domingo, 14 de julho de 2013

COMPROMISSO DE SALVAÇÃO DO CAPITAL



Martinho Júnior, Luanda

1 – Uma das vantagens de Francisco Pinto Balsemão, representante em Portugal do grupo elitista e manipulador que dá pelo nome de Bilderberg, é a sua capacidade de antecipadamente fazer uma leitura do futuro imediato e do médio prazo, a fim de poder tirar partido nas instituições de poder político, financeiro e mediático, em proveito dos interesses da aristocracia financeira mundial e das oligarquias subjacentes.

A ida a Londres (reunião do Bilderberg anual) dele e dos Presidentes do PS e CDS, respectivamente Seguro e Portas, seus convidados deste ano, inscreve-se nessa leitura e é por si simultaneamente uma antecipação em relação ao futuro e uma forma de persuasão.

Os acontecimentos sócio-políticos e institucionais “ao mais alto nível” em Portugal, têm-no vindo a comprovar!

2 – Ainda que evocando outras razões, o Presidente Cavaco Silva, no seguimento da crise sócio-política que grassa no país, uma crise em relação à qual ele tem dado a sua contribuição não só neste seu actual mandato enquanto Presidente mas também no passado quando teve a oportunidade de exercer altas funções governativas, lá voltou ao irremediável “arco de governo”, alegadamente para que haja um “compromisso de salvação nacional”.

Desse modo Cavaco Silva não dá sinais alguns de se querer efectivamente redimir nem alterar o que quer que seja no seu horizonte político-ideológico, próprio de um cada vez mais “dinossauro excelentíssimo”: em relação às causas profundas da crise artificiosa diz nada e em relação a sair dela actuando sobre suas causas profundas… nada diz… e tudo isso para, ao conservar a crise, beneficiar sobretudo aqueles que sempre têm sido beneficiados de há várias décadas a esta parte… histórias do “arco da velha”!...

A receita que é estipulada pelo Bilderberg, é a única receita (neo liberal) que Cavaco neste momento entende nas suas limitações intelectuais como institucionais e no conceito do que deve ser a “representação” do bom povo português para além dos singulares actos eleitorais.

Para ele nada significa que “o povo dos brandos costumes” seja deliberadamente sujeito ao choque das crises mais avassaladoras que ele próprio ajudou a desencadear.

Cavaco está a sublinhar que é parte do problema, por que cai uma vez mais numa alternância condicionada (à crise e ao poder financeiro) e não parte da possibilidade da solução em relação a ela, sem sequer levar em conta que, para tal, é chegada a hora de se procurarem alternativas que só se poderão encontrar numa vasta integração, muito para lá do patético “arco de governação”…

De facto foram os mesmos ingredientes e componentes de sucessivos governos do “arco de governação”, que seguiram à risca a lógica capitalista (dos quais ele fez por várias vezes parte como figura de proa) e se deixaram arrastar primeiro pelo “diktat” incondicional duma construção europeia conformada aos poderosos e depois pelo carácter dominante dos “mercados”, que agora se aproveitam para serem uma vez mais “premiados pelos seus bons ofícios e serviços”!

A lógica capitalista e os processos neo liberais que desencadeou, não têm outro horizonte!

3 – Cavaco deliberadamente confunde hoje com muito mais evidência o que é de interesse nacional com o que é do interesse do capital, ainda por cima daquele capital que, de tanto dominar e condicionar Portugal, está a transformá-lo numa autêntica colónia!

Apresta-se a um papel dessa natureza e julga que está a lidar com gente que partilha a encenação sem limites da hipocrisia!

Para Cavaco, um compromisso com o capital é assim entendido de forma avulsa e subvertida, como um “compromisso de salvação nacional”… o rótulo da mentira de toda a sua própria trajectória sócio-política e até “humana”!...

Efectivamente um “compromisso de salvação do capital”, à revelia dos interesses duma fatia cada vez maior do povo português e daqueles que à esquerda e identificando-se com essas mesmas camadas se assumem com revigorado patriotismo, é o único acto possível para um irredutível mercenário que, constata-se, sempre foi e nunca quis deixar de o ser!

Gravura: Ainda o “arco da velha”!

A consultar:
- Coisas do arco da velha –
- Vassalagem comprometedora –

Portugal: Sócrates diz que PS não pode aceitar acordo com austeridade pré-estabelecida



Jornal de Notícias

O ex-primeiro-ministro José Sócrates defendeu este domingo que o PS não pode aceitar um acordo com PSD e CDS-PP sobre medidas de austeridade já estabelecidas, dizendo duvidar que a iniciativa do presidente da República "leve a bom porto".

No seu programa semanal de comentário político na RTP1, o antigo secretário-geral do PS disse ter sido sempre "um adepto desse acordo", mas criticou que esta iniciativa do presidente da República para um compromisso de salvação nacional aconteça "depois das medidas anunciadas, das medidas estabelecidas".

"É pedido (ao PS) que seja feito um acordo depois das medidas anunciadas, das medidas estabelecidas, o primeiro-ministro já comunicou à 'troika' quais eram todas as medidas, e detalhou, que queriam realizar, e agora pedem ao PS para concordar com despedimentos na função pública, com reduções das pensões. Eu acho que o PS não pode concordar com isso e não vai concordar com isso", afirmou Sócrates.

O antigo líder socialista recorreu depois a uma metáfora que já utilizou várias vezes para apontar a condição necessária para que houvesse acordo entre o PS e os partidos da maioria: "Tinha de ser sempre com base no seguinte, parar de escavar, parar com os cortes e com a austeridade".

"O senhor presidente da República lembrou-se que talvez fosse bom oferecer uma pá ao PS para continuar a escavar, ora, eu acho que o PS não pode, nem vai, aceitar uma coisa dessas", observou.

"Parece-me central em todos os discursos do PS, que tem dito "nós não podemos colaborar com uma política para além da 'troika'". O que o presidente está a pedir ao PS é, eu dou-vos eleições daqui a um ano, mas vocês ajudam o Governo a aprovar o Orçamento para 2014, que inclui estes cortes todos, cortes esses já estabelecidos com a 'troika'", referiu.

Sócrates criticou a iniciativa tomada por Cavaco Silva, considerando que esta gerou uma "balbúrdia institucional" no país, "estendeu a crise como uma mancha de óleo", e deixou o Governo "completamente desautorizado".

Para o antigo chefe de governo, o compromisso proposto pelo presidente, após o executivo já ter anunciado mudanças na sua orgânica, coloca o primeiro-ministro "numa posição indigna, sem autoridade para liderar"."Foi absolutamente humilhado, toda a gente nota", considerou.

Já sobre a convocação de eleições legislativas antecipadas para 2014, José Sócrates disse não saber como é que os presidentes do PSD e do CDS "podem assinar um acordo destes", que constitui "um preanuncio de dissolução" do parlamento.

"Duvido muito que esta iniciativa do presidente da República leve a bom porto, veremos em que estado ficam as nossas instituições", afirmou, assinalando que "caso não haja acordo" ficam várias interrogações no ar.

Leia mais em Jornal de Notícias

Portugal: DO PÂNTANO IRREVOGÁVEL



Tiago Mota Saraiva - Jornal i, opinião

Cavaco Silva falou ao país. Não se poderá dizer que foi uma comunicação ao país. Isso implicaria que o emissor quisesse ser entendido pelo receptor. Cavaco não quer ser claro nem transparente. Nunca quis. Cavaco privilegia a comunicação por interposta pessoa – normalmente cavacológos autorizados como Marques Mendes, Marcelo ou, em tempos, Dias Loureiro. A manha da nebulosa permite-lhe demarcar-se das certezas que vai anunciando e que se vão revelando erradas ou declarar alegados avisos que terá feito sobre matérias sobre as quais nunca discursou.

Da sua declaração ao país sobram duas certezas. Cavaco Silva não aceita a proposta de novo governo de Passos Coelho e tudo fará para que não haja eleições antes de Junho de 2014. Com a primeira decisão retira a pouca margem de governabilidade que este governo teria e com a segunda inicia um processo conducente à constituição de um governo de iniciativa presidencial, ainda que a Constituição já não lho permita.

Cavaco acha que Passos e Portas já não servem e o que lhe falta em carácter sobra-lhe em autoritarismo. Mais uma vez não hesita em condicionar a vida do país e do seu povo à sua estratégia pessoal. Não há qualquer preceito constitucional que impeça a realização de eleições antecipadas. Pelo contrário, ao Presidente da República compete actuar sempre que estiver em causa o regular funcionamento das instituições. É o caso. Ao invés, Cavaco parece preferir suspender a democracia por 12 meses.

Por fim, a ideia de que um iluminado possa reunir à sua volta a União Nacional da troika nacional, PSD/PS/CDS, repete a solução da Grécia e de Itália. Como sabemos, esse tipo de governo não só não salva países como não tem apoio popular.

P.S. - Entretanto deve andar gente importante a ganhar muito dinheiro com estas crises de lana caprina. Só assim se explica a vontade deste poder político de continuar a patinar na maionese por mais umas semanas.

Escreve ao sábado 

PS VOTA CENSURA AO GOVERNO MAS ESTÁ DISPONIVEL PARA REUNIR COM PSD E CDS




PS anuncia que vai votar a favor da moção de censura d' "Os Verdes"

Notícias ao Minuto

Guarda, 14 jul - O líder parlamentar do PS, Carlos Zorrinho, anunciou hoje na Guarda que os socialistas vão votar a favor da moção de censura anunciada pelo Partido Ecologista "Os Verdes".

A moção de censura d' "os Verdes" foi anunciada na sexta-feira e deverá ser apresentada na segunda-feira, de modo a ser discutida e votada na quinta-feira na Assembleia da República.

ASR/SMA // SMA – Lusa

PS disponível para reunir com PSD e CDS a partir das 16h00

Notícias ao Minuto

Segundo uma nota publicada no site do partido socialista, "o secretário-geral do PS transmitiu ao Presidente da República a disponibilidade imediata do PS para iniciar o processo de diálogo com vista ao compromisso de salvação nacional", expressando ainda estar disponível para reunir a partir das 16h00 deste domingo.

O líder ‘rosa’, António José Seguro, deu conta, ontem à noite, ao Presidente da República, Cavaco Silva, da “disponibilidade imediata do PS para iniciar o processo de diálogo com vista ao compromisso de salvação nacional, assente nos três pilares propostos”, pode ler-se numa nota publicada no site do partido socialista.

No mesmo comunicado, indicado “Alberto Martins para chefiar a delegação do PS”, bem com expressa “a disponibilidade [do partido] para reunir a partir das 16h00 de dia 14 de Julho, com todos os partidos políticos que concordem com os três pilares propostos pelo Presidente da República, incluindo a realização de eleições antecipadas em Junho de 2014”.

Não obstante, os socialistas reiteram “a defesa de que todos os partidos políticos com representação parlamentar deveriam ser convidados a participar”, sendo ainda acrescentado que “a indicação do representante do PS só foi transmitida ao Presidente da República, depois de conhecidas as declarações públicas de Jerónimo de Sousa e de João Semedo de auto-exclusão dos seus respectivos partidos do processo de diálogo”.

Brasil – CONTRA AS TRAMOIAS DA DIREITA: SUSTENTAR A DILMA ROUSSEF




Se não podemos nos privar de críticas ao governo do PT, mas críticas construtivas, também não podemos ingenuamente permitir que as transformações politico-sociais alcançadas nos últimos 10 anos sejam desmoralizadas e, se puderem, desmontadas pelas elites conservadoras.

Leonardo Boff – Carta Maior

É notório que a direita brasileira, especialmente aquela articulação de forças que sempre ocupou o poder de Estado e o tratou como propriedade privada (patrimonialismo), apoiada pela midia privada e familiar, está se aproveitando das manifestações massivas nas ruas para manipular esta energia a seu favor. A estratégia é fazer sangrar mais e mais a presidenta Dilma e desmoralizar o PT, e assim criar uma atmosfera que lhe permite voltar ao lugar que por via democrática perderam. 

Se por um lado não podemos nos privar de críticas ao governo do PT (e voltaremos ao tema), mas críticas construtivas, por outro, não podemos ingenuamente permitir que as transformações politico-sociais alcançadas nos últimos 10 anos sejam desmoralizadas e, se puderem, desmontadas por parte das elites conservadoras. Estas visam ganhar o imaginário dos manifestantes para a sua causa, que é inimiga de uma democracia participativa de cariz popular. 

Seria grande irresponsabilidade, e vergonhosa traição de nossa parte, entregar à velha e apodrecida classe política aquilo que por dezenas de anos temos construido, com tantas oposições: um novo sujeito histórico, o PT e partidos populares. Esta classe se mostra agora feliz com a possibilidade de atuar sem máscara e mostrando suas intenções antes ocultas: finalmente temos chance de voltar e de colocar esse povo todo que reclama reformas, no lugar que sempre lhe competiu historicamente: na periferia, na ignorância e no silenciamento. Aí não incomodam nem criam caos na ordem que por séculos construimos mas que, se bem olhrmos, é ordem na desordem ético-social. 

Esta pretensão se liga a algo anterior e que fez história. É sabido que com a vitória do capitalismo sobre o socialismo estatal do Leste europeu em 1989, o presidente Reagan e a primeira-ministra Tatcher inauguraram uma campanha mundial de desmoralização do Estado tido como ineficiente e da política como empecilho aos negócios das grandes corporações globalizadas e à lógica da acumulação capitalista. Com isso visava-se chegar ao Estado mínimo, debilitar a sociedade civil e abrir amplo espaço às privatizações e ao domínio do mercado, até conseguir a passagem de uma sociedade com mercado para uma sociedade de puro mercado no qual tudo, mas tudo mesmo, da religião ao sexo, vira mercadoria. E conseguiram. O Brasil sob a hegemonia do PSDB se alinhou ao que se achava o marco mais moderno e eficaz da política mundial. Protagonizou vasta privatização de bens públicos, que foram maléficos ao interesse geral. 

Que isso foi uma desgraça mundial se comprova pelo fosso abissal que se estabeleceu entre os poucos que dominam os capitais e as finanças e a grandes maiorias da humanidade. Sacrifica-se um povo inteiro como a Grécia, sem qualquer consideração, no altar do mercado e da voracidade dos bancos. 

A crise econômico-financeira de 2008, instaurada no coração dos países centrais que inventaram esta perversidade social, foi consequência deste tipo de opção política. Foram os Estados que tanto combateram que os salvaram da completa falência, produzida por suas medidas montadas sobre a mentira e a ganância (greed is good), como não se cansa de acusar o Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman. Para ele, estes corifeus das finanças especulativas deveriam estar todos na cadeia como criminosos. Mas continuam aí faceiros e rindo. 

Então, se devemos criticar a nossa classe política por ser corrupta e o Estado por ser ainda, em grande parte, refém da macroeconomia neoliberal, devemos fazê-lo com critério e senso de medida. Caso contrário, levamos água ao moinho da direita. Esta se aproveita desta crítica, não para melhorar a sociedade em benefício do povo que grita na rua, mas para resgastar seu antigo poder político, especialmente aquele ligado ao poder de Estado, a partir do qual garantiam seu enriquecimento fácil. Especialmente, a mídia privada e familiar, cujos nomes não precisam ser citados, está empenhada fevorosamente neste empreitada de volta ao velho status quo. 

Por isso, as massas devem continuar na rua contra elas. Precisam estar atentas a esta infiltração, que visa mudar o rumo das manifestações. Elas invocam a segurança pública e a ordem a ser estabelecida. Quem sabe, até sonham com a volta do braço armado para limpar as ruas. 

Daí, repetimos, cabe reforçar o governo de Dilma, cobrar-lhe, sim, reformas políticas profundas, evitar a histórica conciliação entre as forças em tensão e a oposição para, juntas novamente, esvaziarem o clamor das ruas e manterem um status quo que prolongue benefíciois compartilhados. 

Inteligentemente, sugeriu o analista político Jeferson Miola em Carta Maior (07/7/2013): ”Há uma grave urgência política no ar. A disputa real que se trava neste momento é pelo destino da sétima economia mundial e pelo direcionamento de suas fantásticas riquezas para a orgia financeira neoliberal. Os atores da direita estão bem posicionados institucionalmente e politicamente… A possibilidade de reversão das tendências está nas ruas, se soubermos canalizar sua enorme energia mobilizadora. Por que não instalar em todas as cidades do país aulas públicas, espaços de deliberação pública e de participação direta para construir com o povo propostas sobre a realidade nacional, o plebiscito, o sistema político, a taxação das grandes fortunas e do capital, a progressividade tributária, a pluralidade dos meios de comunicação, aborto, união homoafetiva, sustentabilidade social, ambiental e cultural, reforma urbana, reforma republicana do Estado e tantas outras demandas históricas do povo brasileiro, para assim apoiar e influir nas políticas do governo Dilma?" 

Desta forma se enfrentarão as articulações da direita, e se poderá com mais força reclamar reformas políticas de base que vão na direção de atender a infraestrutura reclamada pelo povo nas ruas: melhor educação, melhores hospitais públicos, melhor transporte coletivo e menos violência na cidade e no campo.

Leonardo Boff é teólogo e escritor

Brasil: Filme 'Xingu' pode contribuir para diminuir preconceito contra indígenas





O filme brasileiro "Xingu - A Expedição", a ser lançado em Portugal a 18 de julho, pode servir para diminuir o brutal preconceito e ignorância que ainda paira sobre a cultura das civilizações indígenas, disse hoje o realizador, Cao Hamburger.

"Resgatar a incrível aventura dos irmãos Villas-Boas, pode servir para diminuir o brutal preconceito e ignorância que paira sobre a cultura das civilizações indígenas", declarou à Lusa o realizador brasileiro.

O filme, que já estreou no Brasil em abril de 2012, relata o percurso de três irmãos, Orlando, Cláudio e Leonardo Villas-Boas, que se tornaram grandes defensores das causas indígenas no Brasil e foram os idealizadores da primeira reserva indígena oficial do país, criada em 1961.

Os irmãos Villas-Boas alistaram-se em 1944 na expedição Roncador-Xingu, organizada pelo Governo brasileiro para explorar as terras desconhecidas do centro do Brasil.

O que começou como uma aventura para os três jovens, que acabaram por conhecer a realidade indígena, tornou-se na sua missão de vida: proteger os índios brasileiros.

"O filme resgata este esforço dos irmãos Villas-Boas pela criação de uma reserva indígena, que se concretizou com o Parque Indígena do Xingu", sublinhou o realizador, valorizando toda a obra realizada pelos Villas-Boas.

Cao Hamburger afirmou, entretanto, que nos últimos anos o tratamento dado às questões indígenas pelo Governo brasileiro sofreu "um retrocesso gigantesco".

"O desenvolvimento antiquado e retrógrado que está a ser implantado não tem inteligência suficiente para entender as novas ideias e demandas do século 21", declarou Hamburger.

"Só conseguem ver os povos indígenas como um entrave ao progresso e não como um aliado ao que poderia ser o novo paradigma de progresso no século 21. Um progresso que leva em consideração que a relação da sociedade com o planeta deve ser civilizada", argumentou ainda.

Atualmente, vivem mais de cinco mil índios na área do Parque Indígena do Xingu - que se localiza no norte do Estado de Mato Grosso, com cerca de 30 mil quilómetros quadrados - de catorze etnias diferentes pertencentes aos quatro grandes troncos linguísticos indígenas: caribe, aruaque, tupi e macro-jê.

Segundo a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) existem somente 817 mil indígenas no Brasil, representando 0,4% da população de quase 200 milhões.

Muitas tribos brasileiras ainda não têm as suas reservas oficializadas e mesmo aquelas que possuem os seus territórios demarcados são sistematicamente ameaçadas por fazendeiros, garimpeiros e empresas de madeira.

Várias tribos sentem-se ameaçadas também pelas construções de hidroelétricas nos rios brasileiros, como Belo Monte, no Pará, uma obra governamental.

Hamburger tem a esperança que "as pessoas vejam a civilização indígena, a sua rica cultura e filosofia, como parte importante da cultura brasileira".

"Massacrada e desprezada por séculos, podem vir a ser uma importante fonte de conhecimento para o presente e para o futuro da humanidade", referiu ainda.

"O produtor do filme, Fernando Meireles (realizador do filme Cidade de Deus) foi quem me sugeriu fazer o filme", sublinhou Hamburger.

De acordo com o realizador, Meirelles recebeu de Noel Villas-Boas, filho do Orlando Villas-Boas, dois livros e a sugestão de fazer o filme sobre a história do pai e dos tios.

"Eu conhecia pouco da história, mas quando comecei a estudar e a conhecer melhor os personagens e o universo dos índios brasileiros, apaixonei-me irremediavelmente pelo projeto", afirmou.

Para Cao Hamburger, a realização do filme "foi uma experiência muito forte".

"Todos que se envolveram nessa aventura transformaram-se. Para mim, o grande choque foi a primeira vez que fui às aldeias do Xingu, ainda para a pesquisa", disse.

"Lá, eu entendi os irmãos Villas-Boas. Entendi a grandiosidade da sua obra (...)", acrescentou.

O filme foi rodado no Parque Indígena do Xingu e no estado do Tocantins, sendo que muitas pessoas de diferentes tribos indígenas participaram do filme, entre as quais, os Kuiukuro, Wialapiti, Wauras, Kaiabis.

Os atores brasileiros Felipe Camargo, Caio Blat e João Miguel representam no filme os três irmãos Villas-Boas.

A película já foi apresentada nos festivais de cinema de Berlim, na Alemanha, e Tribeca, nos Estados Unidos.

Angola - Cazenga Rodrigues: "Professores mortos são promovidos" na Lunda Norte



Voz da América, em Angola Fala Só

Professores que já morreram continuam nas listas de salários e são promovidos sendo os seus salários desviados para “os bolsos de alguém”, disse Cazenga Rodrigues, Secretário-geral do Sindicato Nacional de Professores na Lunda Norte.

Rodrigues falava numa animada edição do programa “Angola Fala Só” em que a greve de professores naquela província foi o tópico de discussão.

A greve dura há quase dois meses sem sinal de solução mas o sindicalista confirmou que o governo provincial começou a “desactivar” os professores grevistas.

O número de professores despedidos ascende assim já a 485 disse Rodrigues que disse que o sindicato está agora a estudar as medidas que pode tomar contra essa acção que considera de ilegal.

O sindicato, disse, “vai a tribunal para ver se o governo” tem autoridade para tal media pois, acrescentou, professores só podem ser despedidos após um processo disciplinar que não foi instaurado.

Só o ministério ou um tribunal pode despedir professore e não o governador provincial, acrescentou Rodrigues.

Por seu turno o próprio SINPROF a nível nacional reunido no Kwanza Sul.

O ouvinte Paulo Dinis do Uíge insurgiu-se contra a atitude do governador fazendo notar que o direito à greve faz parte dos direitos dos angolanos e que   “o governador não está acima da lei”.

O Ouvinte Roque Ngolo da Lunda Norte disse que os professores são “os combatentes da linha da frente” na luta pelo futuro de Angola e por isso “têm que estar cientes de que podem exercer a sua profissão em paz”.

O sindicalista Cazenga Rodrigues disse que apesar das ameaças do governo a “totalidade” do ensino primário continua paralisado enquanto as aulas do secundo ciclo acontecem “aos soluços”.

Para Rodrigues os professores que têm ido ensinar são “medrosos” e são “ameaçados pelos directores”.

“Nós os dirigentes sindicalistas há dois meses que não temos salários mas continuamos firmes,” disse.

O sindicalista disse que até agora não deparou com alguma reacção negativa por parte de familiares dos alunos e que pelo contrário tem havido apoio á acção dos professores.

Cazenga Rodrigues descreveu a situação educacional na província como “péssima” afirmando que a reforma educacional do governo tinha sido “precipitada”.

Qualquer reforma, disse, tinha que ouvir as partes envolvidas na educação e não “ser feita em segredo”.

Professores estão a dar aulas em salas com mais de 100 alunos pelo que é impossível “fazer uma avaliação”.

Interrogado pelo ouvinte Estevão Kachipopa do Kuanza Sul sobre a questão das passagens automáticas, Cazenga disse opor-se a isso.

“os professores têm que saber se o aluno sabe ou não e tem que haver disciplina,” disse.

“Estamos a formar analfabetos,” acrescentou Cazenga que disse ainda que as autoridades ignoram os resultados dos concursos públicos para postos na educação para darem emprego aqueles que querem.

Cazenga negou no entanto que na Lunda Norte houvesse discriminação em termos partidários

Interrogado sobre se durante estes anos de paz o governo tem investido em infra-estruturas escolares, o sindicalista disse  que “está-se a construir mas pouco.

Para além disso continua a construir-se escolas com poucas salas de aula quando são precisas escolas com pelo menos 10 salas de aulas”.

Interrogado pelo ouvinte André Muteka do Namibe sobre o problema  de “professores fantasmas” ou seja nomes de professores que continuam na lista dos assalariados afirmou que “isso é um problema sério que existe”.

“Há falecidos a quem continuam a ser pagos salários e alguns deles até são promovidos,” disse acrescentando que os salários desses “fantasmas” são desviados.

O sindicalista descreveu de “pura mentira” a alegação do governo provincial de que os partidos da oposição Unita, CASA CE e PRS estavam por detrás da greve.

“Não sou de nenhum desses partidos, sou do MPLA mas sou acima de tudo sindicalista,” disse afirmando que o seu sindicato não faz qualquer tipo de discriminação.

O ouvinte Bernardo Augusto  do Namibe, o último a entrar em linha, mostrou-se indignado com esta revelação.

“Você diz que é do MPLA? Então peça ao governo para resolver a questão,” disse.


MÚSICO ANGOLANO DIONÍSIO ROCHA COMEMORA 60 ANOS DE CARREIRA




Pedro Dias – Voz da América

O seu último disco pretende ser uma homenagem à mulher angolana

Na comemoração de seis décadas de carreira, Dionísio Rocha colocou no mercado discográfico a sua mais recente obra intitulada “ Mulher Angolana”, uma homenagem a todas as mulheres angolanas.

O disco tem doze faixas musicais cantadas em português e Kimbundu. Temas como “Mulher Angolana”, “ Eu Quero o Mar”, “Eye Ne”, “Aprukutu” entre outros.

O músico angolano considera que “ foi um trabalho em que tentamos imprimir mais qualidade, a nível dos arranjos e da actualização instrumental”.

Dionísio Rocha adianta que “hoje a juventude quer um semba com vida e neste sentido, a opção pela produção de Eduardo Paim, julgo ter sido a melhor. Ele representa com a sua longa experiência, a modernidade estética, e eu a interpretação da tradição do semba”.

Treze anos depois do lançamento do CD “Luandos ao Luar”, eis que Dionísio Rocha oferece aos amantes da música angolana “Mulher Angolana” para comemorar os sessenta anos de carreira.


BANA ETERNO POR QUEM TODOS CHORAM E PRESTAM HOMENAGEM




Bana “será eterno com a sua obra” – Ana Firmino

A Semana (cv)

Ana Firmino, artistande S. Vicente que cantou muitas vezes com Bana no Monte Cara, considerou que o cantor, cujo féretro estará hoje em câmara ardente, na Igreja da Sagrada Família, em Benfica “será eterno com a sua obra”.

A cantora cabo-verdiana conheceu Bana quando foi, “ainda miúda” para Lisboa.” Depois, acompanhei Bana desde sempre”, assevera.

Ana Firmino que, após a morte de Bana foi prestar apoio à sua família, vê com tristeza a perda física, mas não para a cultura cabo-verdiana que fica com a obra do “Rei da Morna”.

Bana, que faleceu na madrugada de sábado aos 81 anos, estará em câmara ardente, a partir das 13h00 de hoje, na Igreja da Sagrada Familia, em Benfica, sendo o seu funeral segunda-feira, com cremação do corpo no Alto de S.João em Lisboa. (OL)

PR representará Cabo Verde nas cerimónias fúnebres do Bana

A Semana (cv)

O Presidente da República e Comandante Supremo das Forças Armadas de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, vai representar o Estado de Cabo Verde nas cerimónias fúnebres de Adriano "Bana" Gonçalves, que acontece na Segunda-feira, 15 em Lisboa. O Chefe de Estado será acompanhado pela Ministra das Comunidades, Fernanda Fernandes e pelo Ministro da Cultura, Mário Lúcio Sousa.

*Título PG


Agentes da polícia de Cabo Verde detidos em Bissau por suspeita de espionagem



A Semana (cv)

Dois agentes da Polícia Nacional afectos ao Serviço de Emigração e Fronteira, que acompanhavam um grupo de deportados da Guiné Bissau, foram detidos pelas autoridades daquele país por suspeita de espionagem, confirmou à RCV o Primeiro-ministro, José Maria Neves.

A detenção terá acontecido na terça-feira, 9. Os dois agentes acompanhavam um grupo de deportados bissauguineense. O chefe do executivo recusa, no entanto, a confirmar a posicionar sobre esta detenção, alegando que o processo é ainda confuso.

“Não temos todos os elementos que nos permitem pronunciar claramente sobre esta matéria. Estamos a fazer a recolha de informações e os contactos necessários para tomar uma posição definitiva sobre a matéria e solicitar que medidas sejam tomadas no sentido de garantir o respeito escrupuloso dos direitos dos agentes”, revelou José Maria Neves.

O PM garantiu ainda que os dois agentes deslocaram em missão de serviço, sem precisar o que foram fazer naquele país. “Foram em uma missão normal de serviço que tem a ver com um melhor desempenho dos agentes de Fronteiras. Trata-se de uma deslocação de rotina que a PN vem fazendo não só a Guiné Bissau, mas a outros países”, limitou a dizer.

Confrontado com o facto dos agentes estarem em missão de espionagem, conforme deixam entender as autoridades da Guiné Bissau, JMN recusou a entrar em detalhes. Aproveitou no entanto para esclarecer ou mandar um recado ao afirmar que Cabo Verde não possui serviço de espionagem e nem interesse para espiar nenhum país.

Entre os agentes da PN em Cabo Verde, não restam dúvidas de que esta detenção é uma retaliação da Guiné Bissau à detenção no mar do arquipélago de Bubo na Tchuto por militares dos EUA, que desde sempre atribuíram responsabilidades às autoridades nacionais e, inclusive, lançaram suspeitas sobre a participação de agentes de Cabo Verde na captura.

Portugal-Guerra colonial: as histórias dos filhos que os portugueses deixaram na Guiné-Bissau



Público

No tempo da guerra colonial havia quem lhes chamasse "portugueses suaves", agora, há entre os ex-combatentes quem prefira "filhos do vento". Eles têm apenas um sonho: conhecer o pai.

Quando o pai só aparece nos sonhos

Quarenta ou quase cinquenta anos depois de terem nascido, eles ainda continuam a sonhar encontrar o pai. São muitas histórias e raros os encontros com final feliz. Para alguns, pai só nos sonhos, como nos mostram os enviados especiais do PÚBLICO à Guiné-Bissau, Catarina Gomes, Manuel Roberto e Ricardo Rezende.

"Restos de tuga"

O segredo da mães e a discriminação na infância. Há quem chame Filhos do Vento a estes filhos de ex-combatentes portugueses com mães guineenses que tiveram as suas vidas marcadas pelo preconceito. Em criança, chegavam a ser chamados "restos de tuga".

"Eu tenho sangue de português, sou português”

Como provar que são portugueses se não têm o nome do pai no BI ? A luta dos filhos de ex-combatentes que lutaram na Guiné para provar quem são e o sentimento de frustração por não terem a nacionalidade portuguesa. 


Filho do Presidente da Guiné-Equatorial suspeito de lavagem de dinheiro no Brasil




ANA DIAS CORDEIRO  - Público – 08.07.2013 - 16:06

Imprensa brasileira diz que Teodoro Nguema Obiang é suspeito no Brasil de crime de que já foi acusado em França.

Teodoro Nguema Obiang Mangue é filho do Presidente da Guiné-Equatorial, segundo vice-presidente do país e responsável pelas áreas da Defesa e Segurança desde 2012. É apontado como provável sucessor do pai, Teodoro Nguema Obiang Mbasogo, quando este decidir retirar-se, depois de ter tomado a Presidência pela força desde 1979, num país onde as eleições têm desde então servido para perpetuar o seu poder em Malabo.

Com 42 anos, Obiang Mangue tem sido notícia de jornais, não tanto por ser quem melhor se posiciona para liderar a antiga colónia espanhola, independente desde 1968, que agora quer aderir como membro de pleno direito à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), mas pelas sucessivas acusações de desvios de fundos públicos e suspeitas de corrupção e branqueamento de capitais de que é alvo. E pela exorbitância do valor da dezena de carros, mansões, incluindo em Malibu e em Paris, objectos de coleccionador (como alguns adquiridos em leilões da venda de objectos de Michael Jackson) ou quadros de pintores, como Renoir, Gauguin e Degas, entre outros, que, na última década, foi comprando em vários países: França, Estados Unidos e agora Brasil.

As autoridades de Malabo reagem dizendo que Obiang Mangue beneficia de uma imunidade que o cargo de vice-presidente lhe confere, como antes lhe conferia o cargo de ministro da Agricultura e das Florestas. O próprio diz que fez essas aquisições, sucessivamente vindas a público, com a sua fortuna pessoal.

Segundo a edição online deste domingo do jornal Folha de São Paulo,Teodoro Obiang Mangue, conhecido por Teodorin, será suspeito de lavagem de dinheiro, através da compra de uma casa no Brasil, país que tem sido, dentro da CPLP, um dos que mais têm apoiado a entrada da Guiné-Equatorial como membro de pleno direito na organização de Estados lusófonos – onde já foi admitido com o estatuto de observador.

A lei brasileira sobre lavagem de dinheiro exige que seja apurado o crime que originou o dinheiro usado, escreve o Folha de São Paulo, citando especialistas que dizem que será, por isso, difícil processar o filho do Presidente da Guiné-Equatorial no Brasil pelo crime de que ele será suspeito de acordo com um documento do Departamento de Justiça norte-americano obtido pelo jornal.

Mandado de captura em França

No mês passado, foi confirmada por um tribunal de recurso em França a decisão judicial francesa de 2012 de emitir um mandado de captura contra Obiang Mangue. Na altura, o seu advogado Emmanuel Marsigny qualificou a notícia como “um não acontecimento”, alegando a imunidade decorrente do seu cargo. “Um tal mandado será nulo devido ao estatuto de Obiang e é um não acontecimento”, disse à AFP.

O processo começou no âmbito de uma queixa mais vasta de organizações não-governamentais como a Transparency International, que investiga a corrupção no mundo, contra os líderes de três países africanos: Congo-Brazzaville e Gabão, além da Guiné-Equatorial.

Mas as suspeitas e acusações contra Obiang Mangue também têm seguido o seu curso nos Estados Unidos, onde o Departamento de Justiça norte-americano iniciou um processo para congelar 700 milhões de dólares (cerca de 550 milhões de euros) pertencentes a Obiang Mangue. O processo foi interposto em 2011 pelo próprio Governo dos EUA que acredita que o dinheiro, detido em contas pessoais, provém dos cofres do Estado e de actos “de corrupção e lavagem de dinheiro”, lê-se na página do Departamento da Justiça norte-americano.

Na mesma declaração, o Departamento da Justiça norte-americano nota a desproporção entre o salário anual de cerca de 100 mil dólares (cerca de 80 mil euros) que Obiang auferia no Governo, enquanto ministro da Agricultura, e os mais de 100 milhões de dólares (cerca de 80 milhões de euros) que acumulou “num período em que ele e figuras do seu círculo mais próximo ocupavam cargos de poder político e económico e eram os beneficiários quase exclusivos da extracção e venda de recursos naturais”.

Oposição sem margem

A Guiné-Equatorial é um dos principais produtores de petróleo do continente africano. Mas a maioria da sua população continua a viver com menos de um dólar por dia. Isso mesmo tem sido denunciado por membros da oposição a viver no exílio. Dentro da Guiné-Equatorial, são perseguidos e muitas vezes presos sem culpa formada, e têm pouca margem para exercer o estatuto de opositores.

Em Maio, o Partido Democrático da Guiné-Equatorial (PDGE) venceu as eleições locais e parlamentares “com maioria absoluta em todas as circunscrições” eleitorais, segundo um comunicado presidencial. O partido opositor Convergência para a Democracia Social (CPDS) elegeu apenas um deputado, um senador e cinco vereadores.

DEZ ANOS DEPOIS, UM DOMÍNIO AINDA MAIS AVASSALADOR!



Martinho Júnior, Luanda

1 – Há dez anos, mais precisamente a 15 de Março de 2001, ainda não escrevia para um blog na Internet, escrevia para um “pasquim”, (há quem goste de chamar assim aos jornais privados de fim-de-semana publicados em Luanda), o desaparecido semanário ACTUAL, e abordei o assunto das escutas globais às comunicações alertando para “O dealbar da IIª Guerra Fria”…

O que escrevi então ainda está efectivamente actual e pode comprovar-se pelas revelações do Wikileaks e agora de Edward Snowden…

Republicarei agora essas minhas intervenções para o Página Global, lembrando uma época em que se aprimorava o Echelon (uma das bases e suportes da espionagem do National Security Agency) e numa altura em que na ONU, ao apresentar-se a candidatura de Angola a membro não permanente do Conselho de Segurança, a espionagem pôde avaliar antecipadamente as intenções de voto e qual seriam os propósitos de Angola.

Tratar deles é uma prova de cidadania consciente e vital!

2 – Quando se abordava esse tema, aparecia sempre alguém que, como sacerdote do templo avisava: “mais uma teoria da conspiração”!

Esquecia-se que pelo menos da minha parte procurei sempre fundamentar os meus escritos que por vezes têm mais valor no que busco e incansavelmente junto, do que na própria produção!

É justo que relembre e dê a conhecer, pela actualidade das preocupações de todos nós os que fazemos parte daqueles 99% da humanidade que se inscrevem na lógica com sentido da vida, pelo facto de sublinhar que as esquerdas dispersas depois do final da Guerra Fria, mas relativamente actuantes, por vezes adormecem e deixam determinados temas como este para trás, quando eles deveriam estar sempre presentes em cima da mesa: fazem parte do diagnóstico quotidiano da lógica capitalista, do império e da sua hegemonia fascizante!

3 – Os países latino americanos, pela sua afirmação (e também em alguns casos manifestos pela sua renúncia a este tipo de abordagens), têm sido dos poucos a manter uma constante atenção sobre a espionagem norte americana ao longo dos tempos, pois sabem, melhor que ninguém, o que essa espionagem significa na história comum e nas histórias de cada um deles: da Colômbia, do Chile, do Peru, das Honduras, do Paraguai, do Brasil, da Venezuela, da Argentina, da Nicarágua,… de Cuba!

A espionagem norte americana nos termos em que ela se exerce, é para eles, ciosos de integração e soberania dos seus povos, parte duma vasta operação de ingerência que sem interrupção deu seguimento à Operação Condor!

O mérito de Evo Morales face ao acto de pirataria e sequestro instrumentalizado contra si, merece pois todo o nosso imenso respeito, por que é a dignidade dos povos que foi balanceada uma vez mais e ele honrou os 99% da humanidade, honrando a longa história de resistência à lógica capitalista na América e no Mundo.

A oferta de asilo a Edward Snowden por parte de alguns dos integrantes da ALBA, Bolívia incluída, dá seguimento ao seu argumento e responde em nome dos povos da América Latina e de todo o mundo à hegemonia!

4 – Na Europa esqueceram-se deliberadamente os ensinamentos da Operação Gladio não só por que seus governos passaram a ser os representantes do capital, mergulhando nas suas elites e oprimindo os povos, mas também por que o caminho de suas “democracias representativas” de fachada (a Europa Mediterrânea vai-se transformando cada vez mais num conjunto de colónias do capital financeiro), determinam que os agentes da hegemonia sejam instalados, polvilhando as suas instituições… tirando partido das hibernações “stay behind”!

Isso acontece na política, na banca e na comunicação de massas, sectores que, por exemplo definem o campo de manobra do Bilderberg (e em Portugal as conotações de Francisco Pinto Balsemão, representante do Bilderberg)!

A “indignação” dos seus dirigentes é muito mais aparente do que real, pois em território da União Europeia estão de há muito implantadas, por exemplo, as antenas do Echelon!...

A espionagem UKUSA-ECHELON-NSA está implantada na Europa de há longas décadas e isso explica uma das razões do modelo da própria presença do Reino Unido na União Europeia, que nos seus termos tem o privilégio de ser um caso único, com um pacote de originalidades e excepções de vária ordem, inclusive nas comunicações…

5 – Angola fez constar que apresentará, dez anos depois, nova candidatura a membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU!

A espionagem norte americana continuará a sua saga, agora de forma mais sofisticada que antes, defendendo os interesses da aristocracia financeira mundial, dos 1% que dominam as corporações multi nacionais, os bancos, as moedas “fortes” que servem de padrão global…
Uma parte das elites angolanas estão já subservientes desses 1%, mas isso não impedirá que a saga continue:

Como todas as outras delegações na ONU, a de Angola merecerá a sua atenção por parte da NSA!

Para cada um será a sua dose, em resultado dos interesses que dão lucro, por que foi assim que foi construído o império e é assim que ele cultiva a sua hegemonia unipolar!

6 – A independência de Angola contudo, provavelmente tanto quanto a heroicidade do movimento de libertação em África, deve-se a uma conjugação única de factores que resultaram num momento democrático como poucos nos Estados Unidos da América: naquela altura a sociedade norte americana erguia-se contra a guerra do Vietname e condicionou o poder, um poder que tinha em personalidades como Henry Kissinger (um assíduo do Bilderberg e da Trilateral) a sua mão opressiva forte e sempre pronta para as tensões, para os golpes de estado sangrentos, para as ditaduras e para as guerras!

Henry Kissinger viria a perder por causa dessa condicionante que na altura assumiu aspectos globais, a sua guerra contra Angola a 11 de Novembro de 1975!

A esquadra norte americana, que teria o porta-aviões USS Independence como navio-almirante num desembarque que não pôde acontecer em reforço da testa-de-ponte da CIA, com o operacional John Stockwell à cabeça (ele chegou pelo menos até ao Ambriz), não teve viabilidade…

Nos anos setenta do século passado (e lembro-o para que em Angola também não se esqueça), foram publicados os “Pentagon Papers”, que constituíram uma pequena bíblia das denúncias contra a guerra do Vietname.

Muito recentemente o “site” do “Democracy Now” lembrou-os como um antecedente, algo precioso a favor do heroísmo de Edward Snowden:

“Forty-one years ago, Beacon Press lost a Supreme Court case brought against it by the U.S. government for publishing the first full edition of the Pentagon Papers. It is now well known how The New York Times first published excerpts of the top-secret documents in June 1971, but less well known is how the Beacon Press, a small nonprofit publisher affiliated with the Unitarian Universalist Association, came to publish the complete 7,000 pages that exposed the true history of U.S. involvement in Vietnam.

Their publication led the Beacon press into a spiral of two-and-a-half years of harassment, intimidation, near bankruptcy and the possibility of criminal prosecution. This is a story that has rarely been told in its entirety.

In 2007, Amy Goodman moderated an event at the Unitarian Universalist conference in Portland, Oregon, commemorating the publication of the Pentagon Papers and its relevance today.

Today, we hear the story from three men at the center of the storm: former Pentagon and RAND Corporation analyst, famed whistleblower, Daniel Ellsberg, who leaked the Pentagon Papers to The New York Times; former Alaskan senator and presidential candidate Mike Gravel, who tells the dramatic story of how he entered the Pentagon Papers into the congressional record and got them to the Beacon Press; finally, Robert West, the former president of the Unitarian Universalist Association.

We begin with Ellsberg, who Henry Kissinger once described as the world’s most dangerous man."

A coragem daqueles que tornaram possível o movimento de libertação em África, o levantamento do povo dos Estados Unidos contra a guerra, a coragem do povo do Vietname, a posição de princípio assumida pelo então bloco socialista, o internacionalismo resoluto da Revolução Cubana e homens de consciência que enfrentaram o monstro desde as suas entranhas, naquele momento tornaram possível o sonho da liberdade face ao colonialismo e ao “apartheid”!

Foi assim a 11 de Novembro de 1975, confesso que o vivi e continuo ainda assim a vivê-lo como patriota e cidadão do mundo, na lógica com sentido de vida, por que a vontade de construir a paz passa por aqui!

Algo de novo e com implicações geopolíticas incomensuráveis, está a nascer na consciência dos povos, em função das sucessivas revelações que serviço de inteligência algum poderá suster!

Gravura: As “colecções” do PRISM segundo Edward Snowden.

A consultar:
. How the Pentagon Papers Came to be Published By the Beacon Press Told by Daniel Ellsberg & Others – http://www.democracynow.org/2013/7/4/how_the_pentagon_papers_came_to
. UKUSA agreement release – NSA – http://www.nsa.gov/public_info/declass/ukusa.shtml
. Tratado de Segurança – http://en.wikipedia.org/wiki/UKUSA_Agreement
. ECHELON – ESPIONAGEM TOTAL – http://www.fimdostempos.net/echelon.html
. How US spies on us all –
. How the Pentagon Papers Came to be Published By the Beacon Press Told by Daniel Ellsberg & Others – http://www.democracynow.org/2013/7/4/how_the_pentagon_papers_came_to
. Chikoti solicitou o apoio da Rússia à candidatura de Angola a membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas - http://tudoparaminhacuba.wordpress.com/2013/06/24/chikoti-solicitou-o-apoio-da-russia-a-candidatura-de-angola-a-membro-nao-permanente-do-conselho-de-seguranca-das-nacoes-unidas-onu-conselhodeseguranca/

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