quinta-feira, 12 de setembro de 2013

COLAPSO NA ESTRATÉGIA DO PETRÓLEO EM ANGOLA

 

Martinho Júnior, Luanda

1 – Na década de 90 do século passado, alguns técnicos superiores e assessores da área dos petróleos de Angola (alguns pertencentes mesmo à SONANGOL) alertaram para a necessidade de se constituírem reservas de bruto de forma a melhor Angola poder enfrentar as vicissitudes internacionais.

Ao contrário desses técnicos e assessores angolanos patriotas previdentes e de horizontes rasgados, técnicos e assessores de outras origens, alguns deles a coberto de companhias como a DELOITE, ou a KPMG, ou das multinacionais “parceiras”, ou ainda os técnicos nacionais da própria SONANGOL, aproveitando os processos da globalização que estão em curso, fizeram tudo para que essa recomendação de ordem estratégica fosse deliberadamente “esquecida”!

Neste caso concreto, as gerações que viveram no tempo das guerras, assumiram duma forma ou de outra o seu compromisso minimamente nacionalista, muito embora infrutífero, mas as gerações que se lhes seguiram não deram continuidade a essas preocupações, quiçá por que já foram engolidas pela onda que chegou de fora, conforme o capitalismo de choque denunciado com propriedade por Naomi Klein!...

Um dos assessores-residentes que flui a contento desses interesses é o compatriota de Naomi que dá pelo nome de Taiko Koenig, ligado ao clube “Viking”…

Aparentemente também um administrador ao nível de Manuel Vicente, actual Vice Presidente da República, foi tocado pelo vírus desse “esquecimento” estratégico e não terá dado a seu tempo passo algum no sentido de Angola se poder melhor prevenir, criando reservatórios estratégicos ao nível dos interesses e das necessidades do país, acautelando o futuro!

2 – Os resultados não podem ser piores: já têm havido situações que Angola vende o seu petróleo a preços muito inferiores aos praticados nas Bolsas por imposição daqueles que compram, bem informados da situação de ausência de reservas físicas estratégicas em Angola e das insuficiências, por vezes gritantes, do seu sistema (?) financeiro, em alguns casos votado ao esbanjamento, ou mesmo correndo riscos elevados!...

Se por exemplo se consultarem as listas dos 1.000 maiores bancos comerciais de África, verificar-se-á que nenhum deles é angolano!

Se esses interesses o sabem, não vejo razão alguma, na qualidade de patriota e de antigo combatente, de ser cúmplice desses deliberados “esquecimentos”!

Segundo consta Angola possui apenas as embarcações exploradas pela SONASHIP que eventualmente se tornam reservatórios temporários do bruto, um processo expedito manifestamente irrisório perante os quesitos e as necessidades de ordem corrente e estratégica!

Essa ausência de estruturas capazes de garantir reservas importantes para o país é agravada pelo facto de que alguns peritos conhecedores da situação avaliarem que o nível de produção do crude em Angola só seja sustentável durante os próximos 20 anos, com um declínio acentuado a partir da década de 30 do presente século.

3 – Este é um tema que qualquer oposição bem avisada se deveria preocupar em levantar, mas os flamantes “angolanos”, efectivamente também a reboque dos interesses e das conveniências que vêm de fora, comportam-se como agentes desses interesses e fazem o mesmo que os assessores e os técnicos da DELOITE, ou da KPMG, ou das multinacionais petrolíferas presentes em território angolano…

O tempo de “activistas” como Rafael Marques de Morais existe para atacar a “nomenclatura” no que vão fazendo em espelho das ementas que nos foram chegando com a globalização, mas não existe disponibilidade para tocar nas questões de fundo em especial, por que esses “activismos” estão sobretudo a coberto dos interesse e das conveniências das multinacionais anglo-saxónicas e dos poderes correspondentes!... além dos agenciamentos dentro do sistema, os agenciamentos que lhe estão fora, numa aparente oposição, estão prontos para o que der e vier!...

Esse tipo de manipulações substantivas é o que há por demais de acordo com os modelos de capitalismo neo liberal que tutelam a globalização!

4 – A lógica do meu raciocínio põe como é óbvio também em causa quem tem estado à frente dos destinos do petróleo em Angola: apesar dos avisos de técnicos nacionais competentes e devotados à causa angolana, preferiram embarcar nos deliberados “esquecimentos” de outros, pelo que desse modo se tornaram em agentes dos interesses que com a globalização nos chegam de fora, assumindo a sua quota parte de responsabilidades nas manipulações!

Sinais desse alinhamento que é de facto um agenciamento, está na “esperteza” da realização de projectos receitados a partir das ementas correntes: balcões-bancários que servem só ao efectivo da SONANGOL (como tem sido o caso das instalações do BAI no edifício-sede da petroleira angolana), os condomínios barrocos, murados e cheios de arame farpado que se vão erguendo por exemplo em Talatona, ou mesmo os centros de lazer e horas-livres como o caso do Paz-Flor…

Na SONANGOL indiciam estar cada vez mais preocupados em criar um modelo de “apartheid social”, imitando as multinacionais do sector e os poderes elitistas correspondentes, conforme os conceitos da construção desses condomínios e áreas de lazer “in”…

O seu agenciamento é visível já até esse ponto: os sinais externos e “in” são por demais evidentes!

Com uma SONANGOL destas, será que o petróleo de Angola é mesmo para Angola?

MISSÃO DA GLOBAL FAIRNESS INITIATIVE VISITA A GUINÉ-BISSAU

 


A convite de José Ramos-Horta
 
 
Bissau - A missão da organização internacional Global Fairness Initiative (GFI) está de visita à Guiné-Bissau, de 9 a 12 de Setembro, a convite do Representante Especial do Secretário-Geral da ONU no país, José Ramos-Horta, para analisar a possibilidade de investimento em projectos económicos.
 
Liderada pela Presidente e fundadora da GFI, Karen Tramontano, que foi vice-Chefe de Estado-Maior do ex-Presidente dos EUA, Bill Clinton, a missão inclui representantes de potenciais organizações doadoras.

A acção destina-se a promover encontros com pessoas e instituições, de forma a saber mais sobre os objectivos de curto e longo prazos da Guiné-Bissau, bem como os seus desafios e oportunidades de desenvolvimento, e discutir com múltiplos intervenientes as oportunidades de parceria e de investimento.

Esta segunda-feira, 9 de Setembro, a delegação fez uma visita de cortesia ao Representante Especial da ONU para a Guiné-Bissau, José Ramos-Horta, que a convidou a GFI para visitar o país aquando de uma reunião que decorreu em Maio, em Washington.

José Ramos-Horta é membro do conselho da administração da GFI, composta por várias personalidades de destaque, incluindo ex-Presidentes, Executivos do sector privado e líderes de instituições não-governamentais.

Ainda na segunda-feira, a delegação da GFI reuniu-se com representantes do Escritório Integrado das Nações Unidas de Apoio à Consolidação da Paz na Guiné-Bissau (UNIOGBIS), e das agências das Nações Unidas que operam no país.

No encontro, Karen Tramontano explicou que a GFI estava interessada na perspectiva de investimentos em iniciativas que podem ter um grande impacto sobre o desenvolvimento de meios de subsistência.

A agenda da delegação da GFI inclui ainda reuniões com funcionários do Estado guineense, discussões com representantes nacionais do sector privado, reuniões com os representantes de homens e mulheres agricultores, pescadores e pescadoras, tecelões e comerciantes, bem como visitas a projectos agrícolas e outros, em diferentes partes do país.

A GFI é uma organização sem fins lucrativos que promove uma abordagem sustentável mais justa para o desenvolvimento económico para os trabalhadores pobres do mundo, avançando salários justos, a igualdade de acesso aos mercados e políticas públicas equilibradas para gerar oportunidades e acabar com o ciclo da pobreza.
 
(c) PNN Portuguese News Network
 

Angola: LÍDER SUSPENSO DA JURA PEDE A UNITA PARA APRESENTAR PROVAS

 


Em conferência de imprensa esta Quarta-feira em Luanda, Muzemba, pronunciou-se em relação a decisão tomada na última reunião do Comité Permanente do Partido do Galo Negro.
 
Coque Mukuta – Voz da América
 
Mfuka Muzemba apresentou na manhã desta quarta-feira a sua versão sobre as acusações que lhe foram feitas. O jovem desafia a UNITA a provar publicamente as acusações que pesam contra si.

“Eu tenho aqui provas documentas das minhas contas bancárias, da minha esposa, do contrato de arrendamento do senhorio da casa onde vivo, tenho provas documentais dos carros que eu e bastantes provas documental para provar o contrário” disse.

“Desde já volto a repetir: desafio a quem me acusa para provar publicamente as acusações que pesam contra si” desafio Mfuka Muzemba.

Muzemba diz que vai continuar na UNITA e que poderá remeter apresentar recurso à Comissão Política para se pronunciar sobre a decisão tomada pela direcção daquele partido.

Mfuka questionado sobre o seu futuro político caso a decisão do comité permanente seja mantida respondeu ser um político do país e não de partido político e que a renovação da esperança é o seu lema actual.

“Eu sou político para o país e não para o povo” disse.

“Renovar a esperança é o meu tempo porque durante este tempo li e ouvi de algumas pessoas para ditarem a minha morte política. Eu não morro politicamente, eu sou um político para o país”disse.

Mfuka Muzemba tinha sido acusado de ter solicitado à embaixada de Portugal vistos para cidadãos congoleses em nome da suaestrutura partidária e de ter recebido do general empresário Bento Kangamba somas avultadas em dinheiro.

Recordamos que a decisão da suspensão foi tomada na sexta-feira passada numa reunião do comité permanente da UNITA onde foram apresentados os resultados de um inquérito interno a Mfuka Muzemba.

Brasil: DESABAFO SOBRE O “MENSALÃO”

 


O que fica claro para mim é que o que a direita não conseguiu ganhar no voto tenta ganhar nesta aliança de uma mídia comercial desqualificada com um segmento do poder judiciário. Quando gritam “pega ladrão”, eu começo dando uma boa olhada em quem está gritando.
 
Ladislau Dowbor – Carta Maior, opinião, em Colunistas
 
Este negócio do Supremo Tribunal Federal simplesmente não passa no filtro do bom senso. Se houvesse alguma prova concreta de mensalão, não seriam necessárias milhares de páginas nem tantos anos. Um documento bastaria.

Se fosse justo, não estariam recorrendo a argumentos tão tortos do “deveria saber”, como denuncia Bandeira de Mello. Se fosse honesto, não trataria de maneira tão desigual o processo de Minas Gerais e o atual. Se fosse de bom senso jurídico, seria um julgamento técnico, discreto e direto, e não um teatro nacional, novela de batalha do bem contra o mal.

Se fosse decente, não montariam todo este espetáculo para coincidir com a campanha eleitoral de 2012, culminando numa sexta-feira, véspera da eleição. O que, aliás, pelos resultados, nem deu certo. Se fosse imparcial, como se imagina que a Justiça deveria ser pelo menos um pouco, não seria o processo tão claramente politizado contra o Partido dos Trabalhadores.

Se fossem tão corruptos, um Genoíno ou um José Dirceu, pelo menos teriam enriquecido um pouquinho. Sequer são acusados disso, não faria sentido. E se o dinheiro foi efetivamente aplicado nas campanhas publicitárias, como está provado com notas fiscais e como todo mundo viu na TV, como pode ter financiado o dito mensalão? Sobraria o “bônus de volume”, uma merreca, que faltou provar que seria dinheiro público.

Na falta de crime, ou de provas, sobrou ódio ideológico. A grande justificativa final de tanta falta de justiça foi repetida por Miguel Reale no Roda Viva: estavam comprando os deputados para votar as leis que queriam, portanto estavam deturpando a política, apropriando-se do poder.

Bem, primeiro, estavam eleitos. Segundo, a própria lógica revela santa simplicidade, ou santa hipocrisia. A moeda de troca com os parlamentares não é nenhum mensalão, mas os cerca de 15 bilhões de reais (só em 2007) que são as emendas parlamentares, com as correspondentes “rachadinhas”, legalmente instituídas, generalizadas a partir de 1993 com os “anões do orçamento”. São 25 emendas por parlamentar.

O que fica claro para mim é que o que a direita não conseguiu ganhar no voto, tenta ganhar nesta aliança estranha de uma mídia comercial desqualificada com um segmento do poder judiciário. E esta mídia, agitando para um povo que anseia por ética, de que finalmente “pegamos os corruptos”, é realmente abaixo da crítica, e não quer ver a corrupção real.

Quando gritam “pega ladrão”, eu prudentemente, com muita coisa vista, e tendo estudado suficiente direito, começo dando uma boa olhada em quem está gritando. Justiça não é teatro.
 
*Ladislau Dowbor é professor titular no departamento de pós-graduação da PUC/SP e da Universidade Metodista de São Paulo, e consultor para agências das Nações Unidas, governos e municípios.
 

NOMES DE PRESIDENTES DA DITADURA BATIZAM QUASE MIL ESCOLAS DO BRASIL

 


Das 3.135 unidades escolares públicas que homenageiam ex-dirigentes da República, 976 pertencem aos cinco generais que comandaram o regime militar
 
Na Escola Municipal Presidente Médici, em Bangu, na Zona Oeste do Rio, boa parte dos alunos tem pouco a dizer sobre o general que governou o país de 1969 a 1974. “Minha vó falou que ele era um sanguinário”, conta uma aluna do 8º ano. “O professor de Geografia disse que ele não era uma boa pessoa”, afirma uma colega de sala, de 14 anos, quando perguntada sobre o gaúcho ditador, responsável pelo período de maior recrudescimento à liberdade de expressão na ditadura militar brasileira.
 
Dentro da unidade, porém, há um mural com fotos do homenageado e, segundo professores, o nome do colégio é usado para abordar o assunto em sala.
 
— Durante a aula, temos que explicar o período Médici deixando que eles tenham o seu próprio olhar sobre o ex-presidente, com senso crítico. Nossa função é fazer o aluno se colocar nesse debate. Explicar a razão da homenagem e contextualizá-la com a época — argumenta Gabriella Fernandes Castellano, professora de História.
 
Inaugurada em 1975, com a presença do próprio Médici, a unidade em Bangu é uma das 160 escolas públicas de ensino básico e pré-escolar no país batizadas com o nome do ditador. Atualmente há no Brasil 976 colégios municipais, estaduais e federais com os nomes dos cinco presidentes do Regime Militar, de 1964 a 1985 (ficaram fora da conta os ministros da junta que chefiou o país de agosto a outubro de 1969). Só o marechal Humberto Castello Branco, que governou de 1964 a 1967, é homenageado em 464 unidades. Ao todo, o país tem 3.135 escolas com nomes de ex-presidentes.
 
Pragamatismo Político, com Agência Globo
 

QUARENTA ANOS DEPOIS

 


Socialismo democrático de Allende transformou Santiago no centro fervilhante de criatividade política e intelectual dos anos 1970. Qual a herança deste experimento?
 
José Luís Fiori - Outras Palavras
 
“Aprendam a lição..(porque) muito mais cedo do que tarde,
se abrirão novamente as grandes alamedas
por onde passará o homem livre,
para construir uma sociedade melhor..
Tenho a certeza que meu sacrifício não será em vão.”
Salvador Allende, às 9,30 horas da manhã do dia 11 de setembro de 1973
 
O golpe militar, a morte de Salvador Allende e o fim do governo da Unidade Popular, na manhã nublada, fria e melancólica de Santiago do Chile, daquele 11 de setembro de 1973, foi um momento trágico da história politica da esquerda latino-americana, e foi também um momento de mudança irreversível do pensamento crítico e progressista do continente.
 
Nos anos 60, e até o início da década de 70, do século passado, a América Latina viveu um momento de intensa criatividade intelectual e politica. Foi o período áureo da revolução cubana e de sua influência sobre os movimentos de luta armada do continente – em particular, no Brasil, Uruguai e Argentina e, um pouco mais tarde, na América Central. Foi o tempo do reformismo militar de Velasco Alvarado, no Peru, e de Juan Jose Torres, na Bolívia; da volta do peronismo e da vitória de Juan Domingos Peron, na Argentina; da primeira experiência reformista democrata-cristã, na Venezuela, e acima de tudo, do “reformismo cepalino”, de Eduardo Frei, e do “socialismo democrático”, de Salvador Allende, no Chile. Tendo como pano de fundo, como desafio político e intelectual, o “milagre econômico” do regime militar brasileiro. Neste período, Santiago transformou-se no ponto de encontro de intelectuais de todo mundo e virou o epicentro do que talvez tenha sido o período mais criativo da história politica e intelectual latino-americana, do século XX. Revolucionários e reformistas, democratas-cristãos, socialistas, comunistas e radicais, tecnocratas e intelectuais, líderes sindicais, sacerdotes, artistas e estudantes discutiam – a todas as horas e em todos os cantos da cidade – sobre a revolução e o socialismo, mas também, sobre o desenvolvimento e subdesenvolvimento, industrialização e reforma agrária, imperialismo e dependência, democracia e reformas sociais, e sobre a própria especificidade histórica do capitalismo latino-americano.
 
Por que Santiago? Porque o Chile foi o único país do continente onde se tentou – de fato – combinar democracia com socialismo, nacionalizações com capitalismo privado, e desenvolvimentismo com reforma agrária, durante o período da Frente Popular, entre 1938 e 1947, e durante o governo da Unidade Popular, entre 1970 e 1973. Mas também, de certa forma, durante o governo democrata-cristão, de Eduardo Frei, entre 1964 e 1970. Na década de 1930, os socialistas e comunistas chilenos formaram uma Frente Popular com o Partido Radical, venceram as eleições presidenciais de 1938 e depois foram reeleitos mais três vezes, antes de serem separados pela intervenção norte-americana, no início da Guerra Fria, em 1947. Os governos da Frente Popular chilena, sob a liderança do Partido Radical, colocaram sua ênfase nos programas de universalização da educação e da saúde publica, mas também na infra-estrutura, no planejamento e na proteção do mercado interno e da indústria.
 
Mas foi só em 1970 que o governo da Unidade Popular (UP) propôs explicitamente um projeto de “transição democrática para o socialismo”, como estratégia de desenvolvimento e sem destruição da economia capitalista. Antes de Allende, os democratas-cristãos “chilenizaram” o cobre, e começaram a reforma agrária. Mas o governo da UP acelerou a reforma agrária e radicalizou a nacionalização das empresas estrangeiras produtoras de cobre. E foi além disto, ao propor criar um “núcleo industrial estratégico”, de propriedade estatal, que deveria ser o líder da economia capitalista e o embrião da futura economia socialista. Este foi, aliás, o pomo de discórdia que dividiu a esquerda durante todo o governo da Unidade Popular, chegando até o ponto da ruptura, entre os que queriam limitar as estatizações industriais aos setores estratégicos da economia e os que queriam estendê-las, até originar um novo “modo de produção”, sob hegemonia estatal. Pois bem, este projeto absolutamente original de “transição democrática para o socialismo”, do governo da Unidade Popular foi interrompido pelo golpe militar do general Pinochet, com apoio decisivo dos EUA e do governo militar brasileiro.
 
Mas como previu Salvador Allende, no seu último discurso, “muito mais cedo do que tarde” o Partido Socialista voltou ao governo do Chile, em 1989, aliado com os democrataa-cristãos. Só que naquele momento, os comunistas chilenos haviam sido dizimados, e os socialistas já haviam aderido ao consenso neoliberal, hegemônico durante a década de 90, e haviam deixado de lado os seus sonhos socialistas.
 
Uma década depois, entretanto, no início do século XXI, a esquerda avançou muito mais e conquistou o governo de quase todos os países da América do Sul. E nesta hora, um grande numero de jovens das décadas de 60 e 70, que escutaram as últimas palavras de Allende, no Palacio de la Moneda, foram chamados a governar. Em vários pontos da América do Sul, a esquerda voltou a discutir sobre o socialismo, o desenvolvimentismo, a igualdade e as novas estratégias de transformação social, para o século XXI.
 
Mas depois de uma década, a esquerda latino-americana se deu conta que a palavra “socialismo” hoje tem conotações absolutamente diferentes nas montanhas andinas, nas grandes metrópoles, nos pequenos povoados, ou nos vastos campos ocupados pelo sucesso exportador do agrobusiness; que o “desenvolvimentismo” transformou-se num projeto anódino e tecnocrático, desprovido de qualquer horizonte utópico; que defender a “indústria” ou a “re-industrialização” virou um lugar comum da imprensa, que pode significar qualquer coisa segundo o economista de turno; e o “reformismo social” foi dissolvido num conjunto de politicas e programas desconexos originários do Banco Mundial, mais preocupado com o seu “custo-efetividade” do que com a luta pela igualdade social.
 
Somando e subtraindo, hoje, exatamente quarenta anos depois da morte de Salvador Allende, o balanço é muito claro e desafiador: a geração de esquerda dos anos 1960 e 70 chegou finalmente ao poder, mas já não tem a seu lado a força do sonho e da utopia que levou Salvador Allende à resistência, ao silencio e à morte, naquela manhã violenta e inesquecível do dia 11 de setembro de 1973, na cidade nublada, fria e melancólica de Santiago do Chile.
 

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