segunda-feira, 27 de outubro de 2014

UE: SOCIALISTAS – MORTE NATURAL OU EUTANÁSIA?



Tomás Vasques – jornal i, opinião

Grande parte dos socialistas e dos sociais-democratas europeus renderam-se ao "realismo neoliberal" e lançaram borda fora o que lhes restava da sua tradição histórica

Assistimos ao lento desmoronar da ideia romântica de uma Europa Unida - federada, solidária e democrática. A solução imposta pela Alemanha para gerir a "crise das dívidas soberanas", desde 2010, expôs e ampliou, nalguns casos de forma dramática, todas as fracturas que, desde o fim da II guerra mundial, se procuravam calcificar. A descrença na Europa unida é total e velhos ódios nacionais reacenderam-se. A maioria dos povos europeus, escaldada, está completamente alheada do "projecto europeu". Olha com desdém para os medíocres dirigentes europeus que nos conduziram até aqui e que, cegos, persistem no mesmo rumo. A elevada abstenção nas "eleições europeias" é um sinal inequívoco do desinteresse e da desmobilização dos povos europeus. De desprezo ao desprezo a que foram votados.

Neste desfecho, os socialistas e sociais-democratas europeus não podem sacudir a água do capote. Não encontraram uma resposta capaz às questões que a globalização colocou e, muito menos, uma resposta à revolução neoliberal que a direita tem conduzido nas últimas décadas. Nem uma alternativa séria à austeridade, imposta por Berlim, como solução à "crise das dívidas soberanas". No fundo, grande parte dos socialistas e dos sociais-democratas europeus renderam-se ao "realismo neoliberal" e lançaram pela borda fora o que lhes restava da sua tradição histórica e dos seus pergaminhos ideológicos. A começar pelo partido social-democrata alemão, agora coligado no governo com os falcões da política europeia.

Não é, pois, de estranhar que, neste trilho, enquanto o presidente francês, o socialista François Hollande, passeia a sua desorientação política e a sua impopularidade pela reabertura do museu Picasso, Manuel Valls, o primeiro-ministro, também socialista, proponha a alteração do nome do partido socialista e sua unificação política, orgânica e programática com as forças políticas da direita francesa. Por este caminho, ao desfazer da União Europeia, tal como foi projectada, somar-se-á o domínio avassalador de um pensamento único, meio caminho andado para o totalitarismo.

A falta de reflexão, de pensamento e de soluções práticas do socialismo democrático, como alternativa à revolução neoliberal, não apareceram agora com esta crise. Vêm de trás. Já em 1996, um ano antes do trabalhista Tony Blair, a cara-metade de Bush, na aventura da invasão do Iraque, ter chegado ao poder na Grã-Bretanha, com a sua "terceira via", Alain Touraine, numa carta aos socialistas franceses, independentemente do que na altura propunha, levantava muitas das questões que hoje se colocam aos socialistas europeus. Escrevia Touraine: "A esquerda parece esquartejada entre uma política realista de direita e um discurso que soa a vazio". Esta inclinação da maioria dos socialistas e sociais-democratas europeus para pensar como a direita; este acomodar ao "realismo" da ditadura do dinheiro sobre a dignidade dos cidadãos, sobretudo os mais desprotegidos, não vai dar bons resultados. Deixa milhões de pessoas, por essa Europa fora, sem esperança, nem representatividade política. Se esta eutanásia acontecer, um turbilhão de novas esperanças pode varrer os socialistas do mapa político da Europa. Citando a última frase de "Cem Anos de Socialismo", de Donald Sassoon: "Todos quantos têm mostrado simpatia para com o projecto socialista, que têm sofrido com as múltiplas prevaricações, os constantes compromissos e as hesitações estultas dos partidos organizados, não devem esquecer que, apesar de tudo, esses partidos são a única esquerda que resta". Agora, cabe perguntar: até quando?

PS - O facto da direita portuguesa, o PSD e o CDS-PP, estar obrigada a concorrer às próximas eleições coligada é uma boa notícia. O facto do PS mostrar disponibilidade para dialogar com outros partidos e movimentos de esquerda, tendo em atenção a formação do próximo governo, é outra boa notícia. É pouco, mas é um caminho para a separação de águas.

Jurista. Escreve à segunda-feira

Na foto: Francois Hollande, socialista

DURÃO BARROSO VAI RECEBER PENSÃO VITALÍCIA DE 132 MIL EUROS POR ANO




O português vai ainda receber subsídio de reintegração durante 3 anos e um salário extra de 25 mil euros

Durão Barroso vai receber 132 mil euros por ano de reforma, ou seja 11 mil euros por mês, avança o “Daily Mail”.

Mas não só. O presidente cessante da Comissão Europeia vai ainda receber um subsídio de reintegração e de transição durante 3 anos, que pode chegar aos 200 mil euros por ano. Além disso, vai ganhar um salário extra de 25 mil euros, mais despesas de deslocação.

Esta remuneração já foi alvo de críticas. Os deputados conservadores britânicos foram os primeiros a manifestarem-se, referindo-se à “ganância e arrogância dos gatos gordos da UE”.

“Isto não me surpreende. Os britânicos estão cheios da arrogância e ganância dos gatos gordos não eleitos da União Europeia como o Barroso. Está na hora do Reino Unido mostrar os músculos e de David Cameron assumir a liderança e colocá-los no lugar”, afirmou o conservador Stewart Jackson. 

Ao fim de dez, Durão Barroso, de 58 anos, deixa a presidência da Comissão Europeia este sábado, dia 1 de Novembro. 

jornal i

PGR DE ANGOLA DIZ NADA SABER SOBRE INVESTIGAÇÕES A KANGAMBA




França terá participado nas buscas a propriedades em Portugal onde foram apreendidos milhões de dólares ao general

Coque Mukuta - Voz da América

A polícia francesa colaborou com a sua congénere portuguesa na recente operação de busca a propriedades do general angolano Bento Kangamba em Portugal e de que resultou na apreensão de cerca de 10 milhões de dólares em euros e três imóveis avaliados em mais de 16 milhões de dólares.

A imprensa portuguesa diz que, para além das propriedades de Kangamba, foram também efectuadas buscas ao advogado que tem representado o general angolano em Lisboa.

No ano passado, a policia francesa apreendeu milhões de euros em dois veículos provenientes de Portugal que se deslocavam para o Mónaco, onde o general estava instalado num conhecido casino dessa cidade.

Vários colaboradores de Kangamba foram então presos e a policia  francesa está a investigar o branqueamento de capitais.

Em Angola, entretanto, as autoridades judiciais dizem que nada sabem sobre as referidas investigações em Portugal.

Pulcuéria Van-Dunem, Procuradora-Geral-Adjunta  de Angola, garante que a instituição não foi notificada de qualquer processo em relação ao general Bento dos Santos Kangamba.

“Quando há um processo de uma entidade angolana no estrangeiro a procuradoria deve esperar que a procuradoria do outro país, que é a autora da acção penal, comunique o que se está a passar para se fazer as investigações pertinentes e necessárias”, explica.

“E, tanto quanto eu sei até agora a Procuradoria ainda não foi notificada sobre o assunto”, acrescentou.

Em Angola, do património de Bento Kangamba encontra-se registada apenas uma empresa denominada  Organizações Kabuscorp,  Kangamba Corporation Business, Comércio Geral, Desporto e Recreação, Transporte, Saúde, Importação e Exportação, Limitada, segundo o Diário da República IIIª Série N.º 89 de 5 de Novembro de 2004.

Até agora, e como sempre tem acontecido nesses casos, Bento Kangamba não se pronunciou.

Angola: Visita privada de José Eduardo dos Santos a Espanha provoca debate




Presidência da República fala apenas em visita privada

Voz da América

A saída do país do presidente da República há uma semana para Espanha gera polémica num espaço de debate da rádio Despertar Comercial.

Numa nota de imprensa da Casa Civil da Presidência da República a que a Angop teve acesso, dá conta que  José Eduardo dos Santos deslocou-se a 20 deste mês a Barcelona, Espanha, em visita privada. Aventa-se entre os analistas duas opções: ou a visita privada é por razões de saúde do presidente ou por férias, a que a nota da Presidência não clarifica.

Os analistas convidados do espaço de debates da rádio Despertar consideram, a se confirmar, tratar-se de uma deslocação, por questões de saúde, um atestado de incompetência aos hospitais e técnicos de saúde do país.

O presidente do partido PDP-ANA Sediangani Mbimbi manifestou a sua vontade de ver o mais alto dirigente do país a não recorrer ao estrangeiro sempre que está doente: "Gostaríamos de ver o presidente da República José Eduardo dos Santos a ser o primeiro a se tratar nos nossos hospitais e não ir à Espanha, deve tratar-se no hospital Maria Pia, Hospital Militar ou no Girassol".
 
Nfulupinga Lando Vitor diz saber quais razões que levam os dirigentes do país a fugirem dos hospitais em Angola. “Um líder da oposição quando fica doente e recorre a um hospital angolano encontra médicos do Comité de Especialidade do MPLA fica com medo de ser envenenado, se o mesmo medico deste Comité não for bem pago o próprio criador também fica com medo de apanhar uma injecção e morrer, são duas coisas: Ou eles têm medo de apanhar pica dos seus criados ou então os hospitais que eles criam não prestam para nada".
 
Na óptica do jornalista Alexandre Solombe, este facto pode descredibilizar os próprios médicos do MPLA.
 
"Há um efeito perverso que pode ser político: a tristeza que se abate sobre os profissionais de saúde angolanos e depois passa outra mensagem à sociedade, como não se tratam aqui em Angola desvalorizam o próprio Comité de Especialidade de Médicos", acusa Solombe.
 
Por seu lado, o professor universitário Celso Torres relativiza a questão da deslocação do presidente da República.
 
Para ele a visita privada tem vários campos: “Tratar com os filhos, com a família, afinal o presidente da Republica não deixa de ser um homem normal que precisa de férias se eventualmente  é o período de férias”. 

De recordar que a última vez que o presidente da República esteve em Barcelona ficou durante 45 dias e nunca se confirmou oficialmente se foi ou não por questões de saúde.

Moçambique: HOMENS DA RENAMO VÃO INGRESSAR NA POLÍCIA E NO EXÉRCITO




Governo dispõe de 300 vagas para integrar número desconhecido de homens do partido Renamo na polícia e no exército

José Pacheco, chefe da delegação do Governo moçambicano no diálogo político com o partido Renamo, revelou nesta segunda-feira (27) a existência 300 lugares para a integração de igual número de homens residuais do partido de Afonso Dhlakama nas fileiras da Polícia da República de Moçambique (PRM) e nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM). Contudo ainda não é conhecido o número de guerrilheiros a serem desmilitarizados.

José Pacheco, que falava à Imprensa no fim da 82ª ronda do diálogo político, disse que não sabe de quantos homens a “Perdiz” dispõe.

Por seu turno, o chefe da delegação do partido Renamo, Saimone Macuina, afirmou que não tem conhecimento da proposta anunciada pelo Executivo e exige a apresentação do modelo de integração dos seus homens na PRM e nas FADM.

Sobre este assunto, Pacheco explicou que dos 300 elementos, 200 seriam integrados na PRM e os restantes nas FADM. “Estamos a trabalhar com a Renamo para ver como harmonizar o processo de integração e de enquadramento deste efectivo”.

Num outro desenvolvimento, o chefe da delegação do Executivo disse que este está à espera que a Renamo apresente a lista referente ao número de pessoas que devem ser integradas e as respectivas patentes. Ele realçou que (...) até domingo (02) é fundamental que essa lista seja presentada para que o trabalho possa ser realizado.

Por sua vez, Saimone Macuina não quis se pronunciar detalhadamente sobre a proposta apresentada pelo Governo, alegando que não tem conhecimento da mesma. Ele insistiu na necessidade de o Executivo apresentar um modelo de enquadramento dos homens residuais do seu partido.

“Para apresentarmos a lista, primeiro temos que ter o modelo de integração e enquadramento aprovado e também para permitir que a EMOCHM possa realizar o trabalho subsequente”, frisou o chefe da delegação da “Perdiz”, para quem só depois disso serão identificados os elementos a serem integrados.

Refira-se que a Equipa Militar de Observadores Internacionais da Cessação das Hostilidades Militares (EMOCHM), formalizada a 02 de Outubro, começa a monitorar e fiscalizar a cessação das hostilidades militares a partir desta quarta-feira (29).

Verdade (mz)

Moçambique – Eleições: CNE conclui processo de requalificação de votos nulos e reclamados


Eleições 2014

A Comissão Nacional de Eleições (CNE) terminou,este domingo, o processo de requalificação dos votos considerados nulos e reclamados nas eleições de 15 de Outubro, cujos resultados podem ser conhecidos ainda esta segunda-feira.

Dados disponíveis indicam que foram requalificados cerca de 500 mil boletins de voto referentes às eleições Presidenciais, Legislativas e para as Assembleias Provinciais.

Da requalificação, poderão resultar alterações nos resultados do apuramento intermédio, principalmente na distribuição de assentos no Parlamento, considerando, acima de tudo, que das províncias de Nampula e Zambézia, que são os maiores círculos eleitorais, chegou a maior parte dos votos requalificáveis.

Até ao início da tarde deste domingo, a CNE ainda estava na fase final do processo de requalificação e espera divulgar os resultados  finais do escrutínio de15 de Outubro, mais tardar, até quinta-feira.

CNE sem notificação sobre protestos

O porta-voz da CNE disse, em entrevista ao “O País”, que aquele órgão ainda não foi notificado oficialmente de nenhuma reclamação ou protesto contra os resultados eleitorais. Segundo Paulo Cuinica, que falava na passada sexta-feira, os protestos podem, eventualmente, ter vindo junto com os boletins e editais que entraram durante os últimos dias para a requalificação, mas o facto é que, pelo menos até aquela data, a CNE não tinha sido notificada.

O País (mz)

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ANTÓNIO LUCAS, O “AFRICANO” (in memoriam)



Alberto Castro*, Londres

Em Torres Vedras  e arredores já muito se deve ter falado de António Ernesto da Silva Lucas, ou simplesmente Lucas para amigos e conhecidos, um grande torriense falecido em Agosto último. Grande na sua compleição física, no tamanho do seu coração e nas preocupações sociais que o levaram a ser um convicto homem de esquerda. Existe todavia uma dimensão da sua grandeza que poucos devem conhecer: trata-se da dimensão africana daquele grande torriense. 

Ocorre-me escrever agora sobre ele a propósito de recentes ingerências de deputados portugueses em assuntos internos de São Tomé e Príncipe, fora do âmbito da UE e da CPLP, nomeadamente Mário Ruivo e João Portugal (PS), Nuno Serra (PSD) e José Ribeiro e Castro (CDS-PP) que, para além de em nome de uma alegada defesa da estabilidade democrática nas ilhas acompanharem Patrice Trovoada, o líder da Acção  Democrática Independente (ADI)  no regresso a STP, após quase dois anos de ausência com suspeitas de corrupção e branqueamento de capital pelo meio, participaram claramente da campanha eleitoral que resultou vitoriosa em favor do mesmo no passado dia 12 de outubro.

Conheci-o na segunda metade da década de 80 quando comecei a tarimbar no jornalismo, mais precisamente no semanário regional  ''Badaladas'', então dirigido pelo Padre José Manuel e tendo como chefe de redacção o saudoso Manuel Candeias. Era ele um dos secretários do então presidente da autarquia, José Augusto Carvalho, tendo sido também vereador posteriormente. Do nosso primeiro encontro nasceu o que seria uma sólida e longa amizade alicerçada mais ainda no facto de eu ser originário de São Tomé e Príncipe (STP), ilhas na qual o meu inesquecível amigo e compadre (padrinho do meu primogénito) havia feito serviço militar e servido como funcionário da outrora grande e produtiva roça Água Izé, um dos alicerces da economia local assente no cacau. Em São Tomé ele foi também futebolista do Andorinha Sport Club, emblemático clube desportivo da cidade, ainda hoje filiado ao Belenenses de Lisboa. 

No António Lucas logo percebi um profundo amor por África, em particular pelas chamadas ilhas maravilhosas. Através de mim restabeleceu mais cedo laços de amizade que havia construído e deixado em STP, estabeleceu e fidelizou novos elos com Angola e, mais tarde, por si mesmo, com Cabo Verde. Falava muito do seu compadre Óscar Souza, o Oscarito, com quem serviu no exército português e que foi ministro da Defesa nas ilhas no pós-independência. 

Ele tinha na verdade uma alma africana. Uma alma que, sem ressentimentos, paternalismos, racismos ou soberbas neocolonialistas, o levou em várias ocasiões de volta aos caminhos da sua querida África. Sua casa no Sarge, freguesia da qual foi também presidente da junta, funcionava como uma espécie de consulado africano em Torres Vedras. Tinha as portas sempre abertas para os seus amigos africanos, os quais o estimavam profundamente. Era sempre uma grande festa quando os recebia ou os visitava. Quantas vezes ouvi de amigos e conhecidos comuns a pergunta ''E o Lucas? Quando é que ele cá volta?''.

Sempre procurou estabelecer e fortalecer elos pessoais, políticos e empresariais entre portugueses e  africanos dos PALOP's, numa altura em que em Portugal o olhar sobre os segundos era, de certa forma, pouco positiva, para dizer o mínimo. Juntos havíamos abordado várias vezes o tema de geminação de Torres Vedras com cidades africanas. Cito por exemplo Cabinda e Viana, em Angola, e Água Grande, em STP. Algumas iniciativas oficiais foram feitas nesse sentido mas o clima político na altura vivido nos citados países, uma agenda de prioridades em Portugal muito focada na Europa e o desaparecimento de cena, físico e político, de alguns dos entusiastas africanos não permitiram a concretização das mesmas. Soube depois que houve progressos com Cabo Verde, mais precisamente com a cidade de Boa Vista, onde o meu amigo e compadre Lucas acabaria por passar parte dos seus derradeiros anos.

Recordo aqui a primeira viagem que juntos fizemos à Angola no início dos idos anos 90. Em Cabinda, numa visita feita a um povoado, vi populares manifestarem alegria e apreço enormes por sua presença e pela forma como com eles interagia. ''Esse branco é dos nossos'', sentenciavam uns. ''O patrão voltou! Graças a Deus!'', clamava outro, já idoso, de braços erguidos em agradecimento aos céus, para riso incontido dos presentes. Via-se no ancião uma clara desesperança perante dificuldades na altura vividas num país recém-independente, ainda em guerra fratricida e com perspectivas pouco animadoras de paz e desenvolvimento. Note-se, por outro lado, que em África existe ainda fortemente enraizado no imaginário popular a crença que associa a riqueza à gordura localizada, no caso dos homens, ao bojo saliente. Um detalhe que também pode explicar parcialmente o gesto do autóctone. 

No plano empresarial ele foi um grande dinamizador das relações entre empresários portugueses, particularmente torrienses, e africanos. Nesse sentido organizou, a título particular, várias viagens (na verdade autênticas missões político-empresariais) aos citados países. Registo uma com o empresário Fernando Alves, na altura dono das firmas torrienses Auto Henriques e Construtorres e com Carlos Miguel, atual presidente da autarquia oestina, na época advogado daqueles empresas. Ambos podem testemunhar da imensa popularidade e do carinho pelo Lucas em terras africanas.

Alguns empresários hoje bem sucedidos no mercado africano lusófono puderam salvar e/ou consolidar as suas empresas na origem devido, mesmo que indiretamente, ao António Lucas. Cito, por exemplo, o Luís Vicente filho, da Freixofeira, a quem ele me apresentou no seu gabinete da edilidade de Torres Vedras e que, juntamente com seu pai, já falecido (pessoa da qual guardo uma imagem igualmente muito positiva), acompanhei no início dos anos 90 à Luanda, dando os primeiros apoios na sua viagem inaugural exploratória do mercado angolano. Não mais tive contactos com Luís Vicente filho mas soube que a empresa consolidou-se no mercado de frutas e legumes em Portugal e, entre outros ganhos, detém a maioria do capital da Refriango, uma empresa de direito angolano bem sucedida nascida da perspicácia e da vontade resoluta do empresário torriense no desenvolvimento do sector das bebidas em Angola.

Na última década, ou mais, os acasos da vida fizeram com que nossos caminhos não mais se cruzassem com a mesma frequência de outrora. Mesmo assim, ainda surgia um tempinho para uma ou outra rara visita, um ou outro telefonema de ocasião, sempre acompanhados de ''intermináveis'' conversas sobre temas mais diversos. Juntamente com D. Alice, sua batalhadora e dedicada companheira de sempre, não deixou de me visitar em Londres onde passei a residir. Do meu amigo, camarada e compadre Lucas, ''o africano'', um exemplo de como portugueses e africanos se devem relacionar, guardarei sempre as melhores recordações. 

Na foto: António Lucas com a esposa, D. Alice, no London Eye

Colunista e jornalista freelancer*

Brasil: IMPRENSA EUROPEIA VÊ “VITÓRIA APERTADA” EM “PAÍS DIVIDIDO”




Sites destacam divisão entre "Norte e Nordeste pobres" e "Sul e Sudeste ricos", comentam que a campanha foi marcada pela troca de acusações e afirmam que Dilma terá a tarefa de unir o país.

A apertada vitória da presidente Dilma Rousseff no segundo turno da eleição presidencial foi manchete nos sites dos principais jornais e revistas europeus neste domingo e segunda-feira (27/10). Na tentativa de explicar a eleição de Dilma, a mídia europeia destacou principalmente o apoio que ela recebeu dos estados menos favorecidos do Norte e Nordeste, em oposição aos do Sul e Sudeste, mais ricos e industrializados.

Ainda no fim da noite de domingo, o jornal italiano Corriere della Sera escreveu que "o quadro eleitoral confirma um país dividido em dois, com Rousseff dominando o Nordeste pobre do Brasil, onde é mais forte o efeito dos programas sociais, enquanto é grande a preocupação nas áreas mais ricas, sobretudo no estado de São Paulo."

O diário milanês destacou ainda a agressividade da campanha eleitoral: "A tensão da campanha eleitoral, longa e às vezes violenta, teve repercussões também no dia decisivo". O jornal deu destaque à afirmação do candidato tucano, Aécio Neves, de que a campanha eleitoral "ficará marcada como a mais sórdida já feita".

"Apelo ao díálogo"

O jornal francês Le Monde enfatizou a apertada vitória de Dilma e o apelo ao diálogo proferido pela presidente em seu primeiro discurso após as eleições. "Este é o resultado mais apertado depois da primeira eleição presidencial direta, organizada em 1989, após a ditadura militar", escreveu o diário.

"O Nordeste votou em Dilma, São Paulo contra ela", afirmou o Le Monde: "Os 142,8 milhões de brasileiros convocados a votar, num país onde o voto é obrigatório, estiveram divididos entre os partidários da continuação das conquistas sociais realizadas pelo Partido dos Trabalhadores (...) e aqueles de uma alternância [de poder] para relançar a economia."

O jornal destacou ainda os desafios que Dilma tem pela frente, dando ênfase à declaração da presidente de que o "diálogo é o primeiro compromisso" do seu novo mandato, como também à sua intenção de promover uma reforma política e combater a corrupção.

Divisão do país

O diário espanhol El País apontou nesta segunda-feira para a estreita margem de vantagem de Dilma sobre o adversário, dando destaque à divisão do país nesta eleição.

"Como se previa, os mais pobres e atrasados estados do Norte e Nordeste, como Bahia ou Pernambuco, votaram em peso em Dilma. Os estados do sul, mais ricos e industrializados e com uma população com mais recursos, como São Paulo, o estado mais populoso, deram preferência a Neves." O jornal espanhol disse ainda que, "para Rousseff, foi decisivo o apoio do estado de Minas Gerais, local de nascimento de ambos" os candidatos.

O El País afirmou que nunca uma campanha eleitoral dividiu tanto os brasileiros e que a primeira tarefa do vencedor será "fechar a ferida aberta durante as três semanas vertiginosas de uma dura campanha" e que o primeiro discurso de Dilma após ser eleita "apontou para essa direção unificadora".

Xingamentos, acusações e economia

O primeiro discurso da presidente reeleita também foi manchete no jornal britânico The Guardian: "Em discurso de vitória, uma radiante Rousseff disse esperar que o país possa se unir". Segundo o diário, os eleitores aparentavam estar divididos e confusos "por uma campanha eleitoral suja, caracterizada por xingamentos, acusações de corrupção, nepotismo e incompetência".

O The Guardian também destacou as alusões ao regime nazista feitas por ambos os lados durante a campanha eleitoral: "Neves comparou o marqueteiro da campanha do PT, João Santana, ao chefe da propaganda nazista, Joseph Goebbels. Em resposta, Lula da Silva disse que os social-democratas perseguiam o Nordeste pobre do Brasil da mesma forma que os nazistas maltratavam os judeus".

O jornal britânico deu um especial destaque aos desafios que Dilma tem pela frente, afirmando que "o Brasil entrou em recessão técnica no começo deste ano" e que "uma indicação-chave de como Rousseff, uma economista formada, pretende virar esse quadro será a sua escolha do ministro da Fazenda".

Tecnocrata com desafios

O jornal alemão Süddeutsche Zeitung também enfatizou os desafios de Dilma para unir o país: "A presidente terá de se esforçar para melhor o mau humor e unir a nação dividida". O jornal bávaro considerou que faltam à Dilma o "carisma e a popularidade de seu mentor Lula, mas a tecnocrata Rousseff é vista como uma lutadora".

A notícia da vitória de Dilma e a divisão do país também foram destaque no site da revista alemã Der Spiegel nesta segunda-feira. Em sua página de internet, a principal revista alemã afirmou que "uma rachadura atravessa o Brasil. Ela passa exatamente ao longo da fronteira geográfica entre os pobres Norte e Nordeste e os ricos Sul e Sudeste, mas ela também atravessa a sociedade."

A Spiegel afirmou ainda que "o Brasil tem quatro anos turbulentos pela frente" e que a "robusta e autoritária Rousseff tem agora a tarefa de reconciliar o país dividido".

Carlos Albuquerque – Deutsche Welle

Brasil: ECONOMIA É O PRIMEIRO DESAFIO DE DILMA




Presidente terá que mudar política econômica para impulsionar crescimento. Entre as medidas, cortar gastos, reconquistar a confiança dos empresários e controlar a inflação.

Estimular a economia deverá ser a primeira e principal tarefa a ser encarada pela presidente reeleita Dilma Rousseff. Os primeiros três anos de governo já haviam ficado aquém do esperado, com o Produto Interno Bruto (PIB) avançando 2,7% (2010), 1% (2011) e 2,3% (2012) e com taxas menores que países vizinhos, como Chile e Peru.

Mas 2014 está superando as piores previsões: depois de uma retração de 0,2% no primeiro trimestre, o segundo teve um recuo de 0,6% e levou o país à recessão técnica no primeiro semestre. O crescimento em 2014 deve ficar bem abaixo de 1%.

E isso se refletiu nas urnas: a vitória apertada de Dilma é um sinal de que os brasileiros não estão satisfeitos com o andamento da economia. Além do baixo crescimento, especialistas apontam para o risco de alta da inflação, que está acima do teto da meta, de 6,5%. Apesar de a maioria da população ainda não sentir diretamente os efeitos, isso não deverá tardar a acontecer se nada for feito.

Até agora pouco se sabe sobre o que Dilma pretende fazer. Ela anunciou a demissão do ministro da Economia, Guido Mantega, no meio da campanha eleitoral. E isso foi tudo. Mas é necessário muito mais: especialistas afirmam que, se não houver mudanças, até mesmo as conquistas dos últimos anos, como o aumento da renda e o desemprego baixo, correm risco.

"A presidente vai ter o desafio de recolocar a economia brasileira nos trilhos. A receita do governo não consegue cobrir os gastos, o país está em recessão, e o investimento caiu muito por conta da desconfiança dos empresários", afirma o economista Evaldo Alves, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Para Roberto Gondo, professor de comunicação política da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o país está passando por uma crise econômica velada e com a diminuição gradativa dos diversos setores econômicos nacionais. "Para os próximos anos, os desafios são manter as taxas de desemprego controladas e permitir a redução de juros e de impostos para pessoas físicas e jurídicas", afirma.

Incentivo ao consumo teve efeito curto

Um dos problemas que mais afetam os brasileiros é o endividamento. Economistas calculam que três em cada quatro famílias não estão conseguindo pagar as suas contas e, assim, estão também deixando de consumir. Como o consumo interno era um dos principais combustíveis do crescimento econômico brasileiro, o resultado claro da atual situação é a desaceleração da economia.

Com a crise de 2008, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotou a política de incentivo ao consumo, o que serviu para estimular a economia e ajudou o país a passar praticamente ileso pela crise. Dilma usou a mesma fórmula, mas foi ao limite para tentar aquecer uma economia debilitada – também por não manter as linhas gerais da política econômica do presidente Fernando Henrique Cardoso, seguidas por Lula, que era um tripé composto por metas de inflação, superávit fiscal e câmbio flutuante.

“Política de crescimento via consumo tem um efeito de curto prazo. Hoje, o cenário é muito preocupante, pois as famílias estão com um nível elevado de endividamento", avalia o professor de administração pública José Matias-Pereira, da UnB.

Até mesmo um economista ligado à presidente, como o conselheiro Luiz Gonzaga Belluzo, admitiu em declaração à agência de notícias Reuters que houve um erro de estratégia. “Demorou-se muito para perceber que o consumo estava perdendo força para impulsionar a economia. Não se conseguiu articular a queda do consumo com recuperação do investimento", avaliou.

Fuga de investidores

Como o "ciclo do consumo" se encerrou, como dizem os economistas, uma das soluções é tentar recuperar a confiança dos empresários e investidores para que eles voltem a investir no país. Nos últimos anos a produção não aumentou, e o investimento privado caiu. O governo, por sua vez, gastou recursos para estimular a economia, mas não em obras de infraestrutura.

A situação é ruim principalmente no setor industrial, onde a insatisfação com o governo é grande, e a confiança na economia é baixa. Mesmo com os incentivos fiscais dados pelo governo federal para diversos setores, como o de construção civil, automotivo e para os usineiros, além do crédito barato de grandes bancos públicos, a economia brasileira não deslanchou.

Um dos motivos também é a baixa demanda por produtos brasileiros, principalmente os do agronegócio, por países como China e outros motores da economia mundial, que crescem de forma mais lenta e não devem, tão cedo, retomar ao nível de compras da época pré-crise.

Uma das apostas da presidente até aqui foi a política de concessões para melhorar a infraestrutura, mas ela ainda não deu o resultado esperado. Alguns aeroportos – como Guarulhos e Viracopos, em São Paulo, o de Brasília e o do Galeão, no Rio de Janeiro –, além de seis lotes de rodovias já foram concedidos à iniciativa privada.

Mas, por outro lado, o leilão das ferrovias e de outros setores ainda não saiu do papel por conta da desconfiança dos investidores. Esse mesmo receio fez com que, no final de 2013, em menos de dez dias o governo federal sofresse dois grandes reveses em seu pacote bilionário de concessão à iniciativa privada – no de ferrovias e exploração de petróleo da camada pré-sal.

Analistas explicam que a intervenção estatal e a incerteza sobre a regulamentação afastam os investidores privados das licitações. Um dos exemplos é a taxa de retorno do projeto de concessão das rodovias, que aumentou no início de maio de 2013 de 5,5% para 7,2%, para tornar mais atrativo os investimentos nas rodovias a serem licitadas.

Para o economista Reginaldo Nogueira, do Ibmec/MG, a indústria está muito fraca e não há investimento privado devido à piora das expectativas com o futuro da economia. "O país precisa rapidamente de uma melhora da agenda econômica para restaurar a confiança no meio empresarial e reerguer o investimento."

Aumentos vêm aí

Na época dos protestos que levaram milhões de brasileiros às ruas, em junho de 2013, Dilma anunciou, entre outras propostas, a responsabilidade fiscal para garantir a estabilidade da economia brasileira diante da crise mundial. Em 2013, a promessa não foi cumprida, já que o país não atingiu a meta de superávit primário – economia para o pagamento de juros da dívida estabelecida para o ano.

O país deveria ter economizado o valor correspondente a 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB), mas economizou 1,9% – o que corresponde a 91 bilhões de reais. Em entrevista à GloboNews no início de setembro, Mantega afirmou que "neste ano [2014], temos uma situação mais difícil", quer dizer, que o governo federal não deve alcançar a meta de economizar 2,2% do PIB, o equivalente a 116 bilhões de reais.

Mas, no ano que vem, o governo deverá apertar os cintos. E, além disso, tomar medidas amargas para organizar as contas nacionais, conter a inflação e a baixa produção do país associado à falta de investimento privado. Outro provável ajuste será o aumento do preço da gasolina e da energia elétrica, que são controlados pelo governo e ficaram defasados por conta do ano eleitoral.

"O desafio para retomar o crescimento tem várias frentes", diz Alves. "O próximo governo deve reorganizar o setor público, cortar gastos, reconquistar a confiança de investidores, controlar a inflação, mas não por meio do aumento de juros básicos, entre outras questões. Não será uma tarefa fácil."

Fernando Caulyt / Alexandre Schossler – Deutsche Welle

Timor-Leste: Julgar ministra em espera, xenofobia inconstitucional, mau “negócio” fronteiriço




Início do julgamento da Ministras das Finanças de Timor-Leste adiado "sine die"

Díli, 27 out (Lusa) - O início do julgamento da ministra das Finanças de Timor-Leste, Emília Pires, por alegada gestão danosa e participação económica em negócio foi hoje adiado "sine die", informou à agência Lusa fonte judicial.

Segundo a mesma fonte, o início do julgamento foi adiado porque o parlamento timorense ainda não levantou a imunidade à ministra e porque não teve ainda acesso ao processo, que está no Tribunal de Recurso depois de Emília Pires ter invocado nulidades da acusação.

Outro fator que contribui para o adiamento do julgamento foi o facto de a ministra das Finanças não estar presente.

Emília Pires integra a delegação que acompanha a visita do primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, aos Emirados Árabes Unidos.

No início de agosto, o Ministério Público de Timor-Leste acusou a ministra Emília Pires de alegada gestão danosa e participação económica em negócio num caso relacionado com a aquisição de camas para o Hospital Guido Valadares.

Em declarações à imprensa, a ministra das Finanças considerou "falsa e sem fundamento" a acusação deduzida contra si.

"No dia 25 de julho fui notificada da acusação deduzida contra mim pelo Ministério Público por dois crimes que não cometi. Rejeito veemente a acusação, que é falsa e não tem qualquer fundamento", afirmou Emília Pires.

Emília Pires ocupa a pasta das Finanças em Timor-Leste desde 2007, tendo sido reconduzida no cargo após as eleições legislativas de 2012.

"Toda a gente sabe que nos últimos anos, especialmente nos últimos dois anos, tenho sido alvo de uma campanha para destruir o meu nome, a minha reputação e o meu trabalho e consequentemente o próprio governo", afirmou Emília Pires.

MSE // JPS

Governo timorense enviou carta a PM e PR portugueses a explicar fim de contratos judiciais

Díli, 27 out (Lusa) - O Governo timorense enviou cartas ao Presidente e ao primeiro-ministro de Portugal a explicar a resolução do parlamento que suspende os contratos com funcionários judiciais internacionais, a maioria portugueses, disse à Lusa o ministro da Justiça.

"Hoje entreguei uma carta dirigida ao Presidente da República (Cavaco Silva) e ao primeiro-ministro (Pedro Passos Coelho) onde é explicado que a resolução não está relacionada com as relações existentes entre os dois países, nem com o tipo de cooperação que tem existido", afirmou Dionísio Babo em declarações à agência Lusa.

O parlamento de Timor-Leste aprovou na sexta-feira uma resolução a suspender os contratos com funcionários judiciais internacionais, a maior parte portugueses, alegando "motivos de força maior e de interesse nacional".

Segundo fonte governamental, esta medida afeta cerca de 50 funcionários, a maioria portugueses, a exercer funções na magistratura judicial, no Ministério Público, na Defensoria Pública, na Comissão Anticorrupção e no Centro de Formação Jurídica.

"Transitoriamente, e sem prejuízo de uma decisão em sentido inverso no futuro, deverão cessar de imediato, por motivos de força maior e de interesse nacional, todas as contratações existentes e renovações contratuais dos funcionários judiciais internacionais, incluindo as respetivas assessorias internacionais", refere-se a resolução, aprovada na sexta-feira e a que a agência Lusa teve hoje acesso.

Na resolução, o parlamento pede também ao Governo, "enquanto órgão responsável pela execução das políticas de Justiça", para efetuar uma auditoria técnica "aprofundada sobre o funcionamento do setor".

No documento, refere-se que "estes profissionais externos" revelaram "falta de capacidade técnica" para "dotarem funcionários timorenses de conhecimentos técnicos adequados".

O parlamento acrescenta que na Comissão Anticorrupção a contratação de profissionais estrangeiros também "não se tem revelado satisfatória, uma vez que é público que a Comissão Anticorrupção não tem agido em conformidade com os indícios criminais de que toma conhecimento, no sentido de promover investigações sobre os mesmos".

Na resolução, o parlamento explica também que o sistema Justiça de Timor-Leste tem vindo a ser chamado a resolver processos com "cada vez maior complexidade", que têm "revelado algumas das fragilidades" de que o sistema judicial timorense padece".

Entre essas fragilidades, está referida a "capacidade de resposta dos tribunais", mas também "incidentes referentes a irregularidades jurídicas, tanto materiais, como processuais, que vêm contaminando os processos, expondo o país a ameaças externas à sua soberania e subsequente segurança nacional".

"Esta decisão foi política com base em considerações e análises profundas do parlamento, que considera ser necessário a realização de uma auditoria", disse o ministro da Justiça.

Segundo Dionísio Babo, após a auditoria poderão vir a ser feitos novos contratos, mas baseados numa nova forma, que não especificou.

MSE // VM

Suspensão de contratos de estrangeiros em Timor-Leste é inconstitucional - deputado

Díli, 27 out (Lusa) - O deputado timorense Estanislau da Silva, da Fretilin, considerou hoje inconstitucional a resolução aprovada pelo parlamento de Timor-Leste, que determina o fim dos contratos com funcionários judiciais internacionais, a maioria portugueses.

A resolução é uma "interferência direta de um órgão de soberania e cria um precedente bastante mau", sublinhou o deputado da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), que votou contra a resolução, aprovada na sexta-feira no parlamento numa sessão encerrada ao público e a que a agência Lusa teve hoje acesso.

A resolução suspende os contratos com funcionários judiciais internacionais, a maior parte portugueses, alegando "motivos de força maior e de interesse nacional".

Segundo fonte governamental, esta medida afeta cerca de 50 funcionários, a maioria portugueses, a exercer funções na magistratura judicial, no Ministério Público, na Defensoria Pública, na Comissão Anticorrupção e no Centro de Formação Jurídica.

Na resolução, o parlamento pede também ao Governo, "enquanto órgão responsável pela execução das políticas de Justiça", para efetuar uma auditoria técnica "aprofundada sobre o funcionamento do setor".

No documento, refere-se que "estes profissionais externos" revelaram "falta de capacidade técnica" para "dotarem funcionários timorenses de conhecimentos técnicos adequados".

Na resolução, o parlamento explica também que o sistema Justiça de Timor-Leste tem vindo a ser chamado a resolver processos com "cada vez maior complexidade", que têm "revelado algumas das fragilidades" de que o sistema judicial timorense padece".

Entre essas fragilidades, está referida a "capacidade de resposta dos tribunais", mas também "incidentes referentes a irregularidades jurídicas, tanto materiais, como processuais, que vêm contaminando os processos, expondo o país a ameaças externas à sua soberania e subsequente segurança nacional".

O deputado da Fretilin sublinhou que é "preciso melhorar serviços e capacitar juízes", mas que esta não é a melhor forma de o fazer.

"A resolução padece de constitucionalidade porque existem mecanismos para fazer a auditoria", disse, referindo, por exemplo, o Conselho de Magistratura, que poderia fazer uma auditoria técnica.

MSE // VM

Parlamento timorense apoia Governo nas negociações de fronteiras com Austrália

Díli, 27 out (Lusa) -- O parlamento timorenses decidiu através de uma resolução apoiar a decisão do Governo de Timor-Leste de iniciar as negociações de delimitação das fronteiras marítimas com a Austrália, divulgou o Jornal da República.

Os parlamentares timorenses, através da resolução número 12/2014, de 24 de outubro, decidiram "apoiar e aceitar o início imediato das negociações com a Commonwealth da Austrália com o objetivo de estabelecer as fronteiras marítimas definitivas entre a República Democrática de Timor-Leste e a Commonwealth da Austrália".

Timor-Leste e a Austrália suspenderam o litígio em instâncias internacionais sobre as fronteiras marítimas, que envolve a exploração de petróleo, durante um período de seis meses para tentar resolver o litígio através de negociações amigáveis.

Na resolução também se refere que o parlamento decidiu "apoiar a decisão do Governo em constituir um Conselho para a Delimitação Definitiva das Fronteira Marítimas", que terá várias atribuições, entre as quais, definir as condições chave das negociações de um tratado.

O conselho deverá atuar "na qualidade de comité de supervisão e órgão de controlo de direção-geral do processo negocial, e determinar os objetivos pretendidos".

O órgão irá funcionar "como órgão de supervisão da equipa de negociação e prestar a esta as instruções e diretrizes sobre decisões e orientações estratégicas relevantes".

O parlamento apoia ainda a integração no Conselho para a Delimitação Definitiva das Fronteira Marítimas do primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, de ministros do Governo, e figuras eminentes da nação.

Em setembro, o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) adiou o início das audições a Timor-Leste e à Austrália (previstas de 17 a 24 daquele mês), no caso sobre a apreensão de documentos das autoridades australianas a um advogado timorense.

Segundo o TIJ, Timor-Leste e a Austrália enviaram uma carta conjunta a pedir para "adiar a audiência para tentarem encontrar uma solução amigável".

O TIJ estava a analisar uma queixa feita por Timor-Leste contra a Austrália, depois dos serviços secretos australianos terem feitos rusgas ao escritório e residência de um advogado australiano que representa as autoridades timorenses no caso das acusações de espionagem e apreendido documentos.

As rusgas ao escritório e residência do advogado timorense ocorreram após Timor-Leste ter acusado formalmente, junto do tribunal arbitral de Haia, a Austrália de espionagem quando estava a ser negociado o Tratado sobre Certos Ajustes Marítimos no Mar de Timor (CMATS), em 2004.

O processo de espionagem também está a ser tratado em Haia, mas pelo Tribunal Permanente de Arbitragem.

Com a arbitragem internacional, Timor-Leste pretende ver o tratado anulado, podendo assim negociar a limitação das fronteiras marítimas e tirar todos os proveitos da exploração do campo de gás de Greater Sunrise, que vale milhares de milhões de dólares.

Por outro lado, a petrolífera estatal australiana Woodside continua empenhada em desenvolver o campo de gás Greater Sunrise, situado na costa sul timorense, com Timor-Leste.

"A Woodside continua empenhada em desenvolver (a exploração) do Greater Sunrise", referiu um relatório da companhia, divulgado a 16 de outubro.

CSR (MSE) // APN

*Título PG

DESEMPREGO EM MACAU MANTÉM QUEDA COM ATIVOS A SUBIREM 7,4%




Macau, China, 27 out (Lusa) - A taxa de desemprego em Macau caiu duas décimas entre o terceiro trimestre de 2013 e o mesmo período deste ano, fixando-se em 1,7%, mas a população ativa subiu 7,4%.

De acordo com os dados revelados hoje pelos Serviços de Estatística e Censos, no terceiro trimestre de 2013 existiam 364.300 pessoas empregadas em Macau contra 6.900 desempregadas.

Os dados referentes ao mesmo período de 2014 referem 392.100 pessoas empregadas e 6.600 desempregados.

Com os números disponíveis, concluiu-se que a população ativa em Macau cresceu 7,4%, a população empregada subiu 7,6% e o número de desempregados caiu 4,34%.

Por ramos da atividade económica, os 81.500 trabalhadores dos setores das lotarias e outros jogos de aposta representam uma quebra de 2,16%, os 56.000 da construção mais 46,6%, e os 34.800 do comércio a retalho mais 1,48%.

Em alta estão também os trabalhadores dos hotéis e similares, estimados em 27.900 pessoas ou mais 7,72% do que no mesmo período de 2013, bem como os funcionários dos restaurantes e similares, calculados em 27.700 e a representarem uma subida de 4,52%.

Macau é uma Região Administrativa Especial da China desde 20 de dezembro de 1999, possui autonomia administrativa, legislativa e judicial, incluindo o julgamento em última instância.

JCS // JPS - Lusa

China quer derrotar manifestantes de Hong Kong pelo cansaço. Valha a religião




O impasse continua ao fim de um mês de protestos

Hong Kong, China, 27 out (Lusa) - Um mês após o início dos protestos em Hong Kong, o movimento pró-democracia não dá sinais de abrandar, ao mesmo tempo que as negociações com o Governo se têm mostrado infrutíferas.

Foi na noite de 27 de setembro que o fundador do Occupy Central, Benny Tai, declarou o início antecipado do movimento de desobediência civil, juntando-se às multidões que já ocupavam as ruas em apoio ao boicote às aulas iniciado pelos estudantes do território.

As manifestações paralisaram as ruas e ganharam novo fôlego depois de a polícia ter recorrido ao uso de gás lacrimogéneo e pimenta para dispersar as multidões. Os protestos acabaram por se espalhar além da zona do complexo do Governo, em Admiralty, estendendo-se até Mong Kok e Causeway Bay, com uma breve ocupação de Tsim Sha Tsui.

O movimento atraiu a atenção de meios de comunicação de todo o mundo e conseguiu mesmo gerar manifestações de apoio em várias cidades do globo.

No entanto, um mês após o seu início, não há fim à vista para o problema, com as negociações entre os líderes estudantis e o Governo a não terem resultados.

O plano original de Benny Tai, lembra o South China Morining Post, era mobilizar 10.000 pessoas para bloquear as ruas do distrito financeiro da cidade, caso o Governo não autorizasse o que consideram o sufrágio universal "genuíno" para eleger o chefe do Executivo em 2017. Esperava-se uma concentração de três dias, lembra o jornal.

Percebendo que eram os jovens que estavam a tomar as rédeas do movimento, os organizadores do Occupy acabaram por se posicionar como mediadores dos estudantes.

No entanto, a mudança de liderança resultou num protesto menos organizado, que implicou discussões a três, entre a Federação de Estudantes, o movimento Scholarism e os líderes do Occupy, destaca o jornal.

Tornando-se óbvio que os manifestantes não iriam abandonar as ruas, agendaram-se negociações entre o Governo, lideradas pela secretária-chefe Carrie Lam, e a Federação de Estudantes, com Alex Chow à cabeça.

As negociações não surtiram, no entanto, qualquer efeito, com os estudantes a questionarem o grau de comprometimento do Executivo.

A nomeação civil dos candidatos a chefe do Executivo, pedida pelos estudantes, foi rejeitada pelos representantes do Governo, que insistiram que Pequim jamais autorizaria esse cenário.

Prometeram, no entanto, informar as autoridades da China Continental sobre os mais recentes acontecimentos e sugerir que fosse criada uma plataforma para discutir a reforma política além de 2017.

Os líderes estudantis consideraram estas ofertas pouco concretas e pediram que o Governo local avançasse com informação clara sobre as consequências dessas promessas.

Ainda assim, na passada sexta-feira, os líderes do movimento anunciaram a realização de um referendo para decidir se devem aceitar as propostas que o governo lhes apresentou, referendo esse que acabou por ser cancelado.

O movimento pró-democracia opõe-se à proposta apresentada pelo Governo Central para a eleição do chefe do executivo em 2017, que prevê que os candidatos sejam pré-selecionados por uma comissão, impedindo o que consideram um "genuíno" sufrágio universal.

ISG // JPS

Religião na linha da frente dos protestos

Hong Kong, 27 out (Lusa) - O papel da religião nas manifestações de Hong Kong vai além das imagens sagradas colocadas nos locais dos protestos, tendo já os líderes das religiões maioritárias oferecido ajuda para intermediar entre o Governo e os manifestantes.

O gesto dos líderes das seis religiões maioritárias na cidade foi visto como genuíno e, apesar de ter sido recusado, evidenciou "um possível papel na criação de diálogo", considera o jornal South China Morning Post.

Há muito que o cristianismo tem estado ligado à luta pela democracia e nos principais locais de protesto podem encontrar-se cristãos a organizar sessões de oração e missas católicas, além de oferecerem aconselhamento.

"Na política não há neutralidade. Não ter opinião é uma opinião. E frequentemente não ter opinião é visto como apoio ao grupo no poder", disse o Revendo Yuen Tin-yau, presidente da Igreja Metodista e do Conselho Cristão de Hong Kong.

"Igualdade e justiça são princípios basilares do cristianismo e por esse motivo os cristãos tendem a apoiar o desenvolvimento democrático. Não devia ser um pequeno grupo a controlar o poder de gerir a sociedade", afirmou Yuen.

O Reverendo Chu Yiu-ming e Benny Tai, dois dos três fundadores do Occupy Central, são cristãos, tal como é o líder do movimento Scholarism, Joshua Wong.

O jornal tentou contactar os restantes signatários da declaração que se ofereceram como intermediários, mas só conseguiu obter respostas da comunidade cristã.

Justin Tse, investigador da Universidade de Washington, realizou um estudo aprofundado sobre a relação do cristianismo aos movimentos de desobediência civil em Hong Kong, e concluiu que a sua influência foi além da participação dos crentes.

"Isto não quer dizer que as instituições da Igreja estiveram profundamente envolvidas. O que significa é que as pessoas de Hong Kong têm sido tão profundamente influenciadas pelo cristianismo através de diversos canais da sociedade civil - escolas, meios de comunicação, serviços sociais - que acabam por praticar e articular o seu ativismo com normas cristãs", explicou.

O Conselho Cristão de Hong Kong divulgou vários comunicados nas últimas três semanas, apelando ao Governo que oiça a "mensagem clara que as pessoas Hong Kong e os estudantes estão a enviar", bem como a condenar o recurso à força por parte da polícia.

O conselho também expressou "profunda desilusão e preocupação com a decisão" da Assembleia Popular Nacional sobre a reforma eleitoral, apelidando-a de "uma regressão do atual sistema eleitoral e, consequentemente, da democracia".

Em Admiralty, o Pastor Wu Chi-wai organizou sessões de oração todos os dias desde que o movimento começou.

"Queremos dar apoio emocional aos estudantes ou a quem precisar dele", disse, indicando que várias igrejas disponibilizaram voluntários para estar no terreno.

"As questões [políticas] não vão desaparecer brevemente, e como cristãos e membros ativos da sociedade, acredito que temos muitos para oferecer", rematou.

ISG // JPS

*Título PG

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