Martinho
Júnior, Luanda (ler DESBRAVANDO
A LÓGICA COM SENTIDO DE VIDA! – I)
5
– Logo que na sequência da independência de Angola foram estabelecidas
conjunturas regionais favoráveis em relação ao Zaíre, o Presidente António
Agostinho Neto procurou imediatamente caminhos de paz com Mobutu, pois era
necessário diminuir a pressão sobre as fronteiras norte e leste, a fim de
melhor se concentrarem as atenções no sul:
-
Encontrou consensos com Mobutu (19 e 20 de Agosto de 1978), consensos que
muitos julgavam impossíveis, que contribuíram para o estabelecimento de
relações diplomáticas, uma muito maior estabilidade nas fronteiras norte e
leste de Angola, bem como relacionamentos a condizer entre os dois povos;
-
Suspendeu em 1978 a
actividade de penetração militar do “Front de Libération Nationale du
Congo” (os “Leais” para as autoridades coloniais portuguesas, “gendarmes
katangais” antes fieis a Tschombé), que na altura tinha como líder
Nathanael M’Bumba;
-
Encontrou formas de integrar nas FAPLA os militares do ELNA através da
plataforma do COMIRA (“Comité Militar de Resistência de Angola”), garantindo às
famílias desses angolanos a realização plena dos direitos conferidos em
Constituição, acto que culminaria em 11 de Outubro de 1984, a seguir à sua morte,
já com José Eduardo dos Santos como Presidente.
Os
1.500 combatentes do ELNA, que formaram o COMIRA, assim como cerca de 20.000
populares afectos, após 10 meses de contactos na região de Cuilo-Cuango, com
patriotismo foram recebidos em Angola, no seguimento das políticas de clemência
encetadas pelo Presidente Agostinho Neto em 1978.
Com
isso o líder do MPLA indicava e preparava o futuro post-“apartheid”, que ao
obrigar à busca duma ampla plataforma de paz, dava oportunidade ao início da
longa luta contra o subdesenvolvimento, num exemplo corajoso, inteligente e
optimista, que desde logo criava condições para se levar a cabo o Programa
Maior!
A
morte veio antes de ele conseguir que o “apartheid” fosse banido na
África Austral, mas o caminho em aberto teve seguimento garantido com a
sabedoria do então jovem José Eduardo dos Santos, que interpretou digna e
fielmente os seus ensinamentos e a sua inquebrantável ânsia de futuro, desde
logo possibilitando a paz com o COMIRA.
6
– Os instrumentos do poder do jovem estado angolano, empenharam-se nos contactos
com dirigentes da FNLA, entre eles Johny Pinock Eduardo e os militares do
COMIRA, tendo à cabeça Afonso Tonta de Castro, o oficial que havia comandado o
ELNA e seus aliados em Quifangondo.
Foi
um processo que demorou 10 longos meses, mas o patriotismo de uns e de outros
acabou por vencer: o que a Guerra Fria havia dividido, o amor à causa do
movimento de libertação em África e a cultura que ele havia gerado, teve a sua
primeira grande experiência no post independência e a sua primeira grande
vitória, em prol duma Angola digna, soberana, justa e ávida de futuro!
7
– Mobutu na altura nada mais pôde fazer, por que a corrupção e as divisões
minavam já o seu poder e só os suportes exteriores o mantinham no poder.
A
prova disso dava as suas próprias forças armadas, testadas com as incursões do
FNLC, com tão maus resultados…
Ao
invés de aprender com a lição humilde dos angolanos, Mobutu mais tarde
associar-se-ia a Savimbi, garantia-lhe a retaguarda que ele necessitava quando
deixou de ter o directo suporte dos racistas sul-africanos, por força do acordo
de Nova York, na mais nefasta das condições: o rico vale do Cuango, de onde
haviam saído os militares do COMIRA, deveria ser a cobiçada presa comum, pois
com os diamantes garantir-se-ia a riqueza deles próprios (Mobutu e Savimbi), do
seu séquito, de chefes de estado africanos afins e poder-se-ia desencadear uma
vez mais a guerra em Angola e na região!
Quer
um quer outro, ao não aprenderem a lição, traíam mais uma vez o movimento de
libertação em África, perderam a oportunidade de aprender com os ensinamentos
de António Agostinho Neto e colocaram-se à mercê das ingerências e manipulações
externas: embarcaram nas conjunturas da Guerra Fria, que impediam os povos de
avançar na via do progresso e no resgate em busca do que antes sempre lhes
havia sido negado!
(Continua)
Foto:
Estátua de Agostinho Neto que integra o complexo do seu mausoléu, em Luanda.
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