Folha 8 – 29 março
2014
O regime vai dando
sinais de estar a corroer por dentro, mesmo em sectores onde a cautela é
imprescindível, como os órgãos de Defesa e Segurança, afectos a Presidência da
República.
Numa carta de
reclamação, dirigida ao Presidente da República a que F8 teve acesso, os
militares da Unidade de Operações Especiais “Chacal”, denunciam o facto de mesmo
depois do calar das armas, continuarem a receber em folha de salário, por
debaixo das árvores, mediante a “vontade” discricionária dos superiores
hierárquicos, que aplicam descontos aleatórios. “Nós queremos os nossos
salários nos bancos comerciais, como os outros”, reclamam.
A unidade situada
no bairro Benfica, em Luanda, no Centro da Instrução da UGP (Unidade de Guarda
Presidencial) tem como comandante o tenente general, Francisco Lomba Dias dos
Santos, “Lindo”, e adjunto o coronel Santos, sendo composta por 382 efectivos
comandos, todos descontentes, face a situação de alegados cortes salariais
abusivos e não bancarizados.
Nesta conformidade
apelam ao comandante - em - chefe das FAA, para providenciar o seguinte:
1 - Estamos a
ganhar na folha de salário que não nos possibilita fazer crédito bancário,
conforme os nossos irmãos das unidades UGP e USP, que lhes permite terem uma
vida estável, por poderem recorrer a empréstimos nos bancos comerciais.
2 - O fim das
arbitrariedades cometidas pelo tenente general Lindo de expulsar efectivos da
unidade, por qualquer falha, atentando contra o regulamento das Forças Armadas
e da própria unidade. Neste momento 5 (cinco) operacionais, incluindo um
excelente oficial superior, foram expulsos, como se a unidade fosse uma
coutada familiar.
3 - Excelência,
estes operacionais perderam o melhor dos seus anos na guerra, não são
pedreiros, nem rodoleiros, mas homens de Galili, treinados por instrutores
israelitas em luta anti-terrorista, anti-guerrilha e navegação terrestre, desde
o ano 2000 e até hoje estão sempre em manobras de desdobramento e tácticas,
com esta atitude do comandante corremos o risco de aumentar o clima de
insatisfação entre a tropa.
4 - Acabar com o
clima de intimidação e ameaças, como o último protagonizado em Janeiro/2014,
pelo comandante adjunto, coronel Santos, que em parada, ameaçou todos os que
reclamam o pagamento dos salários no banco, que a satisfação desse desejo,
resultará na baixa salarial, “porque vocês pertencem a tabela salarial do
Exército. No entanto, senhor Presidente, desde o ano 2000, nós estamos na
tabela da UGP, por sermos recrutados todos juntos e só nos separamos quando
escolhemos ou nos indicam para uma especialidade e nós somos uma sub-unidade,
enquanto força especial da UGP.
5 - Nestas
condições é justo que se passarmos a receber no Banco, apenas recebemos 30% e
os outros 70% continuaremos a receber em mãos? Como se explica isto? A metade
do salário no banco e a outra metade nas mãos? Será que isto é mesmo
regulamento das Forças Armadas Angolanas? ou uma sucursal empresarial da tia
Joaquina do comandante Lindo?
6 - Nós já sabemos
que isso é um roubo, mas também não é assim que se rouba, aos pobres militares
garantes da segurança do Presidente da República e outras instituições ; pois
nós nem férias, tudo por o comandante ter transformado a unidade como se fosse
uma lavra, quando muitos de nós, quer ao longo do curso como das acções morreram
uns e outros perderam os membros superior e inferior.
7 - Querido
comandante - em - chefe, se nada for feito, como líder sabe, que toda paciência
tem limites e caso o comandante continue com a sua arrogância, prepotência e
desvio dos salários da tropa, que um dia o quadro se poderá alterar. Ele
ameaça-nos de desmobilização compulsiva, mas nós estamos a ser pacientes. Ele
atacou primeiro a tropa, nós podemos terminar. Quem ataca com AKM, pode esperar
uma resposta com PKM e TANQUES…Nós queremos evitar, mas não podemos ficar sem
saída.
Pelo exposto, nós
pedimos com todo respeito a sua Excelência Presidente da República, Eng.º José
Eduardo dos Santos, especial atenção nesta reclamação da CHACAL, uma unidade
militar especial, preparada para a sua máxima segurança. Temos quase certeza,
que não sabe sobre os problemas relatados e a actuação arrogante do general
Lindo, que diz: “podem ir se queixar onde quiserem, porque aqui mando eu e não
me acontece nada”. Esse seu comportamento deriva também de passar a menagem de
ser familiar directo do comandante em chefe, o que lhe garante imunidade.
Esperamos que essa
mensagem chegue até Sua Excelência Presidente da República, para que tenhamos
uma perspectiva de vida estável, como os outros militares da UGP, têm, porque
afinal, também somos filhos desta terra”.
Este foi o clamor
de mais uma unidade militar da Presidência da República. Oxalá a situação seja
resolvida e José Eduardo dos Santos consiga dar uma reprimenda aos seus lugares
tenentes para deixarem de envergonhar um dos sectores mais sensíveis.