A
já chamada novela BES, protagonizada pela família Espírito Santo, tem matéria
para durar. Mais uma vez o jornal i aborda a dita novela e vem falar-nos de
milhões que são embolsados por aquela família banqueira e de negociatas,
referindo ainda outros. Desta feita veio à baila as comissões. Milhões e milhões
produzidos pelo negócio dos submarinos que os portugueses estão a pagar com língua
de palmo. Há ilegalidades? Então não? Na Alemanha soubemos do pendor da justiça
ao punir faltosos naquela negociata, na Grécia idem. E em Portugal? Em Portugal
a pseudo justiça enrola tudo como pescadinha de rabo na boca, gasta à farta nos
processos e depois… Nada!
Sabe-se
dos poderes da família Salgado e das suas amizades, conivências e doações a políticos.
Até Cavaco Silva recebeu dos Espírito Santo doações para as suas campanhas. O máximo
permitido por lei. Não há registos do que aconteceu pela porta do cavalo. Se é
que aconteceu algo. Também não há registos de se - e por quanto - a "justiça" foi contemplada em doação ou em preço de saldos. Os portugueses afinal nada sabem destas manigâncias
promíscuas entre os poderosos das finanças, da política, provavelmente da
justiça e daquilo que mais interessar áqueles verdadeiros Al Capones – como são
referenciados pela "vox populi".
Aguardemos
a evolução do caso. Pelo andar da carruagem vamos ter mais do mesmo: a culpa
vai morrer solteira, desfazendo-se tudo nas pedras de gelo em que a justiça
possa ter registado o enredo da novela de uns vigaristas chamados Espírito
Santo com seus cúmplices à ilharga. O mesmo de sempre: impunidade.
A
investigação de Sílvia Caneco, do jornal i, a seguir. (MM/PG)
Investigação
i: Ricardo Salgado. "Há uma parte que teve de ser entregue a alguém"
Sílvia
Caneco – jornal i
O
i teve acesso a documentação que indicia que, além dos Espírito Santo, houve
mais uma pessoa a receber uma percentagem da comissão paga pelos alemães
Os
cinco clãs da família Espírito Santo não foram os únicos a ganhar uma parte dos
cerca de 30 milhões de euros que a Escom recebeu dos alemães no negócio dos
submarinos. Além dos 5 milhões de euros que, como o i avançou ontem, terão ido
parar a contas dos membros do Conselho Superior do Grupo Espírito Santo (GES),
uma outra fatia da comissão paga à Escom por serviços de consultoria prestados
ao consórcio alemão terá ido parar às mãos de uma sexta pessoa.
Na
reunião de 7 de Novembro de 2013, Ricardo Salgado, então presidente da comissão
executiva do BES, começou por contar aos nove membros presentes que os cinco
clãs da família tinham recebido 5 milhões de euros de “comissões” e os três
gestores da Escom – o presidente, Helder Bataglia, Pedro Ferreira Neto e Luís
Horta e Costa – tinham arrecadado 15 milhões do total pago pelo German
Submarine Consortium. “Deram-nos cinco a nós e eles [os administradores da
Escom] guardaram 15” ,
afirmou.
"Estamos
rodeados de aldrabões"
Ricardo
Salgado
Mas
a confissão de Salgado não terminou aí. O então líder do BES tinha outros
pormenores da operação a revelar aos clãs liderados por António Ricciardi,
Manuel Fernando Espírito Santo, José Manuel Espírito Santo e Mário Mosqueira do
Amaral. Antes que lhe perguntassem como três administradores da Escom tinham
recebido 15 milhões de euros – três vezes mais que os Espírito Santo –, Salgado
adiantou-se: “E vocês têm todo o direito de perguntar: mas como é que aqueles
três tipos receberam 15 milhões? A informação que temos é que há uma parte que
não é para eles. Não sei se é ou não é. Como hoje em dia só vejo aldrabões à
nossa volta... Os tipos garantem que há uma parte que teve de ser entregue a
alguém em determinado dia.”
As
declarações de Ricardo Salgado reforçam a tese do Ministério Público de que o
montante pago pelos alemães à Escom é “desproporcional” ao trabalho prestado e
que a empresa do GES que fez a assessoria do consórcio alemão na negociação das
contrapartidas dos submergíveis teria servido de intermediária de eventuais
pagamentos ilícitos. O DCIAP – o departamento que investiga as suspeitas de
corrupção no negócio dos submarinos há mais de oito anos – desconfia que os
cerca de 30 milhões de euros pagos à empresa terão tido outros destinatários: pessoas
que terão movido influências para que o consórcio alemão vencesse o concurso
dos submarinos, nomeadamente “titulares de cargos políticos”.
Salgado,
porém, de acordo com informações recolhidas pelo i, acabaria por não desvendar
o mistério da identidade de quem, alegadamente, terá recebido uma percentagem
dos 15 milhões de euros que estariam na posse dos administradores da Escom.
Aliás, para evitar mais perguntas, pediu a Ricardo Abecassis Espírito Santo que
não “remexesse mais no assunto”. “Vamos acabar por saber quem recebeu e quem
deixou de receber.” Acrescentou ainda que logo a seguir à operação dos
submarinos terão ficado “todos com um ataque de arrependimento, ao ponto de em 2004” decidirem “parar
qualquer operação” relacionada com equipamento militar. “Em 2004 o grupo
decidiu acabar com esta actividade porque eles estavam--se a preparar para
fazer o mesmo com carros blindados”. E “fragatas” e “metralhadoras”,
acrescentaram outros membros.
Embora
as afirmações de Salgado não revelem nomes, reforçam o que já estava sob
suspeita: que os membros do Conselho Superior do GES não terão sido os únicos a
receber da Escom, que a empresa funcionou como veículo de pagamentos a outras
pessoas e que há um sexto destinatário do dinheiro que permanece em segredo.
Nem os administradores da Escom nem Ricardo Salgado responderam aos pedidos de esclarecimento enviados pelo i. A Procuradoria-Geral da República limitou-se a dizer que o inquérito está em segredo de justiça.
Durante
a reunião, o então líder do BES relatou que Luís Horta e Costa – um dos três
administradores da Escom que em Agosto de 2013 foi constituído arguido no
processo dos submarinos – lhe terá explicado que a comissão inicial de cerca de
30 milhões de euros paga pelos alemães tinha ficado logo reduzida “a 20
milhões”, com “encargos com advogados” e “pagamentos por fora”. No entanto,
acrescentou, Luís Horta e Costa ter-lhe-á “dado a garantia” de que a empresa do
GES não teria “pago nada a ministros”.
Se
a comissão inicial era de 30 e sobraram 20, para onde foram os outros 10
milhões? Para quem foram os “pagamentos por fora” e quais os encargos exactos
com advogados? Afinal quantas pessoas lucraram com a comissão que a Escom
recebeu dos alemães no negócio e a que título receberam? Salgado não esclareceu
e nenhum dos nove elementos da família presentes na reunião perguntou.
Subornos
lá fora
As suspeitas de corrupção no negócio da compra de dois submarinos pelo Estado português à Man Ferrostaal, em 2004, estão a ser investigadas há mais de oito anos. Até à data, só os três gestores da Escom foram constituídos arguidos no processo por suspeitas de corrupção activa, tráfico de influências e branqueamento de capitais. Apesar das suspeitas de que uma série de depósitos no total de 1,1 milhão de euros nas contas do CDS-PP, entre 27 e 30 de Dezembro de 2004, teriam tido origem na comissão paga pelos alemães à Escom, os investigadores nunca conseguiram deslindar o rasto do dinheiro.
As suspeitas de corrupção no negócio da compra de dois submarinos pelo Estado português à Man Ferrostaal, em 2004, estão a ser investigadas há mais de oito anos. Até à data, só os três gestores da Escom foram constituídos arguidos no processo por suspeitas de corrupção activa, tráfico de influências e branqueamento de capitais. Apesar das suspeitas de que uma série de depósitos no total de 1,1 milhão de euros nas contas do CDS-PP, entre 27 e 30 de Dezembro de 2004, teriam tido origem na comissão paga pelos alemães à Escom, os investigadores nunca conseguiram deslindar o rasto do dinheiro.
Lá
fora os desenvolvimentos têm sido mais céleres: o ex-ministro grego da Defesa
Akis Tsochatzpoulos foi condenado a 20 anos de prisão por branqueamento de 6
milhões de euros provenientes de subornos para viabilizar o negócio da compra
de quatro submarinos à Man Ferrostaal e outro equipamento militar. Na Alemanha,
dois ex-gestores do consórcio alemão admitiram ter pago luvas no valor de 62
milhões de euros a intermediários na Grécia e em Portugal para conseguirem
vencer os concursos dos submarinos. O ex-cônsul honorário de Portugal em Munique Jürgen Adolff
também foi condenado por corrupção. Nas respostas do ex-primeiro-ministro
enviadas à comissão de inquérito sobre aquisição de equipamento militar, Durão
Barroso negou ter falado com o ex-cônsul de Portugal na Alemanha sobre o
negócio.
Título
PG
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