segunda-feira, 11 de agosto de 2014

DESBRAVANDO A LÓGICA COM SENTIDO DE VIDA! – II




Martinho Júnior, Luanda  (ler DESBRAVANDO A LÓGICA COM SENTIDO DE VIDA! – I)

5 – Logo que na sequência da independência de Angola foram estabelecidas conjunturas regionais favoráveis em relação ao Zaíre, o Presidente António Agostinho Neto procurou imediatamente caminhos de paz com Mobutu, pois era necessário diminuir a pressão sobre as fronteiras norte e leste, a fim de melhor se concentrarem as atenções no sul:

- Encontrou consensos com Mobutu (19 e 20 de Agosto de 1978), consensos que muitos julgavam impossíveis, que contribuíram para o estabelecimento de relações diplomáticas, uma muito maior estabilidade nas fronteiras norte e leste de Angola, bem como relacionamentos a condizer entre os dois povos;

- Suspendeu em 1978 a actividade de penetração militar do “Front de Libération Nationale du Congo” (os “Leais” para as autoridades coloniais portuguesas, “gendarmes katangais” antes fieis a Tschombé), que na altura tinha como líder Nathanael M’Bumba;

- Encontrou formas de integrar nas FAPLA os militares do ELNA através da plataforma do COMIRA (“Comité Militar de Resistência de Angola”), garantindo às famílias desses angolanos a realização plena dos direitos conferidos em Constituição, acto que culminaria em 11 de Outubro de 1984, a seguir à sua morte, já com José Eduardo dos Santos como Presidente.

Os 1.500 combatentes do ELNA, que formaram o COMIRA, assim como cerca de 20.000 populares afectos, após 10 meses de contactos na região de Cuilo-Cuango, com patriotismo foram recebidos em Angola, no seguimento das políticas de clemência encetadas pelo Presidente Agostinho Neto em 1978.

Com isso o líder do MPLA indicava e preparava o futuro post-“apartheid”, que ao obrigar à busca duma ampla plataforma de paz, dava oportunidade ao início da longa luta contra o subdesenvolvimento, num exemplo corajoso, inteligente e optimista, que desde logo criava condições para se levar a cabo o Programa Maior!

A morte veio antes de ele conseguir que o “apartheid” fosse banido na África Austral, mas o caminho em aberto teve seguimento garantido com a sabedoria do então jovem José Eduardo dos Santos, que interpretou digna e fielmente os seus ensinamentos e a sua inquebrantável ânsia de futuro, desde logo possibilitando a paz com o COMIRA.

6 – Os instrumentos do poder do jovem estado angolano, empenharam-se nos contactos com dirigentes da FNLA, entre eles Johny Pinock Eduardo e os militares do COMIRA, tendo à cabeça Afonso Tonta de Castro, o oficial que havia comandado o ELNA e seus aliados em Quifangondo.

Foi um processo que demorou 10 longos meses, mas o patriotismo de uns e de outros acabou por vencer: o que a Guerra Fria havia dividido, o amor à causa do movimento de libertação em África e a cultura que ele havia gerado, teve a sua primeira grande experiência no post independência e a sua primeira grande vitória, em prol duma Angola digna, soberana, justa e ávida de futuro!

7 – Mobutu na altura nada mais pôde fazer, por que a corrupção e as divisões minavam já o seu poder e só os suportes exteriores o mantinham no poder.

A prova disso dava as suas próprias forças armadas, testadas com as incursões do FNLC, com tão maus resultados…

Ao invés de aprender com a lição humilde dos angolanos, Mobutu mais tarde associar-se-ia a Savimbi, garantia-lhe a retaguarda que ele necessitava quando deixou de ter o directo suporte dos racistas sul-africanos, por força do acordo de Nova York, na mais nefasta das condições: o rico vale do Cuango, de onde haviam saído os militares do COMIRA, deveria ser a cobiçada presa comum, pois com os diamantes garantir-se-ia a riqueza deles próprios (Mobutu e Savimbi), do seu séquito, de chefes de estado africanos afins e poder-se-ia desencadear uma vez mais a guerra em Angola e na região!

Quer um quer outro, ao não aprenderem a lição, traíam mais uma vez o movimento de libertação em África, perderam a oportunidade de aprender com os ensinamentos de António Agostinho Neto e colocaram-se à mercê das ingerências e manipulações externas: embarcaram nas conjunturas da Guerra Fria, que impediam os povos de avançar na via do progresso e no resgate em busca do que antes sempre lhes havia sido negado!

(Continua)

Foto: Estátua de Agostinho Neto que integra o complexo do seu mausoléu, em Luanda.

Sem comentários:

Mais lidas da semana