi alega que o objetivo de suas visitas é ajudar a resolver a questão síria.
 
Se era mesmo a Síria que estava em sua cabeça, ele tem um jeito curioso de demonstrar. Começou com uma proposta criativa — que o Egito juntasse forças com a Turquia, a Arábia Saudita e o Irã, para formar um grupo com a intenção de resolver os problemas políticos que dividem os dois grupos em luta da Síria. Isso é inclusive construtivo, mas certamente Morsi sabe que, pelo menos no momento, a rejeição da Arábia Saudita (e talvez da Turquia) é certa.
 
Então, por que ele se preocupou em fazer a proposta? Primeiro de tudo, é claro, ele procura posicionar tanto o Egito quanto a Irmandade Muçulmana na condição dos negociadores políticos mais poderosos do Oriente Médio. Nada incomodaria mais os sauditas, é claro. A centralidade egípcia os deslocaria desse papel; e entre eles e a Irmandade Muçulmana já há uma relação hostil histórica.
 
Em segundo lugar, tendo oferecido a proposta como uma “solução” para o problema sírio, Morsi está evidenciando que, por enquanto, não há saída para a questão. Isso prepara o terreno para a grande mudança — da Síria para a Palestina.
 
Devemos lembrar de duas coisas sobre a relação do Egito com Israel e a Palestina. Uma é que o Hamas foi fundado por membros da Irmandade Muçulmana. As ligações entre ambos são reais, ainda que o Hamas deseje ter um papel independente na região.
 
Mas além disso, e ainda mais importante, o pacto egípcio-israelense é muito, muitíssimo impopular no Egito. Morsi não está planejando rompê-lo. Sente — e provavelmente tem razão — que não é forte o bastante, nacional e internacionalmente, para fazer isso. E nem vê necessariamente, neste passo, grande vantagem para o Egito.
 
Porém, ele está certamente interessado em revisar os termos do pacto de modo relevante. Em particular, quer mudar as regras sobre como o Egito relaciona-se com a guerra na Palestina. Os egípcios vão continuar tentando mediar as diferenças entre a Autoridade Palestina e o Hamas. E certamente tentarão criar fronteiras mais abertas com Gaza. Depois, talvez ofereçam-se diretamente aos israelenses como intermediários honestos — reivindicando um papel que os Estados Unidos clamam ser sua propriedade exclusiva há algum tempo.
 
Parece ao menos um bom chute apostar que, em 2013, o Egito vai ter silenciado a discussão mundial sobre a Síria e assegurado que seja substituída por um debate internacional sobre a Palestina. Os israelenses demonstram estar profundamente contrariados. Os sauditas estarão marginalizados e, em seguida, precisarão afirmar mais vigorosamente suas credenciais pró-Palestina. E os Estados Unidos — seja seu próximo presidente Romney ou Obama — irão se encontrar em uma posição de muito pouca influência no que acontece, tanto em Israel/Palestina quanto no Egito, Arábia Saudita ou Irã.

*Immanuel Wallerstein é um dos intelectuais de maior projeção internacional na atualidade. Seus estudos e análises abrangem temas sociólogicos, históricos, políticos, econômicos e das relações internacionais. É professor na Universidade de Yale e autor de dezenas de livros. Mantém um site. Seus textos traduzidos publicados por Outras Palavras podem ser lidos aqui
 

… HÁ COISAS QUE NÃO TÊM MAIS COMO ANDAR OCULTAS!... – II

 

Martinho Júnior, Luanda
 
A população jovem de Angola é dominante e isso é um sinal pleno de vitalidade; torna-se pois importante conhecer o passado, em especial o passado recente: seria inadmissível que novas gerações que foram poupadas à guerra, experimentem por via do fascínio emocional primeiro, depois por via dum aumento incontrolado de tensões e conflitos, os desafios e riscos que seus progenitores directa ou indirectamente experimentaram, para que Angola e a África Austral estivessem a beneficiar da oportunidade duma liberdade de consciência apesar de tudo nunca antes experimentada no continente-berço da humanidade!
 
Os jovens necessitam hoje de conhecer as lições que advêm do passado de forma a melhor optarem em relação a si próprios e ao futuro.
 
Estou a ler um livro dum homem, Helmoed-Romer Heitman, que serviu o regime do “apartheid” e publicou “War in Angola – the final south african phase”.
 
Ele descreve em profusão de detalhes, as acções e os episódios de há precisamente 25 anos, quando as South Africa Defence Forces decidiam em solo de Angola e vou evocar aqui um excerto por mim traduzido que me é elucidativo, ainda a “Operation Modular” estava no seu início em Setembro de 1987 (Página 67):
 
… “Os Grupos de Combate permaneceram em posições a partir das quais poderiam reagir a qualquer movimento das FAPLA.
 
O Bravo opunha-se ao ponto de travessia da 21ª Brigada e os Grupos de Combate Alfa e Charlie estavam colocados contra a 47ª Brigada, uns quinze quilómetros a sul da confluência Lomba-Cunzumbia.
 
A 47ª Brigada sofreu as atenções da South Africa Air Force durante o dia 20.
 
Um golpe dos Camberra foi cancelado por que o teto estava baixo, mas três outros ataques foram executados.
 
Quatro Buccaneers atacaram com dez bombas pré-fragmentadas de 250 kg cada pelas 08h54, quatro Mirage com oito bombas pré-fragmentadas cada pelas 13H00 e outra vez quatro Buccaneers com 10 bombas pré-fragmentadas cada pelas 17h50.
 
Algumas bombas lançadas nesses ataques foram armadas com fusíveis de retardamento e as suas inesperadas detonações ocorreriam nos próximos dias, causando severo prejuízo à moral da 47ª Brigada.
 
Menos bem sucedidas foram as saídas operacionais dos RPV (Veículos de Controlo Remoto, hoje em dia conhecidos por drones) do 10º Esquadrão, a 20 e 21 de Setembro.
 
O primeiro foi lançado pelas 10H30 de 20 de Setembro a fim de obter alvos para a artilharia nas áreas das 16ª e 21ª Brigadas, mas foi forçado a voltar por causa das más condições de tempo sobre os objectivos.
 
A segunda saída começou às 12H30 do dia seguinte, com o RPV a tentar sobrevoar as quatro Brigadas das FAPLA.
 
Sobrevoou com sucesso sobre as 16ª e 21ª, mas foi abatido por um míssil SA-8, o sétimo míssil anti-aéreo disparado contra ele pelas 14H34, quando sobrevoava a 47ª Brigada.
 
Esse foi um desagradável acontecimento para o 10º Esquadrão, que esperava que os seus Gharra fossem um alvo demasiado pequeno para os mísseis anti-aéreos.
 
Como crédito a favor, as FAPLA usaram uma quantidade grande de muito mais caros mísseis anti-aéreos para atirar abaixo um drone no valor de um milhão de rands, que expôs os lugares de lançamento do inimigo aos olhos dos sul africanos.
 
Theo Wilken viu os SA-8 serem lançados e marcou os lugares das rampas, que foram atingidas com tiros de G-5.
 
Um veículo lançador foi atingido, com a explosão de vários mísseis ao redor.
 
Outro impacto atingiu as posições de lançamento causando uma segunda potente explosão.
 
Tropas da UNITA deram a conhecer mais tarde que encontraram a fuselagem do RPV, sem sinal do piloto.
 
Eles estavam muito preocupados com isso e o Coronel Oelschig não resistiu e pediu-lhes para continuarem a procurá-lo, pois isso era muito importante politicamente, uma vez que o piloto era um muito pequeno japonês.
 
O Grupo de Combate Bravo e a 21ª Brigada passaram todo o dia 21 de Setembro a bombardear com artilharia e morteiros o Lomba.
 
Os oficiais de observação deleitaram-se, usando os seus veículos individuais, a corrigir os tiros dos G-5 sobre a área da 21ª Brigada, com algumas correcções a serem feitas a apenas 25 metros dos impactos”…
 
Sublinhei de propósito o texto que para aqui interessa, para se perceber como os oficiais do regime do “apartheid” sul africanos menosprezavam os angolanos e seus aliados internacionalistas, mesmo os angolanos que serviam em e como apêndices de suas forças:
 
- Em relação às FAPLA, gastaram para abater um “drone” muitos mísseis, de valor muito superior e ainda por cima ficaram com as posições de lançamento expostas à sua observação e fogo de artilharia e morteiro…
 
- Em relação às FALA, pediam para continuar a procurar o “piloto japonês” do “drone” abatido, uma vez que esse era um assunto politicamente muito sensível…
 
Há 25 anos eram assim vistos em pleno combate pelos oficiais do regime do “apartheid” os angolanos e por isso é bom que a juventude de todos os povos da África Austral possam conhecer esse episódio descrito à sua maneira por Helmoed-Romer Heitman, a fim de melhor perceber o que estava em causa para além da guerra em si e o que está em causa hoje.
 
Com a mesma arrogância e menosprezo pelos africanos, a aristocracia financeira mundial semeia divisão, tensões, conflitos, guerras, promove ingerências de todas as maneiras e feitios em assuntos internos dos estados procurando alterar as correlações de forças de acordo com suas conveniências, manipulam os processos sociais tirando partido da ausência duma esquerda assumida, no caso angolano herdeira do movimento de libertação, estabelecem as regras imperativas do comércio internacional, instrumentalizam as Instituições de crédito, Desde o Banco Mundial e o FMI aos grandes Bancos indexados por exemplo ao Bilderberg…
 
Há 25 anos a África do Sul estreava o uso de “drones” nas frentes de combate beneficiando dos apoios tecnológicos secretos só possíveis entre as potências ocidentais que compõem NATO e ANZUS e Israel, naquela altura para efeito apenas de reconhecimento; fazia uso ainda dos canhões G-5 e G-6 de longo alcance que nenhum outro Exército possuía, estreava mísseis anti-tanque de grande capacidade contra os blindados médios e pesados de origem soviética, destruiu a ponte sobre o rio Cuito com uma “smart bomb” e febrilmente estava a construir 6 bombas nucleares…
 
Onde Obama aprendeu no uso de “drones”?
 
Foi a partir desse húmus, a partir dos aliados que eram de facto as SADF!
 
Enfrentando esse tipo de gente e de equipamento militar, os combatentes africanos e seus aliados internacionalistas que lutaram contra o colonialismo e o “apartheid”, por colapso do socialismo real, implosão da URSS e alterações impostas ao movimento de libertação, acabaram por abrir caminho às democracias representativas que vigoram nos países SADC, as democracias que “estamos com elas”, haverá algo mais conveniente?!
 
É justa essa pergunta, repito: haverá algo mais conveniente?...
 
… Estão a ser as potências instigadoras dessas democracias, com os Estados Unidos à cabeça, que estão a usar os “drones”, agora plataformas multi funções, capazes até de bombardear alvos a muitos milhares de quilómetros de suas bases!
 
Desde os “drones” testados nos “campos experimentais” de Mavinga e Cuito Cuanavale que a evolução desses veículos não parou, uma evolução principalmente levada a cabo pela poderosas indústria de armamentos dos Estados Unidos, da União Europeia e de Israel.
 
Se a absorção dessa tecnologia é evidente, não é também cada vez mais evidente a absorção da própria ideologia do “apartheid” pelos interesses que incorporam a “hegemonia”?
 
Não estarão todos os povos que compõem os estados “Não Alinhados” a ser alguns dos principais alvos dos “drones” e do fascismo aplicado à escala global?!
 
Não estarão os próprios povos da Europa a, por via da crise do Euro, a sofrer do mesmo em relação à questão crucial do carácter de quem exerce o poder?!
 
A carga fascista, agora à escala global, é por demais evidente e o uso dos “drones” faz parte desse exercício-herança de “apartheid”!
 
Alguns territórios africanos têm assistido ao carrossel de “drones” norte americano, como o caso mais evidente da Somália e os Estados Unidos, com suas imensas vantagens tecnológicas, utilizam-nos onde quer que seja, sem alguma vez haver a hipótese de serem detectados ao nível dos poderes locais africanos!
 
Para mal dos pecados dos africanos e para cúmulo trágico e irónico da história, é um Prémio Nobel da Paz com sangue africano, o autor moral do que nosso companheiro Rui Peralta rotulou com toda a propriedade de “Império dos drones”!
 
Gravura: Um “drone” fabricado pela Denel da África do Sul.
 
O equipamento Seeker I foi utilizado pelas Forças Armadas Sul Africanas de 1983 a 2004 (inclusive depois do desaparecimento do “apartheid”) e neste momento elas estão equipadas com Seeker II, com muito melhores performances que o anterior, atraindo compradores internacionais ao nível dos Emiratos Árabes Unidos (Denel wins Seeker maintenance order at IDEX 2011 – http://www.defpro.com/news/details/22341/).
 
A Denel está a preparar o Seeker 400, que sucederá ao Seeker II, com ainda melhores aptidões de reconhecimento e combate (Denel unveils armed Seeker, Impi missile – http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?p=73173569).
 
Consultas obrigatórias:
- Os drones no campo de matança – Pepe Escobar – http://democraciapolitica.blogspot.pt/2012/06/os-drones-nos-campos-de-matanca.html
- O império dos drones – I – Rui Peralta – http://tudoparaminhacuba.wordpress.com/2012/06/18/o-imperio-dos-drones-1/
- O império dos drones – II – Rui Peralta –
- O império dos drones – III – Rui Peralta – http://paginaglobal.blogspot.pt/2012/07/o-imperio-dos-drones-3.html
 
Relacionado
 
* Para ler todos os textos de Martinho Júnior, clique aqui
 

Portugal - Jerónimo: "Com este Governo, nem o fim da crise nem o fim do regabofe"

 


Encerramento do Avante!
 
Público – Lusa, com foto
 
O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, subiu ao palco no encerramento da Festa do Avante!, que se realizou neste fim-de-semana no Seixal, para pedir ao país que mude de política. "É preciso pôr um ponto final nesta política de ruína, a economia não pode servir só os ricos."
 
Considerando que os eleitores precisam de dar mais força ao PCP – partido que pode protagonizar esta mudança –, Jerónimo de Sousa criticou a gestão do actual primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho (PSD), que com "descaramento inacreditável" veio "anunciar mais e mais medidas em nome de problemas que eles próprios criaram e agravaram", "ultrapassando todos os limites da desfaçatez e do cinismo".

O líder comunista, que polarizou as atenções na festa de encerramento realizada na Quinta da Atalaia, onde habitualmente se faz a rentrée política do PCP, aludia ao pacote de medidas anunciado pelo primeiro-ministro, na sexta-feira, do qual se destaca o aumento de 11% para 18% das contribuições dos trabalhadores dos sectores privado e público para a Segurança Social. Uma medida que, segundo Passos Coelho, serviria para ajudar a financiar o combate ao desemprego, sendo acompanhada em paralelo por uma redução dos custos assumidos pelas empresas em termos de contribuições para o sistema de pensões.

Jerónimo atacou desde logo o problema do desemprego, que chegou aos 15,7% e que, segundo este deputado da esquerda, é obra deste Governo. "Foram eles que o promoveram e deixaram crescer para pressionar os salários para baixo", acusou Jerónimo de Sousa, sustentando que "o primeiro-ministro está a prejudicar o futuro dos filhos dos portugueses com estas medidas brutais". "Passo Coelho está a pensar como alimentar este regabofe à custa de dois milhões de portugueses. Com este governo, nem o fim da crise nem o fim do regabofe."

“Dissemo-lo e a vida confirma-o. A dimensão dos problemas atingiu níveis inimagináveis. Se o país há muito estava mal, tudo ficou pior”, disse Jerónimo de Sousa, depois de lembrar que há um ano, neste mesmo comício, tinha avisado que o acordo da ajuda externa assinado com os credores internacionais “não era um programa de ajuda, mas um pacto de agressão ao país e aos portugueses”.

De cada vez que o nome do primeiro-ministro era citado, o público presente respondia com uma vaia, mas às tantas preferiu começar a gritar "gatunos, gatunos, gatunos". Jerónimo respondeu de imediato: "É uma palavra forte mas cabe a Passos Coelho dizer que não se justifica por que isto é um roubo, um roubo descarado aos trabalhadores portugueses."

Num discurso de 16 páginas, recheadas de críticas ao Governo, a quem acusou também de praticar uma política "suicida", o líder do PCP disse compreender e aceitar a indignação e revolta que se espalhou pelos trabalhadores portugueses, perante esta transferência de custos que beneficia "o capital". E a indignação é "tanto maior quando se sabe que o primeiro-ministro não disse tudo" quando se dirigiu ao país, na sexta-feira, via televisão, para anunciar a opção do Governo para contornar a impossibilidade de reter os subsídios de férias e de Natal dos funcionários públicos, como decidiu o Tribunal Constitucional, que chumbou estas medidas propostas pelo Orçamento do Estado de 2012. "A ver vamos se por via do IRS não vai continuar o saque", alertou Jerónimo de Sousa, acrescentando que "está na hora de pôr a pagar quem tem arrecadado" com a crise actual.

O líder comunista sublinhou que o Governo PSD-CDS pediu “sacrifícios atrás de sacrifícios” mas “nem um só problema do país [ficou] resolvido”.

“Nem aquele com que justificavam esta acção destruidora e este ataque brutal à vida dos portugueses: o controlo do défice das contas públicas. As metas do défice, em nome do qual este Governo pôs o país a ferro e fogo não vão ser resolvidas”, acrescentou Jerónimo de Sousa, considerando que se trata de “um fracasso em toda a linha”.

“Temos o país no fundo, défice por resolver e dívida a aumentar 6,6 mil milhões de euros”, insistiu.

Para Jerónimo de Sousa é, por isso, um “descaramento” o recente anúncio de mais austeridade: “Agora, aí os temos a dizer que nem tudo correu como previam. E com um descaramento inacreditável a anuncia novas e mais brutais medidas, em nome da solução dos problemas que deliberadamente agravaram e continuam a agravar”, afirmou perante milhares de pessoas que enchiam o recinto envolvente do Palco 25 de Abril da Quinta da Atalaia.
 

CORTES SALARIAIS NÃO BASTAM: VÊM AÍ MAIS MEDIDAS

 

Ana Rita Faria - Público
 
As novas medidas de austeridade anunciadas por Passos Coelho resolvem o problema do "chumbo" do Tribunal Constitucional (TC) ao corte dos subsídios de férias e de Natal, mas não bastam para cobrir o "buraco" das contas públicas e permitir ao Governo cumprir com as metas do défice acordadas com a troika.
 
Com os cortes dos subsídios aos pensionistas e aos funcionários públicos - aqui, quer por corte directo quer pelo aumento dos descontos para a Segurança Social ou Caixa Geral de Aposentações - o Estado encaixará cerca de dois mil milhões de euros. Ou seja, o valor que estava já previsto para os cortes do 13º e 14º meses que foram considerados ilegais pelo TC.

Além disso, irá conseguir 500 milhões de euros com a diferença do valor que os trabalhadores do privado passarão a descontar a mais para a SS e que as empresas passarão a descontar a menos. Ou seja, os trabalhadores descontam mais sete pontos e as empresas descontam menos 5,75 pontos. Esta diferença - de 1,25 - vale cerca de 500 milhões.

Grosso modo, o encaixe do Estado com as novas medidas rondaria, assim, os 2,5 mil milhões de euros, mas poderá não chegar a tanto, visto que Passos Coelho anunciou um crédito fiscal em sede de IRS para proteger os trabalhadores de mais baixos rendimentos. De qualquer modo, o "buraco" orçamental deixado em aberto pelo "chumbo" do TC fica tapado. Mas há, pelo menos, mais 1,2 mil milhões de euros a cortar.

O Governo já reconheceu que a derrapagem nas receitas fiscais torna impossível atingir o objectivo do défice de 4,5% do PIB este ano e terá comunicado à troika um défice de 5,3%, segundo avançou recentemente o Diário Económico. Isso significa que, ou é preciso tomar medidas adicionais ainda em 2011 para chegar à meta, ou a troika "perdoa" o desvio. Contudo, tanto num caso como no outro, o Governo terá de tomar medidas adicionais: ou ainda em 2012, para atingir os 4,5%, ou em 2013, visto que o desvio deste ano seria empurrado para o próximo, obrigando Portugal a um esforço adicional para chegar à meta do défice de 3%.

Na sexta-feira, Passos Coelho comprometeu-se a incluir no orçamento de 2013 medidas que afectem os rendimentos da riqueza e do capital e tributem os lucros das grandes empresas. Além disso, deverá avançar com alterações dos escalões de IRS. Novos aumentos no IVA também podem estar na calha, visto que o próprio FMI ainda vê margem para a transição de mais produtos das taxas reduzida e intermédia para a taxa normal. O grande risco é que mais austeridade - seja por via do corte salarial, seja por via dos impostos - agrave ainda mais a recessão e, consequentemente, prejudique as receitas fiscais e a redução do défice.
 

Portugal: CHAMAM-LHE DEMOCRACIA MAS NÃO É!

 


Retiramos da TSF Rádio Notícias o compacto que se segue. No original podem escutar os áudios de algumas das declarações dos intervenientes. Das palavras e reações registadas temos a memória de que também anteriormente, quando do anúncio de medidas draconianas anteriores do governo de Passos-Portas-Cavaco (justamente o PR não pode ficar ilibado), estes e/ou outros entrevistados TSF disseram quase as mesmas palavras ou, pelo menos, dentro do mesmo sentido. O resultado foi nulo. Falaram, falaram... mas depois até se calaram (alguns).
 
Para os que estão a condenar os portugueses à fome, ao descalabro económico e social, estas declarações foram escutadas por um ouvido a 100 kmh e saíram-lhes pelo outro ouvido a 200 kmh. A oposição efetiva foi nula por parte de entidades e personalidades que de algum modo poderão ter influencia na mudança de rumo das políticas avassaladoras deste desgoverno Passos-Portas-Cavaco.
 
O que, no nosso entender, será necessário é agir em oposição ativa, sem titubear. Nisso os dirigentes do Partido Socialista têm feito o mesmo de sempre: têm traído, tanto quanto os sociais-democratas, a maioria dos portugueses. Estamos perante a destruição de um país, Portugal. Estamos perante traidores que governam no interesse de outros que não são a maioria dos portugueses. Estamos perante momentos cruciais em que só portugueses e homens de bem e de verdade, patriotas, democratas, justos, poderão mudar este rumo de país destroçado em prol da democracia e da justiça que já quase não vigora no país. Como afirmam os manifestantes espanhóis: “Chamam-lhe democracia, mas não é!” Esperemos que agora, face a mais esta arremetida inadmissível, estas figuras influentes da política nacional, assim como o povo português, saibam tomar a atitude correta e defendam Portugal. Porque é Portugal  e os portugueses que estão em causa. (PG)
 
A partir daqui, seguidamente, todos os títulos são TSF:
 
Bagão: Subida da contribuição para a SS «é um verdadeiro imposto»
 
O ex-governante Bagão Félix diz que a decisão do Executivo de promover o aumento da contribuição dos trabalhadores para a Segurança Social (SS) é um «verdadeiro imposto».
 
Para Bagão Félix o desconto feito pelos trabalhadores para a Segurança Social, «no fundo, não é uma taxa. É um verdadeiro imposto. Deixou de ser uma contribuição [para um seguro] social para ser um imposto único».
 
«Acho que se deu a machadada final no regime previdencial. Não estou a dizer na Segurança Social, estou a dizer no regime previdencial, que é aquele em que há uma relação direta entre o esforço que os trabalhadores fazem e os benefícios que têm», afirmou hoje à agência Lusa o conselheiro de Estado, apontando o caso das pensões e dos subsídios de desemprego e doença, que têm vindo a ser reduzidos.
 
«E porquê? Porque os benefícios decrescem, mas há um aumento de sete pontos percentuais no desconto do trabalhador», justificou.
 
Quanto à descida dos encargos das empresas para a Segurança Social, o antigo ministro das Finanças e da Solidariedade Social realçou que a mesma «já estava prevista no memorando de entendimento com a 'troika'», mas entende que a diminuição de 23,75 por cento para 18 por cento «não vai trazer grandes benefícios ao nível da geração de emprego» em Portugal.
 
«Não é por causa desta diminuição que vai haver um aumento de contratações. O que vai acontecer é que estas medidas, que diminuem o rendimento disponível das famílias, vão diminuir o consumo e, diminuindo o consumo, provavelmente é atacada a saúde das empresas e o desemprego tenderá a subir», concluiu.
 
Seguro: «O PS não será cúmplice das políticas seguidas pelo Governo»
 
O líder socialista, António José Seguro, considera que os cortes anunciados pelo Governo ultrapassam todos os limites e por isso o PS não vai ser «cúmplice» destas políticas
 
Em Penafiel, na Universidade de Verão do PS/Porto, António José Seguro acusa o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho de ter dito uma coisa e ter feito outra, sublinhando que os socialistas não vão compactuar com as políticas do Governo e dando a entender que não vai aprovar o Orçamento do Estado.
 
«O PS não pode compactuar com um caminho que discorda e que tanto tem combatido. Assim não. O Governo não muda, esticou a corda e o PS prefere com toda a clareza e normalidade um caminho alternativo. Quero aqui afiançar aos portugueses que não somos nem seremos cúmplices das opções políticas erradas do atual primeiro-ministro», assegurou Seguro.
 
No final destas declarações, o líder socialista não esclareceu os jornalistas sobre se o partido irá votar contra o orçamento.
 
«Não tenho nada a acrescentar, as minhas palavras foram muito claras», disse à comunicação social.
 
D. Januário Torgal Ferreira acusa primeiro-ministro de «vilania»
 
Entrevistado pela TSF, D. Januário Torgal Ferreira, bispo das Forças Armadas, acusa o primeiro-ministro de «vilania», «insensibilidade» e «insensatez».
 
Januário Torgal Ferreira considera que o medo é mau conselheiro, adiantando que na sua opinião o primeiro-ministro está a ser movido por este fator.
 
«Estou em discordância total com o sistema governativo que existe neste momento em Portugal. Oiço desde o início que 'continuo com coragem, vou em frente', mas a estrada fica juncada de cadáveres, isso é um vilania, uma insensibilidade, uma insensatez»
 
É desta forma que o bispo das Forças Armadas lê a mensagem pessoal deixada por Passos Coelho, esta madrugada, no Facebook.
 
Governo é «fanaticamente neoliberalista», diz Almeida Santos
 
Para este histórico do PS, o Governo, com o seu pensamento neoliberal, está coerente com os interesses dos «grandes impérios económicos».
 
O socialista Almeida Santos acusou o Governo de ser «fanaticamente neoliberalista» e garantiu que o «neoliberalismo é o responsável por todas as crises» dos últimos tempos.
 
Em declarações à agência Lusa, o presidente honorário do PS considerou ainda que os «líderes dos grandes impérios económicos e financeiros», incluindo os bancos, são os responsáveis pela crise atual.
 
«Isto está tudo virado do avesso. Há todo um mundo organizado para a finança e para a riqueza e a pobreza que se lixe», acrescentou o ex-presidente da Assembleia da República, que diz que o Executivo está coerente com os interesses dos «grandes impérios económicos e financeiros».
 
«Como têm um pensamento neoliberal, fá-lo por coerência. Não faz por maldade. Está convencido de que é assim que deve ser. Só que a realidade está a demonstrar que não é», adiantou.
 
Numa referência ao primeiro-ministro e ao ministro das Finanças, este histórico socialista assegurou ainda que a «política não se inventa: ou se tem experiência de vida ou perdem-se muitas oportunidades para se tomarem medidas acertadas».
 
Bacelar Gouveia: «Governo vai meter-se num grande sarilho»
 
O constitucionalista Bacelar Gouveia (PSD) não tem dúvidas em considerar que as medidas anunciadas sexta-feira pelo Governo são uma violação da decisão do Tribunal Constitucional.
 
Tudo pode acabar num enorme sarilho para o Governo. Jorge Bacelar Gouveia considera que o Governo está a violar o acórdão do Tribunal Constitucional que chumbou os cortes dos subsídios de férias e Natal para os funcionários públicos.
 
Bacelar Gouveia, antigo deputado do PSD, afirma que o desequilíbrio de esforço para o lado da Função Pública não foi resolvido e que essa é uma clara violação da decisão do Constitucional.
 
O constitucionalista antecipa um enorme problema para o Governo.
 
«Isto vai dar um grande sarilho. Acho que o Governo se vai meter num grande sarilho, porque junta à contestação que tem tido no meio laboral e económico, uma irritação que vai provocar num órgão de soberania que é um Tribunal Constitucional. Neste momento não convinha nada que a frente de conflito se alargasse ao poder judicial desta forma. Sinceramente penso que isto não vai acabar bem e lamento que o caminho esteja a ser este», defendeu.
 
 

Brasil - Horror na Paraíba: PRESOS VIVEM NUS NO MEIO DE FEZES E URINA

 

Pragmatismo Político
 
Integrantes do Conselho Estadual de Direitos Humanos que registravam os problemas foram detidos pelo diretor da penitenciária. Ministério Público, Polícia Federal e governo estadual apuram denúncias de maus tratos aos presos e aos conselheiros
 
Nem colchão, nem água potável. Um amontoado de 80 homens nus dividindo espaço numa cela com fezes flutuando em poças de água e urina. Entre eles, apenas uma bacia higiênica, esvaziada esporadicamente. Odor insuportável, umidade excessiva, pouca ventilação. Esse foi o cenário com o qual um grupo do Conselho Estadual de Direitos Humanos deparou na Penitenciária de Segurança Máxima Romeu Gonçalves de Abrantes, em João Pessoa (PB), no último dia 28. Mas a violação aos direitos humanos no PB-1, como é mais conhecido o presídio, não parou aí.
 
Responsáveis por relatar as condições oferecidas pelo estado aos presos, os seis conselheiros – entre eles, a ouvidora de Segurança Pública da Paraíba, uma defensora pública, uma professora universitária e um padre – tiveram prisão anunciada pelo diretor do presídio. Detidos por três horas e ameaçados de serem conduzidos a uma delegacia de polícia, só foram liberados após a intervenção do Ministério Público Estadual, que apontou abuso nas detenções.
 
Dez dias depois do episódio, o major Sérgio Fonseca de Souza, responsável pelo presídio e pelas prisões, continua na direção do PB-1. Mas sob intenso fogo cruzado.
 
A Polícia Federal e o Ministério Público Federal abriram inquérito para apurar se ele cometeu os crimes de abuso de autoridade e cárcere privado ao deter os conselheiros. Pressionado, o governador Ricardo Coutinho (PSB), que mantém o major no cargo, criou uma comissão formada por representantes do governo, da sociedade civil e do próprio Conselho, que terá 30 dias para apresentar suas conclusões sobre o episódio. Paralelamente, a Secretaria de Administração Penitenciária abriu uma sindicância interna. Os conselheiros defendem o afastamento de Sérgio Fonseca do comando do presídio até o término das apurações.
 
Fotos da discórdia
 
O diretor da penitenciária alega que os conselheiros cometeram uma ilegalidade quando pediram a um presidiário que fotografasse a própria cela, cujo acesso não havia sido liberado aos representantes do Conselho. Um argumento que não se sustenta, segundo o Ministério Público Federal. “Resolução do Conselho Estadual de Polícia Penitenciária impede a entrada de máquina fotográfica e celular em presídios. Mas isso não se aplica ao Conselho Estadual de Direitos Humanos. Sem fotografar, não há como fazer qualquer relatório que seja. Temos sempre de ter fotos”, contesta o procurador da República na Paraíba Duciran Farena.
 
Uma das pessoas detidas, a ouvidora da Secretaria de Segurança Pública, Valdênia Paulino, reforça que a resolução alcança somente os visitantes. Ela lembra que a competência do Conselho Estadual de Direitos Humanos é regulada por uma lei estadual. “Uma resolução não pode ser maior que uma lei. Atuamos pautados pela legalidade. Para ser conselheiro estadual de Direitos Humanos, é preciso ter reputação ilibada. O conselho tem representantes da sociedade civil. Era um grupo de autoridades”, reforça.
 
Os conselheiros se recusaram a entregar a máquina fotográfica aos agentes penitenciários. E incluíram as imagens em relatório despachado à Secretaria de Administração Penitenciária, ao governador Ricardo Coutinho, ao Ministério Público Federal e ao Juizado de Execuções Penais. Procurada, a secretaria informou que ainda não recebeu oficialmente o relatório, mas que está apurando tanto a versão do diretor do presídio quanto a dos conselheiros.
 
Confira aqui a íntegra do relatório.
 
Militantes dos Direitos Humanos foram presos por tentarem denunciar o cenário de horror. Veja abaixo nota do Centro de Referência de Direitos Humanos da Universidade Federal da Paraíba
 
Faziam parte da delegação padre Francisco Bosco (presidente do CEDH-PB), Guiany Campos Coutinho (membro da Pastoral Carcerária), Socorro Praxedes (advogada da Fundação Margarida Maria Alves), a professora Maria de Nazaré T. Zenaide (Coordenadora do Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da UFPB), Valdênia Paulino Lanfranchi (advogada e Ouvidora de Polícia da Paraíba), Lidia Nóbrega (Defensora Pública da União).
 
A equipe esperou cerca de 1 hora e meia para ter acesso aos pavilhões, ocorrendo esta após autorização concedida através de telefonema por parte do Cel. Arnaldo Sobrinho. Os conselheiros deixaram seus telefones celulares nos seus veículos ou em bolsas na sala da secretaria do PB1 e só adentraram no presídio com uma máquina fotográfica para registrar a situação prisional, o que é de praxe, pois o órgão elabora relatório de monitoramento.
 
Durante a fiscalização, os conselheiros fotografaram as condições deprimentes, desumanas e contrárias à lei de execução penal das celas coletivas do PB1. Neste ínterim, membros da PM e da Administração Penitenciária do PB1, que antes haviam se negado a acompanhar os conselheiros ao segundo pavilhão, deram voz de prisão aos membros do CEDH-PB conduzindo-os para uma sala da penitenciária e mantendo-os detidos. Nesse período, chegou à unidade prisional reforço policial para transferir os conselheiros detidos para a Delegacia. Os conselheiros comunicaram a ilegalidade que estava sendo cometida, ao Procurador Federal do Cidadão, Dr. Duciran Farena, ao Chefe de Gabinete do governador, Waldir Porfírio da Silva e à Defensoria Pública da União.
 
Os conselheiros detidos não puderam identificar os agentes penitenciários e os policiais militares envolvidos porque estes não portavam os distintivos de identificação. Logo após a detenção chegou ao estabelecimento prisional, representando a Secretaria da Administração Penitenciária, o Cel Arnaldo Sobrinho que reuniu na sala da direção o chefe de disciplina e os conselheiros detidos. Foi também nesse momento que se apresentou no estabelecimento o Diretor do PB1, Major Sérgio que, mesmo estando de férias, era quem dava as ordens, através do sistema rádio de comunicação, o qual determinou a prisão dos conselheiros, com o argumento de que não podíamos registrar as condições dos apenados.
 
Somente após a chegada dos representantes do Ministério Público Estadual, Dr. Marinho Mendes e da Ordem dos Advogados do Brasil, Laura Berquó é que os membros do CEDH foram liberados, sob a contestação do diretor do presídio e de membros da PMPB.
 
Convém ressaltar que, entre as atribuições dos conselheiros do CEDH está a de “ter acesso a qualquer unidade ou instalação pública estadual para acompanhamento de diligências ou realização de vistorias, exames e inspeção”, como previsto na Lei 5551/92. As visitas de monitoramento ao sistema prisional são atribuições legais do CEDH e é direito dos presos e de seus familiares prestar queixas aos representantes do Conselho que, por dever público, são obrigados a realizar o monitoramento.
 
Diante da gravidade dos fatos relacionados acima, o Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos e a Comissão de Direitos Humanos da Universidade Federal da Paraíba de público reivindicam ao Governador do Estado, Ricardo Vieira Coutinho, o imediato afastamento do Diretor do PB1 e dos demais funcionários estaduais envolvidos no episódio e a abertura de procedimentos administrativos para a apuração dos fatos neste documento denunciados e a punição dos culpados.
 
Congresso em Foco e Pragmatismo Politico
 
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TENTANDO DESVENDAR O MEDO

 


 
Talvez seja o medo o sentimento ou sensação mais importante e/ou comum dentre todas as demais manifestações comportamentais, presente em quase todas as espécies animais. Lembro-me daquelas cenas de documentários onde grandes manadas de elefantes, cavalos, zebras, gado ou antílopes correm assustados pelo sobrevoo de algum avião. É o medo se manifestando!
 
Porém, com os seres humanos (que muitos consideram racionais) o medo também se faz notar até mesmo de forma irracional. Convém lembrarmos que tem gente que tem medo de borboleta e até do Papai Noel!
 
Provavelmente, o medo mais comum seja com relação à morte. É comum o medo de morrer e dos mortos também. Medo de espíritos e de fantasmas habitam o imaginário popular desde os primórdios, e já se tornaram enredo de filmes, livros e inúmeras lendas. O mais estranho é que, apesar do medo que tais “entidades” despertam, estas sempre geram interesse e imensa curiosidade. Tem gente que assiste filmes de terror escondido embaixo de cobertores, num pânico absurdo, mas assiste. Quando o filme acaba, dormem de luz acesa como se isto afastasse qualquer ameaça.
 
Voltando à questão da morte, muitos a temem, racional ou irracionalmente, principalmente pelo desconhecido que ela desperta. Questiona-se, há tempos, se há algo após a morte ou, até mesmo, se é ruim a sensação de morrer. Os estudiosos da doutrina espírita afirmam que pode sim ser a morte um processo emocionalmente doloroso para quem morre, ou faz a passagem, como denominam tal momento. O medo da morte também está associado ao medo da perda, que é incrivelmente presente junto à maioria das pessoas. Não é difícil quem tenha mais medo da morte de alguém querido do que de sua própria morte.
 
Outro medo muito comum é o medo de sofrer. É preciso entender que sofrer é um sentimento muito amplo e complexo. Sofrimentos não têm escala, não tem graduação. Até mesmo sofrimento físico costuma variar de pessoa para pessoa.
 
Indo além do medo de sofrer, está o medo de sofrer por amor, que é tão comum, principalmente pelas mulheres, que tendem a rotular os homens como sendo “todos iguais”. Se são todos iguais, por que escolher tanto? Este medo normalmente é suplantado pela esperança, pelo desejo de ser e se sentir amada. Por isso que muitas mulheres fazem até simpatias e promessas para encontrar seus amores, pois têm medo de ficar sozinhas pelo resto da vista. Já os homens geralmente não temem não encontrar alguém. O grande medo masculino é o do fraco desempenho sexual. Os homens sonham ser verdadeiras máquinas de sexo. Este medo certamente é maior do que o medo da pobreza ou qualquer outro. Este é um medo conceitual, do tipo “o que será pensarão de mim se eu broxar, se não der no couro?”.
 
Muita gente afirma que medo é coisa apenas de crianças. Bobagem. Na verdade, muitos medos surgem sim na infância e as crianças tendem sim a manifestar publicamente seus medos, que muitas vezes são transmitidos pelos próprios adultos, pois nenhuma criança nasce sabendo o que é o bicho papão.
 
Na adolescência, o medo mais comum é o da não aceitação da sociedade. Neste sentido, encontramos levas de adolescentes praticamente iguais no comportamento, nos gostos e no modo de vestir. Porém, se este jovem, por exemplo, gosta de comer jiló quando os outros detestam, ele, por medo de ser diferente, jamais admitirá tal gosto, podendo até negá-lo. Entende-se aí que o medo realmente molda comportamentos não só individuais, mas da própria sociedade, que nas ditaduras se curva diante do medo repressor.
 
O medo está e sempre esteve presente na religião. Hoje, muita gente se diz católico ou evangélico por medo de ser visto como ateu. Muitos espíritas, umbandistas ou candomblecistas se denominam, muitas vezes, católicos, por medo de serem taxados de macumbeiros ou de ignorantes. Já os evangélicos, em sua maioria, tem mais medo do Diabo do que amor a Deus. E os políticos bajulam os pastores por terem medo de perder os votos dos membros de suas igrejas. Inclusive, quanto à relação políticos-pastores, com raríssimas exceções, é de dar medo ao próprio Diabo!
 
Existem ainda outros medos. O medo da traição, do desemprego, de cachorro, da sogra não morrer nunca, do fracasso, de assalto e até aquele medo da Regina Duarte (que faz aniversário no mesmo dia que eu), que tanta polêmica causou! E o medo de envelhecer, será que alguém não o tem? E o medo de dentista, onde fica? Voltando aos políticos, pena que hoje eles não têm mais medo da mídia divulgar suas trapaças e roubalheiras, até porque a grande mídia tem mais medo ainda de não ser agraciada com as polpudas verbas públicas de publicidade que eles manipulam!
 
Não vou analisar aqui a questão do pânico, coletivo ou individual, mas apenas frisar que este é uma manifestação extrema de medo e tende a ter consequências drásticas e sérias.
 
Como cronista da vida cotidiana, já até tive medo de não ter assunto para um próximo artigo, mas sempre vem alguém e me dá uma boa sugestão. A questão é não termos medo de conversar com ninguém, pois as ideias brotam em todos os lugares e mentes. O problema é quando perdemos o medo de escrever demais e o nosso artigo fica muito extenso, o que acredito não tenha acontecido neste texto.
 
Não me considero medroso, muito pelo contrário. Não tenho medo de assombrações, fantamas ou de morrer. Faço caminhadas sozinho (e desarmado) pela madrugada, o que considero muito inspirador. Na verdade, sou um curioso por índole, e talvez seja isto que me impede de ter tantos medos como as demais pessoas. Não consigo entender como alguém pode ter medo de algo desconhecido. Tem gente que jamais entraria num disco voador se os extraterrestres convidassem, mas eu sim. Imagina não ver como é lá dentro!
 
*Alessandro Lyra Braga é carioca, por engano. De formação é historiador e publicitário, radialista por acidente e jornalista por necessidade de informação. Vive vários dilemas religiosos, filosóficos e sociológicos. Ama o questionamento.
 

Moçambique: XAI-XAI AINDA SONHA POR MELHORES DIAS

 


Hélder Xavier – Verdade (mz), em Tema de Fundo
 
Xai-Xai é uma das poucas cidades moçambicanas que se pode orgulhar do seu crescimento económico, alcançado nos últimos anos, e galvanizado pelas suas potencialidades turísticas e agrícolas, e não só. Porém, nem tudo é um mar de rosas. O desenvolvimento da urbe acontece numa única via: ao longo da Estrada Nacional número um (N1). Transformar a capital da província de Gaza na “cidade de sonho” é o desafio dos munícipes e da edilidade.
 
Está uma manhã escaldante de Agosto. Entoando uma vibrante canção em Xi-changana, um grupo constituído por quatro mulheres caminha apressadamente pela cintura verde junto à planície do Limpopo e, subitamente, perde-se de vista na vasta plantação de milho que sobressai aos olhos de quem entra na cidade de Xai-Xai, capital provincial de Gaza, vindo da província de Maputo.
 
Trata-se de um cântico de júbilo muito frequente nas cerimónias tradicionais da região do sul do país. Dissonante, o grupo prossegue desenvolto, até porque, para elas, pouco importa a harmonia do canto. Na verdade, o que interessa é o que a música representa naquele instante: alegria.
 
Elas são integrantes da família, Novela. Hoje, mais do que nunca, os Novela têm razões mais do que suficientes para sorrir: tiveram a melhor colheita dos últimos cinco anos. “Até agora já obtivemos mais de 20 sacos de milho de 50 quilogramas cada nesta época”, garante, expressando-se com largueza do gesto, Sónia, a única do grupo que fala fluentemente Português. E acrescenta: “Poderíamos ter colhido mais sacos de milho se não tivéssemos sido vítimas de roubo”.
 
Há 15 anos que a família detém um pedaço de terra não superior a um hectare numa das margens do rio Limpopo. Porém, o que sucedeu na anterior campanha, isto é, no ano passado, nunca antes havia acontecido. Os Novela perderam quase toda a produção devido às inundações que assolaram aquela região do país.
 
Presentemente, a matriarca não se quer lembrar daquela situação que classificou de “catastrófica”. Nem a boa colheita deste ano consegue amainar a dor do investimento de uma vida inteira perdida. Diga- -se, em abono da verdade, que as chuvas que caíram em 2011 deixaram profundas marcas em Amélia. “Existem situações que é melhor não lembrar”, diz, receando um mau agouro.
 
A produção destina-se à sobrevivência, mas, quando há excedentes, é comercializada. O caso dos Novela não é isolado. É apenas mais uma gota num oceano de famílias que contribui – ainda que informalmente – para o crescimento económico (e também social) de um município com uma população estimada em 116 mil habitantes.
 
Todos os dias, de manhã, centenas de pessoas abandonam o sossego dos seus respectivos lares à procura de meios de sobrevivência. A agro-pecuária nas margens férteis do Limpopo e o comércio informal, sobretudo ao longo da N1, são as actividades que empregam grande parte da população local.
 
O vale do Limpopo tem potencial para a produção de todo o tipo de culturas de rendimento, nomeadamente feijão, trigo, arroz, hortícolas e banana. Apesar de pos- suir áreas com as características descritas, estas não estão a ser devidamente exploradas, fazendo com que Xai-Xai ainda continue a importar em grande medida os produtos das províncias circunvizinhas e também da África de Sul. Esta realidade deve-se ao facto de o município não dispor de um plano eficaz para promover o desenvolvimento agro-pecuário de forma ordenada.
 
A outra Xai-Xai
 
A economia da cidade pulsa mais forte na N1. O desenvolvimento da urbe também. Os que praticam o comércio formal, e os que se encontram no informal, separados por uma linha ténue, têm como palco o mesmo espaço. É ao longo da Estrada Nacional onde se encontram algumas das principais instituições (públicas e/ou estatais), centros comerciais e outros serviços que mantêm viva a vida económica de uma urbe com apenas 131 quilómetros quadrados de extensão territorial.
 
Diga-se de passagem, é ainda nesta via pública onde se está a erguer o maior centro comercial do distrito de Xai-Xai que vai ocupar uma área de cinco mil metros quadrados.
 
Perto de celebrar o seu 51º aniversário de elevação à categoria de cidade – o que acontecerá no próximo dia 07 de Outubro –, Xai-Xai cresce no meio de dificuldades, desde acesso limitado à água potável e à saúde, passando pelos bairros desordenados, erosão até ao crescimento desenfreado do comércio informal na via pública.
 
O desafio das autoridades municipais é transformá-la numa “cidade de sonho”. Porém, os inúmeros problemas com que se debate a urbe, em particular, e o distrito em geral, revelam que a pretensão não passa de uma mera ambição política. São desafios próprios de uma cidade em desenvolvimento.
 
A primeira impressão quando se está na N1 é de que Xai-Xai é uma das melhores e mais limpas cidades do país, porém, quando se sai daquela estrada depara-se com uma “nova Xai-Xai” que apresenta as seguintes características: falta de saneamento do meio e uma política de urbanização funcional, e vias públicas de difícil acesso. Com um ordenamento territorial dúbio e desactualizado, a cidade parece não estar preparada para receber mais habitantes.
 
Xai-Xai é constituída por 12 bairros. A maior parte deles carece de vias de acesso. O actual plano de ordenamento há muito que precisa de ser actualizado. A cidade possui duas zonas distintas que enfrentam problemas ambientais.
 
Uma considerada zona alta e outra baixa. Na zona alta, assiste-se a uma ocupação espontânea para habitação assim como para a abertura de machambas nas dunas interiores, acelerando os processos de erosão e deslizamento de terras. A mesma situação se verifica na zona baixa, onde os solos têm fraca capacidade de absorção de águas e a altitude se encontra a nível das águas do rio Limpopo. Neste local as inundações acontecem com frequência, pois os diques de defesa são insuficientes.
 
De acordo com a edilidade, cerca de 60 porcento do território de Xai-Xai não possuem condições para se construir habitação nem infra-estruturas ou equipamentos. O acesso à água potável ainda é deficitário. A realidade indica que alguns bairros ainda recorrem ao uso de poços a céu aberto, revelando que o desafio da provisão do precioso líquido a todos os munícipes está longe de ser ultrapassado.
 
O (eterno) sonho de ganhar a vida fora da terra natal
 
Procurar um emprego noutras latitudes é o sonho da maioria dos jovens, pois acredita-se que Xai-Xai não tem muito a oferecer. Na luta pela vida, dezenas deles chegam a abandonar a sua terra natal em busca de oportunidades frequentemente utópicas. Maputo e a vizinha África de Sul são os principais destinos escolhidos por essa camada da população.
 
Em Xai-Xai, as maiores oportunidades estão na área de agro-pecuária e turismo, porém, as ambições dos jovens são outras. A título de exemplo, até há bem pouco tempo, não passava pela cabeça de Jonas Matsinhe a ideia de abandonar a terra que o viu nascer nem queria ouvir falar em começar a vida num outro canto do país. No entanto, de há uns dias para cá ele pondera fazê-lo, porque, afirma, “não há oportunidades de trabalho aqui em Xa-Xai”.
 
O jovem, de 28 anos de idade, procura uma oportunidade para deixar o país em busca de melhores condições de vida na terra do rand. Regra geral, este tem sido o sonho da juventude de Gaza. “O meu desejo é sair desta cidade e arranjar um emprego em Maputo ou mesmo na África de Sul. Gostaria de juntar dinheiro para comprar um ‘minibus’ e voltar para a minha terra e fazer chapa”, diz.
 
Breve historial
 
Xai-Xai possui um legado histórico único. De acordo com a Portaria nº 263 de 11 de Dezembro, em 1897, após a ocupação colonial, foi designada “cabeça de distrito”, uma medida que tinha como objectivo a abertura de estabelecimentos comerciais como forma de os colonos aproveitarem o seu potencial produtivo. Antigamente, era conhecida por povoação de Chai-Chai. Volvidos 14 anos, foi elevada à categoria de Vila por Decreto de 27 de Outubro de 1911.
 
No entanto, o regime colonial, insatisfeito com a designação de “Chai-Chai”, a qual evocava a memória de um dos régulos que se notabilizou na resistência à dominação estrangeira, alterou o nome par “Vila Nova de Gaza”. A 2 de Fevereiro de 1928, o regime colonial impôs a designação de “Vila de João Belo”.
 
Por ocasião da visita do então Ministro do Ultramar, Adriano Moreira, a 7 de Outubro de 1961, a Vila de João Belo foi elevada à categoria de cidade e manteve o nome colonial até à independência nacional, altura em que o Governo moçambicano decidiu resgatar o nome Xai- Xai.
 
Em 1998, conhece o seu primeiro governo eleito, a par da introdução das autarquias locais no país. No ano de 2004, a cidade foi a primeira a eleger uma mulher para o cargo de presidente de uma cidade com a categoria de capital provincial.
 
O distrito de Xai-Xai
 
O distrito de Xai-Xa, atravessado pela Estrada Nacional número 1 e com uma população estimada em 115,752 habitantes (segundo dados estatísticos de 2008), distribuídos por 23 mil agregados familiares, ocupa uma área de cerca 131 quilómetros quadrados.
 
Há mais mulheres (54 porcento do total da população) que homens (46 porcento) neste ponto do país. Apesar do seu potencial agrícola e turístico, o distrito debate-se com problemas de diversa índole.
 
Até há pouco tempo, o abastecimento de água era feito através de cinco sistemas para a cidade e 140 furos, dos quais 63 operacionais, para o resto do distrito. Apenas 7 porcento da população do distrito de Xai-Xai têm acesso a água canalizada no domicílio, 48%obtêmna fora de casa, 21% têm acesso a um fontanário e 8 porcento bebem água de poço a céu aberto.
 
A electricidade ainda é um sonho para muitas famílias. Em alguns bairros, o acesso a corrente eléctrica ainda é precário. Cerca de 71 por cento da população do distrito têm no petróleo de iluminação a sua principal fonte de energia na habitação. Quanto a unidades sanitárias, existem cinco (um hospital provincial e três centros de saúde).
 

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