A
propósito do sumiço de 5,7 biliões de dólares no “Caso Sobrinho/BESA”, uma
observação assaz pertinente, publicada em primeira mão no estrangeiro e
“postada” no Facebook sobre o que se passou nestes últimos quatro ou cinco anos
no Banco Espírito Santo Angola, chama à atenção do leitor o volume do dinheiro
sacado nesse banco por “Quem de direito”: «Quanto dinheiro cabe numa mala? Numa
mala de executivo cabe um milhãozito em notas de cem dólares, bem apertadinhas.
Agora imagine que levantou de um banco 525 milhões. 525 malas, um camião TIR! (pelo
que se diz são mais de setecentos milhões o que Sobrinho papou). É de outro
mundo? Não, é deste.
William
Tonet e Arlaindo Santana – Folha 8 – 13 junho 2014
Aconteceu
em Angola, no BESA, com gestores angolanos e portugueses. Onde está o
dinheiro? Uma parte foi depositada em contas de não se sabe quem, a outra em
contas do presidente e de um administrador do banco. Chocado? Então continue a
ler».
Foi
o que fizemos, continuámos a ler, mas antes de entrar no miolo deste golpe
magistral, quase mortal para qualquer banco, vamos fazer um pequeno retorno
no tempo para melhor entender a situação actual.
No
ano de graça de 2009 depois de Jesus Cristo, o Banco Espírito Santo Angola
(BESA) foi distinguido com o prémio Banco do Planeta, atribuído pelas Nações
Unidas através da Unesco. O seu director executivo desse tempo era um angolano,
Álvaro Madaleno Sobrinho, personagem perseguida pelo fisco e Ministério
Público de Portugal por ter sido, alegadamente, surpreendido numa tarefa
rotineira de lavar dinheiro sujo proveniente, vejam só, de Angola.
Não
sei se estão a ver o topo da montanha, estamos em plena crise financeira e
económica, ofertada sem juros pela falência do gigantesco banco americano
Lehman Brothers, e eis que neste cataclismo monetário uma instituição bancária
angolana faz.
A
mostra das suas excelentes qualidades de gestão e recebe de mão beijada uma
prestigiosa distinção internacional. Palmas na assistência e restante povo,
festa entre os accionários, louros para Álvaro Sobrinho, tudo ouro sobre azul,
com os juízes portugueses a encolherem-se e, claro está, o brasão desse
bancário a brilhar de novo em todo o seu fulgor d’antanho, novinho em folha!
Sobrinho
continuou a dirigir o BESA, o homem fez o que quis e o BES de Lisboa deixou
fazer. O Sobrinho agradeceu, foi ao cofre e serviu-se, mas só depois – e disso
não restam muitas dúvidas -, de ter servido em grande as mais gigantescas
“Trutas” empresariais, financeiras e políticas do regime JES/MPLA. Tão simples
como isso.
Nesta
proveitosa passeata ao longo da majestosa auto (mática)-estrada da corrupção
angolana, passaram dois anos sem qualquer problema, mas, em 2011, os auditores
comanditados por Lisboa repararam que o BESA estava numa situação tão má que
só com ajuda exterior poderia escapar a uma fraudulenta bancarrota, o buraco
atingia quase seis biliões de dólares e…já agora, adivinhem quem foi ao socorro
do BESA… não vale a pena adivinhar, é elementar, foi o Estado angolano, graças
à intervenção providencial de JES, que se prestou a assumir e a prestar
garantias oficiais sobre estes créditos malparados.
Isto
há maneiras de ganhar dinheiro e enriquecer em dois tempos e três movimentos
que nem ao Mafarrico passaria pela cabeça! Foram quase 6 mil milhões de dólares
(vulgo seis biliões) para os canecos privados. Desapareceram, não se sabe
onde estão, eram empréstimos sem nome certo do beneficiário, nem qualquer garantia,
uma festa.
O
PONTO DA SITUAÇÃO ACTUAL
Em
finais de 2013, depois de uma espécie de revolução palaciana nas altas esferas
do Banco Espírito Santo Angola (BESA) a situação por que estava a passar o
banco foi explicada aos accionistas pelo novo CEO, Rui Guerra, em duas reuniões
que decorreram em Angola, mais precisamente, em Luanda.
O
panorama apresentado por Guerra foi descrito em poucas palavras, o que se
justifica plenamente, pois é extremamente complicado justificar com alguma lógica
o desaparecimento de um valor de 5,7 biliões de dólares de crédito (cinco mil e
setecentos milhões de dólares) concedido pelo BESA “a alguém”, o que representa
nada menos do que 80% do total da carteira desse estabelecimento bancário.
Curiosamente, não há informação sobre quem são os beneficiários económicos nem
para que fins foi utilizado o dinheiro. Há muito poucas garantias reais e as
que existem não estão avaliadas. Eis pelo essencial a notícia dada no final da
semana passada pelo semanário português Expresso.
Sabendo
nós que em 2009 o BES Angola chegou a ser distinguido com o prémio Banco do
Planeta, atribuído pelas Nações Unidas através da Unesco, não vale a pena
argumentar, para justificar o que se passou, recorrendo a noções como
desleixo, distracção, negligência, não, o acto foi cirúrgico e magistralmente
executado durante vários anos. Os que comeram do mesmo bolo não devem ser
poucos! E todos eles, são, com certeza, membros da mais ufana “High Society”
de Angola.
A
EXUBERANTE ROUBALHEIRA
As
reacções a esta bomba mediática não se fizeram esperar. O semanário Expresso,
revelador do “Caso”, escreveu, «Na história de empréstimos sem registos nem
garantias do Banco Espírito Santo Angola (BESA), “não há inocentes”, “só
culpados”, numa clara alusão ao bradar aos Céus de João Vieira Pereira,
director adjunto do BES em Portugal, “Como é que em pleno século XXI é possível
que um banco atribua créditos de quase 6 mil milhões de dólares sem saber em
concreto quem beneficiava desses empréstimos? Nesta história não há inocentes,
só culpados”, garantiu, para em seguida acrescentar, «porque se o empresário
Álvaro Sobrinho é o rosto das operações”, havia um conselho de administração
que “é co-responsável”, uma empresa encarregue da auditoria, a KPMG, que nada
disse, e um regulador, o Banco Nacional de Angola, que nada fez».
Todos
no mesmo saco: CULPADOS. O BNA também? Sim, também…
Pedro
Santos Guerreiro, o director executivo, por seu lado, num artigo de opinião que
subscreveu, descortica o que se passou: “Paremos para pensar na loucura de tudo
isto. Um homem fez o que quis, o BES de Lisboa deixou fazer, os auditores só
repararam em 2011. Nessa altura, o BESA estava numa situação tão má que foi
necessário o Estado angolano, graças a JES, avançar com uma garantia sobre
estes créditos”. E rematou, “Mas alguém vai perder muito dinheiro. Os
accionistas, claro. Mas é provável que também o Estado de Angola perca».
Façamos
aqui uma pausa. Neste passo da história levantam-se questões interessantes:
a.
Que interesses levaram JES a acordar uma garantia de Estado de um montante tão
elevado ao BESA, empresa privada?
b.
Que teria perdido o Estado angolano com o descaminho definitivo desses biliões
do BESA?
c.
Que elos unem tão estreitamente JES ao BESA?
d.
Será o Estado angolano/JES, sócio do BESA pela calada?...
A
partir deste ponto, a nossa e qualquer outra análise entrarão, como barco à
vela, num mar de espesso nevoeiro, sem vento nem correntio e, de velas pandas
não vai dar para poder navegar, vamos sim derivar, especular, imaginar o
óbvio, como foi possível esse óbvio acontecer, pondo sistematicamente de lado,
por termos medo dos jacarés, a única hipótese válida: trata-se de um roubo
evidente com mais que provavelmente, inteira e entusiástica cumplicidade
directa das mais altas esferas do Estado angolano.
O
HOMEM DA SITUAÇÃO
Álvaro
Madaleno Sobrinho é um homem tumultuoso e polémico. Acusado em Portugal de fuga
e branqueamento de capital, não tendo actividade económica em Angola capaz de
justificar os grandiosos investimentos que ia fazendo, vai de si que, antes
desta descoberta do mega buraco do BESA, não era preciso apresentar provas de
que este homem não podia ser o financiador das compras que as suas sociedades
faziam e pretendiam fazer (comprar a RTP, por exemplo), pois ele trabalhava em
empresas de terceiros, logo não podia ter outro dinheiro que não fosse o que
lhe era pago em emolumentos.
Contudo,
como ele trabalhava no BESA e este, em Angola, é conhecido como sendo testa de
ferro do sector bancário com capitais do MPLA em Portugal, não é preciso ser
bruxo para adivinhar que ele e seus parentes. esses cavalheiros da família
Madaleno, são laranjas do principal accionista do banco em Angola, o MPLA (ver
mais adiante), ou então são da presidência da Republica, pois os Madalenos ou
“Sobrinhos” não têm actividade em empresas de comunicação social em Angola,
apenas compraram jornais para silenciar vozes discordantes.
A
actual gerência do BESA pensa que neste imbróglio, Sobrinho teria abocanhado
mais de setecentos milhões, o que acrescido às suas anteriores operações
financeiras dúbias, explica o facto de ele estar ligado por um porta-moedas
bilionário às empresas Newshold, Pineview Overseas e Akoya, isto para não ir mais
longe pois o andor do Santo Kumbú é grande e a procissão comprida… Este homem,
como já referimos, é dono do semanário SOL, mas o seu nome nem sequer figura
na lista dos dez principais accionários desse periódico. Só que a Newshold,
dona desse semanário, é dele. Portanto…por quê esconder?
O
primeiro número do Sol, semanário português publicado às sextas-feiras, saiu a
16 de Setembro de 2006, num lançamento em fanfarra, com uma tiragem de 128 mil
exemplares. É obra!
Em
boa verdade, numa primeira análise nada se pode encontrar nessa compra como
sendo motivo para noticiar de modo incisivo. A referida compra parece ter as
características duma notíciazeca sem peso na balança de poderes da imprensa
escrita, especificamente no mercado de revistas periódicas.
Mas,
contrariamente às aparências, nem tanto assim, porque o que nos é revelado
vem-se juntar a um fluxo importante de investimentos angolanos no meio de
negócios portugueses, nomeadamente nos círculos restritos dos sectores
bancário e de imprensa, o que contraria em tudo o que se propaga na mãe pátria
desses investidores, Angola, onde desde há uns tempos a esta parte, ao invés
de vermos aparecer financiamentos privados a apostar na reconstrução nacional,
como continuamente se anuncia na imprensa estatal, tem-se vindo a assinalar um
grande acréscimo de interesse dos seus filhos por investimentos fora do país,
e particularmente entre aqueles que «se encontram especialmente atraídos pelos
arautos do “business” luso.
Vem
a propósito aqui, citar um dos últimos lances negociais de Sobrinho a atingir
as luzes da ribalta, o da sua proposta de compra da RTP pela Newshold, isto
sem esquecer que ele próprio revelou ser também accionista da empresa Pineview
Overseas, que é detida (leia-se detentor de poderes delegados por quem de facto
é dono) em partes iguais pelos seus familiares Carlos de Oliveira Madaleno,
Generosa Alves dos Santos e Silva Madaleno, Álvaro de Oliveira Madaleno
Sobrinho, Emanuel Jorge Alves Madaleno e Sílvio Alves Madaleno , sendo este
último o presidente da Newshold, dona do SOL e de 15% da Cofina (esta
proprietária, entre outros, do Correio da Manhã e do Jornal de Negócios) e 1,7%
da Impresa (Expresso e SIC). Um império! Para um empregado de banco, “c’est pas
mal”, parabéns.
Sem comentários:
Enviar um comentário