Verdade
(mz) - Editorial
Realizaram-se,
no passado dia 15 de Outubro, as quintas eleições gerais no país e, como
sempre, a Comissão Nacional das Eleições (CNE) e o Secretariado Técnico de
Administração Eleitoral (STAE) perderam, mais uma vez, a oportunidade de
mostrar a todos os moçambicanos, e não só, que são organismos estatais que
merecem a credibilidade e a confiança do povo.
Mas,
pelo que sucedeu no dia da votação e as situações deprimentes a que se continua
a assistir durante a apuração dos resultados, ficou provado que aquelas duas
instituições andam a reboque do partido no poder. O rosário de irregularidades
– desde o enchimento de urnas com votos assinalados a favor do partido no poder
e do seu candidato à Presidência da República, passando pela viciação dos
resultados, até à abertura tardia dos postos de votação – detectado no último
pleito eleitoral é sintomático de que as eleições em Moçambique são uma
trapaça, um embuste de proporções imensuráveis.
Não
há dúvidas que a CNE e o STAE têm estado a prestar um mau serviço à nossa jovem
Democracia moçambicana ao permitirem que as situações relacionadas com a fraude
eleitoral continuem impunes e a ganhar terreno e forma a cada novo escrutínio.
Testemunhámos,
recentemente, nas últimas eleições autárquicas, que, quando há uma fiscalização
cerrada, a possibilidade da trapaça é praticamente nula, não obstante o partido
no poder fazer uso indevido da força e dos bens do Estado. No entanto,
continuarmos a chamar “livres, justas e transparentes” às últimas eleições é
cinismo crasso. É, na verdade, um acto de hipocrisia e é passar um atestado de
estupidez ao povo moçambicano que, de cinco em cinco anos, deposita confiança
nos órgãos eleitorais do país.
As
últimas eleições mostraram-nos como são obtidas as famosas “vitórias
retumbantes, esmagadoras e convincentes”. O caso de um edital da Escola de
Tunduru na Matola, no qual o candidato da Frelimo aparece com mais de 900 votos
numa mesa onde apenas votaram 500 pessoas dos 800 eleitores escritos, é
paradigmático do que temos estado a falar.
Pejar
os órgãos eleitorais de indivíduos que nutrem simpatia pelo partido no poder é
uma forma que o regime mercantilista da Frelimo encontrou para limpar as mãos à
parede de modo a continuar em funções e usufruir dos respectivos privilégios.
Portanto,
a forma como é conduzido o processo eleitoral em Moçambique é, intrinsecamente,
uma trapaça, não obstante a famigerada paridade na CNE, uma vez que não se
vislumbra o pleno exercício da cidadania e da democracia.
Nenhum
país pode avançar enquanto os órgãos eleitorais continuarem a reboque do
partido no poder e os bens do Estado a serem abusados e usados para fins
partidários.
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