terça-feira, 22 de janeiro de 2013

PORTUGAL VOLTA AOS MERCADOS, OS PORTUGUESES NÃO




Henrique Monteiro – Expresso, opinião em Blogues

O anúncio feito por Vítor Gaspar, ontem no Eurogrupo, de que Portugal tinha pedido mais tempo para pagar a dívida, é uma boa notícia. Também é uma boa notícia saber que Portugal pode voltar aos mercados até mais cedo do que se previa. Mas que impacto tem isso na nossa vida real? A resposta é: para já pouco... ou nenhum.

Pedir aumento da maturidade da dívida significa, no estranho idioma que é o 'economês', pedir mais tempo para pagar o que se deve. Isso significa duas coisas - poder pagar mais suavemente, o que é bom; e ficar a dever mais tempo, o que não é tão bom.

Regressar aos mercados, no mesmo idioma, é igual a poder pedir dinheiro emprestado sem, para isso, depender da troika. É bom porque garante uma maior independência do país, não o colocando sujeito às preferências de quem empresta e porque pode canalizar mais dinheiro para investimentos. É mau, porque aumenta a dívida já de si elevada. E pode ser péssimo se isso significar um abrandamento ou mesmo inversão das reformas.

Mas nada disto tem efeitos imediatos. Portugal volta aos mercados, mas os portugueses comuns continuarão a pagar impostos elevadíssimos e a ter falta de dinheiro mesmo para bens essenciais. Também o desemprego continuará a subir, ao mesmo tempo que os serviços prestados pelo Estado vão encarecer. Espero, pois, que o Governo não faça disto uma das habituais doses de demagogia em que a política tem sido fértil. Os portugueses não se entusiasmam por metas financeiras, porque aquilo que sentem nas suas vidas são as terrenas questões da economia.

Regressamos aos mercados, ótimo. Mas festejem só quando nos devolverem o dinheiro que, entretanto nos sacaram.

Movimento "Que se lixe a troika" convoca manifestação nacional para 2 de março





O movimento "Que se lixe a troika", que convocou a manifestação de 15 de setembro, vai realizar a 2 de março um protesto em várias cidades do país e no estrangeiro para contestar as medidas de austeridade do Governo.

Num comunicado divulgado esta terça-feira, os promotores do protesto anunciam a manifestação para 2 de março com o lema "Que se lixa a troika. O povo é quem mais ordena!".

Um dos promotores do protesto disse à agência Lusa que a organizar a manifestação está um conjunto mais alargado de pessoas do que aquela que aconteceu a 15 de setembro do ano passado e reunir nas ruas milhares de pessoas.

"Na sequência das marcantes manifestações de 15 de Setembro de 2012 e das subsequentes ações no Palácio de Belém, Assembleia da República e da manifestação cultural de 13 de Outubro, somos hoje um lugar de encontro de várias correntes democráticas anti-troika. Não temos a pretensão de representar organizações ou setores sociais. Queremos fazer a discussão e a confluência de iniciativas com vista ao derrube deste governo e de todos os governos colaboracionistas com os programas da troika", lê-se num comunicado do movimento.

A manifestação de 02 de março tem como objetivo exigir "uma mudança" em Portugal e protestar contra as medidas de austeridade do Governo e da troika, adiantou um dos promotores do protesto.

Segundo os impulsionadores da iniciativa, a manifestação vai decorrer em várias cidades portugueses e no estrangeiro, estando o apelo a circular da rede social Facebook desde segunda-feira e já conta com a adesão de mais de duas mil pessoas.

No apelo, os promotores escrevem que "depois de um Orçamento do Estado (OE) para 2013 que tudo destrói e nada constrói, o FMI vem dizer que ainda é pouco. Para garantir o pagamento de juros de dívida que são um roubo impiedoso, para continuar a salvar bancos e banqueiros, para continuar a alimentar parceiros privados, o FMI propõe mais desemprego, reformas cada vez menos dignas, menos serviço público, maior destruição do SNS e da Escola Pública, mais ruína e mais miséria".

"A esta onda que tudo destrói vamos opor a onda gigante da nossa indignação e no dia 2 de março encheremos de novo as ruas. Exigimos a demissão do governo e que o povo seja chamado a decidir a sua vida", referem no Facebook, sublinhando que a manifestação será pacífica e as armas são a voz e presença.

"A todos os cidadãos e cidadãs, com e sem partido, com e sem emprego, com e sem esperança, apelamos a que se juntem a nós. A todas as organizações políticas e militares, movimentos cívicos, sindicatos, partidos, coletividades, grupos informais, apelamos a que se juntem a nós. De norte a sul do país, nas ilhas, no estrangeiro, tomemos as ruas", adiantam.

Angola: INQUÉRITO ÀS MORTES DA IURD AINDA SEM RESULTADOS




Venâncio Rodrigues – Voz da América

O inquérito às mortes da Cidadela Desportiva já leva 20 dias sem que os seus resultados sejam conhecidos

O inquérito às mortes da Cidadela Desportiva já leva 20 dias sem que os seus resultados sejam conhecidos.

No dia 2 de Janeiro, o Presidente da República criou uma comissão de inquérito a quem deu 15 dias, para que sejam apuradas as circunstâncias que estiveram na origem da morte de 16 pessoas, ocorrida no dia 31 de Dezembro de 2012, durante uma vigília organizada pela Igreja Universal do Reino de Deus.

O jornalista e observador político Avelino Miguel entende que o governo devia publicar os resultados da investigação, dentro dos prazos estipulados, como forma de demonstrar que o actual executivo é diferente dos anteriores.

“Esperamos que este inquérito não seja mais um, porque já foram instaurados vários e os seus resultados nunca foram conhecidos”, afirmou.

O jornalista Avelino Miguel também defende que a composição da equipa de investigação, criada pelo Presidente da República, pode vir a manchar a credibilidade das suas eventuais conclusões.

“Este questionamento é justo uma vez que todos eles tinham responsabilidades no que ocorreu”, disse.

Falando à Voz da América, recentemente, o líder da UNITA, Isaías Samakuva, também manifestou reservas em relação à integração, na equipa de investigação, dos titulares dos Ministérios do Interior, da Cultura, da Polícia e do Governo provincial de Luanda tendo, mesmo ironizado que eram “árbitros e jogadores ao mesmo tempo.”


Margarida Talapa, os deputados não estão acima da lei em Moçambique




Simião Pongoane – Voz da América

Os deputados da Frelimo, em conflito de interesse, no âmbito da Lei de Probidade Pública, já estão a deixar as instituições públicas

MAPUTO — Os deputados da Frelimo em conflito de interesse, no âmbito da Lei de Probidade Pública, já estão a deixar as instituições públicas com as quais estavam ligados, em conformidade com a lei de probidade pública em vigor desde 15 de Novembro último.

Segundo a Chefe da Pancada Parlamentar da Frelimo, Margarida Talapa, os deputados não estão acima da lei em Moçambique.

Mas Margarida Talapa alerta que a lei de Probidade Pública não pode ser vista como sendo apenas destinada aos deputados.

“Há uma percepção de que a Lei de Probidade Pública é dirigida apenas aos deputados, mas ela abrange todos moçambicanos em situação de servidores públicos. Os deputados que estavam ligados a outras instituições públicas estão a desligar-se dessas instituições”  - disse Margarida Talapa.

O Ministro das Obras Públicas e Habitação, Cadmiel Muthemba, exonerou o Presidente Conselho de Administração e o Vogal da Administração nacional de Estradas, ANE, nomeadamente Luciano de Castro e Agostinho Vuma, respectivamente.

Os dois exonerados são deputados da Assembleia da Republica ou Parlamento pela bancada parlamentar da Frelimo e estavam e estavam numa situação de conflito.

São pelo menos sete os deputados da Frelimo em situação de conflito de interesse no âmbito da Lei de Probidade Pública em vigor.

Em Moçambique, o deputado da Assembleia da República é considerado servidor público, que nos termos da lei em vigor não pode receber remuneração financeira ou de outra espécie de instituição pública em troca de serviços prestados a esta, salvo em casos devidamente previstos na lei.

Antes da adoção da lei de probidade pública, alguns deputados exerciam funções em instituições públicas e eram remunerados.

Segundo a lei, é igualmente proibido ao servidor público promover actividades partidárias, políticas e religiosas e contratar para assessor, consultor ou adido de imprensa, trabalhadores que prestam serviços num órgão de comunicação social.


RAIOS MATARAM OITO PESSOAS NO CENTRO DE MOÇAMBIQUE




AYAC – VM Lusa

Quelimane, Moçambique, 22 jan (Lusa) - Pelo menos oito pessoas morreram atingidas por raios, este mês, em consequência das chuvas que fustigam a província da Zambézia, no centro de Moçambique, disse hoje à Lusa fonte oficial.

As últimas três vítimas confirmadas foram registadas no distrito de Namacurra, no último fim de semana, supondo-se que sejam membros da mesma família. As outras cinco mortes ocorreram nos distritos de Maganja da Costa, Milange e Nicuadala, onde frequentemente se registam vítimas mortais de trovoadas.

"Confirmámos até agora oito mortes por raios. Estamos a trabalhar com outros distritos para confirmar alguns outros casos" disse à Lusa Milton da Silva, do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) da Zambézia, assegurando que está "controlada a desgraça" provocada por chuvas na região.

A previsão meteorológica para o centro do país indica para hoje continuação de chuvas fracas a moderadas, por vezes acompanhadas de trovoadas nas províncias da Zambézia, Manica e Tete, situação que pode agravar o sofrimento da população na região.

"Os distritos estão a dar resposta à situação de calamidade ao nível local. O INGC e parceiros estão a trabalhar para minimizar o sofrimento das vítimas", indicou Milton da Silva, precisando que poucas famílias afetadas "estão sem ajuda alimentar".

Das 130 famílias vítimas de chuva e vento forte que varrem a província desde sexta-feira, 67 famílias do distrito de Milange, precisam de ajuda alimentar urgente, devido à perda dos seus mantimentos.

Embora os níveis do rio Zambeze, que recebe desde sábado o incremento das descargas da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) continuem a oscilar, vários dos seus afluentes estão a galgar estradas e machambas (quintas), cortando estradas e destruindo culturas, antevendo a situação de fome pós cheias.

"Hoje, ficou cortada a estrada que liga a sede do distrito de Mopeia aos outros postos administrativos", disse à Lusa Milton da Silva, apontando que está em curso o plano para o apoio das pessoas sitiadas na região.

Entretanto, o primeiro-ministro moçambicano, Alberto Vaquina, está desde segunda-feira a visitar as zonas afetadas ou em risco no centro do país, para apurar os estragos.

NOMEAÇÃO DE RAMOS HORTA É "RÉSTIA DE ESPERANÇA" PARA A GUINÉ-BISSAU




Jornal i - Lusa

O primeiro-ministro deposto da Guiné-Bissau considerou hoje que a nomeação de José Ramos-Horta como representante da ONU no país representa "uma nova réstia de esperança de que haja paz e estabilidade" naquele Estado africano.

"A nomeação do dr. Ramos-Horta é uma nova réstia de esperança de que haja paz e estabilidade na Guiné-Bissau dada a experiencia que ele tem", disse Carlos Gomes Júnior à Lusa.

"Contamos com todo o seu apoio para que haja efetivamente paz definitiva e estabilidade", reiterou.

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, designou no último dia de 2012 o ex-presidente timorense José Ramos-Horta como seu representante especial na Guiné-Bissau, para liderar a missão da UNIOGBIS -- criada para consolidar a paz no país.

Na segunda-feira, após uma visita à sede da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em Lisboa, Ramos-Horta, admitiu que será difícil mobilizar a comunidade internacional para apoiar o processo eleitoral na Guiné-Bissau e mostrou-se favorável a um adiamento das eleições.

Afirmou ainda que os países africanos, nomeadamente a Guiné-Bissau, são vítimas dos países produtores e consumidores de droga e que estes têm que fazer mais para combater o narcotráfico.

Hoje, escusando-se a comentar estas últimas declarações, Carlos Gomes Júnior concordou com o representante da ONU sobre as dificuldades de conquistar o apoio financeiro da comunidade internacional para as eleições guineenses.

Recordou que na primeira volta das eleições presidenciais de 2012, havia uma estimativa de que seriam necessários cinco milhões de dólares para a realização desse ato.

"Agora o governo de transição fala de uma estimativa de cerca de 20 milhões de dólares para a realização de todos os atos eleitorais e nós pensamos que, dada a crise que existe na comunidade internacional neste momento, será difícil conseguir apoio para o montante que está a perspetivar-se", disse.

No entanto, afirmou que os responsáveis da Comissão Nacional de Eleições se pronunciarão, "a devido tempo", sobre se há ou não condições para a realização das eleições.

As eleições presidenciais de 2012 foram interrompidas por um golpe de Estado, a 12 de abril, quando Carlos Gomes Júnior, que obtivera 49% dos votos na primeira volta, se preparava para defrontar Kumba Ialá na segunda volta.

Desde então, Gomes Júnior está exilado em Portugal.

* Mais noticiário sobre Timor-Leste, Ásia e Oceânia em TIMOR LOROSAE NAÇÃO

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Abusos do colonialismo precipitaram início da luta na Guiné-Bissau, recorda ex-guerrilheiro




MB – FP - Lusa, com foto

Bissau, 22 jan (Lusa) - Abusos da tropa colonial portuguesa contra a população da Guiné-Bissau precipitaram o início da luta armada, iniciada há 50 anos, defendeu hoje o general Bitchoufula Na Fafé, ex-guerrilheiro do PAIGC.

A luta armada contra o colonialismo português começou na Guiné-Bissau a 23 de janeiro de 1963, faz 50 anos na quarta-feira, dia feriado no país e dedicado aos "Combatentes da Liberdade da Pátria".

Nesse dia, as forças do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) atacaram a tropa portuguesa em Tite, onde ficava um quartel, no sul do país e não muito longe de Bissau em linha reta mas que por estrada fica muito distante (devido à necessidade de contornar os rios).

A luta de libertação havia de durar 10 anos, até o PAIGC declarar unilateralmente a independência, a 24 de setembro de 1973, reconhecida por grande parte da comunidade internacional. Portugal, o país colonizador, reconheceu a independência em setembro de 1974.

Em declarações à Agência Lusa a propósito da data, o general na reserva e ex-artilheiro na frente sul Bitchoufula Na Fafé não tem dúvidas em como o PAIGC não podia ter outra reação "perante os abusos do colonialismo" contra a população guineense.

"O abuso era demasiado. A população, sobretudo a do sul da Guiné, não podia ficar impávida e serena perante as atrocidades, por isso, o partido decidiu mobilizar a população a pegar em armas contra os colonialistas portugueses", defendeu.

Bitchoufula Na Fafé não fez parte do grupo que atacou o quartel de Tite no dia 23 de janeiro de 1963, mas tem uma teoria sobre o sucedido.

"A guerrilha, que já existia nessa altura, decidiu atacar o quartel de Tite por ser o local onde o Capitão Curto mandou prender pessoas que tinha detido em várias zonas do sul, sob alegação de serem terroristas do partido", contou o general.

"Dias antes houve uma grande operação de buscas em várias zonas do sul, com os homens do Capitão Curto a procurarem por 'Nino' Vieira. Dessa operação várias pessoas foram presas, sete pessoas na nossa 'tabanca' foram mortas pela tropa colonial", afirmou Na Fafé, ex-comissário-geral da Polícia de Ordem Publica.

Na altura Capitão do exército, José dos Santos Carreto Curto era o chefe militar mais temido no sul da Guiné.

O general Bitchoufa Na Fafé contou que os homens do capitão Curto "não davam sossego" às populações porque, disse, sabiam das movimentações de elementos do PAIGC na mobilização das populações. Daí ao início da luta armada foi um passo.

"Os colonialistas cometiam abusos que toda gente podia reparar. Trabalho forçado, abuso contra as mulheres na presença dos seus maridos legítimos, roubo e abate do gado bovino, coisas terríveis. Não podíamos ficar de braços cruzados", defendeu o ex-guerrilheiro.

Hoje com 64 anos, o general disse que na altura do início da luta armada o PAIGC ainda não tinha formado o exército, o que só viria a acontecer um ano depois, mas já tinha "a guerrilha consciente".

"A guerrilha, muito antes desse ataque ao quartel de Tite, já vinha fazendo coisas, reações contra os abusos. Já existia uma forte consciência da guerrilha contra esses abusos", sublinhou Na Fafé, que disse ter mais tarde falado pessoalmente com os guerrilheiros Arafam Mané e Quemo Mané, tidos pela História, como os homens que dispararam os primeiros tiros contra um quartel do exército colonial.

A "proeza" é ainda hoje assinalada com um dia feriado no país e na quarta-feira será lembrada pelas forças armadas da Guiné-Bissau, numa cerimónia evocativa.

A segunda posse de Obama e os 150 anos da emancipação proclamada por Lincoln




A assunção presidencial, no dia de Martin Luther King, acontece no aniversário de outros eventos essenciais para os direitos civis norte-americanos: a Proclamação de Emancipação e da Marcha a Washington. Muitos aniversários. É só uma coincidência curiosa? As conexões podem ser mais profundas.

Laura Flanders*, The Guardian - Carta Maior

Emancipação? Soa muito bem.

Chega o dia 21 e nós já nos familiarizamos com o fato de que 2013 começa com o segundo empossamento de Barack Obama no dia de Martin Luther King, que também coincide com o 50º aniversário da Marcha a Washington e o 150º aniversário da Proclamação da Emancipação. Muitos aniversários. É só uma coincidência curiosa? As conexões podem ser mais profundas. 

Por começar com a Emancipação. A declaração, efetivada em 1 de janeiro de 1863, proclamava a liberdade de todos os escravos que viviam nos Estados Confederados - mas já houvera emancipações anteriores. Na guerra revolucionária, foi prometida emancipação aos africanos escravizados que lutassem contra os britânicos. Posteriormente, outros garantiram sua liberdade por trabalho duro ou fuga, ou ambos. 

A Emancipação não foi tão boa quanto diziam que seria. Por uma coisa, a declaração de 1863 não referia-se aos escravos da União. Em Delaware e Kentucky, 40 mil pessoas tiveram que esperar dois anos pela 13º emenda. Mesmo nos anos revolucionários havia um problema: a liberdade legal não necessariamente chegava com os meios para se viver livremente.

Eleanor Eldridge, filha de um combatente na guerra revolucionária, oferece um relato sobre seu pai e seu irmão, escravos que lutaram bravamente apesar das determinações sob a promessa de terra e liberdade no que à época era território de Mohawk. Ela escreveu:

"o que eram as privações, a fadiga, os perigos, as angústias? Eles não haviam vislumbrado a estrela d'alva da liberdade cintilando no leste? Eles não sairiam em breve das listas de bens para tornarem-se homens?"

Ao fim da guerra, os irmãos Eldridge ficaram chocados. Inflação massiva e o crash financeiro tornaram o dinheiro da recompensa desprezível. Para citar Eleanor Eldridge novamente:

"ao fim da guerra eles foram ditos livres, mas seus serviços foram pagos com dinheiro velho. A depreciação e a ruina final deixaram a eles nenhuma riqueza além da inestimável liberdade... Eles estavam livres. Sem fundos, eles não podiam tomar posse de suas terras em Mohawk. E até o presente dia seus filhos não puderam recuperá-las."

Eleanor continua por descrever como ela e seu marido trabalharam para comprar um lar e como ela perdeu o que conseguira num cambalacho hipotecário na década de 1800 - não soa familiar?

Harriet Tubman, escrava fugitiva que conduziu muitos à liberdade, descreveu sua escapada da seguinte maneira:

"eu olho para minhas mãos para saber se eu sou a mesma agora que sou livre. Havia tanta glória em tudo aquilo... Eu fiz a travessia que há muito sonhava fazer. Eu estava livre, mas não havia alguém que pudesse me dar as boas-vindas à terra da liberdade. Eu era uma estrangeira numa terra estranha".

Tampouco houve boas-vindas para as mulheres e homens libertos nos anos 1860. Como contam Angela Davis e Michelle Alexander (autora de The New Jim Crow), no tempo exato em que ex-escravos estavam criando as próprias comunidades e plantando o que colheriam para si próprios, as velhas elites escravocratas aprovaram leis "antivadiagem" que, essencialmente, tornou crime ser um empregado autônomo ou não ter um patrão (branco). Facilmente presos e condenados sob nova legislação, "prisioneiros negros eram forçados a trabalhar por pouco ou nenhum pagamento", escreve Alexander. As provisões antiescravidão da 13º emenda são uma exceção conveniente para o trabalho prisional.

Sem o compromisso federal para mudar a estrutura de poder no sul, antigos senhores de escravos puderam usar sua influência política para legislar, e seu poderio econômico para armar a população e a Ku Klux Klan. Entre 1868 e 1876, a maior parte dos anos teve de 50 a 100 afro-americanos linchados. 

Nosso período tem muito em comum com aquele, chamado de Era Dourada. Naqueles tempos, como agora, ricos e pobres estavam extremamente divididos; industriais e grandes banqueiros estavam em pé de guerra contra reformistas, operários, mulheres, negros libertos e imigrantes. Naquela época, como agora, a natureza do trabalho, da vida, da política e da demografia na nação eram incertas. Muitos brancos temiam pelo futuro da sua "raça". 

O quanto estamos emancipados atualmente? A resposta depende das pessoas com quem se fala e das perguntas que são feitas. Tendo como parâmetro a escravidão, a sociedade atual é relativamente livre - mas que comparação! Evocando Eldridge e Tubman, os recursos de que as pessoas precisam para viver livremente ainda são estratificados, e seguem velhos princípios. Educação de qualidade, moradia, trabalho, saúde; livramo-nos juridicamente das placas de "apenas para brancos", mas vejam os níveis de prosperidade econômica, o indicador mais decisivo para o acesso a todas essas coisas. 

O cenário é revelador. No ano passado, pesquisadores do Insight Center for Community Economic Development (Centro de Estudos para o Desenvolvimento Econômico Comunitário), com sede em Oakland, divulgaram que o rendimento familiar médio de uma mulher afro-americana economicamente ativa era de US$ 100, em comparação com US$ 42.100 de uma mulher caucasiana equivalente (ou 40% além disso para um homem caucasiano). É espantosa as diferenças causadas por séculos de escravidão. 

Martin Luther King e seus companheiros sabiam que mudanças não viriam a partir de presidentes, mas de movimentos. Presidentes podem agir, mas são os movimentos que os fazem agir. Só os movimentos sociais têm o poder emancipatório para se fortalecer a partir de números, até mesmo os números dos desfavorecidos. 

A marcha em Washington conjugou a demanda por liberdade com a demanda por empregos. Notem como a mídia endinheirada poucas vezes chamou a marcha por seu nome completo: Marcha em Washington por Liberdade e Emprego. 

Nós precisamos de outra marcha, mas, mais importante, precisamos de outro movimento social com a mesma força. As pessoam gostam de sair que liberdade não é de graça. Mas o mesmo ocorre com a emancipação: ela custa o status quo. Para emancipar um antigo estado escravocrata como o nosso, é precismo muito mais que uma declaração. Nós ainda não chegamos lá. 

Tradução de Caio Hornstein e André Cristi

Fotos: Página da Casa Branca na internet 

França-Alemanha: “NÃO GOSTAMOS DE ALEMÃES”




FRANKFURTER RUNDSCHAU, FRANKFURT – Presseurop – imagem Ilustração histórica da Batalha de Sedan, em 1870.

Em Sedan, de Bismarck a Hitler, os franceses tentaram, por três vezes, resistir, em vão, aos alemães. Um jornalista foi até lá para ver como está a reconciliação franco-alemã, 50 anos depois do Tratado do Eliseu, e descobriu uma cidade minada pela pobreza e que vive das recordações do passado.


Os flocos de neve dançam à luz dos candeeiros. O terreiro da estação brilha sob o manto branco do inverno. Os raros passageiros do TGV que desceram aqui, em Sedan, afastam-se em passo rápido. Um silêncio quase solene paira sobre aquele lugar. Não vemos ninguém durante alguns minutos, nem carros, nem autocarros, nem táxis.

A cidade nem sempre foi assim tão calma. Durante a guerra de 1870-1871, as tropas de Bismarck tomaram de assalto, pela primeira vez, o forte de Sedan. Refugiado no Palácio dos Príncipes, o imperador Napoleão III mandou içar a bandeira branca e, desde então [até 1918], os alemães celebraram, todos os anos, o "Sedantag" [o dia de Sedan], a 2 de setembro.

Em maio de 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, as unidades blindadas de Hitler varreram de surpresa o Norte. Um mês mais tarde, a França era derrotada. As feridas infligidas na altura estão cicatrizadas – num momento em que a França e a Alemanha celebram os quinquagésimo aniversário do Tratado do Eliseu e 50 anos de amizade? A cidade está em festa?

Poucos vestígios da reconciliação

Laurent Poncelet não está, em qualquer caso. Aos 45 anos, este homem que foi ele próprio militar e que agora dirige uma empresa de táxis com dois veículos, abana a cabeça da esquerda para a direita. “Só queremos uma coisa, sair daqui. Sobretudo os jovens”, confessa ele. Todas as grandes empresas voltaram as costas a esta região fronteiriça com a Bélgica, lamenta, a começar pelos empregadores históricos, do fabricante de componentes automóveis Delphi ao fabricante de eletrodomésticos Electrolux. A maior parte dos habitantes de Sedan vive das ajudas do Estado, 42% das casas são habitação social e a taxa de desemprego atinge os 26%. “Aqui não há futuro. Só há muito passado. Muita história franco-alemã. E mesmo essa não tem nada de bonito”, diz Laurent Poncelet.

Depois de séculos de guerra, não se veem muitos traços do milagre da reconciliação nesta pequena cidade de 19 400 almas. Sedan parece até desinteressada do aniversário do Tratado do Eliseu. Laurent Poncelet não é, evidentemente, o único a pensar que a história franco-alemã parou na Segunda Guerra Mundial.

A senhora do posto de turismo sorri, encolhe os ombros. Não sabe nada sobre as cerimónias organizadas para comemorar o cinquentenário, garante. Mas a "Maison de la Dernière Cartouche" é um excelente local a ser visitado. “Os lambris da casa, ocupada pelas tropas de Bismarck, ainda têm as marcas das balas da época”, diz ela. Os quadros a óleo mostram os franceses a resistirem aos alemães, em muito maior número, e enfrentando uma morte certa. “Porque não vai visitar o nosso castelo do século XV? Com 35 mil metros quadrados, é a maior fortaleza da Europa!”

O “castelo-fortaleza” fica mesmo do outro lado da rua. É preciso uma boa meia hora para percorrer as muralhas. Placas de mármore lembram que, também durante a Primeira Guerra Mundial, os soldados alemães semearam a morte e a desolação em Sedan. De janeiro de 1917 a novembro de 1918, o forte serviu de local de execuções. Ali estiveram presos 18 mil habitantes e oito mil foram executados.

Habitantes recusam participar nas comemorações

Os jovens que vêm aquecer-se na entrada do posto de turismo não ouviram falar do Tratado do Eliseu nem das celebrações do aniversário da amizade franco-alemã. “Nas aulas só estudamos as guerras”, explica Karim, um adolescente de 16 anos, alto e de cabelo encaracolado, que quer entrar para a polícia “numa cidade grande, seja ela qual for”, depois de terminar o 12º ano. Lilia mete-se na conversa. “Já tive um namorado alemão, eles são muito abertos e simpáticos”, garante ela. “Não sabes o que dizes”, intervém Karim, “eles mataram os teus antepassados”.

No café "Au Bon rhum", Richard, um empresário da construção civil, bebe uma cerveja com a mulher, Jeanine. Já ouviram falar das comemorações do Tratado do Eliseu, mas não querem participar. “Não gostamos de alemães”, reconhece Richard, 48 anos. Pode ser que a geração mais jovem consiga reaproximar os dois povos, admite ele. Atrás deles, na parede, um painel enferrujado ostenta a seguinte inscrição: “Praça de Armas”.

Um passeio pelas ruas da zona antiga de Sedan confirma as palavras de Laurent Poncelet, que fala de uma cidade sem futuro. Portões enferrujados, estuque a cair, cartazes de “cessação de atividade”, são testemunhos da pobreza e do declínio da cidade. As persianas fechadas há muito tempo transmitem-nos uma mensagem clara: já não vive ninguém aqui. E, na maioria das vezes, ficaram apenas os que são demasiado pobres para partirem. Ao todo, apenas 35% das famílias de Sedan têm rendimentos tributáveis.

Acabamos por perceber que, se a ilusão do reaquecimento das relações franco-alemães vem morrer aos pés das muralhas do forte de Sedan, não é só por causa dos enormes danos causados pela guerra. Mas também porque a cidade, para além das recordações de uma resistência heroica, não tem muito mais que a conforte. O sacrifício, a fraternidade e a grandeza ostentados na derrota são motivo de orgulho que ajudam a suportar as horas difíceis.

Demolição de um monumento

Será então de admirar que Didier Herbillon, professor de história, historiador de arte e presidente do município de Sedan, se tenha recusado a falar? O socialista não se mostrou disponível para uma entrevista sobre as alterações na cidade e a obra de reconciliação iniciada por Konrad Adenauer e Charles de Gaulle. Na página de Internet do município, na agenda do presidente, a data de 22 de janeiro nem sequer menciona um minuto de silêncio pelo aniversário do Tratado do Eliseu.

É numa outra vertente que Didier Herbillon coloca as relações franco-alemães. Para grande escândalo dos historiadores de arte alemães e franceses, no ano passado, ele autorizou a demolição de um monumento, no cemitério de Sedan, em memória dos soldados alemães mortos durante a Primeira Guerra Mundial. O monumento em causa era uma “provocação”, afirmou o autarca.

Em Paris e em Berlim, os funcionários do Gabinete franco-alemão para a juventude lamentam que a geração mais jovem seja incapaz de apreciar a amizade franco-alemão em todo o seu justo valor. Para esta geração, a paz é um dado adquirido e a França é um país interessante, entre muitos outros. Sedan é prova disso mesmo: os que cultivam a memória da guerra estão longe de estarem prontos para se comprometerem com o caminho da paz. E, sobretudo, este exemplo mostra completamente a audácia do general De Gaulle que, menos de 20 anos depois do fim da guerra, estendeu a mão da reconciliação a Adenauer.


CONTRAPONTO

“Um emaranhado único no mundo”

“Nada sem a Alemanha” proclama oLibération no seu editorial de 22 de janeiro, dia de aniversário do Tratado do Eliseu. “Vista a partir do nosso pequeno teatro hexagonal, é uma realidade dura de aceitar, mas tenaz: 50 anos após o Tratado do Eliseu, [...] a França não pode fazer nada sem primeiro chegar a acordo com o seu poderoso parceiro germânico.”
O diário congratula-se com esta relação única:

Nenhum outro país do mundo construiu com um grande Estado vizinho um emaranhado tão sofisticado de relações económicas, comerciais, financeiras, políticas e até mesmo culturais, tão densas e apaixonadas.

Mencionando o envolvimento militar francês no Mali, o Libérationsublinha a resistência da Alemanha “à ideia de assumir as responsabilidades internacionais que o seu poder exige” e escreve que do plano de viagem traçado por Adenauer e de Gaulle, tudo foi levado mais além, com exceção de um único domínio: a política de segurança. No entanto, o general afirmou que se as duas margens do Reno não têm nada a dizer uma à outra em matéria de defesa, arriscam-se, um dia, a nada terem para partilhar. O Tratado do Eliseu não ganhou uma ruga. Mas a Alemanha tem também ainda um caminho para percorrer.

UE/Brasil: Europeus e brasileiros podem apontar o caminho em diversas áreas - Barroso




ACC – VM – Lusa, com foto Ettore Ferrari/Ansa

O presidente da Comissão Europeia disse esperar que a VI cimeira UE-Brasil, agendada para quinta-feira em Brasília, constitua mais um passo no aprofundamento da parceria estratégica, afirmando-se convicto de que esta pode ser um exemplo a nível internacional.

Apontando que “os laços únicos que ligam a União Europeia e o Brasil sustentam uma parceira estratégica intensa e abrangente que tem vindo a crescer e a aprofundar-se ao longo dos anos”, José Manuel Durão Barroso sustentou que, “num mundo cada vez mais complexo e interdependente”, UE e Brasil devem “agarrar-se a estas afinidades para levar adiante a agenda global”.

“Estou convencido que a UE e o Brasil podem apontar o caminho para a promoção de uma governação multilateral mais forte”, para a “implementação dos compromissos do G20”, e para o lançamento das “bases para um crescimento global sustentável e socialmente inclusivo”, entre outras áreas, defendeu o presidente da Comissão, numa declaração em vésperas da cimeira de Brasília.

Durão Barroso acrescentou que, com base nos seus valores comuns, a UE vai “continuar a trabalhar com o Brasil com vista a alcançar estes objetivos partilhados, construindo pontes e reduzindo diferenças”.

Também o presidente do Conselho, Herman van Rompuy, realçou que “UE e Brasil são parceiros chegados”, com “uma visão comum do mundo em termos de justiça internacional e mais igualdade social”, pelo que “atuando em sintonia”, podem constituir-se como “uma força para o bem no sistema internacional”.

“Estou desejoso de discutir com a Presidente Rousseff a cooperação efetiva com o Brasil em assuntos fundamentais da nossa agenda global e bilateral tais como o governação financeira e económica global, as alterações climáticas, direitos humanos e assuntos ligados à ciência e tecnologia”, disse.

União Europeia e Brasil celebram na próxima quinta-feira, em Brasília, a sexta cimeira desde o lançamento da parceria estratégica, em julho de 2007, em Lisboa, durante a última presidência portuguesa da UE, com uma agenda que abrange os mais diversos domínios, desde o comércio e a economia ao clima e paz e segurança.

A UE estará representada por Durão Barroso, Van Rompuy e ainda pelo comissário do Comércio, Karel de Gucht, enquanto o Brasil estará representado pela Presidente, Dilma Rousseff, e vários ministros, entre os quais o chefe da diplomacia, Antonio Patriota.

Brasil: UNIFORMES DA EXCLUSÃO




Rodolpho Motta Lima* - Direto da Redação

A Educrafo, organização não governamental que se tornou conhecida na luta pelo estabelecimento de cotas raciais para o ingresso às Universidades públicas brasileiras, acaba de entrar com uma ação junto ao Ministério Público do Rio de Janeiro contra alguns conhecidos clubes da elite da zona sul carioca – Paissandu e Caiçaras – que, no dizer daquela ong, estariam praticando discriminação de ordem racial e social ao proibirem a entrada em suas dependências de babás não uniformizadas. Essa determinação dos clubes estaria em confronto com o Estatuto da Igualdade Racial e feriria a Constituição Federal , que estabelece os princípios da igualdade e da não discriminação.

Segundo as administrações dos clubes envolvidos – que confirmam o procedimento apontado - , a medida permite a identificação das babás que, não desfrutando da condição de sócias, podem assim ser “facilmente identificadas”. Como argumentos levantados por algumas pessoas que defendem a restrição está o fato de que essa identificação imediata permite que se localize claramente as babás na hipótese de um acidente ou de uma necessidade urgente manifestada pelas crianças. Mas há também, é claro, a razão embutida: a identificação também propicia impedir que as babás desfrutem de serviços e atividades inerentes ao corpo social.

Interessante registrar que os clubes em questão põem ao dispor dos seus sócios um número determinados de cartões para convidados. As famílias que usam os serviços das babás, porém, não as credenciam através desses cartões, que as dispensariam do uso obrigatório do uniforme.

Depoimentos de diretores desses dois clubes – e de outros que, parece, usam a mesma prática – mencionam que a medida é apenas uma providência que envolve “apresentação e padronização”, e que muitas categorias profissionais distinguem os seus membros dos demais com o uso de uniformes, o que jamais poderia ser configurado como discriminação.

Razões positivas para o uso de uniformes podem ser encontradas em muitas situações, Membros de corporações militares e do políciamento público, profissionais da área médica, estudantes, entre muitos outros exemplos. No caso dos estudantes, além de razões de economia, o uniforme inibe a ostentação de uns diante de. outros, com grifes e coisas do gênero, e acaba conferindo ao grupo um saudável sentimento de pertencimento. Mas esse não é o caso das babás nesses clubes, onde a veste tipifica uma posição social e pretende apregoar , ao contrário, o nao pertencimento, algo do tipo “ponha-se no seu lugar’...

A luta contra preconceitos sociais ou raciais é antiga em nosso país, e tem mesmo que passar por todas essas etapas. O preconceito traz em si a ideia que alguns acalentam de serem “diferentes para melhor” em relação a outros. Durante muito tempo marcou os elevadores dos edifícios da elite, com distinções entre os que seriam “sociais” ou “de serviço”. Mas aparece volta e meia em episódios que revivem a postura segregacionista. Essa questão das babás é apenas mais uma questão nesse elenco perverso de exclusões.

Lembro, aqui, o caso dos moradores de um bairro de ricos em São Paulo, que resolveram protestar e pedir providências às autoridades contra a presença vizinha de “gente diferenciada” – moradores de uma favela próxima - que estaria pondo em risco a sua liberdade de ir e vir. Ou seja, ao invés de combaterem a exclusão e propugnarem por medidas que elevem o padrão social das pessoas, defendem para si a manutenção de privilégios que os tornem imunes ao contato com a pobreza.

Voltando às babás, mesmo quando as patroas não as “uniformizam” , pois essa não é necessariamente uma exigência profissional , ainda assim os clubes impõem esse procedimento padrão que, certamente, conta com o apoio da maioria dos sócios.

Esse caso – que envolve mulheres predominantemente negras e de baixa condição social - ganha conotação de emblemático porque, inevitavelmente, nos faz pensar em um passado não muito remoto , das mucamas e amas de leite negras e pobres que serviam às famílias brancas, substituindo os seios das sinhás e indignamente usadas pelos senhores, em um estágio muito pouco digno de nossa construção social. A comparação pode parecer exagerada (e creio mesmo que, felizmente, o é), mas não há duvida que existe um fio a ligar os dois momentos. Menos mal que, ao que tudo indica, essas babás que levam as crianças aos clubes, às escolas, as babás que dão banho nos filhos alheios, alimentam-nos e suprem diversos cuidados de mães, essas babás parecem estar desempenhando, uma atividade em extinção. E chegará o dia, quem sabe, em que – superando décadas de desigualdade - estarão ostentando, com orgulho, as mesmas vestes despadronizadas e de marca das madames de hoje.

Nota do editor. A ilustração acima é da autoria de Renan Motta Lima.

* Advogado formado pela UFRJ-RJ (antiga Universidade de Brasil) e professor de Língua Portuguesa do Rio de Janeiro, formado pela UERJ , com atividade em diversas instituições do Rio de Janeiro. Com militância política nos anos da ditadura, particularmente no movimento estudantil. Funcionário aposentado do Banco do Brasil.

“CONGRESSO BRASILEIRO É CONSERVADOR E DERROTAREMOS OS GAYS NO VOTO”




Candidato evangélico quer derrotar gays no voto. Na disputa pela presidência da Câmara, Ronaldo Fonseca diz que quer pautar propostas que opõem religiosos e homossexuais, como o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, e que não aceita “ditadura gay”

Edson Sardinha, Congresso em Foco, com foto – Pragmatismo Político

Evangélico, pastor da Igreja Assembleia de Deus, advogado e, de acordo com suas próprias palavras, “amante do debate”. Para chegar à presidência da Câmara, cargo que cobiça mesmo sem o apoio de seu partido, o deputado Ronaldo Fonseca (PR-DF) terá de superar desafios inéditos: ser o primeiro estreante e o primeiro líder evangélico a conquistar o comando da Casa. O deputado de 52 anos exerce seu primeiro cargo eletivo e promete combater os “vícios” do Legislativo, como o corporativismo, a submissão ao Executivo e a falta de discussão.

“Não serei um presidente engavetador”, promete. Em entrevista ao Congresso em Foco, o candidato diz que a frente parlamentar evangélica não pode mais “andar a reboque” e ser surpreendida com a votação de propostas que contrariam suas crenças, como as que dizem respeito aos homossexuais. Segundo o deputado, a Casa tem de aprofundar o debate e levar projetos como o da união civil entre pessoas do mesmo sexo a voto. Para ele, os militantes do movimento gay temem que essas propostas sejam votadas por anteverem o seu provável desfecho.

“Se for para derrotar, que seja no voto. Comigo é assim, é no voto. Eles não querem. Esses grupos já pegaram vício do Parlamento. Eles fazem barulho, barulho. Quando propomos ir ao plenário, aí não querem, porque sabem que vão ser derrotados. Temem a derrota porque o Parlamento brasileiro é tradicional e conservador e somos um país cristão”, declara Ronaldo.

O candidato diz que também pretende incluir na pauta de votação, caso seja eleito, outros temas que causam polêmica entre os evangélicos, como a descriminalização do aborto e a legalização da prostituição – este, objeto de projeto de lei do deputado Jean Wyllys (Psol-RJ), um dos principais representantes da comunidade LGBT no Congresso.

Número de famílias sem condições de pagar contas ou dívidas é o menor desde 2010




Vitor Abdala - Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – O percentual de famílias que não conseguirão pagar suas dívidas ou contas em atraso atingiu, em janeiro deste ano, seu menor patamar desde janeiro de 2010, quando a Confederação Nacional do Comércio (CNC) começou a fazer o monitoramento. Segundo Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, divulgada hoje (22) pela CNC, os consumidores que não terão condições de pagar suas dívidas chegaram a 6,6% neste mês.

Em dezembro de 2012, o percentual era de 7% e, em janeiro de 2012, de 6,9%. “Essa melhoria na percepção da capacidade de pagamento está muito relacionada às condições de crédito mais favoráveis, como a queda da taxa de juros e o alongamento do prazo. Isso tem favorecido para que essas dívidas tenham um peso menor no orçamento das famílias. E as famílias estão com condições mais favoráveis para renegociar dívidas antigas. Além disso, tem a questão do desemprego baixo e a renda com alta significativa”, disse a economista Marianne Hanson, da CNC.

O percentual de famílias inadimplentes no país em janeiro deste ano (21,2%) também caiu em relação a dezembro de 2012 (21,7%). Apesar disso, a inadimplência aumentou em relação a janeiro de 2012, que havia registrado um percentual de 19,9%.

A pesquisa mostra ainda que o percentual de famílias com dívidas (em atraso ou não) neste mês chega a 60,2%, inferior ao de dezembro de 2012 (60,7%), mas superior à taxa de janeiro daquele ano (58,8%).

Edição: Lílian Beraldo

Carlos Gomes Júnior assume-se como "candidato natural" à presidência da Guiné-Bissau




FPA - MLL - Lusa, com foto

O primeiro-ministro deposto da Guiné-Bissau assumiu-se hoje como "candidato natural" à presidência do país e responsabilizou a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) pelo eventual adiamento das eleições, previstas para abril.

"Há um compromisso assumido pela CEDEAO quanto ao período de transição. (...) Se não pode ser cumprido o período de transição como estava estabelecido, a única responsabilidade cabe à CEDEAO", disse Carlos Gomes Júnior, contactado pela Lusa para comentar declarações recentes que apontam para o provável adiamento das eleições no país.

O acordo de transição na Guiné-Bissau, assinado em maio após o golpe de Estado de 12 de abril, previa a realização de eleições no prazo máximo de um ano, mas nos últimos tempos avolumam-se as vozes dos que não acreditam em tal possibilidade.

"A nossa reação, como tem sido até aqui, é de prudencia, é de calma", disse o primeiro-ministro deposto, que na altura do golpe de Estado se preparava para a segunda volta das eleições presidenciais, depois de ganhar a primeira com 49% dos votos.

Carlos Gomes Júnior recordou que falta ainda definir, no quadro das exigências do Conselho de Segurança da ONU, o restabelecimento da ordem constitucional.

"Já havia terminado a primeira volta das presidenciais e aguardava-se a continuação desse ato eleitoral. Ninguém se pronuncia sobre isso", disse.

Carlos Gomes Júnior, que está exilado em Lisboa desde o golpe de Estado, justificou ainda o adiamento do congresso do partido a que preside, o PAIGC, de janeiro para maio: "Em primeiro lugar têm de ser criadas as condições para o regresso do presidente do partido - porque o presidente do partido é que dirige o congresso - e dos dirigentes que estão no exterior".

Questionado se isso significa que o congresso poderá ser novamente adiado, o dirigente afirmou que na altura "o comité central analisará" se há condições para a sua realização.

Seja como for, Carlos Gomes Júnior assume-se desde já como "candidato natural" à presidência do país: "Naturalmente sou candidato. Ganhei a primeira volta com 49% dos votos e isso representa a esperança que o povo da Guiné-Bissau e os militantes do PAIGC depositam na minha pessoa".

Timor-Leste: EX-MINISTROS LOBATOS DIZEM-SE VÍTIMAS DO “SISTEMA” DO PAÍS




Ex-ministra da Justiça timorense acusa juízes de politizarem processo de que saiu condenada

22 de Janeiro de 2013, 07:29

Díli, 22 jan (Lusa) - A ex-ministra da Justiça de Timor-Leste Lúcia Lobato, condenada a cinco anos de prisão por participação económica em negócio, acusou hoje os juízes timorenses de politizarem o seu processo e de violarem os direitos de um cidadão.

"Desde o início do processo e até agora nunca comentei o meu processo. O processo está a ser politizado e os próprios juízes não cumprem as regras e utilizam o poder para restringir e violar o direito de um cidadão num Estado de Direito democrático como é Timor-Leste", afirmou Lúcia Lobato.

A ex-ministra da Justiça do Governo chefiado por Xanana Gusmão falava em conferência de imprensa sobre os acontecimentos referentes ao seu processo, rodeada de membros da sua família, entre os quais se encontrava o seu primo e ex-ministro do Interior Rogério Lobato, também condenado a sete anos e meio de prisão por seu autor indireto de quatro crimes de homicídio, durante a crise de abril e maio de 2006, e posteriormente indultado.

A 08 de junho, antiga ministra da Justiça timorense foi condenada a cinco anos de prisão pelo Tribunal Distrital de Díli pela prática de um crime de participação económica em negócio.

O crime é relativo à aquisição de fardas para equipar guardas prisionais da Direção Nacional dos Serviços Prisionais e de Reinserção Social.

Na sentença proferida pelo tribunal, a ministra foi também condenada ao pagamento de 4.350 dólares (3.256 euros ao câmbio atual).

A ministra foi absolvida de dois crimes de abuso de poder e de um crime de administração danosa.

A 25 de junho, a defesa de Lúcia Lobato recorreu da sentença ao Tribunal de Recurso, que passados quase seis meses, a 12 de dezembro, o recusou.

Na sequência daquela decisão, a defesa de Lúcia Lobato notificou o tribunal no dia 13 de dezembro, através de carta, da decisão de apresentar um recurso extraordinário, que foi indeferido no dia a seguir.

"No dia 27 de dezembro, os meus advogados apresentaram um recurso para julgar questões de constitucionalidade no processo. Ontem [segunda-feira] recebi o acórdão, produzido pelos mesmos três juízes, a rejeitar o pedido de fiscalização concreta", afirmou Lúcia Lobato, sublinhando que os três magistrados não se podem julgar a eles próprios.

Lúcia Lobato, que aguarda ser presa a qualquer momento, lamentou o funcionamento dos tribunais que, segundo disse, têm a "obrigação de aplicar a lei e cumprir as regras".

"No meu caso os juízes violaram as regras, violaram a constituição e vou ficar sujeita a uma prisão", disse, acrescentando também que não teve acesso aos seus autos para se poder defender.

A antiga ministra afirmou também que vai enviar o processo para o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, porque quer uma justiça "justa e imparcial".

Lúcia Lobato é prima direita do segundo Presidente de Timor-Leste Nicolau Lobato, morto a 31 de dezembro de 1978 por militares indonésios.

MSE // HB

Ex-ministro do interior diz ter sido bode expiatório da crise de 2006 em Timor-Leste

22 de Janeiro de 2013, 08:38

Díli, 22 jan (Lusa) - O ex-ministro do Interior timorense Rogério Lobato disse hoje ter sido o bode expiatório da crise de abril e maio de 2006 e que vai começar a denunciar todas as injustiças existentes em Timor-Leste.

Rogério Lobato falava aos jornalistas durante uma conferência de imprensa convocada pela sua prima e antiga ministra da Justiça Lúcia Lobato, condenada a cinco anos de prisão por participação ilícita em negócio, para denunciar alegadas irregularidades no sistema judicial do país.

"Tenho ficado muito calado relativamente àquilo que se passou comigo em termos de justiça. Eu estou aqui num gesto de solidariedade para com a minha irmã, porque eu acho que Timor-Leste não merece esta justiça", afirmou Rogério Lobato.

Rogério Lobato foi condenado em 2007 a sete anos e meio de prisão por ser o autor indireto de quatro crimes de homicídio na crise de abril e maio de 2006, que culminou em confrontos armados e à queda do chefe do executivo, Mari Alkatiri, da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), bem como dos titulares da Defesa e do Interior.

Depois de autorizado a receber tratamento médico no estrangeiro, o ex-ministro do Interior do acabou por receber um indulto presidencial de José Ramos-Horta em 2008, e não cumpriu a totalidade da pena.

"No meu caso pessoal, os meus advogados provaram tudo mas eu tinha de ser condenado, porque esta era uma decisão que já tinha sido tomada ao mais alto nível, mesmo ao nível das Nações Unidas. Tinha de haver um bode expiatório. Eu fui o bode expiatório", afirmou, bastante emocionado, Rogério Lobato.

O antigo ministro, que se candidatou como independente às eleições presidenciais de março, recordou também que optou pelo silêncio durante todo o seu julgamento para "não arrastar" outras pessoas.

"Isto não vai ficar assim. Nós somos gente com coragem, não apenas para lutar pela independência, mas para pôr isto no lugar", gritou emocionado o antigo ministro timorense.

Sublinhando que respeita os órgãos de soberania e que ninguém está acima da lei, Rogério Lobato disse bastar de "injustiça" no país.

"Isto não vai ficar assim. Nós vamos lutar. Respeitamos os tribunais, que são um órgão de soberania, mas nós todos contribuímos não apenas com palavras, mas com sangue, com vida. Morreu-se muito nesta família para que Timor-Leste fosse um Estado independente", referiu.

Rogério Lobato disse também que a partir de hoje vai estar "na linha da frente" para denunciar situações de injustiça em Timor-Leste.

"Eu tenho o direito de levantar a minha voz para condenar aquilo que não está bem. O que está a acontecer à Lúcia e o que aconteceu a mim leva-me a perguntar porquê que só os Lobato têm de enfrentar justiça, porquê", questionou.

A 08 de junho, antiga ministra da Justiça timorense foi condenada a cinco anos de prisão pelo Tribunal Distrital de Díli pela prática de um crime de participação económica em negócio, relativo à aquisição de fardas para equipar guardas prisionais da Direção Nacional dos Serviços Prisionais e de Reinserção Social.

Lúcia Lobato, que integrou o executivo chefiado por Xanana Gusmão em 2007, perdeu todos os recursos apresentados desde então.

Rogério Lobato é irmão de Nicolau Lobato, herói nacionalista timorense, que dá o nome ao aeroporto de Díli e à sede da Presidência timorense, e segundo Presidente do país, da FRETILIN e comandante das FALINTIL até à sua morte em combate no último dia de 1978.

MSE // HB

* Mais noticiário sobre Timor-Leste, Ásia e Oceânia em TIMOR LOROSAE NAÇÃO

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