quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Portugal - Passos Coelho: “Ninguém aconselhou os portugueses a emigrarem”




Jornal i - Lusa

O primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, afirmou hoje, em Paris, que "ninguém aconselhou os portugueses a emigrarem", considerando, no entanto, que a emigração não deve ser um "estigma" para quem precisa de um emprego e não consegue encontrá-lo em Portugal.

A falar aos jornalistas no consulado-geral de Portugal em Paris, no fim de uma visita de trabalho a França, Pedro Passos Coelho esclareceu que "ninguém", no Governo, "aconselhou os portugueses a emigrarem".

"A emigração, quando ocorre de forma mais massiva, expressa uma situação de défice e de ´não solução' interna na economia que a origina", afirmou, lembrando que Portugal vive "um tempo de recessão económica", e que isso significa que muitos portugueses não encontram no seu país "as oportunidades de realização profissional e de emprego de que dependem também para poder satisfazer as suas responsabilidades familiares".

Neste contexto, acrescentou, e embora o executivo esteja "a trabalhar para que a situação possa ficar ultrapassada", o Governo entende que deve prestar a quem decide sair "todo o apoio possível", e que a busca de oportunidades além-fronteiras não deve ser "um estigma".

Minutos antes, a falar para elementos da comunidade portuguesa em França, o primeiro-ministro expressou o seu "apreço" pela forma como estes portugueses "conseguiram, ao longo dos anos, e com o seu mérito, conquistar uma posição de prestígio e de reconhecimento na sociedade francesa".

Pedro Passos Coelho realizou hoje a sua primeira visita de trabalho a França. O primeiro-ministro teve um pequeno-almoço de trabalho com o seu homólogo francês, Jean-Marc Ayrault, e esteve depois reunido com o Presidente francês, François Hollande.

Nota PG: No link que se segue é possível escutar o aldrabão-mor Passos, a apontar a emigração como solução - Passos Coelho aconselha professores a emigrarem para países lusófonos – Outros exemplos existem, é uma questão de fazer pesquisa. Mas que descarado. Mas que grande aldrabão ocupa o cargo de PM de Portugal!

Portugal: “Há muitos factores que podem proporcionar a queda do Governo”




Jornal i - Lusa

O social-democrata António Capucho considerou hoje que há muitos fatores que podem levar à queda do Governo, entre os quais o recente relatório pedido ao FMI com os novos cortes e a "inabilidade" de comunicação.

Em declarações à agência Lusa, o ex-presidente da Câmara de Cascais disse prever um agravamento da crise, nomeadamente, sublinhou, "a partir do momento em que, inexplicavelmente este Governo pede um relatório ao FMI [Fundo Monetário Internacional] que prevê 12 milhões de cortes, depois de ter anunciado que eram precisos 4 mil milhões".

"Isto sem explicar porque é que não prefere renegociar, seja a dívida, seja o tempo, para conseguirmos endireitar as contas do país. Além disso, faz incidir estes cortes em áreas muito problemáticas e que são muito queridas aos portugueses, o Estado Social", acrescentou.

António Capucho considerou ainda que "a confusão no meio do Governo é total", dando como exemplo a restrição imposta aos jornalistas na conferência sobre Reforma do Estado, como prova da "completa inabilidade do Governo em lidar em matéria de comunicação".

"Há muitos fatores que podem proporcionar a queda do Governo, seja a curto prazo, seja com os resultados nada auspiciosos nas autarquias, pode muito bem acontecer que este Governo não tenha capacidade para subsistir e nessa altura o Presidente da República tem de intervir", afirmou o antigo conselheiro de Estado, adiantando que isso poderá passar por se recorrer a um governo do tipo de salvação ou dissolvendo e convocando eleições.

"Não nos iludamos, o país está a atravessar uma crise muito difícil. As notas de otimismo que por vezes surgem da parte do senhor primeiro-ministro não nos convencem e ainda agora as previsões do Banco de Portugal, a propósito da recessão, denunciam que, mais uma vez, o Governo se enganou nas previsões e vamos ter um ano muito difícil, o Governo e o país", concluiu.

Portugal: PORTAS, RELVAS E A RTP




Daniel Oliveira – Expresso, opinião

Entre pequeno-almoços e encontros, Miguel Relvas e Paulo Portas resolvem os seus diferendos em relação ao futuro da RTP. Talvez alguns portugueses gostassem de ter uma palavra a dizer sobre o assunto, mas é assim que por agora se governa em Portugal.

Miguel Relvas acha que... Duvido que Miguel Relvas ache realmente alguma coisa. Miguel Relvas tem, na sala de espera, uns angolanos e a Cofina que querem ficar com a RTP toda pagando apenas metade por ela. E nós ficamos, através da taxa do audiovisual, a financiar um canal que na prática será privado.

Paulo Portas defendia que se fizessem cortes na RTP e ela ficasse exclusivamente dependente da taxa e da publicidade. Não sei se os cortes permitem o serviço público, que inclui da RTP Internacional ao trabalho nos PALOP, do apoio ao audiovisual nacional ao espaço dado à sociedade civil, das delegações regionais à RTP Madeira e RTP Açores. Para isso precisava de ver números. Mas a proposta de Paulo Portas tem uma enorme vantagem: não é irreversível, ao contrário do negócio de Relvas, que não tem qualquer vantagem para os portugueses, para o Estado e para o mercado televisivo.

Segundo últimas notícias, Paulo Portas poderá terá cedido a um "mal menor": alienação da frequência de um dos canais da RTP, mantendo-se os outros canais, incluindo os internacionais, na esfera pública. Poderá o CDS apresentar esta solução como uma vitória. Mas seria mais uma estrondosa derrota, depois de todas as outras.

Não sei se o que move Portas é um jogo de equilíbrios políticos no governo (precisa desesperadamente de uma vitória interna), a pouca vontade de dar aos amigos de Relvas um tão forte instrumento mediático, o seu conhecimento mais profundo deste dossiê ou a consciência de que as propostas de Relvas nada têm a ver com as dificuldades financeiras do Estado. Sei que nesta matéria, onde tem sido de uma enorme clareza em relação às suas posições, ou leva até ao fim o que defende ou os seus eleitores podem começar a questionar-se da vantagem de ter o partido no qual votaram nesta coligação.

António José Seguro diz ambicionar "maioria absoluta" em nome da "estabilidade"




PGF – SMA - Lusa

O secretário-geral do PS, António José Seguro, disse hoje ambicionar “uma maioria absoluta” para governar, apontando a necessidade de “estabilidade para executar as propostas” que tem para o país.

“Eu ambiciono uma maioria absoluta porque só com uma maioria absoluta é que eu terei estabilidade para executar a proposta que proponho aos portugueses”, disse, no programa “Opinião Pública” da Sic Notícias, acrescentando não confundir “maioria absoluta com poder absoluto”.

António José Seguro considerou ainda “impossível governar” o país, “em particular no momento em que está”, sem “um diálogo permanente, consensos e concertação social”, mesmo “com maioria absoluta”.

“E essa é uma das críticas que eu faço a este Governo, que se isolou”, apontou.

O responsável socialista disse ainda ser “um defensor da estabilidade política”, recusando-se a “brincar às eleições ou à queda dos governos”.

Identificados dois emigrantes que protestavam contra Passos em Paris




Sol - Lusa com foto

Dois manifestantes que integravam um grupo de uma dúzia de portugueses que protestava em frente ao consulado geral de Portugal em Paris foram identificados pela polícia, depois de se terem aproximado do carro do primeiro-ministro e o terem insultado.

Os dois emigrantes portugueses em França – dois jovens, um de 29 anos e outro de 31 - correram atrás da viatura que transportava Pedro Passos Coelho e bateram no carro.

O incidente registou-se quando o primeiro-ministro entrava no consulado, onde vai ter um encontro com a comunidade portuguesa, no âmbito da visita de trabalho que realiza hoje a França.

Os restantes manifestantes gritavam palavras de ordem como "Governo para a rua, a luta continua", tendo a polícia francesa pedido que aguardassem a chegada do primeiro-ministro do lado da estrada oposto ao do consulado.

Os manifestantes disseram à Lusa que, por não terem comunicado o protesto, a polícia lhes solicitou que retirassem os cartazes, nos quais se liam frases como “FMI igual a fascismo”.

Presidente de transição da Guiné-Bissau compromete-se a promulgar leis...




… apenas com consenso partidário

FP – PJA - Lusa

Bissau, 17 jan (Lusa) - O Presidente de transição da Guiné-Bissau, Serifo Nhamadjo, avisou hoje que só promulgará leis que sejam resultado de consenso partidário e defendeu que, neste momento, "não há um partido sozinho que possa governar" o país.

Um longo discurso num dia "muito importante" e que marcou o final da cerimónia de assinatura do Pacto de Transição por parte do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e de mais quatro outros partidos.

O Pacto fora assinado por vários partidos na sequência do golpe de Estado de 12 de abril mas o PAIGC, o maior partido e que estava no poder até essa altura, sempre se recusara a assinar o documento, mantendo-se à margem do período de transição.

Serifo Nhamadjo, perante uma Assembleia Nacional cheia de altas figuras do Estado, de todo o governo de transição e de todas as chefias militares, fez um discurso de regozijo pela adesão do PAIGC (que é também o partido ao qual pertence) mas também de apelos à união e de avisos.

"Estou feliz por ver que a segunda etapa (do período de transição) está a ser consolidada. Mas que haja sinceridade nos trabalhos. Quem entrou antes não pense que é dono do processo e quem entrou hoje não pense que é mais importante. Todos são importantes", afirmou.

Serifo Nhamadjo começou por elogiar Kumba Ialá, antigo presidente do Partido da Renovação Social (PRS), segundo maior partido, e que abandonou a corrida à liderança no último congresso (hoje com presença discreta na Assembleia).

Depois disse contar com todos para fazerem do processo de transição "um ponto final nos diferentes conflitos que têm assolado o país".

Perante as principais autoridades do país em todas as áreas falou a seguir da "vergonha" que é a Guiné-Bissau estar em conflitos cíclicos, sem conseguir terminar nunca uma legislatura ou um mandato presidencial e o país estar na imprensa internacional "pelos motivos mais vergonhosos".

"Porquê tantos assassinatos, tantas maldades, tantas intrigas? O espírito de egoísmo, de intriga, tem sido de facto o que nos tem estado a destruir. Hoje a política é de fragmentar para poder dividir e reinar", disse, acrescentando: entre os partidos "a inimizade é feroz", dentro deles há "guerras intestinas" e na sociedade civil, dos artistas aos empresários "há contradições".

Serifo Nhamadjo considerou ainda que o país vai iniciar uma nova fase mas avisou que "a inclusão não significa trazer alguém e tirar outro" e que "não há maiorias nem minorias, tem de haver é debate de ideias".

Depois criticou ainda o tribalismo, "um fenómeno que é um escudo para os medíocres ", avisou que quem defende o tribalismo para ganhar votos deve ser levado à justiça, e perguntou como é que a Guiné-Bissau chegou ao ponto de uns terem tudo e outros viverem na miséria, de os antigos combatentes viverem "a mendigar", de as forças armadas nem água potável terem, de os guardas de fronteira nem uma bicicleta terem, de a marinha não ter um barco capaz e de a força aérea não ter um avião.

"De Buba a Catió (cidades do sul do país), quase 40 anos de independência, não há um pingo de alcatrão. Estamos aqui em Bissau pensando que a Guiné-Bissau é só Bissau. Desafio os políticos a inverter a tendência, para que o desenvolvimento seja do campo para a cidade", afirmou, deixando outro aviso: "não há ninguém entre nós que ganhe" com intrigas e confusões, porque "o que for carrasco hoje será certamente vítima amanhã".

Além de Serifo Nhamadjo, o primeiro vice-presidente da Assembleia, Augusto Olivais, falou também no final da cerimónia, quando prometeu que Assembleia irá "tudo fazer para gerir as diferenças" entre partidos e apelou aos países que apoiavam a Guiné-Bissau e que retiraram a ajuda a "retomar a contribuição".

Guiné-Bissau: PAIGC ASSINOU PACTO DOS GOLPISTAS E FALA DE GOVERNO INCLUSIVO




PAIGC, maior partido da Guiné-Bissau, assinou Pacto de Transição

17 de Janeiro de 2013, 12:51

Bissau, 17 jan (Lusa) - O Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) assinou hoje em Bissau o Pacto de Transição, instrumento que regula o período de transição no país e que o maior partido se recusava a assinar.

O Pacto de Transição foi assinado a 16 de maio pela maior parte dos partidos políticos da Guiné-Bissau na sequência do golpe de Estado de 12 de abril do ano passado. No entanto, o maior partido guineense, que estava no governo até ao golpe, recusou sempre participar, considerando na altura que assinar o documento seria como legitimar o golpe.

O documento estabelece a realização de eleições no prazo de um ano, aceita Serifo Nhamadjo como Presidente da República de transição, prorroga o mandato da Assembleia Nacional Popular, estabelece a escolha de um primeiro-ministro por consenso e diz que nem o Presidente nem o primeiro-ministro se podem candidatar nas próximas eleições.

Hoje, decorridos oito meses, o PAIGC e mais quatro pequenos partidos assinaram o documento numa cerimónia na Assembleia Nacional Popular, na presença de todo o governo e do Presidente de transição e das chefias militares, além dos principais responsáveis do Estado da Guiné-Bissau e de representantes da comunidade internacional.

Assinaram o documento, além dos cinco partidos, o primeiro vice-presidente da Assembleia Nacional (o presidente não esteve na cerimónia), Augusto Olivais, o primeiro-ministro de transição, Rui Duarte de Barros, o representante do Fórum dos Partidos, Artur Sanhá, o chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, António Injai, e representantes da comunidade civil e religiosa.

O documento foi depois entregue por Augusto Olivais ao presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Paulo Sanhá.

A cerimónia teve um importante valor simbólico por representar a união das forças políticas para o período de transição, permitindo um governo de inclusão, algo que a comunidade internacional tem exigido.

FP // APN.

Criadas condições para haver governo inclusivo na Guiné-Bissau, diz PAIGC

17 de Janeiro de 2013, 13:32

Bissau, 17 jan (Lusa) - O porta-voz do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) disse hoje no Parlamento guineense que agora estão criadas as condições para haver "um governo inclusivo, de base alargada e de emanação parlamentar".

Oscar Barbosa, que falava em nome do primeiro vice-presidente do maior partido da Guiné-Bissau, Saturnino da Costa, disse que o PAIGC está disposto a partilhar esforços "para fazer sair o país" da situação de crise, defendeu que "o consenso não pode ser uma retórica oportunista", e considerou importante o início do diálogo entre as autoridades guineenses e a comunidade internacional.

O discurso foi proferido no plenário da Assembleia Nacional Popular, repleto para assistir à assinatura pelo PAIGC e por mais quatro pequenos partidos (AD, PND, CD e PUSD) do Pacto e Acordo Político de Transição.

O documento já tinha sido assinado no ano passado mas o PAIGC, o maior partido, no poder até ao golpe de Estado de 12 de abril de 2012, sempre se tinha recusado. No passado fim de semana, o Comité Central do partido deu "luz verde" à assinatura do documento, hoje rubricado por Saturnino da Costa.

Perante as autoridades de transição, chefias militares, autoridades civis e diplomatas o responsável lembrou que foi o Comité Central do partido que tomou a decisão e que o PAIGC "dá assim um contributo responsável e patriótico à sociedade guineense".

"O país vive um período de transição e uma profunda crise", afirmou, acrescentando que o partido está disponível para "facilitar ações e iniciativas que contribuam para o retorno progressivo à normalidade constitucional" e para encontrar soluções para tirar a Guiné-Bissau da crise através do diálogo com outros partidos, sociedade civil e comunidade internacional.

Victor Mandinga , da Aliança Democrática (AD), lembrou também na Assembleia que a Guiné-Bissau é dos países africanos que mais fez eleições justas e transparentes e que mesmo assim continua a conhecer instabilidade e violência, considerando que a transição só terá sucesso com "consensos políticos entre todas as forças".

Todas as intervenções coincidiram na importância do ato de hoje, que abre caminho ao consenso e que permite a formação de um governo de inclusão com a presença do PAIGC.

FP // APN.

Guiné-Bissau: NOVO VICE-PRESIDENTE PARA O SUPREMO TRIBUNAL




Lassana Casamá – Voz da América

Juiz foi pressionado a abandonar a Comissão Nacional de Eleições

O Juiz Conselheiro Rui Nene foi eleito vice-presidente do Supremo Tribunal de Justiça. A votação ocorreu normalmente e a escolha foi feita pelos Juízes Conselheiros e Desembargadores.

A escolha foi feita depois de Rui Nene ter deixado a Comissão Nacional de Eleições para voltar ao Supremo Tribunal de Justiça. 

Nene já havia ganho este posto em Dezembro último, mas não o assumiu porque tinha sido eleito pelos parlamentares para o cargo do Presidente da Comissão Nacional de Eleições, funções as quais renunciou recentemente em consequência de fortes e ocultas pressões políticas.

E foi neste quadro que a Comissão Eleitoral do poder judicial decidiu organizar mais um exercício para o cargo do Vice-Presidente do STJ e Rui Nene ganhou com uma larga maioria de votos.

Juiz Conselheiro, Rui Nene é novo vice-presidente do Supremo Tribunal de Justiça, depois de uma curta experiencia na Comissão Nacional de Eleições, se bem que aí nem completou um mês de exercício, tendo sido obrigado a demitir-se destas funções. Os interesses políticos, sobretudo do actual poder de transição, esteve na origem da sua renúncia ao cargo.

O juíz recusou-se no entanto a falar sobre a sua demissão daquele cargo.

Rui Nene faz parte assim de uma nova direcção do Supremo Tribunal de Justiça, liderada por Paulo Sanha.


Moçambique: A VIDA DIFÍCIL DOS MÉDICOS




Verdade (mz)

Eleutério e Rosa acreditavam que, depois da formação, a sua vida como médicos seria melhor. Debalde. Nos distritos encontraram mais problemas. Distantes de familiares e amigos, tentam levar a vida para a frente, mas não é fácil. É duro ser médico num lugar inóspito.

Quando a fé no sector da saúde esmorece, como manter a dedicação aos pacientes? “Um médico num distrito do interior de Cabo Delgado, sem corrente eléctrica e habitação condigna, sente-se perdido no meio do mato”. Quem se expressa desta maneira é um jovem médico que sempre viveu no centro da cidade de Maputo e, no final do curso, teve de se mudar de armas e bagagens para um lugar inóspito.

Eleutério, nome fictício, recebeu com ânimo a missão de ir para o distrito. Até porque, diz, um médico não pode escolher o conforto da cidade para cumprir o seu trabalho. Só que, afirma, isso não significa viver em condições degradantes. “Eu abdiquei da minha família. Fiz um filho e tive de o deixar em Maputo para ir curar pessoas no interior do país. Esse esforço tem, no mínimo, de ser respeitado e valorizado. Aqui acontece o contrário”, explica.

Questionado sobre o facto de os médicos serem dos funcionários públicos que melhor auferem, Eleutério responde com uma rajada de questões: “Que dignidade tem um médico que vive numa cabana? Quem é, na tua óptica, mais importante para o país: o médico ou o juiz? Quem salva mais vidas?”

“Não tens de responder”, diz ao mesmo tempo que avança com a resposta: “é o médico, mas é quem ganha menos e trabalha mais horas. Isso não se justifica e penso que as pessoas têm de ser remuneradas em função da importância e pertinência do trabalho que fazem. Aqui acontece completamente o contrário”.

No distrito onde Eleutério trabalhou, para além do tratamento de doentes, tinha de cuidar de questões do partido. “Em período de eleições os médicos têm de fazer campanha. Não nos perguntam se temos escolhas partidárias. O Estado parte da assumpção de que somos todos da Frelimo. Isso é uma das coisas que, no nosso entender, tem de mudar”.

Vida em família

A relação amorosa de Eleutério foi interrompida pela medicina. A distância entre Maputo e Cabo Delgado foi demasiado penalizante para o amor que mantinha com a mãe do filho. “O desfecho era previsível pelo facto de sermos jovens. O que dói, no meio da nossa separação, é o filho. O único elo de ligação que sobrou”.

– Quer responsabilizar o Estado pela separação? “Não”. Depois de uma pausa continuou: “a ideia é mostrar do que um jovem tem de abdicar para ser médico. A minha juventude foi passada a ler livros para me formar. Não é, como se diz, um sacrifício do Estado, mas dos meus pais. Se o país procura formar médicos é porque precisa deles e não é justo que lhes trate como lixo”.

O salário é baixo

Efectivamente, um médico aufere 15 mil meticais de salário base. O Estado acrescenta ao salário uma espécie de bónus técnico que equivale a 75 porcento desse valor. Ou seja, mais 11250 meticais. “Também há os 10 porcento de risco”, acrescenta.

“Se o médico estiver no distrito pode auferir até 35 porcento do salário. Mas isso depende do local onde se encontra. Há níveis. Eu, por exemplo, estou num distrito do tipo 1 e ganho esse bónus”.

Rosa

Diferente de Eleutério, é a vida de Rosa (nome fictício). Não é fácil uma jovem sair de uma capital provincial para embrenhar por um distrito adentro.

Rosa sente mais dor do período da formação, o qual classifica de escravatura. “Repare”, diz, “que até os presos não são obrigados a trabalhar, mas os que são formados numa instituição pública são submetidos a um regime de quase escravidão”.

“Depois de 7 anos a estudar quase o dia inteiro, agora trabalhamos quase de graça”, diz.

Sem possibilidade de contar com o apoio dos pais, a jovem médica não teve outra alternativa e tentou pedir uma transferência para um lugar com melhores condições. Esperou meses e meses até que se acostumou ao local. Rosa também reclama do salário e da carga horária. Diz, sem pejo, que as condições de habitação são degradantes e concorda com as reivindicações. Aliás, ela está na linha da frente no distrito onde trabalha.

Instada à pronunciar-se sobre a pressão, a jovem é clara: “quem venceu a falta de tudo não se há-de vergar por causa de um administrador e um director do SISE. Ser médica em Moçambique é muito mais duro do que ser pressionada”.

Como vive e trabalha

No distrito onde reside e trabalha não há grandes coisas. “É preciso ir á capital provincial para fazer o rancho mensal. Até para levantar dinheiro tem de ser lá”, lamenta. No que diz respeito ao trabalho, a médica fez saber que de noite, quando necessário, trabalha com iluminação improvisada.

“Às vezes é complicado trabalhar no meio do nada. A população vive em função dos lugares onde encontra água, sobretudo nos períodos de estiagem. É preciso ir ao encontro dos doentes. Por outro lado, temos o problema do pessoal da Direcção Provincial da Saúde que, muitas vezes, quer que os médicos declarem que determinados lugares foram atingidos pela cólera. Isso dá muito dinheiro por via de esquemas que ainda não consegui perceber. ”

AUMENTAM AS MORTES CAUSADAS POR CHUVAS EM MOÇAMBIQUE




William Mapote – Voz da América

Mais de 14.000 pessoas afectadas

Subiu para 12 o número de vítimas mortais oficialmente confirmadas, como resultado das chuvas e inundações que desde o início do ano caem um pouco por todo o país.

Segundo os novos dados, divulgados nesta quarta-feira pela Comissão Técnica da Gestão de Calamidades os novos óbitos foram registados nas cidades de Maputo e Milange (Zambézia) e no distrito de Macossa (Manica) e aconteceram todas dentro desta semana.

A cidade do Maputo é a que registou o maior número de óbitos, todas ocorridas na terça-feira, enquanto que Milange e Macossa registaram apenas uma morte cada.
A estes números junta-se as seis vítimas confirmadas que haviam sido anunciadas na passada segunda-feira.

Afectados

De acordo com Rita Almeida, Porta-voz da Comissão Técnica da Gestão de Calamidades, o número de afetados pelas intempéries está agora em 14.364, sendo as províncias de Manica (11580), Zambézia (1914) e Inhambane (775) as que registam maior número de famílias afectadas, grande parte, em situação de desalojados).

A cidade do Maputo, regista perto de 400 famílias desalojadas e igual número de casas destruídas, como resultado, apenas da chuva caída nesta terça-feira.

Apesar de ter, em termos numéricos, um número relativamente reduzido de afectados, em relação as três províncias supracitadas, a cidade do Maputo apresenta-se como sendo a que maior realce merece.

“Em termos comparativos, a situação dos danos da cidade do Maputo é que merecem maior realce, uma vez que todas as habitações destruídas eram de construção convencional, enquanto que nas restantes regiões do país, trata-se de casas de material precário” disse Almeida.

Dados do Instituto Nacional de Meteorologia indicam que num espaço de apenas duas horas, níveis de precipitação registados em Maputo foram na ordem de 150 milímetros, o equivalente a um terço do volume registado no ano 2000, período das maiores cheias de que há memória no país.


Moçambique terá um dos maiores projetos de liquefação de gás do mundo




Deutsche Welle

Em Moçambique vai acontecer o maior investimento de sempre naquele país. Trata-se da construção de dez fábricas de gás natural liquefeito, um megaprojeto apenas superado por outro semelhante no Qatar.

O investimento a ser feito pelas companhias de energia norte-americana, Anadarko Petroleum, e a italiana, ENI, está avaliado em 50 mil milhões de dólares. A DW África entrevistou o economista moçambicano Hélder Chambisse sobre o impacto desse grande investimento para Moçambique:

DW África: Quais são os impactos deste investimento?

Hélder Chambisse (HC): Têm um efeito astronómico, naturalmente. Não me recordo de ter havido um investimento singular, de somente duas empresas, de tamanha envergadura. O impacto é naturalmente positivo, não só pelo efeito que irá criar em termos de vinda de investidores estrangeiros para o país, mas também pela injeção de recursos financeiros para Moçambique, a criação de infraestruturas necessárias para a exploração do gás e a criação de emprego, embora não de forma direta. Certamente que virá mão de obra qualificada que Moçambique ainda não tem, mas o efeito multiplicador que um investimento desta envergadura cria para o país é fenomenal. Dá agora para irmos formar mão de obra porque ela pode encontrar emprego aqui. De uma maneira geral, o investimento vai mudar o país completamente.

DW África: Mas será que desta vez a população vai mesmo beneficiar? É que não foi esse o caso de grandes investimentos no passado. Será diferente desta vez?

HC: Acho que é um processo. A Mozal (fundição de alumínio) foi o primeiro e depois a Sasol (petrolífera sul-africana). Comutando e comparando com outros lugares da África Austral e África, eventualmente Moçambique não terá beneficiado tanto, principalmente na criação de emprego, na promoção de pequenas e médias empresas moçambicanas à volta dos megaprojetos, e na geração de recursos financeiros para o Estado através da coleta de impostos. Mas é um processo e isso inclui aprendizagem.

O Governo e todas as estruturas envolvidas, incluindo o setor privado, e isso é fundamental, têm de ganhar consciência e experiência e encontrar uma forma de beneficiar destes investimentos. Com os investimentos de Tete, principalmente, em Nacala, e Beira, por uma necessidade de escoamento do carvão de Tete, creio que um efeito positivo está evidente. Acredito que neste caso é diferente, que haverá maior efeito positivo para o Estado, para o setor privado e para o país em geral.

DW África: E a seu ver,há o perigo deste investimento de 50 mil milhões de dólares levar a uma apreciação do metical?

HC: Sim, e isso já está a acontecer. O metical está forte, em 2012 a depreciação foi negligível. Neste momento, a apreciação do metical ainda não corresponde a uma capacidade de geração de divisas pela via da exportação de produtos tradicionais. O país continua um importador líquido. Mas digamos que é um desafio que temos agora, para além dos outros, de manter o metical, ou manter as condições para promover as exportações e manter a competitividade da economia nacional num cenário completamente diferente. Mas é um desafio que vale a pena ter.

DW África: E voltando ao nosso tema incial, qual acha que será o efeito imediato para a economia moçambicana?

HC: O que estamos a testemunhar neste momento em Tete, Nacala e Beira é a criação de mais empresas moçambicanas. Então, o que prevejo, é que no caso do gás no norte, é a ligação que se cria à volta dos grandes projetos. O número de empresas moçambicanas que se irá criar à volta desses megaprojetos será muito maior, se comparado com o que está a acontecer em Tete e Nacala até agora.

Autora: Cristina Krippahl - Edição: Nádia Issufo / António Rocha

Angola: COMANDANTE-GERAL DA POLÍCIA NACIONAL VENDE PISTOLAS




Rafael Marques – Maka Angola

O comandante-geral da Polícia Nacional, comissário Ambrósio de Lemos Freire dos Santos, poderá, em breve, tornar-se num dos maiores negociantes privados de armas da África Sub-Sahariana.

Em jogo está a importação de 95,000 armas do Brasil, entre submetralhadoras, pistolas, revólveres e material para repressão anti-motim, para a Polícia Nacional, que a sua empresa R & AB tem estado a negociar, desde 2009, com a fabricante brasileira Taurus.

Como necessidade de urgência, em Agosto de 2009, a Taurus vendeu à Polícia Nacional, por intermédio da R & AB, 2,600 pistolas Taurus no valor total de US $825,000. As pistolas de modelo PT917 e PT909 (calibre 9mm) chegaram, no entanto, à Polícia Nacional com um custo sobrefacturado. A R & AB, na qualidade de representante da Taurus para a África Austral, apresentou uma factura ao comprador, ou seja, ao Comandante-Geral da Polícia Nacional, comissário Ambrósio dos Santos, no valor de US $1,500,000. Deduzidos os cerca de US $24,000 de frete aéreo e seguro, a R & AB sobre-facturou US $651,000.

Além disso, os dados oficiais do governo brasileiro apontam para uma discrepância no número de armas vendidas. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil (MDIC) registou formalmente a venda a Angola de 2,613 armas leves, num valor total de US $863,967, e anotou a transacção como tendo ocorrido em 2010. Há portanto uma discrepância de 13 pistolas entre os dados oficiais brasileiros e os registos da Polícia Nacional.

O que é a R & AB? A 24 de Janeiro de 2008, o comissário Ambrósio dos Santos criou a referida sociedade em parceria com o empresário angolano Raúl Mateus, conhecido como o dono dos supermercados Pomobel.

No seu objecto social, a empresa presta-se aos negócios dos “transportes terrestres de longo curso, transportes colectivos, aluguer de viaturas, comércio geral, prestação de serviços, distribuição alimentar, pescas, agro-pecuária, indústria, bem como a realização de quaisquer outras actividades acessórias e complementares da actividade principal, podendo dedicar-se a qualquer outro ramo do comércio, indústria ou qualquer outro legalmente permitido, bastando para o efeito o acordo dos sócios”. O comissário e o empresário repartem entre si o capital da sociedade em partes iguais.

No entanto, a R & AB realizou o negócio com a Taurus sem que, para o efeito, tivesse licença de importação ou alvará para a comercialização de armas. Fontes do Ministério do Comércio indicam que toda a operação foi realizada com autorização especial do Comando-Geral da Polícia Nacional. A fórmula, que se tornou a marca institucional de corrupção do executivo do Presidente José Eduardo dos Santos é simples: o comissário Ambrósio de Lemos Freire dos Santos, enquanto servidor público, autorizou o empresário Ambrósio de Lemos Freire dos Santos, a mesma pessoa nas vestes de privado, a fazer negócio com o Estado, para seu enriquecimento ilícito.

A Lei da Probidade Pública define como acto de corrupção o recebimento de “vantagem económica, directa ou indirecta, a título de comissão, percentagem, gratificação ou de presente de quem tenha interesse, directo ou indirecto, que possa ser atingido ou amparado por acção ou omissão decorrente das atribuições do agente público” (Art. 25, 1, a).

Fonte da Polícia Nacional garante que a empresa brasileira Taurus tinha claro conhecimento do esquema de corrupção do comandante-geral e o alimentou como forma de fechar negócio.

Por outro lado, a exportação de armas do Brasil é um negócio que requer sempre o aval do seu governo e essa transação com Angola não fugiu à regra. Como podem as autoridades brasileiras ter dado luz verde à venda de pistolas para Angola, por via de um expediente tão corrupto e simplista? O nome do comandante-geral da Polícia Nacional consta da escritura pública de constituição da R &AB.

Os níveis desenfreados de corrupção institucional em Angola tornaram-se, a par da violência, no binômio do exercício de poder pelo actual regime. Hoje, em Angola, ser dirigente e ser corrupto é sinónimo de patriotismo, é um símbolo de lealdade ao partido no poder e de servilismo ao culto de personalidade a José Eduardo dos Santos. Este, na qualidade de líder supremo, é o principal promotor e beneficiário da falta de valores morais e cívicos, assim como da desonestidade entre os servidores públicos.

Os corruptos, quando descobertos, não se demitem nem são demitidos. Ficam apenas à disposição arbitrária do Presidente, o cultor da impunidade. O modelo reproduz-se até ao nível mais baixo, de chefia de secção. Entre corruptos, ninguém tem moral para apontar o dedo ao outro. É assim o governo e o poder em Angola.

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ORÇAMENTO ANGOLANO TEM DÉFICE DE QUATRO MIL MILHÕES DE DÓLARES




António Capalandanda – Voz da América

O défice é o resultado da diferença entre receitas correntes de AKZ 4.570,4 mil milhões (38,2% do PIB) e despesas de AKZ 4.975,8 mil milhões (41,6% do PIB).

BENGUELA — As contas públicas angolanas deverão registar em 2013 um défice de 405,4 mil milhões de kwanzas (AKZ), o primeiro saldo negativo desde 2009, alertaram Observatório Político e Social de Angola (OPSA) e ADRA.

O documento apresentado na sequência da aprovação do Orçamento Geral do Estado (OGE), ocorrida ontem, dia 15, refere que esse défice, equivalente a 3,4% do produto interno bruto (PIB), é o resultado da diferença entre receitas correntes de AKZ 4.570,4 mil milhões ou 38,2% do PIB e despesas de AKZ 4.975,8 mil milhões ou 41,6% do PIB.

Salvo indicação em contrário, as contas excluem as operações financeiras, como os empréstimos, e são na óptica do compromisso, isto é, as despesas são contabilizadas no ano em que são autorizadas, ainda que não sejam pagas nesse ano.

Considerando uma taxa de câmbio de AKZ 100 por USD, diz o documento a que Voz da América teve acesso, as receitas deverão ascender a USD 45.704 mil milhões e as despesas a 49.758 mil milhões, sendo o défice correspondente de 4,1 mil milhões.

Comparando a proposta do OGE 2013 com as estimativas de execução do OGE 2012, as receitas baixam 4,1%, enquanto os gastos públicos fazem o caminho inverso, aumentando 26,7%. O excedente de AKZ 839,6 mil milhões, em 2012, transforma-se no referido défice de 405,4 mil milhões, em 2013, indiciando uma degradação das contas públicas e uma política orçamental fortemente expansionista.

Para OPSA e a ADRA, o aumento da despesa pública, em AKZ 1.048,8 mil milhões (26,7%), é superior ao do próprio produto interno bruto (PIB), que aumenta ―apenas‖ 932,1 mil milhões (8,5%)

Alega ainda que, a aparente deriva expansionista referida aumenta as pressões sobre a moeda em circulação e, consequentemente, sobre a inflação, constituindo um desafio enorme para a autoridade monetária.

Um dos factores de vulnerabilidade do país na crise de 2008, segundo aquele grupo da sociedade civil angolana, poderá ter sido a política monetária acomodatícia adoptada pelo Banco Nacional de Angola (BNA) face ao expansionismo da política orçamental. Essa postura não pode repetir-se, sob pena de colocar em causa os progressos alcançados no combate à inflação, que desceu para 9% em 2012, sendo a manutenção dessa cifra um dos grandes objectivos para 2013.

A pressão sobre a liquidez na economia resultante do forte crescimento das despesas públicas em 2013, será agravado pelas novas regras cambiais que obrigarão as petrolíferas a pagamentos através de contas em bancos nacionais. Esta dupla pressão constituirá um teste à autonomia do BNA face ao poder político. A sua capacidade em contrariar ou neutralizar a aparente deriva expansionista jogará um papel decisivo na estabilidade dos preços.

O OGE 2013 admite um aumento da produção petróleo de 2,5%, de 1,8 milhões barris dia para 1,845 milhões, e foi elaborado com base numa cotação média de USD 96 por barril, contra os 103,8 por barril estimados para 2012.

Segundo aquelas organizações não governamentais, se todas as previsões económicas envolvem riscos, no caso do petróleo os riscos são muito maiores, como aconteceu em 2008, quando o crude caiu em pouco meses de USD 147 para cerca de USD 40. As consequências para o OGE angolano foram uma quebra de cerca de 36% nas receitas correntes de 2009 que obrigaram a um corte de quase 11% nas despesas, em particular de investimento que caiu 16,7%.

Chamam também a atenção da vulnerabilidade da economia angolana que reside na sua persistente dependência do petróleo — em 2012, o petróleo garantiu cerca de 75% das receitas públicas e mais de 95% das exportações.

No OGE 2013, o peso do petróleo nas receitas baixa 3,0 pp para 71,8%, o que significa que continua em patamares muito elevados, o que permite inferir que a diversificação da economia que o Executivo anunciou em 2009 não está a traduzir-se numa diversificação das fontes de receita do Estado.

PRESIDENTES DE ANGOLA E DA ÁFRICA DO SUL ANALISAM CONFLITOS AFRICANOS




Manuel José – Voz da América

Analistas defendem a potencialização das relações entre Angola e África do Sul baseadas na SADC

LUANDA — Jacob Zuma chegou a Luanda ao meio dia e há pouco deixou o país.

O presidente sul-africano veio discutir com homologo angolano a situação conflituosa na RDC, RCA, Mali e outros países do continente, como confirmou o embaixador da África do Sul Godfrey Nhalala. “Discutiram assuntos de interesse ao nível da região como a situação da RCA, RDC e outros”

Da parte angolana a confirmação do que conversaram os dois estadistas, Zuma e Dos Santos, veio do representante para África e Médio Oriente do ministério das relações exteriores Joaquim do Espírito Santo. “Problemas no Mali, no leste da RDC, na República Centro Africana, várias questões que preocupam os líderes africanos”.

O especialista em Relações Internacionais Alcides Sakala defende a potencialização das relações entre Angola e África do Sul baseada na SADC, a organização regional.

“Há que potencializar esta relação África do Sul - Angola, no âmbito da SADC mas sobretudo, para resolução de conflitos”.

Ideia parecida teve o empresário e presidente da Associação Industrial de Angola, José Severino quer ver outras potências na região à semelhança da África do Sul.

“Que a SADC se torne verdadeiramente uma potência económica no mundo e não apenas a África do Sul ser reconhecida como tal”.


Portugal: A BÍBLIA DE PASSOS




Manuel Maria Carrilho – Diário de Notícias, opinião

Sempre que diz que não, agora já sabemos que é sim. Ano e meio de governação revelaram a função eminentemente táctica da negação no estilo de governo de Pedro Passos Coelho: foi assim com tudo, os subsídios de férias e de Natal, as reduções de salários, as amputações de funções nucleares do Estado, o ataque às pensões, etc.

Trata-se de um tática batida, de eficácia bem reconhecida, que não se deve menosprezar: é a tática de avançar mascarado, jurando sempre respeitar o que se despreza, e rejeitar o que se venera. O resto são meros expedientes e pequenos truques, fáceis para quem gere o poder.

Foi assim que, depois de se ter fixado arbitrária e secretamente um valor de cortes que se pretende fazer no Estado (os tais quatro mil milhões de euros), se inventou um tema suficientemente vago - a refundação - que permitisse abrir caminho para o atingir negando estar a fazê-lo, jogando assim às escondidas com os parceiros sociais, os partidos políticos, a opinião pública, afinal com todos os portugueses.

O tema já leva três meses de laracha, e ainda não foi apresentada uma só proposta, uma ideia que fosse ou um único objetivo, para lá do tal valor fetiche dos quatro mil milhões, a que também ninguém explicou como é que se chegou. Seria útil e não devia ser difícil!...

Claro que se prometeu um debate, um "debate nacional" evidentemente. Mas como debater o que literalmente não existe? Este anúncio é parte da panóplia dos truques: ao anunciar esses debates sempre futuros sobre um projeto sem existência concreta, o que se visava era sobretudo - como se de uma inoculação se tratasse - ir transformando o anúncio numa decisão incontornável.

Tão incontornável que a simples referência ao tema acabasse afinal por... dispensar todos os debates. Foi o que aconteceu. E os que agora se montaram à pressa são - como bem se viu ontem e anteontem no Palácio Foz, com o fórum "Pensar o Futuro - um Estado para a Sociedade" - uns indignos arremedos de qualquer discussão séria, que ilustram sem equívocos a extrema degradação política, intelectual e ética a que a conceção e a prática do debate chegaram com este governo.

O lance decisivo da manobra foi, contudo, outro. Ele consistiu em atirar-se para aí com um "relatório" do FMI, um relatório "muito bem feito", dizia com uma obscena e incontida excitação o secretário de Estado que o divulgou.

Um relatório que, todavia, das pergunta enunciadas às respostas escondidas, das palavras escolhidas às que foram cuidadosamente evitadas, passando pelos números grosseiramente manipulados, se revela uma mera encomenda governamental sem qualquer credibilidade.

Mas o relatório não é só desonesto, ele é também medíocre. A sua mediocridade técnica é, de resto, o que mais imediatamente revela a sua natureza política e ideológica. Pedro Passos Coelho veio, claro, dizer que não se trata da "bíblia" do Governo... Mas os portugueses, agora, já sabem que quando Passos diz que não, é porque é sim!

O momento, no entanto, é propício para se perceber e dizer algo mais, e mais importante: é que a bíblia de Passos não é só este relatório. Independentemente do seu destino, e do que dele venha de facto a ser adoptado, a bíblia de Passos é a de um ultraliberalismo estruturalmente fanático.

De um ultraliberalismo que nunca tínhamos visto em ação em Portugal, e cujas características ideológicas e políticas infelizmente têm sido descuradas - e, isso sim, é que devia ser objeto de um exigente debate político nacional.

A ideia, repito, foi a de avançar mascarado. Mas este ultraliberalismo tem como que traído Passos Coelho em todos os momentos de verdade (sobre a constituição, o emprego, a emigração, as funções sociais, os impostos, etc.), revelando as suas verdadeiras convicções e intenções ideológicas.

É esta forma de liberalismo - na verdade é muito mais "ultra" do que "neo" - que, de um modo ora mais engenhoso ora mais atamancado, tem definido a natureza, a ação e os objetivos do atual governo.

A sua ambição fundamental é a mercantilização integral da sociedade, num quadro em que a competição dispensa completamente a cooperação, e em que o mercado é afirmado e assumido como a única forma de organização social plenamente legítima. Nada mais conta!

É aliás neste ponto que o ultraliberalismo (F. Hayek, G. Becker etc.) se distingue do liberalismo clássico (A. Smith, Ricardo, etc.), que visava restringir a intervenção do Estado no mercado, distinguindo duas racionalidades, a política e a económica.

O ultraliberalismo, pelo contrário, defende a generalização sem quaisquer limites do modelo de mercado a todas as áreas e a todas as atividades da sociedade. Defende também que se faça da finança - apesar de todos os desmentidos factuais dos últimos anos - o modelo de eficiência desse mesmo mercado. E defende ainda que tal seja feito por um intervencionismo político e jurídico radical. É exatamente tudo isto que, neste momento, está em curso em Portugal.

A ideologia ultraliberal é clara: é preciso subordinar todas as racionalidades, sejam elas a política, a social, a cultural, a educativa, etc., a uma só e mesma racionalidade, que é a do mercado: é esta, e só esta, a inspiração do "relatório" do FMI.

Passos Coelho segue sem reservas este fanatismo ultraliberal, é ele que dá coerência a todas as suas declarações, mesmo - ou sobretudo - quando o nega. O que ele ambiciona para Portugal é pôr o Estado sob a vigilância permanente e sob controlo constante do mercado, é governar não só para o mercado mas, fundamentalmente, em função do que a lógica mercantil quer da sociedade.

Nesta perspectiva, inédita em Portugal mas que é hoje absolutamente clara no discurso do Governo, é a economia que verdadeiramente passa a controlar e a fundar a política, impondo-lhe os seus objetivos - e isto é que é, afinal, a "refundação".

É por isso um erro pensar-se que o seu adversário é apenas o Estado social - na verdade, o seu adversário é todo o Estado, o Estado tout court. Qual é o interesse de noções como "bem comum", "bem-estar social", "interesse geral", perguntava há já algumas décadas F. Hayek, nesse clássico do ultraliberalismo que é "A Estrada para a Escravidão"? Nenhum, respondia, são ideias a combater, como acontece com as de autonomia, de contrato social, de comunidade, de soberania.

São meras ilusões que é preciso eliminar, como tudo aquilo que valorize os sentimentos comuns dos cidadãos ou quaisquer perspetivas unificadoras da sociedade.

"A sociedade não existe" é o dogma central deste ultraliberalismo, para quem só existem os indivíduos na sua pluralidade e, claro, o mercado na sua divindade . É esta a "bíblia" de Passos Coelho.

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