sábado, 12 de outubro de 2013

"Governos dos EUA, Inglaterra e Canadá mentem o tempo todo" - Glenn Greenwald

 


Elizângela Araújo, Especial para Carta Maior
 
Brasília - A afirmação é do jornalista britânico Glenn Greenwald, correspondente do jornal The Guardian, ouvido pela CPI da Espionagem, do Senado, nesta quarta (9/10). Greenwald reafirmou que os governos dos Estados Unidos, Canadá e Inglaterra têm coletado informações de países em desenvolvimento movidos por interesses econômicos. "Sem dúvida não estão preocupados com segurança nacional ou terrorismo, como sempre alegam, mas em obter vantagens comerciais para suas empresas".

Para Glenn Greenwald, os governos desses três países têm feito o que sempre acusam a China de fazer. “A China espiona seus parceiros comerciais, mas esses governos têm usado o discurso da segurança para justificar seu aparato de espionagem". O jornalista disse que analisou apenas cerca de 2% do material obtido com o ex-colaborador da Agência de Segurança Nacional norte-americana (NSA), Edward Snowden, exilado na Rússia desde 1º de agosto.

Em vários momentos, Greenwald afirmou que se o Brasil, assim como qualquer outro país, quiser obter mais informações sobre os arquivos que estão em poder de Snowden, terá que lhe oferecer proteção. Segundo ele, ninguém entende tanto sobre o aparato de espionagem montado pela NSA quanto seu ex-colaborador.

Questionado pelo senador Ricardo Ferraço, relator da CPI, sobre a possibilidade de repassar os arquivos que estão sem seu poder ao governo brasileiro, o jornalista britânico afirmou que não pode fazer isso sob pena de ser processado por traição pelo governo norte-americano, e não poder mais voltar ao seu país. Além disso, lembrou, os documentos contêm informações sobre outros países.

Greenwald também afirmou que a NSA tem invadido sistemas de transmissão via cabo, mas que não sabe quais seriam esses sistemas. Questionado sobre a possibilidade de colaboração de empresas brasileiras com a espionagem, o jornalista afirmou que o sistema usado pela NSA é o mesmo usado pela AT&T, que mantém contratos com empresas de telecomunicações de vários países, inclusive brasileiras. O que não dá para afirmar, ponderou, é se essas empresas estão colaborando, mas há a possibilidade de que o estejam fazendo mesmo sem saber.

Ameaças

Greenwald disse que tem feito jornalismo com muito risco e que por isso tem sido atacado em seu país. “Estou sendo ameaçado por pessoas do meu governo. Mas continuo dizendo que continuarei fazendo jornalismo até que o último documento seja publicado. Não estou segurando documentos relevantes. Não estou escondendo informações".

Ainda segundo o convidado da CPI, o jornal The Guardian sofreu invasão de agentes do governo britânico, que quebraram computadores e ameaçaram processar jornalistas e quem mais estiver envolvido com as reportagens que denunciam o esquema global de espionagem. Além do Brasil, outros países da América Latina também estariam sendo espionados, como a Venezuela.

Além de Greenwald, seu companheiro, o brasileiro Davi Miranda, com quem vive há cerca de oito anos, também foi ouvido pela CPI. Ele contou sobre o episódio em que ficou detido por quase nove horas no aeroporto de Londres logo depois de pôr os pés em solo britânico. “Isso aconteceu simplesmente por que sou brasileiro. Eles me ameaçaram o tempo todo de prisão caso não colaborasse. Me perguntaram como está a política no meu país e se eu tinha envolvimento com os protestos que vêm acontecendo no país desde junho”. Para Greenwald, ficou claro que a detenção de Miranda é parte da estratégia do governo britânico de ameaçá-lo em represália às informações que ele tem divulgado.

Edward Snowden

Logo após os depoimentos de Greenwald e Miranda, a CPI aprovou requerimentos para envio de correspondência ao advogado de Snowden e ao governo russo solicitando de ambos autorização para uma videoconferência com o ex-colaborador da NSA. À Carta Maior, a senadora Vanessa Grazziotin, presidenta da CPI, disse que o diálogo com Edward Snowden é importante para entender o mecanismo de espionagem liderado pelos Estados Unidos, mas não é essencial para o trabalho da CPI.
 
De acordo com a senadora, é mais importante para a comissão compreender até que ponto o sistema de comunicações do Brasil está vulnerável e, a partir disso, propor ao governo medidas que possam proteger tanto a comunicação dos cidadãos quanto a de Estado. Ainda segundo a senadora, representantes de empresas como Google Brasil, Facebook Brasil, Microsoft, Telefônica, Oi, GVT e TIM deverão ser convocados para depor novamente.

Créditos da foto: Arquivo
 

Brasil: MARINA, UM POÇO DE CONTRADIÇÕES

 

Maria Inês Nassif – Carta Maior
 
Se tantas opiniões divergentes existem acerca da união de Eduardo Campos e Marina Silva nas eleições do próximo ano, é porque as posições políticas de ambos são eivadas de contradições.

Marina é um poço delas. As declarações que sucederam a sua inesperada decisão de aderir ao partido de Eduardo Campos apenas expressam uma personalidade política que vem se consolidando desde o início de sua tentativa de voo solo, após sair do governo Lula, rachar com o PT e mergulhar na tentativa de “tomada” de um Partido Verde que já tinha dono, e que não estava disposto a abrir mão do business da política tradicional para entregar a legenda para outra pessoa.

O relativo sucesso de Marina nas eleições de 2010, quando conseguiu uma votação surpreendente para uma candidata sem partido, e o séquito que a segue desde a campanha, honestamente convencido de que ela é uma alternativa à polarização política entre o PT e o PSDB, que se mantém na política brasileira há quase duas décadas, consolidaram numa personalidade voluntariosa, mística e autoritária a ideia de que fora dela, e dos que a seguem cegamente – ou, de fora do grupo, dão guarida a ela – não há salvação.

A forma como lidou com suas frustrações política nesse período expressa o personalismo resultante dessa trajetória pessoal e política. No julgamento, pelo STF, da ação de inconstitucionalidade de lei aprovada pelo Congresso que impedia aos novos partidos levar consigo horário eleitoral gratuito e fundo partidário dos deputados que aderiram a eles, Marina exultou e agradeceu ao ministro Gilmar Mendes pela decisão autoritária e sem precedentes de intervir no Legislativo e impedir a tramitação do projeto.

A decisão de ir para o PSB, pelo simples fato de que Eduardo Campos a apoiou nessa pendenga jurídica, preterindo decisões que pudessem abrigar os interesses de todo o seu grupo político, também é expressão de uma ação política fincada na ideia de que a lealdade à decisão do líder tem que ser incondicional, sob pena de se tornar deslealdade; e de que a decisão pessoal, baseada numa retribuição a um favor, se sobrepõe a uma decisão política.

Assim como fez antes, quando saiu do Partido Verde, deixou gente para trás; decidiu, não conciliou; a decisão é pessoal, não é ideológica nem expressa a opinião de um grupo político.

Já dentro do PSB, o incontido personalismo a leva a dizer que tanto ela como Eduardo Campos podem disputar a Presidência, e o grupo que a acompanhou a declarar, com candura, que vai lutar por posições dentro de uma legenda que, todos dizem, é uma opção provisória, enquanto a Rede Sustentabilidade não consegue o seu registro. Isso, depois de Campos ter “limpado” o partido da ala fiel aos irmãos Gomes, do Ceará, e ter deixado claro para os “de dentro” que quem manda no partido é ele.

Esse movimento inicial de Marina e do grupo que foi junto com ela remete fatalmente a conflitos futuros: não uma união provisória e de conveniência, mas a interiorização, dentro do PSB, de uma guerra de personalidades, que pode conter o crescimento da legenda, uma das que têm um aumento progressivo de parlamentares e governos desde sua criação, pelo avô de Eduardo Campos, Miguel Arraes.

Até as eleições de 2014, se Campos não conseguir, dentro da legenda, eleger o maior número de deputados fieis a ele, corre o risco de uma debandada em direção à Rede Sustentabilidade, depois que Marina conseguir uma legenda só para si. Daí será o feitiço contra o feiticeiro: a mesma lei que o STF intimidou o Congresso a não mudar (não há sinais de que a matéria venha a ser colocada novamente em pauta, mesmo depois de cassada a liminar de Mendes que proibiu a sua votação) levará para a Rede Sustentabilidade, no futuro, parte da bancada do PSB eleita em 2010 horário gratuito e verbas do fundo partidário.

Além das contradições decorrentes de personalismo político – ou até em função deles – existem as contradições políticas que Marina leva consigo para um partido que, também em função do personalismo de Campos, é cheio deles.

Historicamente, os partidos verdes, todas as vezes que privilegiaram o purismo de plataformas ecológicas sem levar em consideração as variáveis de progresso social, flertaram com a direita. Marina tende a isso, e seu grupo provavelmente a seguirá.


Ocorre que, para ela, esse é um caminho de algum conforto. Ela tem um perfil conservador inerente à sua adesão religiosa à igreja evangélica, e este é um dado de difícil conciliação com seu eleitorado de classe média alta, que tem outros conservadorismos, mas não o de costumes.

Num momento em que o debate político não pode ser dissociado do debate sobre desenvolvimento e sobre tecnologia, os dois conservadorismos juntos são explosivos: como lidar, por exemplo, com o desenvolvimento das regiões mais pobres, que começaram a crescer com políticas de distribuição de renda, se persiste o veto à discussão da energia elétrica como matriz energética? Como lidar com questões relativas ao reconhecimento pleno dos direitos de minoria, se há um impedimento religioso da líder à discussão sobre o aborto, por exemplo? E como lidar com questões jurídicas que impedem o desenvolvimento da ciência se há um obstáculo religioso, por exemplo, às pesquisas com células-tronco?
 
Créditos da foto: Arquivo
 

Moçambique: INSEGURANÇA

 

Verdade (mz)
 
Quando os ricos se sentem inseguros até nas suas torres de marfim é porque as coisas estão feias. Aliás, muito feias. Os raptos começaram na cidade de Maputo e rapidamente atingiram as urbes da Beira e Nampula. A sempre pronta Polícia da República de Moçambique (PRM) apresentou, para mostrar trabalho, uns rostos escanzelados de um bando de zés-ninguém, mas deixou sair do país, da forma mais ridícula possível, um dos prováveis cérebros do problema. Os raptos não tardaram a voltar a semear medo e insegurança no seio de uma das classes que mais dinheiro movimentam no país, como que a desmentirem retumbantemente a eficácia da PRM no combate ao crime.
 
Em surdina as pessoas contam que tudo o que diziam aos “investigadores” chegava aos ouvidos dos malfeitores. Foi, aliás, por isso que as vítimas deixaram de colaborar com a Polícia. Com o andar do tempo, aquilo que parecia ser problema de uma comunidade alastrou-se a todos os que aparentam ter algum dinheiro. Os novos factos deitam por terra a convicção segundo a qual estávamos diante de um problema de uma ou duas comunidades. Os raptos vieram para ficar e a PRM mostra-se incapaz de apresentar um antídoto para estancar a sangria. Esse é, diga-se, o grande problema.
 
Porém, o mais vergonhoso é a possibilidade de termos uma Polícia subserviente e controlada por uma quadrilha de malfeitores. Aquando das manifestações de 1 de Setembro o Governo inventou, para conter novos focos, o registo dos cartões SIM. Ou seja, foram tão rápidos para proteger a integridade do Estado e a manutenção do poder nas mesmas mãos, mas incrivelmente lentos para resolver um problema que afecta milhares de cidadãos.
 
O surgimento de novos grupos é uma coisa inevitável. O normal mesmo será que apareçam empreendedores nesta área. Ou seja, indivíduos com vocação para o negócio que terão de começar da base. Isto é, raptando por quinhentas. Por este andar e nível grotesco de impunidade não nos devemos espantar quando começarem a ocorrer raptos por 500 meticais.
 
O fenómeno começou com exigências ao nível do um milhão de dólares e desceu até aos cinquenta. Uma quantia que muitos pobres conseguem arranjar num abrir e piscar de olhos. Em 2008, quando um jovem do bairro Triunfo foi o cérebro de um sequestro que rendeu cerca de 5.000 dólares a acção da Polícia foi tremendamente rápida e produziu resultados. O jovem está preso e continua a pagar pelo que fez. Os raptores da nova era, esses, continuam impunes e acima da lei e da justiça.
 
Enquanto a Polícia for cúmplice desta gentalha viveremos num país que não oferece segurança. A crueldade e a impunidade é tanta que agora até raptam crianças indefesas. Que éramos um país sem cidadãos isso já sabíamos, mas que não devemos e nem podemos confiar nas instituições que zelam pela defesa e segurança tornou-se mais nítido agora...
 

“Renamo vai convocar todas as capacidades físicas para defender a democracia”

 

O País (mz)
 
Para Mazanga, a luta que a Renamo promete travar resulta da intolerância do Governo e do incumprimento do Acordo Geral de Paz
 
Quando faltam cerca de 40 dias para a realização de eleições autárquicas, a Renamo convocou uma con­ferência de imprensa para dizer que está disposta a tudo para salvar a democracia em Moçam­bique.
 
Estes pronunciamentos vêm dar voz ao seu comunicado divul­gado quarta-feira no Jornal No­tícias, contendo ameaças de re­editar a guerra dos 16 anos para inviabilizar as eleições, caso a Fre­limo e o MDM tentem realizá-las.
 
É que, na referida mensagem, o partido reiterou a sua intenção de inviabilizar as eleições por dis­cordar da actual Lei Eleitoral, que abre espaço a alegadas manobras e roubos de votos pela Frelimo.
 
“O partido Renamo deve con­vocar todas as suas capacidades físicas e intelectuais para defen­der a democracia e lutar pela conquista da paz que, neste momento, não obstante o calar das armas, ainda está a léguas da paz. A paz faz-se com actos concretos e palpáveis”, disse Fernando Mazanga, porta-voz da Renamo, acrescentando que “as armas que estão nas mãos dos seguranças da Renamo são para persuadir aqueles que acreditam no seu uso, mas que acabam por semear luto e dor nas nossas famílias”.
 
Leia mais na edição impressa do «Jornal O País»
 

Multinacional francesa DT Terrassement quer investir em Timor-Leste

 


Díli, 10 out (Lusa) - A multinacional francesa DT Terrassement está interessada em investir em Timor-Leste, anunciou hoje em comunicado o Ministério das Obras Públicas timorense.
 
"Timor-Leste representa uma oportunidade de investimento para a nossa empresa", afirmou Vincent Ladougne, representante da multinacional francesa, citado no comunicado, após um encontro com o diretor-geral das Obras Públicas timorense, José Piedade.
 
Segundo o comunicado, o representante da multinacional francesa, especialista em infraestruturas terrestres, disse também que a empresa está interessada em participar no desenvolvimento de infraestruturas em Timor-Leste, nomeadamente estradas, pontes, portos e aeroporto.
 
"Há muitas oportunidades de investimento para empresas internacionais em Timor-Leste", afirmou José Piedade no final do encontro.
 
A DT Terrassement está presente em cerca de 80 países da Europa, África, Médio Oriente, Ásia e continente americano e em 2012 teve lucros de 267 milhões de euros.
 
MSE // APN - Lusa
 

TIMORENSE CONDENADO A 20 ANOS DE PRISÃO POR VIOLAR E ENGRAVIDAR FILHA

 


O Tribunal Distrital de Díli condenou esta semana um homem a 20 anos de prisão por violar e engravidar a filha menor, anunciou ontem em comunicado o Programa de Monitorização do Sistema Judicial de Timor-Leste.
 
"O defensor público alegou que o réu cometeu o crime de abuso sexual da filha menor em 16 ocasiões entre setembro e dezembro de 2012. Os abusos foram cometidos quatro vezes por mês", refere o documento.
 
Em consequência dos abusos sexuais de que foi vítima a menor acabou por engravidar e ter um rapaz. Segundo o comunicado, a decisão do tribunal foi tomada com base em provas apresentadas pela defesa, testemunhas e relatório médico.
 
O Programa de Monitorização do Sistema Judicial de Timor-Leste "lamenta profundamente que no último mês os tribunais tenham condenado várias pessoas por crimes de incesto.
 
Este é um problema grave e não podemos continuar a permitir que seja praticado nas nossas comunidades", refere no comunicado Luís de Oliveira Sampaio, diretor-executivo daquela organização timorense.
 
A organização felicita a decisão do tribunal, mas apela ao Estado para ser mais "sensível" aos problemas do incesto no país e a criar formas de impedir aquela prática e para proteger as vítimas.
 
No passado mês de setembro, os tribunais distritais de Baucau, leste do país, e Suai, oeste do país, condenaram duas pessoas a oito e 18 anos de prisão por incesto.
 
"Aquilo revela na realidade que socialmente estamos a enfrentar um grave problema porque as raparigas vivem em perigo e inseguras nas suas próprias casas", afirmou Luís de Oliveira Sampaio.
 
Para a organização, o Estado tem de fazer alguma coisa para acabar com aquele tipo de crime e proteger as vítimas, a maior parte das quais menores.
 
MSE // PJA - Lusa
 

GUINÉ-BISSAU CONTINUA NA POSSE DOS SENHORES DA DROGA E DO TERROR

 


Condensado de apontamentos em Ditadura do Consenso, Bissau
 
Espancamentos mil

Ontem, por volta das 23 horas, depois de terminarem de emitir um programa na rádio Pindjiguiti, os jornalistas Nicásio Pereira e Kaká foram espancados pelos militares. Tudo aconteceu no bairro D'Ajuda. Os militares vieram em quatro viaturas. Na sessão de espancamento usaram catanas e até estragaram o computador do Nicásio. AAS
 
Operação Terror

A situação em Bissau está pela hora da morte, e a evoluir perigosamente. Ontem à noite, um grupo de militares fortemente armados organizou e desencadeou uma operação de terror nos diferentes Bairros de Bissau, indo ao ponto de espancar cidadãos. Os bairros do Reno Gã Beafada, Mindara, Belem, Bairro Militar e Bairro d'Ajuda, conheceram a ira da tropa.

No Bairro d'Ajuda, começou por volta das 23h15, quando quatro viaturas da escolta do Antonio Indjai insurgiu na zona da estação de combustível Petro Dis, entrada de bairro, com catanas, pistola AK47 e ainda rabo de Peixe arreia, batendo em tudo e todos que se encontravam a passear na zona, sem saber o que é que estavam a fazer.

Mas desta vez muitos deles estão identificados, exemplo do Julio Na Bali, que comandava a equipa.

O mesmo grupo penetrou na casa do deputado Djana Sane, mandaram-no deitar no chão juntamente com a sua familia e todas as pessoas que se encontravam na casa, de seguida começaram a espancar brutalmente as pessoas. A mesma coisa aconteceu com um funcionário nacional do UNIOGBIS, também foi violentamente espancado por militares, tendo ficado com ferimentos graves. A Guiné-Bissau está à beira da explosão. Se o mundo não ajudar este país o pior acontecerá. Ontem mesmo, em Bissau, foi assinado um intitulado de compromisso com a paz, na presença do Xanana...AAS
 
Greves

"Está à vista uma vaga de greve nos órgãos públicos da comunicação social guineense. Em causa está o não pagamento de três meses de subsídios de incomodidade aos funcionários da TGB, RDN, Nô Pintcha, ANG. O referido subsídio num valor aproximado de 19 milhões de francos cfas é um complemento do magro salário que os profissionais daqueles órgãos auferem.


Trata-se de uma justa reivindicação, porque o PRT, o PM, Membros do Governo, Conselheiros recebem cada um o seu subsídio de representação mensal entre 1.500.000 a 17 milhões para não falar das despesas dos generais. Os sindicatos de base daqueles órgãos já avançaram mesmo com um pré-aviso de greve exigindo a liquidação dos atrasados, caso contrário vão paralisar todas as actividades, a partir de sexta-feira, bloqueando o funcionamento do centro emissor da Nhacra, e em consequência a TGB, RDN, RFI, RDP África e RTP não estarão no ar.

Blufo Ndam"

LGDH reage forte e feio e fala de terrorismo de Estado

A LGDH reagiu há pouco, através de uma conferência de imprensa, em Bissau, sobre os acontecimentos de violência generalizada que aconteceram ontem em Bissau contra os cidadãos. A Liga qualificou os actos como terrorismo de estado, em consequência vai reunir provas destes actos e demais outros casos anteriores para avançar com uma queixa contra o estado da Guiné-Bissau junto do Tribunal da Justiça e dos Direitos Humanos da CEDEAO. Para a LGDH é inaceitável utilizar as estruturas do Estado para espancar, violentar e instaurar clima de medo generalizado no país, sem que o estado responsabilize os autores. AAS
 
Publicadas por António Aly Silva, Bissau - em Ditadura do Consenso, 10 e 11 de Outubro 2013
 

Guiné-Bissau: Embaixador da Nigéria acusa rádio guineense de fomentar violência

 


Devido aos acontecimentos de 8 de Outubro
 
Bissau - O embaixador da República Federativa da Nigéria em Bissau, Hamed Maguid Adames, acusou a estação privada de rádio «Galáxia de Pindjiguiti» de incitação à população, o que terá levado ao homicídio de um cidadão nigeriano a 8 de Outubro, no Bairro de Massa Cobra, em Bissau.
 
Hamed Maguid Adames fez as declarações esta quinta-feira, 10 de Outubro, numa conferência de imprensa que concedeu na sua residência em Bissau, com o intuito de reagir aos acontecimentos de 8 de Outubro, que resultaram na morte de um cidadão nigeriano.

Por outro lado, o embaixador da Nigéria em Bissau disse acreditar que o sucedido não vai afectar as relações entre os dois países, uma vez que se tratou de um caso isolado.

Mohamed Adames acusou os jornalistas da rádio «Galáxia de Pindjiguiti» de serem cúmplices da situação que levou o jovem nigeriano a ser assassinado em Bissau.

A direcção da estação de rádio já terá agendado uma resposta ao embaixador da Nigéria, segundo informações apuradas pela PNN.

Bissau Digital - (c) PNN Portuguese News Network
 

Guiné-Bissau: Xanana Gusmão leva autoridades a assinarem Compromisso pela Paz

 
 
No último dia da visita ao país
 
Bissau - No final da visita de quatro dias à Guiné-Bissau, o Primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, levou todos os actores políticos, militares e da sociedade civil a assinarem o «Compromisso Pela Paz Definitiva no País».
 
O General António Indjai, Chefe do Estado-maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau, considerado «testa» do Golpe Militar de 12 de Abril de 2012, foi o primeiro subscritor do documento, que vai agora ser depositado junto do Supremo Tribunal de Justiça.

Para muitos observadores políticos e diplomáticos, este acto representa o ponto máximo da visita do Primeiro-ministro timorense à Guiné-Bissau, que conseguiu chamar à razão os políticos e os militares guineenses, no sentido de renegarem futuros Golpes de Estado.

No documento, os signatários comprometem-se a realizar reformas nos sectores da «Defesa, Segurança, Justiça e Administração Pública». Adicionalmente, as Forças Armadas guineenses, conforme o documento, comprometem-se a respeitar o resultado das eleições e a formação do novo Governo, ao qual devem exigir, «sem uso da força», um plano que reconheça «o papel que muitos membros militares assumiram na luta pela independência da Guiné e Cabo Verde».

Quanto aos partidos políticos, estes comprometem-se a «colaborar numa plataforma de acção cívica para o estabelecimento de um Estado de direito democrático e de afirmação da cidadania».

Xanana Gusmão deixou o país na madrugada desta quarta-feira, 9 de Outubro, um dia marcado pela agitação social que pairou ontem no país por  algumas horas, em consequência da alegada tentativa de rapto de uma criança no maior mercado da capital guineense, por parte de um cidadão alegadamente de nacionalidade nigeriana.

Lassana Cassamá

Bissau Digital - (c) PNN Portuguese News Network
 

Horta adverte para sanções contra Bissau caso prossigam violações dos direitos humanos

 

Expresso
 
Lisboa, 11 out (Lusa) -- Os representantes especiais da ONU e da CEDEAO na Guiné-Bissau advertiram as autoridades de transição guineenses que o Conselho de Segurança poderá impor sanções caso continuem as violações dos direitos humanos no país.
 
A advertência vem contida numa carta enviada ao Presidente de transição da Guiné-Bissau, Serifo Nhamadjo, datada de 19 de setembro e a que a Lusa teve hoje acesso, intitulada "Situação dos Direitos Humanos" e assinada pelos representantes especiais do secretário-geral da ONU, José Manuel Ramos-Horta, e do presidente da Comissão da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), Ansumana Ceesay.
 
"Temos de deixar aqui expresso que, a verificar-se a continuação desses atos de abuso de poder, prepotência e violação de direitos humanos, o Conselho de Segurança acionará os mecanismos para sancionar as instituições e/ou individualidades, civis e militares implicadas", lê-se na carta.
 

Angola: EXECUTIVO ANUNCIA PROJECTO QUE USOU PARA ENGANAR NAS ELEIÇÕES

 


O Presidente da Repú­blica, José Eduardo dos Santos este­ve no mu­nicípio do Cazenga no passado dia 27 de Setembro para relançar o programa de reabilita­ção e manutenção das vias secundárias e terciárias de Luanda. Um programa que serviu para enganar os munícipes na véspera das eleições. Os mais aten­tos lembrar-se-ão que, por aquela altura, em grande parte das ruas de Luanda foram colocadas placas anunciando intervenção.
 
Para os mais sépticos tra­tou-se de uma das muitas manobras do MPLA para enganar os eleitores. Ou­tros, no entanto, aplaudi­ram, acreditaram tratar-se do anúncio do fim calvário que todos os anos enfren­tam, sobretudo em épo­cas chuvosas. Os dias que se seguiram as eleições, realizadas a 31 de Agosto, mostraram que os sépti­cos tinham razão, pois as referidas placas desapare­ceram em todas as ruas e estas continuam ruins.
 
Para os que ainda duvida­vam que aquelas placas visavam pura e simples­mente fins eleitoralistas, o relançamento do progra­ma de reabilitação das ruas secundárias e terciárias, cerca de um ano depois da colocação das mesmas, pode servir para terminar com estas dúvidas.
 
Nesta altura as dúvidas que podem existir têm que ver com o êxito ou não do programa visto que, en­tre nós, inúmeros são os exemplos de programas do género que morrem à nascença ou pouco tem­po depois sem que se diga nada. Prova disso é tam­bém o relançamento do referido programa, quando a sua interrupção nunca ti­nha sido anunciada.
 
O PROGRAMA
 
Segundo o programa o programa contemplará 330 quilómetros de estradas e 13 de valas de drenagem, entre outras, está avalia­do em 116 mil milhões de Kwanzas, onde estarão envolvidas 159 emprei­teiros. Os próximos dias, segundo consta, estão re­servados para a assinatu­ra dos contratos entre as empresas e o ministério da Construção que é o responsável pelo mesmo. Sabe-se que beneficia­rão das obras ruas dos muniscipios do Cazenga e Cacuaco, assim como dos distritos do Rangel, Kilamba Kiaxe, entre ou­tros.
 
A expecativa no seio dos munícipes é saber se as respectivas ruas serão ou não abrangidas.
 
No âmbito do programa que iniciou há cerca de 10 anos já beneficiarão de obras os bairros Martires do Kifangondo e Cassen­da, assim como das Bês e Cês no Rangel.
 

JUSTIÇA ANGOLANA SEM PESO

 

Folgani Bolongongo – Folha 8 – 05 outubro 2013
 
Algumas ins­tituições públicas, assim como privadas re­cusam-se a acatar, pura e simplesmente, as sen­tenças judiciais, inclusive os acórdãos proferidos pelo Tribunal Supremos, tal facto leva a presumir falta de autoridade dos respectivos órgãos de Jus­tiça ou certo compadrio no ajuizamento de deter­minados litígios, sobretu­do naqueles em que uma das partes é desprovida de influência nos principais organismos do Estado.
 
Tal situação contraria os números 2 e 3 do artigo 177º da Lei Constitucional que diz “as decisões dos Tribunais são de cumpri­mento obrigatório para todos os cidadãos e de­mais pessoas jurídicas e prevalecem sobre as de quaisquer outras autorida­des. A lei regula os termos da execução das decisões dos Tribunais, sanciona os responsáveis pelo seu incumprimento e respon­sabiliza criminalmente as autoridades públicas e pri­vadas que concorrem para a sua obstrução”, transcri­ção ipsi verbis das cláusu­las acima referenciadas.
 
Apesar da recomendação constitucional, a realidade da Justiça no Pais é, pura­mente “controversa”, bas­ta reflectir sobre o caso dos 153 funcionários de segurança da Sociedade de Gestão Portuária que plei­teiam judicialmente com a direcção do Porto de Luan­da. Embora tenham razão, mas estão em desvanta­gem. “Quid juris? (onde está o Direito?) ” meritíssi­mos, questionam o grupo de funcionários da (SGEP), ora despedidos.
 
Na sequência da perda do direito de exploração do terminal de contentores número dois do Porto de Luanda, por concurso pú­blico, a favor da Sociedade Gestora de Terminais S.A. (Sogester), o grupo de fun­cionários da SGEP ficou sobre a alçada da direcção Portuária que criou uma comissão de gestão porque o novo inquilino estava, le­galmente, incapacitado de ocupar as instalações, face à impugnação judicial da empresa perdedora.
 
Assim, a comissão de ges­tão nomeada pela direc­ção do Porto de Luanda arcou com a responsabili­dade salarial de todos fun­cionários da SGEP, tendo pago apenas um mês os agentes ligados à segu­rança, composto por 153 efectivos. Desapontados com a atitude dos novos responsáveis, intentaram uma acção judicial (2005). A entidade patronal saiu derrotada e foi obrigada a reintegra-los ou formali­zar o despedimento.
 
Caso a direcção do Porto de Luanda dissidisse pelo despedimento dos 153 funcionários de seguran­ça, teria o dever legal de os indemnizar. Inconfor­mado com o veredicto fi­nal no Tribunal Provincial de Luanda (Sala de Traba­lho), recorreu da sentença ao Supremo que também deu razão aos trabalhado­res da SGEP, integrados na comissão de gestão do terminal de contentores número 2, “entregue” a So­gester, S.A.
 
“Nestes termos e funda­mentos acordam os des­tas câmara, em revogar o despacho recorrido e or­denar que o juiz da causa cite o executado pagar ou nomear bens à penhora”, extrato do acórdão do Tri­bunal Supremo, processo número 821/2008. Assim, o Porto de Luanda foi obri­gado a acatar imediata­mente a decisão.
 
“Ordenar a citação do exe­cutado para no prazo de dez dias pagar ou nomear bens à penhora”, também constante do respectivo acórdão passado pelo Tri­bunal Supremo, no dia 07 de Abril de 2009. Apesar do respectivo veredicto judicial de segunda ins­tância, a direcção do Por­to de Luanda mantém-se irredutível.
 
Desesperados com o po­sicionamento do Porto de Luanda, os 153 funcio­nários recorreram (2013) ao Ministério dos Trans­portes para persuadir os responsáveis portuários a fim de cumprirem a deci­são judicial.
 
Continuaremos nas pró­ximas edições com mais elementos, a respeito deste tema que expõe o desrespeito às sentenças dos Tribunais, órgãos de soberania, investido de competência para admi­nistrar a justiça em nome do povo, como atesta o número 1 do artigo 174º (função jurisdicional) da Constituição da Repúbli­ca de Angola.
 
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JORNAL DE ANGOLA RENOVA CRÍTICAS E QUESTIONA PAPEL DE PORTUGAL NA CPLP

 

Carlos Santos Neves, RTP
 
Das investigações a figuras do empresariado angolano ao estatuto da diplomacia de Lisboa na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, com passagem pelo estado das relações bilaterais, o Jornal de Angola devotou este sábado mais um editorial a Portugal, um país, escreve aquele diário estatal, que enquanto “protectorado” da troika “está pior do que a Guiné-Bissau”. No mesmo texto, a publicação acentua acusações anteriores ao Ministério Público português, ao apontar o dedo a “magistrados” que “despudoradamente vão para a cama com jornalistas avençados”.
 
“Clarificação necessária” é o título do último editorial do Jornal de Angola sobre Portugal. No texto, o diário do regime de José Eduardo dos Santos invoca “alguns percalços” nas relações entre os dois países. Para fazer a apologia de “uma clarificação”. Tudo para que “não restem dúvidas quanto às boas intenções de parte a parte”.

“Em Angola existe uma inequívoca separação de poderes. Nunca os órgãos de soberania se atropelam ou tentaram intromissões abusivas. Se há um ponto onde a democracia angolana tem robustez, é no Poder Judicial”, escreve a publicação. Um ponto de partida para mais uma diatribe endereçada ao Ministério Público português: “Nesse aspecto, não recebemos lições de ninguém e muito menos de Portugal, onde todos os agentes políticos proclamam a separação de poderes mas aparentemente não estão preocupados que o Ministério Público tenha ligações perigosas com a comunicação social”.
 
“Infelizmente, temos exemplos de sobra que atestam esta realidade. O Ministério Público em Portugal é independente, faz gala da sua independência, mas depois alimenta manchetes na imprensa portuguesa que apenas visam julgamentos populares na praça pública, cujas vítimas inocentes são titulares dos nossos órgãos de soberania. Investiguem quem quiserem. Mas não violem o Segredo de Justiça para assassinarem a honra de altas figuras do Estado Angolano”, insiste-se no editorial, reproduzido na edição online do Jornal de Angola.

Adiante no texto, o jornal retoma a tese de que “os angolanos não querem ter em Portugal um estatuto especial”, apesar da existência de “laços afectivos profundos”. “Mas exigem respeito”, acrescenta.

“Nenhum democrata ousa pôr em causa a separação de poderes. Mas todos os democratas têm o dever de criticar magistrados judiciais e do Ministério Público que despudoradamente vão para a cama com jornalistas avençados e qua atuam na lógica das associações de malfeitores”, carrega o diário.

“Pior do que a Guiné-Bissau”

Na passada quinta-feira, num texto assinado por Carlos Pombares, com o título “O pedido de desculpas de Rui Machete”, o Jornal de Angola referia-se a Portugal como “um país muito pobre” que se “arreganha” face às antigas colónias como “um arauto dos valores da democracia europeia”.
 
O mesmo articulista aludia então às declarações do ministro dos Negócios Estrangeiros à Rádio Nacional de Angola sobre as investigações a angolanos em Portugal, reprovando “determinados políticos e muitas outras figuras públicas portuguesas” que “verberaram irracionalmente contra o pedido de desculpas apresentado por um governante português a Angola”: “O sofisma da humilhação que eles sentem naquelas palavras relativamente ao Povo Angolano”.

Desta feita, o Jornal de Angola vai ao ponto de questionar a “capacidade” de Portugal para continuar a desempenhar “um papel fundamental na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa”. E socorre-se, para tal, de declarações de Paulo Portas: “Portugal, segundo o senhor vice-primeiro-ministro do Governo português, é um protectorado. Lamentamos profundamente esta situação, mas pouco podemos fazer. E se pudéssemos, provavelmente as forças políticas portuguesas não aceitavam qualquer tipo de ajuda”.

Conclui aquele jornal que, se Portugal “está reduzido a um protectorado, como afirma o senhor vice-primeiro-ministro Paulo Portas e muitos outros políticos portugueses, não tem capacidade para assumir as suas responsabilidades na comunidade dos países que falam a Língua Portuguesa”.

“Está pior do que a Guiné-Bissau, apesar de tudo um Estado soberano”, estima a publicação.
 
Foto: Siphiwe Sibeko, Reuters
 

Relatora da ONU desafia Portugal e CPLP a lutarem juntos pelo acesso à água

 

RTP - Lusa
 
A relatora especial da ONU Catarina Albuquerque desafiou hoje Portugal e os restantes Estados-membros da CPLP a promoverem a inclusão do direito à água nas metas a definir após 2015, quando expiram os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio.
 
Em declarações à Lusa a propósito da Cimeira da Água 2013, que hoje termina em Budapeste e na qual interveio, a portuguesa Catarina Albuquerque explicou que este encontro, que reuniu 1.500 participantes em Budapeste, se enquadra no trabalho de preparação de uma agenda de desenvolvimento pós-2015.
 
Na agenda dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, definida em 2000 e com metas até 2015, não estava prevista qualquer meta para o setor da água e saneamento, algo que os organizadores da Cimeira da Água querem mudar.
 
A ideia deste encontro, por onde passaram o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, e os chefes das agências da ONU, é "dar visibilidade a esta área e torná-la um objetivo de desenvolvimento pós-2015 inevitável", afirmou Catarina Albuquerque.
 
O objetivo, defendeu a responsável, deve ser a universalização do acesso à água e ao saneamento até 2030.
 
Apesar de reconhecer que muitos progressos têm sido feitos no setor da água e do saneamento, contribuindo para que em 2010 se tivesse alcançado uma meta para 2015, Catarina Albuquerque concluiu que não chega.
 
"Se tivermos um objetivo claro, isso vai obrigar os países a darem mais prioridade à água e ao saneamento", o que terá impacto noutros setores, disse, exemplificando que metade das camas dos hospitais nos países em desenvolvimento estão ocupadas com pessoas com diarreias e outras doenças relacionadas com a falta de qualidade da água, o que provoca gastos na saúde e perdas na produtividade.
 
Recordando que a proposta "água e saneamento para todos até 2030" já foi apresentada à comunidade internacional por si própria, mas também pela UNICEF, pela Organização Mundial de Saúde e pelo painel de alto nível nomeado pelo secretário-geral da ONU, a relatora explicou que agora falta "colocar pressão sobre os Estados-membros das Nações Unidas para que apoiem" aquele objetivo.
 
Nesse sentido, defendeu que Portugal devia "mobilizar os países de língua oficial portuguesa, muitos dos quais têm uma série de desafios (...), para se juntarem numa posição unificada de apoio a um objetivo de desenvolvimento na área da água e do saneamento".
 
"Portugal pode e deve desempenhar um papel de liderança com os outros países-membros da CPLP", reiterou, recordando que nos últimos 20 anos Portugal tem feito "progressos enormes" na questão da água e saneamento, nomeadamente na qualidade da água.
 
"Estes progressos dão alguma esperança a outros países de que é possível avançar", afirmou.
 
Reconhecendo que Angola e Brasil já estão a fazer muito no setor da água, Catarina Albuquerque sublinhou: "Faria sentido, em bloco, lutarmos por um objetivo de desenvolvimento sustentável na área da água e saneamento".
 
Na Cimeira da Água, na terça-feira, Ban Ki-moon considerou "uma vergonha" que mais de um terço da população mundial tenha de consumir água não potável e viver ser sistemas de tratamento de águas residuais, pedindo "medidas urgentes" para abordar estes problemas.
 
O secretário-geral da ONU recordou que a diarreia é a segunda causa de morte entre os menores de cinco anos, e defendeu que qualquer gasto nesse âmbito é um investimento no futuro.
 
A cimeira termina hoje com a divulgação da chamada "Declaração de Budapeste", que deixará recomendações sobre o acesso à água.
 

OS FILTROS CANADIANOS – II

 

Martinho Júnior, Luanda (ver parte I)

1 – Fazer ecoar o que norte-americanos e canadianos têm feito no Brasil por via de instrumentos como a National Security Agency (NSA) ou a Agência Canadiana de Segurança em Comunicação (CSEC), é de importância ainda maior para África, tendo em conta a formação dos dois continentes (Gondwana: África – América do Sul), que se têm vindo a separar de há 200 milhões de anos… e o que tem ocorrido desde as caravelas e dos tempos do Rei Leopoldo, com novo impulso agora em tempos de globalização neo liberal!...

O que acontece hoje redunda do “como a Europa subdesenvolveu África”, um livro da autoria de Walter Rodney publicado em 1975 pela Seara Nova, que é sempre oportuno reler, até para comparar com o que acontece em nossos dias!

Os estudos geológicos que têm sido feitos sobre a deriva dos dois corpos em separação de Gondwana, em ambos os lados do Atlântico Sul, estudos de muito fresca data que acompanharam a descoberta do pré-sal em águas ultra profundas, complementam-se.

Está claro que em Angola, um país que emerge duma série ensanguentada de conflitos e guerras, a presença de canadianos, cientistas e técnicos que têm a geologia e o ambiente como base dos seus estudos, investigações e conhecimentos, tem sido avassalador no seguimento do Acordo de Luena de 4 de Abril de 2002: após o choque traumático prolongado, os instrumentos da globalização, sobre a égide dos “lobbies” da energia e da indústria mineira, tendo personalidades como Nelson Rockfeller ao leme do poder corporativo, dos think tanks e dos serviços de inteligência, exploram como ninguém os êxitos artificiosos e manipuláveis da “paz possível” através de várias vias e garantindo os emparceiramentos de conveniência…

É num país que por razões históricas tem um deficit crónico de quadros, em especial de cientistas e é perante a oportunidade criada que, como faca em manteiga quente, os interesses se movem: os resgates que se têm de realizar para fazer face a um subdesenvolvimento crónico com raízes nos tempos das caravelas, têm imensos obstáculos a vencer mesmo em época de ausência de tiros, por que o escancaramento de portas permite a rédea solta do domínio com a sua panóplia de meios técnicos e humanos!

Essa conjuntura tem sido extremamente favorável aos serviços de inteligência que estão acoplados às potências e às corporações internacionais globalizadoras, pelo que em Angola a inteligência UKUSA-ECHELON-NSA-CSEC têm um espaço quase inerte que não se cansa de explorar, tendo como esteira as explorações de petróleo, de gás, da indústria mineira que têm nos diamantes o maior dos aliciantes e, por tabela as investigações sobre o meio ambiente!...

… e exploram de tal maneira que até tornam os cientistas e técnicos-de-mão em verdadeiros activistas que catalizam atenções e vontades!...

Provocar a discussão e debatendo os temas é salutar, em especial quando as grandes orelhas garantem seu desempenho a partir de Ascensão!

2 – Os canadianos que se encontram em Angola a prestar serviço na indústria mineira (cobrem as áreas relacionadas com o petróleo, o gás, os diamantes e outros minerais), vêm ao abrigo dos mais variados interesses:

- Há aqueles que se ligaram a “libaneses”, seja aqueles que possuem passaporte do Líbano, seja aqueles realmente originários das monarquias arábicas que utilizam essa cobertura; uma parte deles estão no vale do Cuango;

- Há os que servem interesses de originários do Paquistão e da Índia;

- Há os que passam por sul-africanos e vendem seus préstimos a angolanos metidos nos negócios dos diamantes nos ricos vales do Cuanza e do Cuango; uma parte deles estão no planalto do Bié, região central das grandes nascentes;

- Há os que se resguardam na nacionalidade canadiana (o Canadá é um país que continua a receber grandes fluxos migratórios), quando não perderam os laços com países de origem (e isso acontece com aqueles que saíram de “áreas quentes” como o Médio Oriente);

- Há os que estão ao serviço como consultores de empresas multinacionais conhecidas; uma minoria está em áreas urbanas.

Em todos os casos os canadianos reportam por exemplo a interesses israelitas tradicionais na actuação no espaço SADC, desde o Congo à África do Sul, inclusive a israelitas que se identificam com os interesses dos falcões em toda essa vasta região, no seguimento duma linha que, se não é do Cabo ao Cairo, é do Cabo a Cartum… em direcção a Telaviv!…

Uma das “interfaces” israelitas é a Mitrelli, uma multinacional presente em Angola há pouco mais de vinte e cinco anos, que se dedica a agronegócios, gestão de recursos agro-pecuários, gestão de suportes logísticos, actividades comerciais, actividades de defesa e segurança, actividades mineiras…

A sua vinda para Angola resultou da aproximação que houve na época decisiva em que se procurou neutralizar os “diamantes de sangue”, que levaram alguns sectores de Israel a apoiar Angola.

Tem uma presença meritosa, mas não deixa de ter suas ligações…

A Mitrelli está também no Brasil e em África está ainda na Libéria e na Somália…

É lógico que alguns desses interesses existem com suporte de “lobbies” no quadro da energia e da indústria mineira, que têm fluxos em casas como as de Rockefeler e as de Rothshild, passando por carteis como o dos diamantes, da platina e do ouro (De Beers, Anglo American, etc….)!

Outros sectores ligam-se a interesses russos!

3 – Em “Colapso na estratégia do petróleo em Angola” citei o “expert” Tako Koning, um prestigiado geólogo, canadiano de origem holandesa, que prestou serviço à Texaco e à Chevron e agora está reformado (“por meia hora” conforme ironicamente faz constar); de facto ele mantém-se muito activo utilizando a cobertura de consultor, primeiro da Tullow Oil e depois da Gaffney, Cline and Associates!

Tako Koning é um típico activista, um entusiasta que se move à vontade como um homem de cultura profissional sólida, utilizando um espectro muito favorável e um perfil convincente:

- Publicou mais de 100 intervenções;

- Realiza conferências em Angola e em diversas partes do mundo, em especial em universidades, mas também em ambientes menos convencionais como o Clube “Viking”, como aqueles que tiram partido das múltiplas iniciativas do Angola Field Group, ou ainda em inspecções às áreas da Barra do Dande e aos Libongos, a norte de Luanda, onde foram feitas as primeiras prospecções de petróleo “onshore” em Angola e onde se podem aperceber os sinais geológicos das texturas que integram o pré-sal africano.

- Liga-se com outros investigadores de outras áreas como as do meio ambiente, fauna e flora angolanos, de forma a trocarem informação e, como é lógico, “passar a pente fino” um país que no post guerra está todo por explorar e conhecer.

- Beneficia dum ambiente pródigo – as descobertas frescas no pré-sal angolano, sequência das descoberta no Brasil, sendo em ambos os casos ele é um “expert”.

No intervalo Tako Koning vai distribuindo mosquiteiros, envolvendo-se na batalha contra a malária, um flagelo que continua a atingir vastas áreas em Angola.

4 – É à volta desse tipo de personalidades que a inteligência na especialidade e os interesses “no terreno” vão gravitando; com criatividade, capacidade financeira, recursos humanos capazes de enfrentar condições “rústicas” e experiência, há toda uma fórmula que capta, convence e garante proficuidade de métodos e processos.

Angola no post guerra é um terreno virgem, fértil e onde uma inquietante ausência de quadros nacionais facilita um vácuo que está a ser aproveitado de forma marcante e obedecendo a estratégias persuasivas e atractivas no seu “modus operandi”!

Há um ditado antigo que diz que “em terra de cegos, quem tem um olho é rei”!... imaginem quando aparecem com tantos olhos!...

O Angola Field Group é um dos palcos dilectos de Tako Koning, mas o mais suculento das informações científicas que “experts” como ele recolhem decerto que irão para áreas reservadas que não as de Angola.

Provavelmente eles, ao lerem estas linhas, vão torcer um pouco o nariz… todavia, inteligentes e experientes que são, que sejam capazes de provar o contrário…
Como ainda não o provaram e como há Edward Snowden!…

5 – Uma das atracções do Angola Field Group que deixa uma impressiva admiração, é o trabalho de investigação sobre a palanca negra gigante em Cangandala e na Reserva Natural e Integral do Luando, na margem direita do rio Cuanza.

O trabalho que está publicado é de excelência e reflecte uma investigação científica de mérito, que pressupõe um trabalho bem compendiado e catalogado, em curso.

Quer Cangandala, quer a Reserva Natural e Integral do Luando ficam numa das regiões mais geo estratégicas de Angola: próximo do centro geográfico, na região central das grandes nascentes e na posição de conexão dos ricos vales do Cuango e do Cuanza, precisamente em torno do que foi a Zona Estratégica de exploração de diamantes de sangue de Savimbi no Cuanza, situada entre a meridiano do Andulo e o meridiano da comuna do Cuanza (onde existe a ponte do CFB).

Essa Zona Estratégica abrangia o nordeste do Andulo, a Lúbia, a Nharêa, o Dando e o nordeste de Camacupa, na Província do Bié; a leste dela, do outro lado do rio, estava a zona de fuga, que foi utilizada por Savimbi após a Operação Restauro das FAA, entre finais de 1999 e princípios de 2000.

Nessa zona de fuga foi encontrado escondido nas matas um lança-rockets Ouragan.

Ao investigarem o meio ambiente, a fauna e a flora em Cangandala e na Reserva Natural e Integral do Luando, os cientistas, investigadores e técnicos estão numa das mais ricas regiões de diamantes aluviais de Angola, o que quer dizer que por tabela estão coincidentemente nas “minas de Salomão”!

Ora acontece que não é por acaso que é sobretudo no interior profundo de Angola que se espalham muitos dos canadianos presentes no país, que têm no Bié um dos principais fulcros de suas esmeradas atenções!

Muitos deles ali passam-se por sul africanos!

6 – O que foi provado pelo Wikileaks em relação a Tako Koning?

Será que tudo funcionou por mera amizade entre Tako Koning e Mark Schroeder de acordo com os interesses da Statford?

Se foi possível o intercâmbio entre um e o outro, quantos mais “intercâmbios” haverão?

Depois das revelações provenientes de Edward Snowden é mais que justo colocar muitas interrogações sobre o verdadeiro papel de Tako Koning e de muitos outros que fizeram a “descoberta de Angola”, a modos como nos bons velhos tempos de Diogo Cão!

É a vez dos angolanos também os ir descobrindo, quanto mais não seja para ficar registado!

Eis um exemplo da “correspondência”, publicada pela Wikileaks:

“From: Mark Schroeder [mark.schroeder@stratfor.com]

Sent: Wednesday, June 16, 2010 3:50 PM

To: Tako Koning

Subject: question from STRATFOR

Dear Tako:

Greetings again, I hope all is well in Luanda? I just wanted to ask a curious question, as to why Lobito/its environs was selected as the location for the proposed new refinery? The government can justify needing a big new refinery, but why Lobito and not closer to Luanda, where presumably most of the demand for the end product will come from?

Thank you for your thoughts.

My best,

--Mark

Mark Schroeder
STRATFOR
Director of Sub Saharan Africa Analysis
T: +1-512-744-4079
F: +1-512-744-4334
mark.schroeder@stratfor.com
www.stratfor.com

As respostas de Tako Koning serão para uso de quem?

Mapa: Perspectiva Leste – Oeste do corte do Atlântico Sul, evidenciando os depósitos de pré-sal – Geological similarities with Brazil’s pre-salt attract investments to Africa – http://www.offshore-mag.com/articles/print/volume-70/issue-7/latin-america/geological-similarities-with-brazils-pre-salt-attract-investments-to-africa.html

A consultar:
. West Africa and pre-salt –
http://www.oilreviewafrica.com/geology/geology-a-geophysics/west-africa-and-pre-salt
. Angola Field Trips are geology and more –
http://www.aapg.org/explorer/2012/02feb/make_difference0212.cfm
. Oil and geology in Cuanza Basin of Angola –
http://aapgbull.geoscienceworld.org/content/50/1/108.abstract
. The will to drill –
http://www.nytimes.com/2011/01/16/magazine/16Drilling-t.html?_r=2&hpw&
. Oil and geology in Cuanza Basin of Angola –
http://aapgbull.geoscienceworld.org/content/50/1/108.abstract
. New play, new rules –
http://www.mirandalawfirm.com/uploadedfiles/42/26/0002642.pdf
. Angola’s deepwater goldem Block 17 –
http://www.oilandgasonline.com/doc/angolas-deepwater-golden-block-17-0001
. Angola – Oil, Diamonds and Blood –
http://insomniacs2.wordpress.com/2012/07/05/angolaoildiamonds-and-blood/
. A diamond in the rough –
http://www.haaretz.com/weekend/week-s-end/a-diamond-in-the-rough-1.373420
. Angola Field Group –
http://angolafieldgroup.com/
. Cangandala –
http://pt.wikipedia.org/wiki/Parque_Nacional_da_Cangandala; http://angolafieldgroup.com/tag/cangandala-national-park/
. Giant sable –
http://angolafieldgroup.com/palanca-negra/
. Reserva Natural e Integral do Luando –
http://ecoharia.blogspot.com/2006/03/reserva-natural-do-luango.html
. Nova vida –
http://www.exameangola.com/pt/?det=33030
. Grupo Mitrelli participa na 1ª feira sobre energia e águas –
http://www.portalangop.co.ao/angola/pt_pt/noticias/ciencia-e-tecnologia/2013/8/39/Grupo-Mitrelli-participa-feira-sobre-energia-aguas,d2b63291-fb22-486d-a287-22950fbd17e7.html
. Operação Restauro – O marco da viragem para o caminho da paz –
http://www.consuladodeangola.org/index.php?option=com_content&task=view&id=124&Itemid=158
. O vale do Cuango –
http://pagina--um.blogspot.com/2011/01/o-vale-do-cuango.html
. Ainda o cale do Cuango – I –
http://paginaglobal.blogspot.com/2013/03/ainda-o vale-do-cuango-i.html
. Ainda o cale do Cuango – II –
http://paginaglobal.blogspot.com/2013/03/ainda-o-vale-do-cuango-ii.html
. Ainda o vale do Cuango – III –
http://paginaglobal.blogspot.pt/2013/03/ainda-o-vale-do-cuango-iii.html
. Ainda o vale do Cuango – IV –
http://paginaglobal.blogspot.com/2013/03/ainda-o-vale-do-cuango-iv.html
. Colapso na estratégia do petróleo em Angola – http://paginaglobal.blogspot.com/2013/09/colapso-na-estrategia-do-petroleo-em.html
. La espionagem es parte de la guerra total – http://www.jornada.unam.mx/2013/09/20/index.php?section=opinion&article=027a2pol
. Question from STRATFOR – Tako Koning – https://wikileaks.org/gifiles/docs/5043777_re-question-from-stratfor-.html

 

UE Imigração: LAMPEDUSA MERECE NOBEL DA PAZ

 

Le Monde, Paris
 
O repórter Fabrizio Gatti, que se fez passar por imigrante árabe clandestino, explica porque defende que a ilha, que simboliza a política de migração da União Europeia e é o posto avançado da Europa no Mediterrâneo, merece ser recompensada pela forma como os seus habitantes acolhem imigrantes que dão à sua costa aos milhares.
 
 
Há exatamente dez anos, em 2003, em dias de outono como os de hoje, fiz papel de “infiltrado” numa viagem pelo tráfico de seres humanos. Da África para a Europa, através do Senegal, Mali, Níger, Líbia, Argélia, Tunísia e, finalmente, a ilha de Lampedusa. Decidi encarnar Bilal, um nome inventado, ao olhar para as fotografias tiradas de helicóptero de corpos flutuando no Mediterrâneo de barriga para baixo, inchados como balões, de braços abertos para um abraço que não veio.
 
Foi num naufrágio, um dos muitos. Diante da ilha mítica de Kerkennah, na Tunísia: 41 sobreviventes, 12 cadáveres recuperados, 197 desaparecidos. Passaram-se dez anos e para milhares de outras pessoas a vida acabou de barriga para baixo, corpo inchado e braços abertos.
 
Naquelas águas, o sítio de Internet Fortress Europe contou 6825 mortos desde 1994, incluindo 2352 só em 2011. Considerando todas as fronteiras do Sul europeu, das ilhas Canárias à Turquia, o número de mortos desde 1988 ascende a 19 142.
 
O aspeto mais absurdo é que todas essas pessoas morreram por uma capa de cartolina com um punhado de páginas no meio: um passaporte. Foi a viajar em camiões cheios como sardinhas em lata através do Sara ou ao ser detido como Bilal num acampamento de imigrantes ditos ilegais que percebi o instrumento extraordinário e diabólico que pode ser o passaporte.
 
Ausência de um projeto conjunto
 
Se tivermos o que é reconhecido, cruzamos as fronteiras e integramos o mundo dos sobreviventes. Caso contrário, temos de nos colocar nas mãos dos traficantes e integramos o mundo dos náufragos. Mas podemos deixar morrer jovens, mulheres, crianças e pais por uma capa de cartolina com um punhado de páginas no meio?
 
Ao longo destes anos, a União Europeia gastou centenas de milhões de euros para proteger as suas fronteiras através da Frontex, o seu serviço de polícia de estrangeiros. Quanto a isso, os Estados-membros chegaram facilmente a um acordo. Mas com a aplicação das convenções em matéria de refugiados, o dever de assistência no mar tantas vezes esquecido, as normas sobre imigração, praticamente nada foi gasto. Cada Estado fica entregue a si mesmo.
 
Assim, a ausência total de um projeto conjunto para dezenas de milhares de exilados sírios, eritreus, somalis e de outras nacionalidades, bem como a não abertura de corredores humanitários num território que se estende desde os campos de detenção da Líbia aos campos de refugiados da Turquia, transforma paradoxalmente as máfias na única entidade internacional de expatriação a oferecer uma saída. Os desastres são a consequência disso mesmo.
 
Nada disso impediu a União Europeia de receber o Prémio Nobel da Paz, no ano passado. Daí que, confrontado com imagens de novos corpos flutuando no mar, tenha sentido necessidade de quebrar o silêncio e propor a recolha de assinaturas para atribuir o Prémio Nobel da Paz, a partir de 2014, aos milhares de sobreviventes e náufragos, em fuga, a tentar escapar das guerras. Está no sítio de Internet de L' Espresso, o semanário para o qual trabalho.
 
Local real e simbólico
 
Uma vez que o Nobel não pode ser entregue aos que morreram no mar, proponho que seja atribuído – em nome dos mortos e dos sobreviventes – à pequena cidade de Lampedusa e aos seus habitantes, que nunca deixam de recolher um corpo para terra. Lampedusa não é o Estado italiano, que, por uma lei absurda, prevê que os 155 sobreviventes sejam julgados [pelo crime de imigração ilegal]. Lampedusa também não é a Europa, é apenas o ponto mais próximo de África.
 
Lampedusa é o primeiro local, real e simbólico, que se interpõe entre nós, espectadores, e os homens, mulheres e crianças que se agarram aos rochedos a pedir ajuda. Lampedusa e os seus seis mil habitantes nunca, durante esta trágica década, perderam a razão e o bom senso, que não faz distinção entre cidadãos e imigrantes clandestinos.
 
Esse senso comum, senti-o na carne. Na noite de 23 para 24 de setembro de 2005, quando, na minha investigação, me atirei à água, simulando ser um clandestino. Um homem que eu não conhecia e que não me conhecia descobriu-me no mar ao fim de longas horas. Ajudou-me a chegar a terra e deitou-me sobre uma pedra. Tirou a T-shirt e cobriu-me o peito. Como eu continuava a tremer, deitou-se em cima de mim e assim me aqueceu, sem saber quem eu era. Ele era pesado. Eu estava sujo, desgrenhado e barbudo; podia estar doente ou ter algo contagioso.
 
No final da minha investigação e após o lançamento do meu livro, voltei a vê-lo. Massimo Costanza não é socorrista de profissão. É eletricista, tem mulher e filhos. É uma pessoa comum.
 
O Prémio Nobel da Paz tem uma razão de ser. Sem a sua atribuição a Aung San Suu Kyi, muito poucas pessoas teriam tomado conhecimento da ditadura na Birmânia. É por isso que é preciso assinar esta petição: para quebrar o silêncio e dar a conhecer ao mundo o que está a acontecer no extremo Sul da União Europeia.
 
Traduzido por Ana Cardoso Pires
 
Na foto (AFP) - Um grupo de pescadores prepara-se para colocar uma coroa de flores em memória dos imigrantes mortos a 5 de outubro, ao largo da ilha de Lampedusa
 
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