Bocas do Inferno
Mário
Motta, Lisboa
Irregularidades
e ilegalidades cometidas por entidades bancárias têm sido do conhecimento público
de modo praticamente global, talvez com maior incidência nos EUA e na Europa. Mais
ainda desde que foi despoletada a crise mundial que tem tido por alvo dominar
governos e explorar as populações.
Operações dúbias e “mistérios” bancários são frequentemente denunciados na comunicação social,
com maior incidência na Internet. Lembremos o caso já aqui abordado por
diversas vezes sobre o Banco Espírito Santo Angola (BESA), de onde “desapareceram
misteriosamente” mais de 5,7 mil milhões sem que até hoje o dito “mistério”
tenha sido desvendado. O que se sabe são pormenores muito menores, como o facto de haver
registos considerados caricatos de levantamentos parciais da referida importância
“desaparecida”, em dinheiro, de 500 milhões. Grandes bolsos tiveram de ter,
quem fez tais levantamentos, para acomodar tantas notas.
O
mesmo BES, em Portugal, anda há umas quantas semanas nas bocas do mundo e no
arrasto de processo obscuro para a grande maioria dos que assistem à já chamada
novela Espírito Santo – família que anda às cabeçadas entre eles e mais quem
vier – decerto embriagados com a tomada de poderes e a ocultação de uns quantos
“podres”. Já não bastava o “desaparecimento” dos milhares de milhões em Angola…
O
que se pode perguntar nesta economia e finanças a que chamam de moderna é se o
cidadão comum pode confiar nos bancos. Poderá? Parece que não. Como bola de
neve o pouco que se sabe de podridão e desonestidade vai caindo na praça pública.
Desde a passada sexta-feira a atividade bancária na Bulgária está a ocupar
manchetes porque parece que tudo vai mal na oculta nebulosa do sistema daquele
país. Ao ponto de se verificar que a corrida aos bancos para efeitos de
levantamentos levou o poder político a intervir e afirmar que tudo está bem e
controlado. Verdade? Dificilmente será verdade. Os governos, os políticos nos
poderes, não são mais nem menos que funcionários dos banqueiros e dos que
dominam o sistema capitalista. Fazem o que lhes ordenam, dizem o que lhes
ordenam. Já lá vai o tempo de um eleito servir o país e as populações. A tudo e
a todos sobrepõe-se a pátria do cifrão.
Ainda
em Angola, outro banco está a ser assinalado em práticas de “diversas
irregularidades”, assim como “gestão danosa”. Quem o refere é um grupo de
colaboradores que contactou o Página Global e que de sua lavra publicamos o
texto que imediatamente se segue sem pôr mais na escrita. Cada um dispense a
credibilidade que considerar. Por aqui ficamos à espera dos próximos capítulos.
Os
bancos e os banqueiros, ai os banqueiros!
Carta
de denúncia relativo a actividade da Standard Bank em Angola
Exmos.
Senhores,
Com
esta carta temos como objectivo dar a conhecer diversas irregularidades, bem
como a gestão danosa do Standard Bank em Angola, e acreditamos expressar o
sentimento da generalidade dos trabalhadores angolanos desta instituição. Há
três anos já tinhamos feito um primeiro relato, e com este manifesto
pretendemos denunciar publicamente práticas sócio-laborais discriminatórias,
bem como irregularidades da direcção.
Todos
conhecemos pela comunicação social dos desmandos e atropelos à Lei que o
Standard Bank tem vindo a fazer em relação aos seus funcionários em todos os
países onde tem presença, onde Angola não tem sido exepção. Os tribunais da
África do Sul estão “entupidos” com processos de trabalho que ex-funcionários
reclamam por práticas laborais ilegais.
Estranhamos
como é que o Sr. Pinto Coelho, um ex-quadro de topo do banco BANIF, esteve
envolvido numa enorme fraude contra o Estado Angolano no valor de USD 150
milhões, e que foi frustrada pelas “artimanhas” dos negociadores dos
Administradores destes, e seus advogados, passou a ser o CEO desta instituição em Angola. Advinha-se
o tipo de operações financeiras e em que maus lençóis o banco poderá estar, havendo
conversas de corredor e comparações com o BESA.
Este
senhor nunca teve experiência de trabalho nem em África nem muito menos em
Angola, assim como também nunca geriu uma operação bancária de A a Z.
Apesar
de existirem quadros cuja função deveria ser vigiar a legalidade do
funcionamento da instituição, foram efectuadas no decurso dos últimos dois anos
operações financeiras que merecem a atenção do Banco Nacional, assim como da
casa mãe na África do Sul. No quadro de angolanização, é de estranhar como
é que este senhor ainda se encontra em funções após tantos anos.
Nos
casos em que a naturalização dos supostos “regressados” foi recente, nem se
percebe qual o laço familiar angolano, sendo que a diferença de condições
mantém-se em relação aos colegas verdadeiramente angolanos, com vencimentos
somente vistos nas petrolíferas, onde a taxa de abstinência são muito
superiores devido frequentes viagens para obtenção de vistos, deslocações por
razões médicas, etc…
Um
caso que foi silenciado para proteger a reputação deste banco, mas que nos
corredores foi muito comentado, foram as fraudulentas acções do responsável de
património, com uma relação muito próxima ao CEO.
Este
ex-colega tem-se envolvido nos últimos dois anos em negociações de contratação
de espaços para balcões no mínimo duvidosas. No que respeita as manutenções e
equipamentos tem-se percebido que houve igualmente direito a benefícios vindo
dos fornecedores. No momento em que os rumores começaram a circular, este
elemento foi graciosamente afastado para não criar uma imagem negativa em torno
da gestão/liderança deste banco sul-africano. Nota negativa tanto para a
direcção geral como para os recursos humanos. Esperamos que o sucessor, que
subiu internamente, não dê continuidade a estas práticas.
Não
compreendemos como é que o Standard Bank não contrata funcionários angolanos
para funções de responsabilidade – como se não houvesse quadros nacionais com
as qualidades humanas e técnicas de elevado potencial!
Não
compreendemos porque é que confrontam a Lei laboral e continuam na
impunidade. Não compreendemos como é possível ter uma liderança, com uma
pessoa de competência técnica muito questionável, e sem a mínima sensibilidade
para os recursos humanos que gere, e tão pouco respeite a Lei e as instituições
angolanas.
Somos
funcionários desta instituição e queremos que o sucesso da empresa será o nosso
sucesso. Não gostaríamos de fazer parte das estatísticas de mais um fracasso do
investimento sul-africano em Angola. É necessário que o Standard Bank reconheça
que o desenvolvimento de uma instituição sustentável em Angola, passa
necessariamente por centrar-se na valorização do capital humano.
Este
é um manifesto de revolta, mas também um apelo desesperado às autoridades
competentes para que ponham cobro a esta situação!
Atentamente,
Grupo
de Colaboradores Anónimos