segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Brasil: DILMA E A CRÔNICA DE UMA DERROTA ANUNCIADA

 


Miguel do Rosário, Rio de Janeiro – Correio do Brasil, opinião
 
O governo do PT tem inúmeros problemas, como todo governo. Não construiu um projeto de Estado, como prova a falta de discernimento com que indicou os ministros do Supremo Tribunal Federal. Não investiu suficientemente em projetos estruturantes de mobilidade urbana. A redução do IPI dos automóveis foi realizada sem um contraponto urbanista para evitar o congestionamento das grandes cidades.
 
Entretanto, talvez não tenha havido fracasso maior no governo do que a sua estratégia de comunicação. Ontem, a presidenta participou de um evento em São Paulo no qual anunciou o investimento de R$ 8 bilhões do governo federal na cidade de São Paulo.
 
Ótimo! Excelente oportunidade para construir um discurso revigorante, com planos de futuro, inspirando esperança e espírito empreendedor nas pessoas. Só que não.
 
Ao invés disso, a presidente faz um longo louvaminha do governo, citando tediosamente dados do IDH, que vão até 2010!
 
O passado, mais uma vez, assumiu o lugar do futuro.
 
Toda segunda-feira, temos o Café com a Presidenta, no rádio… Quem escuta? Talvez donas de casa no interior do Amapá. Mas não são as pessoas que vivem nas cidades médias e grandes, ou seja, 70% da população brasileira.
 
As manifestações de rua, que por pouco não enveredam para um grande movimento de repúdio ao governo federal, pelo jeito não despertaram as belas adormecidas do Planalto. O ridiculamente anacrônico Café com a Presidenta, que ninguém escuta, continua sendo seu único canal de comunicação. Por que não trocar para vídeo, e disseminá-lo viralmente pelas redes sociais? Nós a elegemos, Dilma, para que você nos represente politicamente, com galhardia e coragem, não para se esconder em programas transmitidos apenas em áreas rurais.
 
Estamos às vésperas de um processo eleitoral, e a presidenta não tem uma conta de twitter. Se tivesse uma, poderia acumular seguidores e construir uma arma política para se defender dos ataques que fatalmente virão em 2014.
 
Mais uma vez, a guerra ficará nas mãos de blogueiros e internautas, qual um novo exército de 300 espartanos, a lutar contra 5 milhões de persas midiáticos.
 
Sou um blogueiro de esquerda, e estou predestinado a apoiar Dilma em 2014 porque entendo que a alternativa, Aécio Neves, representa um retrocesso terrível para o país. Por isso mesmo, estou absolutamente chocado com a incompetência da comunicação do governo federal.
 
Não falo isso para arrumar um emprego no governo, como acusarão meus detratores. Quero continuar sendo um blogueiro independente, operando no setor privado, dono da minha opinião e do meu nariz.
 
Tudo que eu quero é que o governo federal esteja ao nosso lado na luta ideológica contra as forças do atraso que, aliadas ao imperialismo, querem manter o Brasil submisso a um destino de periferia pobre do mundo.
 
Me desculpem o termo grosseiro, mas é muita estupidez a Dilma jamais ter investido nas redes sociais.
 
O governo do PT prefere torrar bilhóes com marketing tradicional do João Santana do que contratar meia dúzia de garotos para escrever tweets e posts no facebook.
 
O governo não exerce a luta política, não argumenta. Tornou-se um elefante parado no meio da savana, levando flechadas. Os caciques do PT no legislativo não querem lutar com medo de represálias. Tornaram-se um bando de covardes.
 
O PSDB, no poder, vai enterrar todas as investigações sobre a privataria tucana, o Banestado, Cachoeira, sonegação da Globo, e encetar um ataque violento contra os podres do PT, desde o vereador que usou dinheiro público para comprar um sanduíche fora da cidade até as coisas grandes. A estratégia petista de permanecer sempre na defensiva, e inclusive entregar alguns reféns aos leões (Dirceu, Genoíno, Cunha e Pizzolato), para evitar um confronto mais direto, será implodida por seus adversários quando estes subirem a rampa. De 2015 em diante, o bicho papão vai pegar do mesmo jeito.
 
É uma pena.
 
Se nem a explosão das bombas, e os gritos de milhões de pessoas à sua porta, conseguiu acordar o governo, é porque talvez ele já esteja morto.
 
Bem, espero que não. De qualquer forma, seremos obrigados a lutar para ressucitá-lo, como Lázaro.
 
Dilma, acorde. Mude seu ministério. Mude sua comunicação. Venha pra rua. Venha lutar. Desse jeito, você e seu partido vão perder a guerra.
 
O mais grave: vão perder pelo pior dos defeitos numa pessoa e num governo, a covardia. A covardia não atrai. Mesmo valentões descerebrados ou mal intencionados, como Joaquim Barbosa, conseguem despertar a simpatia de um setor, porque vêem nele sinais de coragem e intrepidez.
 
Os representantes do PT, e principalmente a presidenta, se quiserem atrair gente, precisam demonstrar mais arrojo, mais colhões, mais autoestima.
 
Hoje temos uma questão central, por exemplo. A sonegação da Rede Globo nos permite oferecer ao gigante das ruas um inimigo à sua altura. Um poderio imenso, disseminado e dissimulado. A Globo controla a política porque, em quase todos os estados brasileiros, sobretudo os mais pobres, as famílias que dominam a política local detêm concessão pública para retransmitir a Globo, o SBT, a Band…
 
Seria interessante que a presidenta aproveitasse a oportunidade para se engajar em nossa luta em prol de uma mídia mais democrática e mais justa.
 
Miguel do Rosário é jornalista e um dos coordenadores do Núcleo-Rio do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão do Itararé.
 

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