domingo, 10 de agosto de 2014

DESBRAVANDO A LÓGICA COM SENTIDO DE VIDA! – I



Martinho Júnior, Luanda 

1 – O movimento de libertação em África acabou por ser uma universidade aberta em que se foram formando gerações e gerações de africanos, que procuraram interpretar a situação dos povos do continente-berço particularmente desde meados do século XX.

Essa procura incessante tinha uma chama com um objectivo essencial: era necessário resgatar os povos de África do subdesenvolvimento crónico a que tinham sido histórica e antropologicamente votados e isso obrigava a caminhos de luta árdua, persistente e paciente, por um lado removendo os obstáculos do colonialismo, do “apartheid” e das suas sequelas, por outro, gerando uma plataforma de paz que desse possibilidade a, assumindo poderes de estado, trazer efectivamente mais vida a todos os africanos, duma forma coerente, equilibrada, harmoniosa, integrando benefícios que jamais haviam sido antes conseguidos, nem experimentados.
  
2 – O MPLA em Angola, nesse sentido, estabeleceu ainda em tempos de luta contra o colonialismo português, uma projecção em relação ao futuro em duas longas etapas, que consistia:

- Num Programa Mínimo, que visava alcançar a independência de forma a tornar exequível o direito e o exercício de soberania por parte do povo angolano;

- Num Programa Maior que, tirando partido duma ampla plataforma de paz, garantiria implementar capacidades modernas de desenvolvimento sustentável para Angola, para África e em benefício de toda a Humanidade.

O símbolo do MPLA, “alto facho levado aceso”, sintetiza esse caminho e por isso os esforços de hoje reflectem toda a vocação histórica do movimento de libertação em África, plenamente identificada e amadurecida com as mais legítimas aspirações dos povos africanos.

Essa trilha, permitia também evidenciar a vontade e os propósitos do movimento de libertação acima das conjunturas que afectassem África, pelo que essa determinação, essa inteligência, tendeu mesmo e sempre a superar os antagonismos entre as potências, próprios duma Guerra Fria que influencia e impacta em todos os tabuleiros sócio-políticos da nossa “casa comum”, a Terra.

3 – Com tão elevadas preocupações, muitos foram portanto os obstáculos na luta pela independência e para alcançar o direito de exercício de soberania, mas a 11 de Novembro de 1975 o MPLA cumpria com seu Programa Mínimo e, com a República Popular de Angola, vencido o colonialismo português, ao mesmo tempo que passou a encetar a busca incessante em prol duma paz ampla com sentido de vida, assumiu a luta contra o “apartheid”, de forma a abrir oportunidade à democracia de um homem um voto em toda a África Austral, numa justa perspectiva de integração, equilíbrio, harmonia e desenvolvimento sustentável.

Nessa trilha repleta de escolhos, duas figuras assumiram um papel de líder, abrindo caminho em direcção ao futuro, em reforço da independência, soberania e democracia, como também abrindo espaço ao povo angolano e aos povos africanos para inter-relacionamentos saudáveis, progressistas e capazes de trazer benefícios para o homem e para o planeta, apesar dos riscos duma globalização repleta de interesses nada solidários e por isso quantas vezes carregados de desequilíbrios, divisões, ameaças e riscos e, nos casos mais extremos, até de subversão.

São esses líderes: António Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos.
  
4 – A luta contra o colonialismo, o “apartheid” e suas sequelas, é uma saga sobejamente conhecida nas suas linhas gerais, garantida com a completa identidade do MPLA com o povo angolano, “heróico e generoso”, capaz de enfrentar enormes obstáculos, ainda que à custa de imensos sacrifícios!

Muitos povos, a partir de plataformas socialistas uns, a partir dum Não Alinhamento activo e lúcido outros, compreenderam essa luta e deram a sua contribuição decidida, solidária e inequivocamente internacionalista, ao ponto da revolução cubana, entre muitos, se destacar por assim se decidir “a pagar a sua quota parte de dívida” para com os povos do continente-berço.

O Presidente do MPLA António Agostinho Neto, ainda que poucos anos à frente dos destinos de Angola, deu passos consequentes nessa luta aberta à lógica com sentido de vida e em direcção à paz, pois avaliava como poucos que, ultrapassado o obstáculo do “apartheid”, havia que encetar a longa luta contra o subdesenvolvimento.

Os seus poemas reflectem essas sagas e a vontade progressista que se abria e abre ao futuro.

(Continua) 

Foto: Chegada a Luanda do Presidente Agostinho Neto a 4 de Fevereiro de 1975

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