MB – FP - Lusa, com foto
Bissau, 22 jan
(Lusa) - Abusos da tropa colonial portuguesa contra a população da Guiné-Bissau
precipitaram o início da luta armada, iniciada há 50 anos, defendeu hoje o
general Bitchoufula Na Fafé, ex-guerrilheiro do PAIGC.
A luta armada
contra o colonialismo português começou na Guiné-Bissau a 23 de janeiro de
1963, faz 50 anos na quarta-feira, dia feriado no país e dedicado aos
"Combatentes da Liberdade da Pátria".
Nesse dia, as
forças do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC)
atacaram a tropa portuguesa em Tite, onde ficava um quartel, no sul do país e
não muito longe de Bissau em linha reta mas que por estrada fica muito distante
(devido à necessidade de contornar os rios).
A luta de
libertação havia de durar 10 anos, até o PAIGC declarar unilateralmente a
independência, a 24 de setembro de 1973, reconhecida por grande parte da
comunidade internacional. Portugal, o país colonizador, reconheceu a
independência em setembro de 1974.
Em declarações à
Agência Lusa a propósito da data, o general na reserva e ex-artilheiro na
frente sul Bitchoufula Na Fafé não tem dúvidas em como o PAIGC não podia ter
outra reação "perante os abusos do colonialismo" contra a população
guineense.
"O abuso era
demasiado. A população, sobretudo a do sul da Guiné, não podia ficar impávida e
serena perante as atrocidades, por isso, o partido decidiu mobilizar a
população a pegar em armas contra os colonialistas portugueses", defendeu.
Bitchoufula Na Fafé
não fez parte do grupo que atacou o quartel de Tite no dia 23 de janeiro de
1963, mas tem uma teoria sobre o sucedido.
"A guerrilha,
que já existia nessa altura, decidiu atacar o quartel de Tite por ser o local
onde o Capitão Curto mandou prender pessoas que tinha detido em várias zonas do
sul, sob alegação de serem terroristas do partido", contou o general.
"Dias antes
houve uma grande operação de buscas em várias zonas do sul, com os homens do
Capitão Curto a procurarem por 'Nino' Vieira. Dessa operação várias pessoas
foram presas, sete pessoas na nossa 'tabanca' foram mortas pela tropa
colonial", afirmou Na Fafé, ex-comissário-geral da Polícia de Ordem
Publica.
Na altura Capitão
do exército, José dos Santos Carreto Curto era o chefe militar mais temido no
sul da Guiné.
O general Bitchoufa
Na Fafé contou que os homens do capitão Curto "não davam sossego" às
populações porque, disse, sabiam das movimentações de elementos do PAIGC na
mobilização das populações. Daí ao início da luta armada foi um passo.
"Os
colonialistas cometiam abusos que toda gente podia reparar. Trabalho forçado,
abuso contra as mulheres na presença dos seus maridos legítimos, roubo e abate
do gado bovino, coisas terríveis. Não podíamos ficar de braços cruzados",
defendeu o ex-guerrilheiro.
Hoje com 64 anos, o
general disse que na altura do início da luta armada o PAIGC ainda não tinha
formado o exército, o que só viria a acontecer um ano depois, mas já tinha
"a guerrilha consciente".
"A guerrilha,
muito antes desse ataque ao quartel de Tite, já vinha fazendo coisas, reações
contra os abusos. Já existia uma forte consciência da guerrilha contra esses
abusos", sublinhou Na Fafé, que disse ter mais tarde falado pessoalmente
com os guerrilheiros Arafam Mané e Quemo Mané, tidos pela História, como os
homens que dispararam os primeiros tiros contra um quartel do exército
colonial.
A
"proeza" é ainda hoje assinalada com um dia feriado no país e na
quarta-feira será lembrada pelas forças armadas da Guiné-Bissau, numa cerimónia
evocativa.
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