segunda-feira, 18 de março de 2013

AINDA O VALE DO CUANGO – III




Martinho Júnior, Luanda

9 – O povo angolano guarda na memória a saga da “guerra dos diamantes de sangue” de Savimbi, facto que perdurará ainda por várias gerações, tais os impactos no seu tecido social.

Para aqueles que foram vítimas da insanidade de Savimbi, conforme eu ilustrei em Vale do Cuango (veja-se a quantidade de explorações que ele tinha no Cuango e no Cuanza), esperava-se que os actuais responsáveis da UNITA, em contraste com seu antigo chefe e por que a paz é uma questão-chave para todo o povo angolano depois dos Acordos de Luena a 4 de Abril de 2002, assumissem uma posição sem ambiguidades nem equívocos, particularmente onde ele explorou e negociou diamantes à revelia do governo angolano para dar continuidade às sequelas do colonialismo e do “apartheid”, aproveitando da “Iª Guerra Mundial Africana” (que desmente a teoria da “guerra civil” que determinada propaganda, também de origem identificada, nos quer impingir).

Samakuva visitou em Março de 2011 a região do Cuango e comecem por verificar um dos propagandistas das suas mensagens, as mensagens que na altura entendeu transmitir: o “site” do Protectorado da Lunda, por via duma reportagem de Manuela dos Prazeres, que para o fazer terá acompanhado a comitiva!

O Protectorado da Lunda é um grupo que pelo seu programa, ideologia (tribalista) e objectivos políticos, põe em causa a Constituição Angolana e esperava-se que, se a UNITA não teve responsabilidade que esse grupo fizesse cobertura e publicidade à passagem de Samakuva por Malange e pelas Lundas, tivesse o cuidado de emitir um comunicado dizendo que não se responsabilizava por essa publicidade, demarcando-se ao mesmo tempo desse grupo em tempo oportuno.

Samakuva e a UNITA calaram-se, (“quem cala consente”) e desse modo destaco a primeira ambiguidade: caberá aos partidos que têm acento na Assembleia Legislativa alinhar com grupos que nada têm a ver com a Constituição Angolana, muito pelo contrário?!

Pode-se até não estar de acordo com a actual Constituição Angolana, mas ela está vigente e os representantes dos eleitores na Assembleia da República, UNITA incluída, devê-la-ão respeitar e não foi, neste caso, isso o que aconteceu!

10 – Essa permeabilidade em relação a grupos que põem em causa a Constituição Angolana acontece também no que se prende com as questões de Cabinda, aproveitando por vezes organizações bem identificadas pelo seu “activismo” pernicioso e fragmentador.

A ambiguidade e os equívocos, métodos utilizados por quem está interessado em tirar partido de factores de desestabilização e de risco, ganham no entanto mais corpo em Malange e nas Lundas quando se dá conta do conteúdo do que escreveu a jornalista Manuela dos Prazeres:

- Faz alusão à pobreza das populações angolanas numa terra onde há a proliferação de tantas riquezas, culpando também, sem citar nomes, as empresas nacionais e estrangeiras (o que é legítimo);

- Faz alusão à morte de estrangeiros ilegais (sem dar mais explicações) que já haviam constituído relações com angolanas (a sua morte deixou viúvas e em alguns casos órfãos, o que é de facto de muito lamentar);

- Em nada se refere contudo à migração clandestina para dentro de território angolano tendo como última escala a RDC, muito menos de grande parte dessa migração ser proveniente de países islâmicos sunitas do Sahel, com financiamentos estranhos a Angola!

Quer dizer, se levarmos ainda em conta que “quem cala consente”: se não abordou os riscos de ilegais islâmicos estarem a entrar sem controlo e em grande número em território angolano através da muito porosa via do Cuango, é por que a UNITA está a retirar dividendos sócio-políticos (se não mesmo financeiros) dessa situação, quando tal acontecimento que se vai repetindo no dia-a-dia, põe desde logo em risco o exercício da própria soberania nacional!

Essa questão fundamenta o seguinte raciocínio: há factores de risco externo e interno que se estão a conjugar, sob o olhar benevolente das potências cuja acção em África influenciam em cadeia nos fenómenos políticos, humanos, económicos e financeiros, implicando-se em todos os “efeitos dominó”, entre elas os Estados Unidos, a França e os seus aliados “de mão”, como os “financiadores” desse tipo de migrações, as ultra conservadoras monarquias arábicas avessas à democracia, elas próprias também implicadas no jogo das “primaveras árabes”!

Para quem tem gente ao seu serviço como Theresa Welan, é impossível que a situação presente do vale do Cuango não seja perfeitamente entendida para melhor explorar os termos de ingerência e manipulação, sobretudo no que diz respeito à confluência dos factores de risco externos e internos!

A ambiguidade de Samakuva, da UNITA e dos jornalistas que os servem não terá a mesma escola da Theresa Welan?

11 – Por essa razão também não é de estranhar que, sob o ponto de vista sócio-político, partidos da oposição em Angola, ao invés de se assumirem contra os fenómenos de capitalismo neo liberal que levaram entre muitas coisas a políticas de portas escancaradas em Angola, que levaram a financiamentos mal parados que incluem a exploração e o comércio ilegais de diamantes, bem como a massiva migração de correntes de pessoas originárias dos países islâmicos sunitas do Sahel, ao silenciar aspectos tão críticos, estão “a cavalo” tanto no neo liberalismo quanto em fenómenos de desestabilização, para garantirem inclusive a sua capacidade de mobilização num quadro cada vez mais evidente de “desobediência civil”, que é por seu turno um pré-aviso de mais tensões e conflitos, senão duma nova guerra!

A UNITA tem de se retratar uma vez mais perante o seu eleitorado e toda a situação que se prende ao Vale do Cuango hoje, pela sua acuidade, é um motivo para tal, dados os antecedentes de Savimbi e das implicações profundas da “guerra dos diamantes de sangue”, questões que se interligam ao significado que têm para África a evolução das situações da Tunísia, do Egipto, mas sobretudo da Líbia e do que daí resultou no Sahel e por via do Sahel em direcção a Angola!

Assumirá a UNITA, mais uma vez, a repetida “qualidade” de “cavalo de Tróia”, conforme o foi no tempo colonial (recorde-se a Operação Madeira), na luta contra o “apartheid” (recorde-se a Operação DISA entre dezenas de outras), ou ainda como apêndice, mesmo no estertor do regime de Mobutu a ponto de Savimbi desencadear a “guerra dos diamantes de sangue”?


Fotografia: Paisagem amena do vale do Cuango.

A consultar:
- Visita de Isaías Samakuva nas Lundas, terra rica e uma população pobre – por Manuela dos Prazeres – http://protectoradodalunda.blogspot.com/2011/03/visita-de-isaias-samakuva-nas-lundas.html
- UNITA quer transformar Cafunfu em novo bastião – http://www.angonoticias.com/Artigos/item/29105
- “Áreas sem governação” em Angola e Moçambique preocupam EUA – http://www.rtp.pt/noticias/?article=127780&layout=121&visual=49&tm=7&)
- Sinais controversos – IX –

*Ler textos do mesmo título e outros de MARTINHO JÚNIOR

5 comentários:

Anónimo disse...

Visita de Isaías Samakuva nas Lundas, terra rica e uma populacao pobre - Por Manuela dos Prazeres

A população das terras da pedra preciosa (diamante) vive numa extrema pobreza, carecendo de bens de primeira necessidade, de assistência médica medicamentosa, de água potável, saneamento básico e de energia eléctrica, além de registar ainda um índice elevado de crianças fora do sistema normal de ensino

A população das terras da pedra preciosa (diamante) vive numa extrema pobreza, carecendo de bens de primeira necessidade, de assistência médica medicamentosa, de água potável, saneamento básico e de energia eléctrica, além de registar ainda um índice elevado de crianças fora do sistema normal de ensino. Foi esse quadro sombrio que o líder da UNITA constatou, durante a sua jornada de trabalho naquelas paragens.

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No Cafunfu, Isaias Samakuva e a comitiva que o acompanhava, ficaram surpreendidos pela calorosa recepção dos militantes e população em geral, que clamavam por melhores condições de vida, referenciadas na erradicação da pobreza, habitação condigna, saúde emprego e educação.

Realizou um comício que teve a participação de milhares pessoas, militantes do seu partido e a população local que afluiu em massa para escutar a mensagem do líder do maior partido na oposição em Angola.

Isaías Samakuva ficou informado sobre assassinatos que ocorrem nas áreas de garimpo, facto que está a deixar muita mulher viúva e crianças órfãs.

Para o líder do Galo Negro, é um acto criminoso matar os garimpeiros ilegais, sugerindo a sua detenção e entrega aos órgãos de justiça.

“É normal que as mulheres fiquem viúvas por motivo de doença e não por causa da riqueza do país”, afirmou.

Isaías Samakuva visitou o hospital do Cafunfu, tendo sido informado da falta de medicamentos, água potável. O funcionamento do estabelecimento hospitalar é assegurado por sete médicos dos quais um angolano.

No quarto dia 15, o líder da UNITA, trabalhou no Muxinda, Kapenda Kamulemba, Xinji, Xamikelengue, Muana Kimbundu e Kakolo. Nessas localidades Isaías Samakuva também falou com a população, visitou as administrações locais, reuniu com as autoridades tradicionais locais.

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Privilegiando o diálogo o presidente Samakuva visitou ao bispado local e manteve encontro com o bispo Dom José Manuel Imbamba, que se congratulou com a visita do líder da UNITA àquela região e apresentou preocupações de vária ordem, decorrentes da situação vivida pelas populações locais. O líder católico falou da violação dos direitos humanos, sobretudo na bacia do Cuango, do estado degradante das Dioceses, o mau estado das estradas, desemprego, tribalismo e feitiçaria que está na base de muitas infelicidades entre populações.

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A sua jornada, terminou com a cerimónia do nono aniversário do presidente fundador, Dr. Jonas Savimbi, rumando para o cemitério municipal do Luena, depositando a coroa no túmulo.

Vindos da homenagem, realizou um acto de massas defronte ao secretariado provincial do seu partido.

É de salientar que o líder da UNITA, em todas as localidades por onde passou, mereceu o apoio incontestável da população, manifestado em moções de apoio, e ofertas.



http://protectoradodalunda.blogspot.com/2011/03/visita-de-isaias-samakuva-nas-lundas.html

Anónimo disse...


GRUPO TRIBALISTA!!!



1 - DE CABINDA AO CUNENE, DO MAR AO LESTE, UM SÓ POVO, UMA SÓ NAÇÃO! - assim proclamava António Agostinho Neto, Presidente fundador da pátria angolana!



2 - Vejam o que pensa e com age o grupo do Movimento do Protectorado da Lunda Tchokwe:




MANIFESTAÇÕES POPULARES EM APOIO AO PRESIDENTE DO MOVIMENTO DO PROTECTORADO E A FAVOR DA AUTONOMIA DA LUNDA TCHOKWE

LUNDA -8/2013, Teve lugar nas Lundas no dia 8 de Março, uma manifestação espontânea popular e pacifica de apoio ao presidente do Movimento do Protectorado da Lunda Tchokwe, Eng.º José Mateus Zecamutchima e a favor da Autonomia Administrativa, económica e jurídica conforme ilustram estas imagens fotográficas.

Foi um acto cheio de bravura e de coragem, este apoio do nosso povo ao movimento reivindicativo diante do Governo usurpacionista do regime do Presidente José Eduardo dos Santos que continua silencioso ao invés do dialogo.

Este tipo de manifestações irão continuar pacificamente a ter lugar em todo o território da Nação Lunda Tchokwe – Kuando Kubango, Moxico e antiga Lunda até que o regime instalado em Luanda se abra para negociações e a instauração da Autonomia.

A presença da classe feminina nesta manifestação, exactamente no dia e no mês dedicada a mulher é de extrema importância, é o despertar da consciência do nosso povo diante do seu legítimo direito, contra a subalternização, humilhação, obscurantismo e a colonização de Angola.




http://www.protectoradodalunda.blogspot.com/2013/03/manifestacoes-populares-em-apoio-ao.html

Anónimo disse...


O GRUPO (TRIBALISTA) É INCAPAZ DE SE AUTO-RETRATAR?

CRISE PROFUNDA DO JORNALISMO ANGOLANO SOBRE A HISTÓRIA DA LUNDA - MARTINHO JÚNIOR DIZ QUE O PROTECTORADO DA LUNDA TEM IDEOLOGIA TRIBALISTA EM AINDA O VALE DO CUANGO – III

http://www.protectoradodalunda.blogspot.com/2013/03/crise-profunda-do-jornalismo-angolano_18.html

Anónimo disse...




CONTRA OS FACTOS VEJAM COMO O GRUPO (TRIBALISTA) ARGUMENTA:

OBSERVAÇÃO:O Comité Executivo Nacional do Movimento do Protectorado da Lunda Tchokwe, vai emitir o seu ponto de vista sobre a matéria nas próximas horas e convida desde já o senhor jornalista Martinho Júnior e outros que estiverem interessados para um debate aberto, sério e transparente com o objectivo de sustentar qualquer tesse acusatório, em como é que o povo Lunda Tchokwe é tribalista e a colagem do Movimento com algum Partido da oposição ou no poder em Angolana.

Como é que o Movimento do Protectorado fez campanhas publicitárias a favor da UNITA em Malange e Cuango ou fez parte da Comitiva do Sr SAMAKUVA. Os arquivos publicados no site do protectorado em 2011 e 2012 estão disponíveis e podemos dar a quem tiver interesse sobre a matéria,

www.protectoradodalunda.blogspot.com

Anónimo disse...


FANTOCHES!!!

RECORRER A "ARGUMENTOS HISTÓRICOS" DO SÉCULO XIX, QUANDO AS POTÊNCIAS COLONIAIS FAZIAM A PARTILHA DE ÁFRICA, PARA JUSTIFICAR O "REDESENHAR" DO CONTINENTE PROMOVIDO PELO IMPÉRIO NO SÉCULO XXI NÃO É SÓ UMA PROVA DE TRIBALISMO: É TAMBÉM UMA PROVA DE DIVISÃO, DE INGERÊNCIA E DE NEO COLONIALISMO!

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