sábado, 1 de novembro de 2014

SAMAKUVA ARRASA O GOVERNO: “ANGOLA PRECISA DE OUTRA INDEPENDÊNCIA”


Acesso ao Folha 8 digital

Folha 8 (edição digital), 01 novembro 2014

O presidente da UNITA, Isaías Sa­makuva, dis­se em Lisboa que o Orça­mento Geral do Estado “é algo de fachada, que não se cumpre”, acres­centando também que ninguém sabe “de onde surgem enormes somas de dinheiro a passear na Europa”.

Questionado pelos jorna­listas no final de uma in­tervenção em Lisboa, no ‘International Club de Por­tugal’, o líder da UNITA ressalvou que ainda não tinha lido o documento que rege as despesas e re­ceitas de Angola em 2015, mas sublinhou que, pela experiência, podia dizer que “o Orçamento Geral do Estado, em Angola, é algo de fachada, não se cumpre não se respeita, não se sabe de onde vêm enormes somas de dinhei­ro apanhadas em caixas de sapatos aqui na Europa, ou então para fazer muita fes­ta em Angola”.

O OGE, sublinhou, “é algo só para formalidades”, disse, lamentando que o Governo não invista mais na diversificação da economia, apostando no sector da agricultura, e continuando dependente da evolução da produção petrolífera para equilibrar o orçamento.

“O facto de termos todo o Orçamento baseado no petróleo traz consequên­cias enormes, pensamos sempre que os preços do petróleo estão altos e com a produção enorme que temos não há problemas, mas depois vemos, assim que descem, o Presidente da República, no Estado da Nação, a atirar todas as culpas do que não se faz para a diminuição da produção e para a baixa dos preços”, disse Isaías Samakuva.

Por isso, a UNITA “tem insistido para uma real diversificação da econo­mia” e tem afirmado que “não podemos basear toda a nossa economia no petróleo, até seria melhor basearmos a nossa pro­dução na agricultura, um sector vital e estratégico” para Angola, disse.

Antes, no discurso, já ti­nha deixado duas mensa­gens, uma para os inves­tidores, e outra para os estrategas e governantes: na primeira, afirmou que “Angola é um país mara­vilhoso onde se pode ga­nhar muito dinheiro em muito pouco tempo, mas esta facilidade encobre uma séria doença cance­rosa que preocupa os que olham para o seu futuro”.

ANGOLANOS QUEREM MUDANÇA

Num discurso repleto de críticas ao actual Governo e ao Presidente da Re­pública, Isaías Samakuva considerou estar-se “num momento crítico na his­tória de uma nação, um daqueles momentos que redefine o seu futuro”, e defendeu que “os ango­lanos querem mudança, mas o regime continua, e a intensidade deste desejo cresceu de tal forma que um dificilmente sobrevi­verá ao outro”.

Aproveitando a passagem por Portugal, o responsá­vel político deixou bem vincadas as diferenças en­tre os dois regimes políti­cos: “alguém imagina um mandato de 40 anos sem que o Presidente se tenha sujeitado a um único de­bate na televisão? E o que diriam se os deputados só pudessem fiscalizar o Governo se isso fosse au­torizado pelo próprio Pre­sidente da República?”.

O responsável lembrou que “Angola é o único país da CPLP sem autarquias” e disse que “os direitos e liberdades fundamentais não são respeitados”, para concluir que “Angola pre­cisa de outra independên­cia”, porque “o actual go­verno chegou ao seu fim e já não consegue reunir as condições políticas de governabilidade e legiti­midade para se manter em plenitude de funções”.

Noutra frente, Isaías Sa­makuva, considerou que o que se passa no BES An­gola configura “um caso de polícia” e lamentou que, “ao contrário do que se passa em Portugal, em Angola fazem-se pergun­tas mas não há resposta”.

Há várias questões “que configuram inconstitu­cionalidades e uma atitu­de e comportamento não transparente” das autori­dades, disse o presidente da UNITA, respondendo a uma questão do deputa­do do CDS-PP José Ribei­ro e Castro, que integra a comissão de inquérito ao que se passou na gestão do grupo e do Banco Espí­rito Santo.

Recorde-se que o Ban­co Espírito Santo Angola (BESA) vai passar a as­sumir a denominação de Banco Económico SA e entre os novos accionis­tas, como Folha 8 revelou, encontram-se o grupo pú­blico angolano Sonangol e o Novo Banco português, informou na quarta-feira o Banco Nacional de An­gola.

As alterações foram deci­didas durante uma Assem­bleia-Geral extraordinária de accionistas, realizada em Luanda, em cumpri­mento das determinações do banco central angola­no, que assim vai cessar a intervenção no BESA, e que o BES considera sem qualquer valor legal.

Na mesma informação, o Banco Nacional de Angola (BNA) esclarece que “se confirmou a subscrição do capital social”, conforme o próprio banco central tinha deliberado, há uma semana, no âmbito das medidas de saneamento e da intervenção directa no BESA.

Embora sem revelar o peso de cada participação, o BNA informa que “sob aprovação prévia do regu­lador”, a Assembleia-Ge­ral decidiu pela “continui­dade do accionista Geni, S.A.”, que anteriormente detinha uma participação de 18,99 por cento.

A nova estrutura accio­nista envolveu também a entrada para o capital do agora Banco Económi­co da Lektron Capital, do grupo petrolífero estatal Sonangol e do português Novo Banco.

A estrutura anterior era composta ainda pelo Ban­co Espírito Santo (BES) com 55,71%, e pela Portmi­ll, com 24%, participações que, conforme o BNA já tinha anunciado anterior­mente, foram diluídas face ao aumento de capital.


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