Deutsche Welle
Impasse
orçamentário levou EUA à beira do abismo, custou 24 bilhões de dólares e ainda
pode ter sequelas. Acordos que encerraram impassse se esgotam no início de
2014, e não se descarta uma nova crise.
Discursando em
Washington nesta quinta-feira (17/10), o presidente Barack Obama instou os
políticos americanos, em pé de guerra no Congresso, a se unirem e aprovarem um
orçamento de longo prazo. Ele pediu que abandonem a "política de alto
risco", que, em suas palavras, minou a confiança do povo e ameaça a
economia.
Após a aprovação no
Senado do novo teto da dívida para o país, na véspera, John Boehner, porta-voz
dos republicanos na Câmara dos Representantes, mostrou-se bom perdedor, ao
declarar: "Lutamos uma boa batalha, mas não a vencemos."
O líder da maioria
democrata no Senado, Harry Reid, manifestou-se de forma mais solene e
apresentou o consenso como uma vitória da democracia. "Hoje, vimos como o
Congresso chegou a um acordo histórico, suprapartidário, para tornar o governo
novamente operante e evitar a insolvência desta nação."
Segundo Marc
Goldwein, economista da organização independente Comitê para um Orçamento
Estatal Responsável, "não há vencedores, só perdedores" nessa
confrontação. "Ainda assim, por sorte encontramos um meio de colocar nosso
governo de novo em ação. Isso certamente fará bem à nossa economia."
Prazo até fevereiro
O consenso no
Congresso prevê a elevação do limite de endividamento, mantendo os EUA
solventes pelo menos até 7 de fevereiro de 2014. Será aprovado um orçamento de
transição, válido até 15 de janeiro. Assim, a administração paralisada quase
totalmente há mais de duas semanas pôde, nesta quinta-feira, começar a retomar
suas atividades.
Além disso, uma
comissão suprapartidária ficará encarregada de, até meados de dezembro,
apresentar propostas para a redução da dívida pública. Segundo Goldwein, mesmo
depois do acordo no Congresso, vários problemas de curto e longo prazo permanecem
sem solução.
"Temos uma
série de programas de saúde e de aposentadoria cujo volume cresce mais rápido
do que a receita fiscal consegue compensar. Ou reduzimos o volume dos
programas, ou recolhemos mais impostos –ou uma combinação de ambos", afirma.
Crise dispensável
Mesmo tratando-se
apenas de uma solução provisória, o consenso proporcionou grande alívio nos
Estados Unidos. Na Bolsa de Nova York houve aplausos de pé, e o "showdown
do shutdown" do governo foi tema por toda parte.
"Agora, enfim,
vou poder novamente ocupar os meus quartos", alegrou-se um hoteleiro de
Washington, cuja clientela é formada, sobretudo, por lobistas e visitantes do
governo, os quais se ausentaram totalmente da capital nas últimas duas semanas.
No entanto, a coisa
não precisava ter chegado tão longe, de modo algum, criticavam observadores
políticos na noite de quarta-feira. Michael Werz, do think-tank Center for
American Progress, diz que as semanas de suspense em torno da eventual
insolvência do país abalaram fortemente a confiança na economia americana e no
dólar como divisa internacional de reserva.
"Quando uma
coisa dessas acontece uma vez, ainda se pode desculpar. Mas fomos colocados
nessa situação pelos linhas-duras republicanos pela segunda vez, em 24
meses", comenta Werz. "Pouco a pouco isso vira um hábito e,
naturalmente, também abala a confiança nos Estados Unidos como potência
política e econômica."
Rixa de custos
bilionários
Em seu discurso em
Washington, o chefe de Estado americano confirmou que o "espetáculo"
do impasse orçamentário prejudicou a credibilidade do país em todo o mundo. No
entanto, o dano não é apenas psicológico: economistas calculam que as duas
semanas de paralisação administrativa do Estado custaram concretamente aos cofres
públicos cerca de 24 bilhões de dólares.
Cabe esclarecer que
danos financeiros o fiasco ainda acarretará, até porque o acordo alcançado não
é duradouro. A próxima crise orçamentária poderá estourar assim que o prazo da
medida provisória se esgotar, no início do próximo ano.
"Quem
acompanhou o debate no Senado, viu que todos ficaram assustados com a
proximidade a que estivemos desse abismo. O governo dos EUA ouviu, tanto dos
parceiros e aliados quanto de seus adversários políticos, que essa era uma
forma irresponsável de governar o país. E acho que a mensagem chegou", diz
Werz.
Por outro lado,
ainda há numerosas incertezas políticas. O voto a favor da elevação do limite
de endividamento, sem cortes na reforma da saúde, foi uma dura derrota para os
republicanos no Congresso – e ainda precisa ser digerida.
"Obamacare"
na mira de conservadores
O movimento Tea
Party era quem mais exigia alterações decisivas na reforma da saúde
impulsionada por Obama. Os conservadores populistas pretendiam se aproveitar da
disputa em torno do orçamento e da dívida, para comprometer seriamente o objeto
de prestígio do democrata.
Segundo se comentou
em Washington, um núcleo mais radical do Tea Party estava até disposto a deixar
o barco afundar na quarta-feira, na luta incondicional contra o assim chamado
"Obamacare". O deputado texano ultraconservador Ted Cruz manifestou-se
decepcionado com a aprovação no Congresso: mais uma vez, afirmou, a Washington
bem estabelecida se impôs.
Muitos acham,
porém, que nas próximas semanas os republicanos terão motivos suficientes para
se ocupar consigo mesmos. "No espaço de umas poucas semanas, o porta-voz
conservador deles, Boehner, foi várias vezes exposto e debilitado politicamente
por um grupo pequeno, extremo e conservador em seu partido", opina Werz.
"Agora será interessante observar como as duas facções – ou seja, os republicanos
conservadores e os moderados – vão entrar num entendimento dentro do 'Grand Old
Party'. "
Autoria: Antje
Passenheim (av) – Edição: Rafael Plaisant
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