domingo, 5 de janeiro de 2014

EUSÉBIO, UM MOÇAMBICANO QUE NASCEU REI PARA PORTUGAL E PARA O MUNDO

 


Eusébio, um moçambicano-português que nunca foi príncipe porque nasceu rei do futebol, como em todo o mundo assim o reconhecem. Eusébio, um jovem de 17 anos que desembarca no aeroporto de Lisboa e vai habitar o Lar do Benfica, junto ao cemitério, em Benfica – depois de algumas peripécias recambolescas protagonizadas pelo Sporting e pelo Benfica. 
 
Era tão jovem que a mãe escreveu a Mário Coluna, também moçambicano, jogador de gabarito do Benfica, com mais idade e experiência de vida e no mundo do futebol, para que tomasse conta do filho. E Coluna quase fez de Eusébio seu filho, sendo exigente no “mundo novo” de Lisboa que para Eusébio era deslumbrante mas não foi de perdição. “Pai” Coluna tinha o seu “filho” marcado e controlado – tirando uma fuga ou outra que Eusébio fazia, às vezes em véspera de jogo. Mas rápidamente os “mais velhos” o faziam arrepiar caminho e “ter juízo”.
 
A dedicação e o potencial de força do jovem Eusébio tudo superava. Eusébio no Estádio da Luz, nos treinos, era o exemplo a seguir… Até pelos mais velhos. Não era uma fuga do jovem Eusébio do Lar do Benfica para vir cavaquear ao Penalty (restaurante do Cávem e do Bastos, ambos jogadores do Benfica), logo ali ao lado do café Nilo, frente à igreja de Benfica, que manchava o desempenho do Rei Eusébio nos jogos ou nos treinos. O profissionalismo primeiro, a responsabilidade, o querer e o saber também. O resto nasceu com ele, por isso nasceu Rei.
 
Para os mais jovens ou para os que esqueceram o percurso deste grande futebolista e bom homem retirámos da Wikipédia referências do historial do grande homem e desportista que faleceu esta madrugada, aos quase 72 anos. Todas as homenagens que lhe façam será pouco, principalmente pelo homem que era. Como futebolista foi um Fora de Série, um potentado que pairava (e paira) acima das clubites. Eusébio estará sempre nos corações daqueles que o conheceram, por isso vive. Eusébio manterá viva a chama da admiração de todos que o viram jogar e também daqueles que de Eusébio ouvem falar. O rei continuará vivo, eternamente. (Redação PG)
 
Infância e juventude
 
Eusébio nasceu no bairro de Mafalala, em Maputo (na época Lourenço Marques), em Moçambique (ex colônia portuguesa), a 25 de janeiro de 1942, filho de Laurindo António da Silva Ferreira, ferroviário, branco, natural de Angola e, de Anissabeni Elisa, uma negra moçambicana. Foi o quarto filho do casal. Criado numa sociedade extremamente pobre, costumava faltar às aulas para jogar descalço futebol com os seus amigos em campos improvisados e utilizando bolas de futebol improvisadas. O seu pai morreu com tétano, quando Eusébio tinha 8 anos de idade, de modo que Elisa tomou quase exclusivamente cuidado parental do jovem Eusébio.
 
Carreira - O início
 
Mais tarde, Eusébio procurou inscrever-se no clube O Desportivo, mas não foi aceite, por ter um problema no joelho. A vontade de jogar futebol falou mais alto do que o clubismo, por isso, dirigiu-se ao Sporting Lourenço Marques. Tendo sido aceite nesta filial moçambicana do clube leonino de Lisboa, Eusébio jogou de leão ao peito até à sua ida para Portugal. Antes disso, chegou a ser indicado à equipa brasileira do São Paulo, após o ex-jogador do clube José Carlos Bauer, que havia participado nos Campeonatos Mundiais de 1950 e 1954, observá-lo em Lourenço Marques, em 1960. O Tricolor Paulista, entretanto, desdenhou do investimento. Bauer então conversou com Béla Guttmann, que fora seu treinador no São Paulo, sobre o jovem. Guttmann já treinava o Benfica na época.
 
O negócio da transferência do menino de 17 anos ficou então marcado pela polémica, devido à luta que houve entre os dois rivais de Lisboa para conseguir o passe do rapaz. O [Benfica] tinha tudo acordado com Eusébio e com o Sporting Lourenço Marques. No entanto, os responsáveis sportinguistas, sabendo tratar-se de um diamante em bruto, foram buscar o jogador ao Aeroporto, encaminhando-o para um hotel. Desta forma, Eusébio não pode assinar pelo Sporting visto que o seu pai já teria assinado pelo S.L.Benfica]] quando ainda corria o ano de 1960. Logo na primeira época de camisola vermelha vestida, o "Pantera Negra" ajudou o Benfica a conquistar o seu último troféu europeu e a sua segunda Taça dos Campeões Europeus consecutiva, acabando de vez com a hegemonia do Real Madrid.
 
Benfica
 
A 15 de dezembro de 1960 chegou a Lisboa. Eusébio jogava na filial leonina de Lourenço Marques quando um funcionário do Benfica tratou da sua transferência para as águias. Colocou o Eusébio num avião sob um nome falso (Ruth Malosso - que pertence a uma cidadã portuguesa) e avisou os leões de que o jogador tinha partido para Lisboa de barco. Na capital, Eusébio era esperado por dirigentes da turma da Luz e alguns jornalistas.
 
O Sporting Clube de Portugal não desistiu e voltou à carga, duplicando a oferta do Benfica, que acabou por pagar à mãe de Eusébio, Elisa Anissabene, 250 contos (250 milhares de escudos) pela transferência. Os encarnados esconderam o rapaz de 18 anos numa unidade hoteleira em Lagos, Algarve, evitando que ele fosse comprado pelo Sporting, e assim seguraram o reforço.
 
Menos de uma semana passou e Eusébio regressou à capital e já era jogador do Benfica.
 
Estreou-se no Estádio da Luz a 23 de maio de 1961, num jogo amigável contra o Atlético em que marcou 3 dos quatro golos do Benfica. As peripécias que se sucederam desde a sua chegada atrasaram a assinatura do contrato, o que iria impedir de estar presente em Berna, na noite do primeiro triunfo europeu do Benfica. A sua fama internacional vem do jogo da segunda final europeia do Benfica em 1962, contra o Real Madrid. Não só marcou dois golos como fez uma exibição de luxo com as características que o iriam tornar famoso: a velocidade estonteante e o remate fortíssimo.
 
A France Football considera-o o segundo melhor jogador do mundo, em 1962. Os convites para jogar no estrangeiro obviamente surgiram. A Juventus oferece-lhe 16000 contos, em 1964, numa altura em que ganhava 300 contos no Benfica. A tentação era tão grande que o governo de então o envia para a tropa, não permitindo que se venda um tesouro nacional deste tamanho. O Benfica acabaria por lhe aumentar o salário para 4000 contos. No mundial de 1966 em Inglaterra, torna-se definitivamente uma estrela mundial, um digno rival de Pelé. O epíteto de "Pantera Negra" vai correr o mundo. A facilidade em marcar golos torna-o no melhor marcador do mundial com 9 golos, ajudando a levar Portugal ao terceiro lugar. Após o mundial, os italianos fazem uma nova oferta a Eusébio: 90000 contos. Quando parecia que desta vez nem o governo poderia impedi-lo de aceitar, surge a notícia de que os clubes italianos deixam de poder contratar jogadores estrangeiros.
 
A carreira de Eusébio foi recheada de lesões, tendo sido operado 6 vezes ao joelho esquerdo e 1 vez ao direito. Nunca deixou de jogar, mesmo em condições dolorosas, até porque sabia que o Benfica dependia muito dele e que os espetadores não aceitariam bem a sua ausência. Realizaram-lhe uma festa de despedida, em Setembro de 1973, mas continuou ainda a jogar até 1979.
 
O seu último jogo com a camisa do Benfica foi no dia 18 de junho de 1975, frente à seleção africana, em Casablanca.
 
Seleção Nacional Portuguesa
 
Estreou-se na Seleção Nacional Portuguesa a 8 de outubro de 1961. Em 1966, vestindo a camisola das quinas, foi um dos protagonistas do Campeonato do Mundo jogado em Inglaterra. Com uma prestação fenomenal, Eusébio foi uma das principais armas portuguesas para uma das melhores campanhas internacionais de sempre. Logo no primeiro Campeonato do Mundo, Portugal chegou aos quartos-de-final, deixando pelo caminho equipas como a da Coreia do Norte (a grande surpresa do torneio, logo depois de Portugal), Hungria e Brasil (um dos principais favoritos, sendo que de entre uma equipa genial se destacava o número 10, Pelé). Portugal acabou por sair derrotado contra a equipa da casa, num jogo que ficou conhecido pelo "Jogo das Lágrimas", e que ficou marcado por contestações à organização do torneio. A marca de Eusébio de golos marcados no Campeonato do Mundo de 1966 ficou registada como a maior da prova.
 
Eusébio obteve a sua última internacionalização a 19 de outubro de 1973.
 
Final de carreira
 
Nas temporadas de 1976-77 e 1977-78, Eusébio jogou em duas equipas menores portuguesas: Beira-Mar, na Primeira Divisão e União de Tomar, na Segunda Divisão.
 
Jogou também na North American Soccer League (NASL), por três equipas diferentes, de 1975 a 1977: Boston Minutemen (1975), Toronto Metros-Croatia (1976, e Las Vegas Quicksilvers (1977). O seu maior sucesso na NASL foi em 1976, com Toronto Metros-Croatia. Eusébio marcou na vitória por 3-0 no 76 Soccer Bowl para ganhar o título da NASL. No mesmo ano, disputou dez jogos pelo Monterrey no campeonato mexicano.
 
Na temporada seguinte (1977), assinou pelos Las Vegas Quicksilvers. Acabaria por ser um final muito decepcionante da carreira de Eusébio. Por esta altura, as lesões tinham magoado o "Pantera Negra", e ele estava constantemente a receber tratamento médico enquanto jogava pelos Las Vegas Quicksilver. Durante a temporada, ele só conseguiu marcar dois golos.
 
Apesar de os joelhos lhe terem roubado a capacidade de continuar na NASL, Eusébio queria continuar a jogar futebol. Encontrou uma casa em 1978 com os New Jersey Americans da segunda linha American Soccer League (ASL). Foi forçado a aposentar-se de vez no final da temporada. Eusébio jogou cinco jogos pelos Buffalo Stallions durante a temporada 1979-1980 da Major Indoor Soccer League.
 
Em Outubro de 1963, foi seleccionado para representar a equipa da FIFA no "Aniversário de Ouro" da "Football Association" no Estádio de Wembley.
 
Eusébio aposentou-se em 1979 e fez parte da comissão técnica da Selecção Nacional Portuguesa até ao seu falecimento.
 
Falecimento
 
Eusébio faleceu cerca das 3h30m da madrugada de domingo, 5 de janeiro de 2014, vítima de uma insuficiência cardíaca, a poucos dias de completar 72 anos de idade.
 

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