segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

FADO, FUTEBOL E FÁTIMA VOLTARAM A PORTUGAL. E A DITADURA?

 

Mário Motta
 
Portugal era o país dos três efes durante a ditadura salazarista. Prevalecia o fado, futebol e Fátima. Era o denominado ópio do povo fornecido pelo regime ditatorial, era a alienação. E a coberta mal amanhada do salazarismo. Quanto a Fátima e ao fomento da adulação exacerbada Salazar teve a possibilidade de contar com o apoio incondicional do seu ex-colega universitário em Coimbra, o cardeal Cerejeira, tão fascista quanto Salazar. No futebol também Salazar contava com alguns dos seus fanáticos apoiantes nas direções da maior parte dos clubes desportivos. Na capital o privilégio ia direitinho para os maiores clubes. O Sporting, o Benfica e Os Belenenses. No norte prevalecia a preferência e a proteção em troca de apoio ao Futebol Clube do Porto. Na maior parte dos pequenos clubes o controlo estava nas direções entregues a regedores, a caciques, a pides e outros bufos salazaristas e fascistas.
 
Quanto ao fado, o regime usava-o em prol da manipulação de um falso nacionalismo, mesmo que os fadistas não quisessem fazer parte da manipulação acabavam por cair nela. Amália Rodrigues foi uma das principais aparentes colaboradoras daquele regime, acabando por, em troca, beneficiar de algumas vantagens pessoais que não enjeitou. 
 
Assim, deste modo, era nos tempos da ditadura, nos tempos do salazarismo… Quase tudo indica que esses tempos voltaram, ou estamos muito próximos deles. O condutor retrógrado é Cavaco Silva e os seus protegidos Passos e Portas, entre mais uns quantos oportunistas e bajuladores babosos. É assim que assistimos a uma praga de condecorações a fadistas – ao fado -, ao futebol – ainda há pouco tempo aproveitando a morte de Eusébio (um amorfo usado e abusado por Salazar) e agora condecorando – hoje – Cristiano Ronaldo. Fátima já foi. Cavaco até meteu a senhora em declarações suas relacionadas com a política, a economia e as finanças… Salazar dos milagres, Cavaco dos milagres.
 
Perante estas semelhanças de Cavaco Silva com o salazarismo, e das suas políticas declaradas ou encapotadas, não parece que o povo português se preocupe e não tema o tal regresso ao passado negro de uma ditadura moderna (se é que podemos assim classificar) com aparências de democracia. É que a nossa vivência atual já está com um pé dentro e outro fora desse regime ditatorial. E então? Não se reage? Não se nega o direito de certos e incertos políticos, abastados empresários e capitalistas nacionais e globais nos privarem da liberdade, da democracia, do direito à nossa dignidade e soberania? Do que estão os portugueses à espera para reagirem e exigirem que se cumpra a Constituição da República Portuguesa e a Declaração Universal dos Direitos Humanos? É que nem uma nem outra estão a ser cumpridas, em muitos aspetos, pelos que tomaram o poder com promessas balofas, com mentiras que se tornam cada vez mais evidentes a cada dia que passa.
 
Do escrito não se infira que Cristiano Ronaldo não merece ser condecorado, como profissional de futebol. Que Argentina Santos, Vicente da Câmara ou Carlos Gonçalves, do fado, não mereçam essas condecorações e reconhecimentos pelas suas carreiras. Porque merecem. Até a senhora Fátima merecerá alguma condecoração – de que nem Salazar, nem Cavaco se lembraram. Não são as condecorações que estão erradas ou nas pessoas erradas. O que é triste, repelente e perigoso é aquilo que está por trás do referido “espetáculo”. É o oportunismo flagrante, desdenhoso, obesceno, que o atual regime - com défice democrático e até sem atual legitimidade representativa – usa para alienar e mascarar a miserável realidade portuguesa, protagonizada pelos verdadeiros roubos aos seus cidadãos, pela pobreza para que os empurraram e empurram, pela desigualdade gritante que, sem dúvida alguma, é inadmissível num país que se diz e era suposto viver numa democracia representativa dos seus eleitores onde os eleitos zelassem pelos interesses dos que neles votaram – que é o mesmo que zelar por Portugal sem efes, sem aprendizes nem sábios de ditaduras disfarçadas de democracia. Portugal é muito digno e quando não o é a causa não é o seu povo mas sim os péssimos políticos que para serem eleitos usam e abusam de falsidades inadmissíveis. O resultado é este engano permanente que tem levado os portugueses a votarem onde e em quem não devem. Em máfias no lugar de partidos políticos. Porque essas mesmas máfias destroem os partidos políticos, destruindo a democracia, a justiça, Portugal, a Europa e o mais que lhes der na desleal gana.
 

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