sábado, 2 de março de 2013

Portugal – Manifestação: PROVA DE FOGO EM 40 CIDADES




Liliana Valente – Jornal i

Em mais de 40 cidades hoje é dia de sair à rua contra a política de austeridade da troika e do governo. Os organizadores esperam uma “gigante” mobilização, o governo compara com as anteriores e a polícia garante um dispositivo “necessário e adequado”. Mas poderá esta manifestação ser diferentes das anteriores? Desta vez o apoio implícito do PS, com alguns deputados a participarem, mostra que aruptura ultrapassou a fronteira da esquerdae está a chegar ao bloco central

Sob o lema “Que se lixe a troika, o povo é quem mais ordena”, milhares de portugueses vão sair hoje à rua em protesto contra as medidas de austeridade. A manifestação que começa ao início da tarde promete uma jornada de “gritos” e de “indignação”, duas palavras que o primeiro-ministro acredita não resolverem a crise. Mas é delas que estes portugueses vão munidos. No governo o clima é de aparente tranquilidade e da polícia chega a certeza de que o dispositivo está preparado e será o “necessário e adequado”.

Certo é que independentemente da dimensão da manifestação ela não vai fazer cair o governo, nem fazer com que se altere a política, pelo menos significativamente. O protesto de hoje, porém, chega num momento especial: a troika está em Portugal a avaliar o cumprimento do Memorando de entendimento pela sétima vez e ainda não testemunhou ao vivo e a cores o descontentamento dos portugueses. E para evitar cenários mais pessimistas, hoje os técnicos da troika não trabalham.

“Esperamos uma grande manifestação, combativa. Mesmo que sejam só mil, que seja combativa e que se consiga pelo menos o objectivo de derrubar o governo”, diz ao i Tiago Mota Saraiva, do movimento Que Se Lixe a Troika. Para os organizadores, desde as anteriores iniciativas tem havido um “aprofundamento da mensagem política” que é agora mais “clara e objectiva”. Estão em causa dois propósitos: “Fazer frente à troika” e “fazer cair este governo, que é uma correia de transmissão da troika”, explica. Desta vez os organizadores acreditam que a mobilização vai ser ainda maior porque já chega a todos os quadrantes políticos, mesmo ao do actual governo: “Neste momento, o próprio governo não consegue controlar os seus militantes, vamos ter pessoas de várias correntes políticas, é transversal. O que prova que é a democracia que vai estar nas ruas.”

O momento político é delicado e os nervos estão sensíveis. É que os protestos dirigidos aos diferentes membros do governo de cada vez que saem à rua criaram uma presença quase diária de contestação nos meios de comunicação e na cabeça dos governantes que não desvalorizam a iniciativa. Antes pelo contrário: a manifestação de hoje é encarada com preocupação, apesar de nada transparecer nos discursos oficiais. Ontem o ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, apelou à calma: “Tenho a certeza que as manifestações que amanhã vão ocorrer não vão fugir àquilo que tem sido regra em Portugal. São manifestações de gente responsável, ordeira, que expressa de uma forma elevada as suas opiniões.”

No meio da multidão vão estar hoje alguns deputados socialistas. Os mais jovens, e alguns ex-líderes da JS, como Pedro Delgado Alves, Duarte Cordeiro mas, além destes, o deputado João Galamba, a deputada Isabel Moreira e a líder das mulheres socialistas, Catarina Marcelino, também dizem que vão marcar presença. Este apoio de alguns socialistas, além da frase de António José Seguro, que disse esta semana “os portugueses têm todo o direito de se manifestarem e até o dever de o fazerem porque a situação económica e social do país é de pré-ruptura iminente”, deixaram o executivo mais alerta.

A inquietude notou-se ontem no debate de urgência na Assembleia da República, em que os dois ministros de Estado, Vítor Gaspar e Paulo Portas, referiram várias vezes a necessidade de “acordo social”. Portas, aliás, vincou várias vezes a necessidade de se preservar a “confiança interna”: “É essencial cuidar do consenso político”.

As palavras do líder do CDS-PP não foram proferidas por acaso na véspera da manifestação. É que além de alguns socialistas, a CGTP enviou um comunicado a apoiar o protesto, assim como o PCP e o BE. A ruptura total com o PS levaria mais socialistas à rua e por isso ontem o discurso não foi de provocação - tratou o PS com pinças.

Apesar de esta manifestação estar a merecer uma atenção especial pelo momento em que se realiza, o governo não quis nos últimos dias dar sinal de fraqueza e não alterou a agenda, apesar de a segurança estar mais vigilante. E Passos Coelho, que esteve três dias seguidos na rua, não se coibiu de falar indirectamente de protestos. Primeiro lembrou que o debate deve ser aprofundado e não se ficar “pela espuma dos dias”, para na quinta-feira defender que a “indignação por si só” não resolve a crise.

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