sexta-feira, 12 de abril de 2013

GARANTIR O SAQUE!




Martinho Júnior, Luanda

1 – A presença francesa na República Centro Africana visa promover a conjugação, golpe a golpe, rebelião a rebelião, a partir da qual os interesses franceses, sem mais alternativas, acabam sempre por ser impostos, tirando partido do caos, do subdesenvolvimento crónico e da vulnerabilidade do país, inscrita aliás nas vulnerabilidades cultivadas em toda a sua região emvolvente.

Desse modo a França, no quadro da “FrançAfrique”, garante sempre o seu papel por detrás de cada cenário e de cada personagem, entre os “amigos úteis” e os “inimigos úteis”, surgindo depois com o seu poder, tirando partido de sua presença militar década após década, como um factor decisivo, por que é muitas vezes o único elemento preponderante, que se apresenta como “elemento estabilizador”.

O grupo anti-colonialista francês “Survie” ao acompanhar o “modus operandi” francês identifica as personagens que na sombra são não só os “fazedores de reis”, como os verdadeiros governantes que sustentam os fantoches; na República Centro Africana houve um “Lucky Luke” Manton, que governou o país durante treze anos (“Un malade en phase terminale”):

« Le lieutenant-colonel Jean-Claude Mantion, agent des services secrets français, débarque à Bangui, le 2 décembre 1980.

Chargé d’encadrer le président David Dacko installé par Paris pour succéder à Bokassa, puis son remplaçant le général André Kolingba, il déjouera dès 1982 une tentative de coup d’État fomentée par Ange-Félix Patassé et deux généraux en vue, François Bozizé et Alphonse Mbaïkoua.

Les représailles sont terribles et les fiefs de Patassé au nord de pays sont rasés et nombreux habitants massacrés donnant à naissance à une 1ère fracture entre populations du nord et du sud. Kolingba confie à Lucky Luke Mantion un nombre toujours plus importants d’attributions au point d’être un 1er ministre de l’ombre.

Il gouvernera de facto la Centrafrique pendant treize ans. C’est pendant cette décennie que le Yakoma Kolingba a instillé le poison de l’ethnicité, plaçant ses proches et les membres dans tous les rouages de l’Etat et de l’armée.
Cette instrumentalisation de l’appartenance tribale à des fins politiques, la Centrafrique la paye encore ».

Na actual conjuntura os militares franceses, que andam sempre aos tiros, mataram apenas dois indianos “por engano”, na República Centro Africana, desfavorecendo deliberadamente François Bozizé, armadilhando o acordo de Libreville, fazendo ouvidos moucos à cobertura que lhe deu a União Africana e facilitando a tarefa dos rebeldes Seleka, discretamente apoiados pelo Tchade do regime de outro rebelde e golpista da “FrançAfrique”: Idriss Déby!

A pretexto de proteger os europeus radicados no país, o seu contingente militar que se manteve fora da contenda, foi reforçado e mantém-se no lugar, em contraste com o que aconteceu ao modesto contingente da África do Sul, um contingente de 200 homens surgido em função do acordo de Libreville, que ao não merecer qualquer socorro, reforça minha ideia que a França indicia nada querer com os BRICS, nem com emergentes no seu “pré carré” e sente-se efectivamente muito bem entre rebeldes e golpistas, com os quais convive em todo o Sahel e com os quais procura contaminar as conjunturas cada vez mais a sul aproximando-se de Angola e da SADC!

De facto a armadilha em que consistiu o acordo de Libreville, produziu um sinal claro em relação à África do Sul: o seu contingente de 200 homens foi assaltado por milhares de rebeldes Seleka, removendo assim o único obstáculo que se lhes opôs em direcção à tomada de poder!

Forjou-se às claras um enredo para, na sombra, por via dos mecanismos de inteligência, ingerência, manipulação e influência, se alcançar os resultados de interesse e conveniência, afastando-se a eventual concorrência e “dando o exemplo” aos mal agradecidos como François Bozizé!!!

O desenlace ocorreu em tempo oportuno: precisamente quando a África do Sul recebia a reunião dos BRICS!

A França, como os outros ocidentais, tem fomentado entre as suas dilectas elites africanas, que as iniciativas chinesas em África são tão colonialistas como as ocidentais, todavia é perceptível em muitos países africanos, que entre o que o colonialismo produzido e continua a produzir em África e o que fazem os chineses a troco das matérias primas, não tem paralelo: fizeram mais os chineses, através dos seus relacionamentos, em 10 anos, que os ocidentais em 5 séculos e nunca por via da força militar!

Para a geo estratégia de tensão da hegemonia, fica mais uma vez o “aviso à navegação”: o império vai utilizar, sempre que achar necessário, a via militar em África, mesmo que seja através dos mais “soft” expedientes!

Para o império só há um modelo de paz: o da sua hegemonia que se impõe pela via armada, inclusive ali onde outros (emergentes) surgirem em concorrência!

2 – Qual foi o motivo do abandono de François Bozizé, que aliás foi instalado a seu tempo no poder em Bangui através dum golpe em função da “FrançAfrique”, tal como seus antecessores?

A resposta parece estar na tendência recente de François Bozizé em dar abertura aos emergentes, nomeadamente à República Popular da China e à África do Sul (depois do acordo de Libreville, que funcionou como uma autêntica armadilha), precisamente por que para vencer o subdesenvolvimento não há forma por via dos interesses ocidentais, muito menos por via da “FrançAfrique”!

Esse esforço foi “detectado” em tempo oportuno pelos meios de inteligência da hegemonia, o que de imediato fez com que a França e os Estados Unidos colocassem tropas na RCA em Janeiro de 2013.

Os Estados Unidos e a França colocaram seus “drones” e “especialistas”, bem como os parceiros tchadianos, ugandeses, congoleses e do Sudão do Sul, com vários pretextos à mão de semear: crise humanitária, protecção de seus nacionais, dar combate à influência dos radicais islâmicos (tchadianos e sudaneses entre outros) infiltrados no Seleka e perseguir o “famigerado” Joseph Kony do Lord Resistance Army (LRA), o “inimigo útil” mais longevo de toda a região!

O cinismo da hegemonia e dos “gendarmes” da “FrançAfrique” é por demais evidente: nunca movimentam suas forças militares por causa da disputa das riquezas de África e do saque a que se habituaram, também não o fazem por causa da concorrência dos emergentes tendo à cabeça a RPC, ou um “esquivo” aliado como a África do Sul, mas sempre por razões tão saudáveis que afundam ainda mais os países do Sahel e a República Democrática do Congo na cauda dos Índices de Desenvolvimento Humano Baixos!

Com isso expandem o “arco de crise” na direcção sul, tendo Angola e a SADC na mira, onde os emergentes têm conjunturas mais favoráveis, fabricando pretextos para a conjugação dos riscos externos e internos e “salvando” a Europa das migrações islâmicas contaminadas pelos longos braços da “Al Qaeda”, de criação norte americana no Afeganistão (do tempo dos “freedom fighters” como Savimbi)!

Suspensa a “Primavera” da Argélia, por falta de maturidade, o império está em busca de outros frutos maduros e Angola é mesmo uma tentação!

A Consultar:
- Les Etats Unies et la France déploient dês troupes en Republique centrafricaine – http://www.mondialisation.ca/les-etats-unis-et-la-france-deploient-des-troupes-en-republique-centrafricaine/5317704
- Central African Republic ceasefire signed – http://www.bbc.co.uk/news/world-africa-20990671
- Alcançado acordo de paz entre os centro-africanos – http://jornaldeangola.sapo.ao/13/67/alcancado_acordo_de_paz_entre_os_centro-africanos
- Le jeu trouble de l’Afrique du Sud – http://www.africatime.com/Centrafrique/index.asp
- Lármée française supervise un accord de partage du pouvoir en Republique Centrafricaine – http://www.wsws.org/fr/articles/2013/fev2013/ceaf-f02.shtml
- Central African Republic rebels seize capital and force president to flee – http://www.guardian.co.uk/world/2013/mar/24/central-african-republic-rebels-capital
- Guerres au terrorisme: une opportunité pour une tutelle française et européenne renforcé – http://survie.org/billets-d-afrique/2013/221-fevrier-2013/article/guerre-au-terrorisme-une
- L’armée française en Afrique – http://diktacratie.com/larmee-francaise-en-afrique/
- Le nouveau président chimois courtoise l’Afrique – http://www.mondialisation.ca/le-nouveau-president-chinois-courtise-lafrique/5329520

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