Marta
F. Reis – jornal i
O
i analisou os dados do INE sobre causas de morte em 2013. A crise não aumentou
os suicídios mas entre os idosos há dados novos: registou-se uma subida inédita
nas mortes por quedas e há mais casos ligados a carência alimentar
Cada
vez há mais idosos a morrer por causa de quedas e desnutrição em Portugal. Uma
análise do i aos últimos dados sobre causas de morte do Instituto Nacional de
Estatística revela que em 2013 as quedas fatais mataram 382 idosos com mais de
70 anos, mais 143 do que no ano anterior. Se na queda a subida foi inédita – um
acréscimo de 60% – as mortes por desnutrição têm estado a aumentar desde 2010 e
atingiram em 2013 um novo recorde. Em 2010 foi a causa de morte de 47
portugueses e no ano passado vitimou 70 pessoas – das quais 67 idosos com mais
de 70 anos. Quarenta e quatro tinham mais de 85 anos.
Numa
altura em que a avaliação do impacto da crise na mortalidade na maioria dos
países tem estado centrada no suicídio – sem que os dados nacionais atestem
deterioração nesta área – o aumento destas causas de morte é encarado com
preocupação. Manuel Carrageta explica que, com o envelhecimento da população, é
natural que as quedas aumentem. Para uma subida tão marcada, contudo, o
presidente da Sociedade SPGG – Sociedade Portuguesa de Geriatria e Gerontologia
admite que poderão estar a contribuir também factores socioeconómicos. “Com a
idade vai-se perdendo o equilíbrio e as pessoas perdem a força nas pernas. A
tendência é as quedas serem uma causa de morte mais frequente mas pode haver
falta de apoio, as pessoas não querem ter despesas com o acompanhamento destes
problemas, que em certa medida podem ser prevenidos”, explica.
Em
relação à desnutrição, o médico sublinha que o problema é mais evidente: “Mais
de metade dos idosos que vemos nos hospitais têm carência alimentar,
nomeadamente proteica, e desidratação. Não comem carne, peixe, lacticínios e
isto associa-se à falta de actividade física, porque existe um certo abandono
ou as pessoas estão em lares sem actividade, o que acaba por agravar a
situação.” Se o fazem por não ter dinheiro, apoio ou por não estarem
devidamente sensibilizados, é algo que os dados não permitem descortinar, mas o
médico admite que é um problema que geralmente se associa a algum
constrangimento económico e que o rendimento de alguns idosos diminuiu nos
últimos anos também por estarem a dar apoio à família.
Carrageta
admite que este tipo de dados, que podem sinalizar o agravamento de tendências,
acabam por não estar escrutinados por quem está no terreno. E no que diz
respeito aos idosos, a omissão é crónica. “A nossa sociedade não dá grande
importância aos idosos e sabendo que temos uma sociedade cada vez mais
envelhecida temos de ter programas preventivos”, diz. A intervenção nos lares é
uma das áreas onde o médico apela a mudanças já que, por vezes, existe pouco
investimento no acompanhamento clínico dos utentes.
Preocupados
com as coisas certas? Um inquérito divulgado ontem pela Escola Nacional de
Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, no âmbito de um trabalho de
reflexão sobre oncologia do think tank Inovar Saúde, concluiu que as doenças
que os portugueses consideram mais letais são o cancro e os problemas
cardiovasculares. Os dados do INE mostram que a percepção é legítima: em 2013
os diferentes tumores mataram 25 mil portugueses, um quarto das 106 877
mortes registadas. Já os problemas cardiovasculares representaram 15 mil
mortes. Mas na lista da ENSP faltaram dois grandes problemas: o AVC,
responsável por mais de 10% das mortes em 2013. E as doenças do foro
respiratório, por detrás de uma fatia semelhante de óbitos. Em termos de causas
isoladas, a pneumonia é mesmo a terceira doença que mais mata depois do AVC e
do enfarte.
Já
uma doença que surge no inquérito e que os portugueses continuam a associar
menos a mortalidade é a diabetes. Só 2% consideraram ser uma doença de elevada
mortalidade, atribuindo-lhe o mesmo peso que ao VIH. Em 2013 a diabetes matou 4546
portugueses, 12 pessoas por dia. As doenças associadas ao vírus da sida
estiveram por detrás de 458 mortes, o número mais baixo de sempre. São menos do
que as 528 mortes associadas a quedas.
Em
relação aos cancros que mais preocupam, os dados do think tank mostram um maior
desfasamento entre a preocupação dos portugueses e a realidade. Em 2013 o
cancro responsável por mais mortes no país foi o do pulmão, ultrapassando pela
primeira vez o colorrectal. O cancro do cólon mata o mesmo número de mulheres
que o cancro da mama, podendo também ser despistado com rastreio – aliás o
menos feito no país – mas é dos menos detectados precocemente e surge apenas
como a quinta preocupação da população.
No
ano passado morreram em Portugal menos 1092 do que em 2012. Se na maioria das
doenças houve uma redução de números, aumentaram as mortes por causas externas.
Os dados do INE, elaborados a partir do tratamento de certificados de óbitos
pela DGS, contrariam as estatísticas rodoviárias e apontam para um aumento das
mortes resultado de acidentes de transporte em relação a 2012 (765 casos contra
720).
Os
suicídios registaram uma ligeira diminuição, tendo sido a causa de morte de
1051 pessoas. O último ano com mais casos foi 2010, em que se registaram 1101
mortes. As agressões fatais também diminuíram de 121 casos em 2012 para 97 no
ano passado. Em constaste, aumentaram os afogamentos e as mortes por
intoxicação acidental ou exposição a substâncias nocivas, tendo-se registado 50
casos contra 20 no ano anterior. Os dados do INE não discriminam as substâncias.
*Título alterado por PG
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