Carlos
Diogo Santos – jornal i
Presidente
de agência pública diz que Secretário de Estado Castro Almeida deu a indicação
para alterar as regras do concurso, o que permitiu a escolha da empresa de Rio
para seleccionar futuros gestores de fundos europeus
A
empresa de Rui Rio não venceu em Julho um concurso limitado lançado para
encontrar uma entidade que seleccionasse futuros gestores para parte
significativa dos fundos europeus (2014/2020). Mas uma decisão do governo
voltou a trazê-la a jogo. Dias após ter sido conhecida a decisão do júri foram
modificadas as regras do concurso, e o serviço não só foi adjudicado à empresa
que apresentou a proposta mais vantajosa como também à de Rui Rio.
A
mudança de termos feita foi simples: afinal era necessário que houvesse mais
que uma empresa a seleccionar candidatos para trazer “mais rigor ao processo”.
E a consequência também não é difícil de entender: em vez de custar 40 mil
euros, a selecção de futuros gestores teve um custo que ascendeu a 100 mil
euros.
A
indicação de alterar o que fora inicialmente solicitado foi transmitida à
Agência para o Desenvolvimento e Coesão (ADC) – responsável por lançar os
concursos – pelo Secretário de Estado do Desenvolvimento Regional, Castro
Almeida, que mantém desde há alguns anos relações políticas com o ex-autarca do
Porto. Em 2005, por exemplo, foi indicado por Rui Rio, então presidente
da Junta Metropolitana do Porto, para ocupar o cargo de vice-presidente daquela
junta.
Os
futuros gestores destes quatro programas operacionais terão a seu cargo uma
importante fatia dos fundos que Bruxelas disponibiliza a Portugal – quase 12
mil milhões de um bolo total de 25,6 mil milhões de euros.
Mudam-se
as regras, inclui-se a Boyden O presidente da Agência para o Desenvolvimento e
Coesão, José Soeiro, confirmou ao i ter recebido inicialmente a
indicação por parte do secretário de Estado Castro Almeida para escolher apenas
a empresa que apresentasse a proposta mais vantajosa. O responsável atestou
ainda que Castro Almeida só solicitou que fosse feita a adjudicação a todos os
concorrentes após ter sido escolhida pelo júri a Heidrick & Struggles. Esta
concorrente da Boyden de Rui Rio, é uma empresa pertencente ao grupo Ongoing
que apresentou uma proposta de 37 250 euros (Sem IVA).
Com
a mudança de regras, inicia-se assim uma segunda ronda de contactos à Boyden –
que inicialmente apresentara uma proposta de 60 mil (sem IVA) – e à empresa
Egon Zehnder que tinha apresentado uma proposta de 69 mil euros (sem IVA).
Porém,
nesta segunda consulta apenas a empresa do ex-autarca do Porto se mostrou
disponível, o que fazia com que a Egon ficasse de fora da corrida.
“Assim
que fomos informados da indisponibilidade da Egon, tal informação foi concedida
ao senhor secretário de estado e adjudicou-se o serviço à empresa Boyden”,
explicou o presidente da ADC.
Com
esta adjudicação, a selecção de profissionais para gerir parte dos fundos
comunitários deixou de ter um preço total de cerca de 40 mil euros e ascendeu a
mais de 100 mil euros.
Segundo
Castro Almeida, contactado pelo i, “a adjudicação do trabalho a duas
empresas distintas teve em vista assegurar dois objectivos: alargar as
hipóteses de escolha, através da diversificação do leque de contactos de cada uma
das empresas e evitar a hegemonia de uma só empresa no processo de recrutamento
para funções tão importantes.”
Sem
referir que a decisão de optar por um ajuste directo ou de abrir concurso
público caberia sempre à Agência para o Desenvolvimento e Coesão, o secretário
de Estado justifica: “Se fosse o objectivo [favorecer uma das empresas], teria
sido legal fazer a adjudicação directa à empresa que se pretendesse beneficiar,
sem necessidade de efectuar outras consultas e colher outros preços.”
Braço
de ferro Mas este processo foi muito complexo desde o início e segundo o iapurou
o lançamento de um concurso limitado para elaboração de listas de candidatos a
gestores dos quatros programas operacionais não era o que Castro de Almeida e o
governo haviam idealizado. O secretário de Estado do ministério de Poiares
Maduro terá mesmo transmitido à agência que pretendia outra solução, que
passava por envolver as três maiores empresas de “executive search” que
trabalham em Portugal na selecção destes profissionais.
A
ADC terá feito, porém, braço de ferro ao considerar que não fazia sentido a
proposta de adjudicar por lotes, ou seja, que os candidatos à gestão de cada um
dos quatro programas operacionais (competitividade e internacionalização,
inclusão social e emprego, capital humano e por fim o de eficiência de recursos
e sustentabilidade) fossem seleccionados por empresas diferentes.
Ainda
que José Soeiro não tenha querido responder a qualquer questão sobre esta
matéria, informações a que o i teve acesso revelam que o receio da ADC era o
Estado ter de pagar a mais de uma empresa – um valor que poderia ir até 75 mil
euros. Isto, porque havia a sensação de que uma empresa seria, em
teoria, suficiente para fazer todo o trabalho e escolher os potenciais
gestores para todas os programas operacionais.
Foi
aí que o secretário de Estado do desenvolvimento Regional, Castro Almeida,
aceitara então, em Julho, que fosse escolhida apenas uma empresa para fazer as
listas de candidatos para os quatro programas. Uma concordância que durou até
ser tomada a decisão de escolher uma empresa concorrente da de Rui Rio.
Várias
fontes ligadas a este processo explicaram ao i que o facto de ter sido
adjudicado a várias empresas o mesmo serviço criou algum desconforto entre os
concorrentes. “O normal é contratar uma empresa e ainda que não fosse inédito
adjudicar a mais de uma, houve algum desconforto”, explica fonte conhecedora do
processo que preferiu não se identificar.
Contactada
pelo i, a Boyden optou por salientar que esta decisão do governo é
inédita, dado que pela primeira vez os gestores estão a ser recrutados fora
“das redes pessoais das pessoas que pretendem preencher os lugares”. Fernando
Neves de Almeida, Managing Partner da empresa, considera “natural” que tenha
havido outra empresa a fazer a mesma pesquisa. Apesar de questionado através da
empresa, Rui Rio não fez qualquer comentário até ao fecho desta edição.
Foto:
Nelson D’Aires
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