Martinho
Júnior, Luanda
1
– O movimento de libertação em África acabou por ser uma universidade aberta em
que se foram formando gerações e gerações de africanos, que procuraram
interpretar a situação dos povos do continente-berço particularmente desde
meados do século XX.
Essa
procura incessante tinha uma chama com um objectivo essencial: era necessário
resgatar os povos de África do subdesenvolvimento crónico a que tinham sido
histórica e antropologicamente votados e isso obrigava a caminhos de luta
árdua, persistente e paciente, por um lado removendo os obstáculos do
colonialismo, do “apartheid” e das suas sequelas, por outro, gerando
uma plataforma de paz que desse possibilidade a, assumindo poderes de estado,
trazer efectivamente mais vida a todos os africanos, duma forma coerente, equilibrada,
harmoniosa, integrando benefícios que jamais haviam sido antes conseguidos, nem
experimentados.
2
– O MPLA em Angola, nesse sentido, estabeleceu ainda em tempos de luta contra o
colonialismo português, uma projecção em relação ao futuro em duas longas
etapas, que consistia:
-
Num Programa Mínimo, que visava alcançar a independência de forma a tornar
exequível o direito e o exercício de soberania por parte do povo angolano;
-
Num Programa Maior que, tirando partido duma ampla plataforma de paz,
garantiria implementar capacidades modernas de desenvolvimento sustentável para
Angola, para África e em benefício de toda a Humanidade.
O
símbolo do MPLA, “alto facho levado aceso”, sintetiza esse caminho e por
isso os esforços de hoje reflectem toda a vocação histórica do movimento de
libertação em África, plenamente identificada e amadurecida com as mais
legítimas aspirações dos povos africanos.
Essa
trilha, permitia também evidenciar a vontade e os propósitos do movimento de
libertação acima das conjunturas que afectassem África, pelo que essa
determinação, essa inteligência, tendeu mesmo e sempre a superar os
antagonismos entre as potências, próprios duma Guerra Fria que influencia e
impacta em todos os tabuleiros sócio-políticos da nossa “casa comum”, a
Terra.
3
– Com tão elevadas preocupações, muitos foram portanto os obstáculos na luta
pela independência e para alcançar o direito de exercício de soberania, mas a
11 de Novembro de 1975 o MPLA cumpria com seu Programa Mínimo e, com a República
Popular de Angola, vencido o colonialismo português, ao mesmo tempo que passou
a encetar a busca incessante em prol duma paz ampla com sentido de vida,
assumiu a luta contra o “apartheid”, de forma a abrir oportunidade à
democracia de um homem um voto em toda a África Austral, numa justa perspectiva
de integração, equilíbrio, harmonia e desenvolvimento sustentável.
Nessa
trilha repleta de escolhos, duas figuras assumiram um papel de líder, abrindo
caminho em direcção ao futuro, em reforço da independência, soberania e
democracia, como também abrindo espaço ao povo angolano e aos povos africanos
para inter-relacionamentos saudáveis, progressistas e capazes de trazer
benefícios para o homem e para o planeta, apesar dos riscos duma globalização
repleta de interesses nada solidários e por isso quantas vezes carregados de
desequilíbrios, divisões, ameaças e riscos e, nos casos mais extremos, até de
subversão.
São
esses líderes: António Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos.
4
– A luta contra o colonialismo, o “apartheid” e suas sequelas, é uma
saga sobejamente conhecida nas suas linhas gerais, garantida com a completa
identidade do MPLA com o povo angolano, “heróico e generoso”, capaz de
enfrentar enormes obstáculos, ainda que à custa de imensos sacrifícios!
Muitos
povos, a partir de plataformas socialistas uns, a partir dum Não Alinhamento
activo e lúcido outros, compreenderam essa luta e deram a sua contribuição
decidida, solidária e inequivocamente internacionalista, ao ponto da revolução
cubana, entre muitos, se destacar por assim se decidir “a pagar a sua
quota parte de dívida” para com os povos do continente-berço.
O
Presidente do MPLA António Agostinho Neto, ainda que poucos anos à frente dos
destinos de Angola, deu passos consequentes nessa luta aberta à lógica com
sentido de vida e em direcção à paz, pois avaliava como poucos que,
ultrapassado o obstáculo do “apartheid”, havia que encetar a longa luta
contra o subdesenvolvimento.
Os
seus poemas reflectem essas sagas e a vontade progressista que se abria e abre
ao futuro.
(Continua)
Foto:
Chegada a Luanda do Presidente Agostinho Neto a 4 de Fevereiro de 1975
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