sábado, 13 de dezembro de 2014

UMA FRUTA QUE NÃO CAIU! – II



Martinho Júnior, Luanda (textos anteriores) 

4 – As frutas que ficaram amadurecidas do colonialismo espanhol em 1898, por via do Tratado de Paris, mereceram a cobiça daqueles que na altura estavam já a realizar a passagem do expansionismo para o imperialismo, ou seja, prontas a serem recolhidas pelos Estados Unidos, vencedores das guerras hispano-americanas e subversivos das independências dos autóctones em busca de liberdade, de independência e de soberania.

À excepção de Guam, uma pequena ilha da Micronésia que acabou por ser irremediavelmente destinada a base naval dos Estados Unidos (que assim tiraram partido de sua privilegiada localização geo estratégica), com maior ou menor vigor, capacidade de resistência e êxito, a resposta dos povos das Filipinas, de Porto Rico e de Cuba não se fizeram esperar.

De todas essas frutas amadurecidas, foi Cuba que vincou desde logo um paradigma a um nível tal que, se por um lado impediu qualquer processo de aculturação por imposição dos interesses anglo-saxónicos, pelo outro tornou sua própria cultura hispânica num baluarte de resistência, de princípio com intensidade variável, para depois com a revolução, se tornar um processo heróico de identidade, perseverança, dignidade e de liberdade, que transvasou por via do internacionalismo e da solidariedade as suas fronteiras.

5 – Durante o século XIX que em toda a América Latina se manifestavam três tendências:

- Aquela que em desespero se prendia ao colonialismo de Espanha, em extinção;

- A que libertava o continente instaurando a independência, em ascendência;

- A que começava a subverter a independência, procurando o trespasse da era colonial para uma era neo colonial, imposta por processos imperialistas e próprios do carácter da hegemonia unipolar.

A ruptura com o colonialismo hispânico reflectiu-se também em relação a Cuba, por via das lutas travadas no continente, como através das lutas encetadas pelos próprios patriotas cubanos.

Na génese da luta pela liberdade, a inteligência de José Marti em Cuba já fazia o diagnóstico correcto da evolução da situação latino-americana:

“Para que a ilha seja norte-americana não necessitamos de fazer esforço algum, porque, se não aproveitarmos o pouco tempo que nos resta para impedir que o seja, por sua própria decomposição virá a sê-lo. É isso que espera esse país (Estados Unidos) e a isso nos devemos opor nós mesmos”…

6 – Na Guerra Grande (de 1868 a 1878) e na Guerra Pequena (em 1879 e 1880), em que os patriotas cubanos procuraram sacudir o colonialismo espanhol, o oportunismo norte-americano foi-se fazendo sentir, entre apoio velado a Espanha e uma neutralidade tão ambígua, que jogava com uns e com outros, esperando a oportunidade de pôr o pé na ilha e determinar o seu destino.

De oportunismo em oportunismo, a grande oportunidade surgiu em 1898, quando ignorando as vantagens dos patriotas libertadores conseguidas durante 30 anos de esforços inauditos (eles dominavam o leste da ilha e lançavam colunas no ocidente, que os espanhóis já não podiam neutralizar), os instrumentalizaram, beneficiando do colapso das forças coloniais espanholas.

Entre a tese cubana de liberdade e a antítese retrógrada de Espanha colonial, os Estados Unidos forçaram a introdução dos seus interesses imperialistas de domínio como uma síntese.

Desse modo instalaram não só o seu poderio militar entre 1898 e 1902, mostrando desde logo ao que vinham: multiplicaram os empreendimentos privados, apossaram-se das melhores terras e na sua maior percentagem e começaram a controlar uma parte cada vez mais substancial da economia e das finanças, por via directa ou por via de seus agentes locais, sob o signo do Tratado de Paris de 10 de dezembro de 1898 e da famosa Emenda Platt (28 de fevereiro de 1901).

A esses “pilares”, os Estados Unidos haveriam de juntar, para que o estrangulamento se tornasse mais eficaz, o ainda mais injusto Tratado de Reciprocidade Comercial entre Cuba e os Estados Unidos, que entrou em vigor a 27 de dezembro de 1903, que rematava o domínio, tornando-o ainda mais avassalador.

Foi nessa altura que os Estados Unidos provocaram a dissolução do exército libertador, “los mambises”… de forma a que, dispersos os seus membros, compensação alguma lhes fosse atribuída, com o objectivo óbvio de neutralizar por completo os que se haviam proposto à independência.

Assim se introduziu o neo colonialismo em Cuba, que viria a vigorar de 1902 a 1958! 

Foto: Os antecedentes da intervenção do livro “La fruta, que no cayó”, sobre a intervenção dos Estados Unidos em Cuba antes da Revolução, da autoria de Ángel Jiménez González e René González Barrios.

EUA: George W. Bush tinha conhecimento dos "programas de tortura" da CIA




O ex-Presidente dos Estados Unidos tinha conhecimento dos métodos de tortura utilizados pela CIA. Não sabia era onde se situavam os locais dos "interrogatórios intensivos".

O ex-diretor da CIA, Michael Hayden, revelou esta quarta-feira nunca ter mentido para o ex-presidente dos Estados Unidos sobre as práticas de interrogatório realizadas pela Agência Central de Informação (CIA).

Numa entrevista concedida à revista "Politico", Michael Hayden garante que "o Presidente aprovou pessoalmente as práticas de simulação de afogamento realizadas a Abu Zubadaydah", líder de um campo de treino da Al-Qaeda. E afirma que está tudo descrito "no livro escrito por Bush".

De acordo com um relatório publicado pelo Comité de Serviços Secretos (CSS) do Senado americano, o ex-Presidente George W. Bush terá sido informado sobre os métodos de tortura realizados a suspeitos de ataques terroristas ainda em abril de 2006.

O documento revela ainda que, nessa altura, Bush terá manifestado repúdio ao ver imagens "de um preso acorrentado ao teto que usava uma fralda".

Dick Cheney, ex-vice presidente da administração Bush, assegurou esta quinta-feira em entrevista à estação televisiva Fox que George W. Bush tinha conhecimento "integral dos métodos de tortura realizados", acrescentado ainda que "o relatório estava cheio de erros".

Segundo Michael Hayden, a única coisa que o ex-Presidente não sabia era dos "locais onde os prisioneiros se encontravam".

Aumenta a pressão na Casa Branca

Em declarações ao canal espanhol Telemundo, o Presidente Barack Obama tentou justificar as ações da CIA e do ex-Presidente George W. Bush, defendendo que "ninguém pode compreender como é ser-se responsável pela segurança e proteção do povo americano no rescaldo do pior ataque ao nosso território nacional".

De acordo com a Casa Branca, cabe ao Departamento de Justiça decidir se devem reabrir um inquérito criminal contra os responsáveis pelos interrogatórios da CIA.

Depois de Obama ter proibido, em 2009, a utilização de métodos controversos nos interrogatórios da CIA, veio agora afirmar que as técnicas de tortura prejudicam a autoridade moral dos Estados Unidos. "Pode ser que este relatório nos ajude a deixar estas técnicas onde elas pertencem, no passado", acrescentou.

Expresso, em 11 dezembro 2014

Na foto: George W. Bush e Michael Hayden (general e ex-diretor da CIA)

Portugal - Jerónimo de Sousa: "Sucessão de escândalos são inseparáveis da política"




O secretário-geral do PCP defendeu hoje que a sucessão de escândalos e investigações a corrupção são "inseparáveis da política de direita" e do "aprisionamento" do poder político pelos interesses económicos, nomeando José Sócrates, e o atual Governo.

"O país assistiu nos últimos tempos a uma sucessão de escândalos, atos ilícitos e investigações de atos de corrupção que são inseparáveis da política de direita e do que ela constitui de aprisionamento do poder político pelos interesses dos grupos económicos e do grande capital financeiro", defendeu.

Falando no encerramento de uma sessão pública, em Lisboa, o líder comunista afirmou que o atual Governo "viu surgir ao mais alto nível das estruturas do Estado, pelas políticas que promoveu e pelas opções que tomou, redes de corrupção, de negociatas, de compadrios que são expressão do seu próprio apodrecimento político".

"Sim, é na política, pela mão de PS, PSD e CDS, que há 38 anos tem conduzido o país ao declínio e ao empobrecimento do próprio regime democrático que está a causa essencial da multiplicação dos casos que, do BPN ao BES/GES, dos vistos 'gold' ao que agora envolve o ex-primeiro-ministro, têm abalado o país", defendeu Jerónimo de Sousa.

Para Jerónimo de Sousa, "o que vem à luz do dia com cada vez mais clareza é o resultado de anos e anos de uma política de recuperação capitalista e restauração monopolista que alimentou a promiscuidade, a grande fraude económica e financeira, a corrupção e a exploração do trabalho e dos portugueses".

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal - Bloco: Passos é "um diabo" que vai "roubando o que é estratégico"




A porta-voz do BE afirmou que Passos Coelho tem sido "um diabo" que vai "roubando o que é estratégico para o país", questionando como se pode defender a economia com uma tabuleta a dizer "vende-se com preço de saldo".

Em Braga, para uma homenagem a Gonçalves da Silva, fundador da UDP, Catarina Martins comparou o primeiro-ministro ao "Dinossauro Excelentíssimo" de José Cardoso Pires.

"Eu não sei se o primeiro-ministro lê José Cardoso Pires, cujo livro Dinossauro Excelentíssimo fala-nos do mexilhão. É sobre um reino com um imperador astuto, diabo e ladrão e nesse reino quem se lixa é o mexilhão", explicou, numa alusão à declaração recente de Passos Coelho de que quem se "lixou" com a crise em Portugal não foi o mexilhão.

Segundo Catarina Martins, "o que Passos Coelho hoje é para o país é esse diabo, e o país é esse país governado por esse diabo ladrão, que vai roubando o que é estratégico ao país, que vai tirando os direitos ao trabalho".

A líder bloquista defendeu ainda os trabalhadores da TAP que, disse, estão a ter a "responsabilidade " de lutar pela economia do país ao lutarem contra a privatização da companhia aérea portuguesa.

A porta-voz bloquista lembrou que Portugal "já privatizou ou a eletricidade, privatizou os correios, os aeroportos, privatizou as comunicações" questionando se se "pode privatizar também os transportes".

Ou seja, questionou, "pode um país defender a economia quando entrega tudo, quando tem uma tabuleta à porta que diz 'Vende-se a Preço de Saldo'".

Por isso, Catarina Martins criticou a afirmação de Paulo Portas que apelidou a greve dos trabalhadores da TAP, marcada para o Natal e fim do ano, de "irresponsável" por "atentar" contra a economia.

"Vamos ver se nos entendemos: os trabalhadores da TAP estão a lutar contra a privatização da TAP, estão a ter a responsabilidade de lutar pela economia do país, de lutar pela sobrevivência do país", defendeu.

"A responsabilidade da defesa do país não está em quem diz que os trabalhadores da TAP são irresponsáveis, pelo contrário. Está, como sempre esteve, na luta dos trabalhadores que não se resignam a um pais sem futuro e que lutam para que a TAP seja uma empresa pública", terminou.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal - PS: Costa reitera que memorando previa venda parcial da TAP




O secretário-geral do PS reiterou hoje que o memorando de entendimento previa apenas a alienação parcial da TAP, respondendo com "factos" às críticas do PSD, e insistiu na necessidade do "Estado manter uma posição de controlo" na companhia aérea.

Na sexta-feira à noite, o líder socialista, António Costa, contrariou o primeiro-ministro sobre o que diz o memorando de entendimento assinado com a 'troika' em relação à privatização da TAP, garantindo que neste apenas estava prevista a venda parcial.

Hoje, o porta-voz do PSD, Marco António Costa, acusou o secretário-geral do PS de "ligeireza e precipitação", reportando para o memorando de entendimento original onde foi assumido o "princípio da venda total" da companhia aérea.

À tarde, no Porto, em declarações à agência Lusa à margem de um encontro com o autarca Rui Moreira, António Costa respondeu "com os factos" que estão no documento do memorando original relativamente à TAP, que referem que "a alienação é parcial".

"O PSD distribuiu a versão em inglês. Está aqui a versão em português. E diz muito simplesmente: 'o plano tem como objetivo uma antecipação de receitas de cerca de 5,5 mil milhões de euros' -- o que já está ultrapassado -- 'apenas com alienação parcial prevista para todas as empresas de maior dimensão'", leu.

Segundo o documento, "o Governo compromete-se a ir ainda mais longe, prosseguindo uma alienação acelerada da totalidade das ações na EDP e na REN, e tem a expetativa que as condições do mercado venham a permitir a venda destas duas empresas, bem como da TAP, até ao final de 2011", considerando o líder socialista que esta última frase sobre a companhia aérea "tem a ver com o calendário".

"O que está aqui referido sobre a TAP são duas coisas: alienação parcial e a expetativa que tivesse sido feito até ao final de 2011. Já estamos em 2014. Felizmente a TAP ainda não foi vendida e já nem é sequer necessário vender para alcançar o objetivo que estava aí previsto", sublinhou.

António Costa deixa por isso um repto ao Governo: "Concentre-se no futuro e no que interessa. É fundamental o Estado manter uma posição de controlo na TAP. Ponto".

Segundo as contas do secretário-geral do PS, como as receitas com as privatizações já vão nos 8 mil milhões de euros -- ultrapassando a meta prevista de 5,5 mil milhões de euros do memorando -- a "alienação da TAP não é necessária".

"Mas o que é mesmo decisivo é compreendermos a importância estratégica da TAP para o futuro do país. Portugal depende essencialmente da sua soberania e da sua capacidade de afirmação atlântica. E a capacidade de afirmação atlântica depende, em grande medida, daquilo que é a existência de um grande 'hub' aeronáutico, definido e formado pela TAP", defendeu.

De acordo com Costa, "a TAP tem sido ao longo destes anos um bom exemplo de como uma empresa com gestão pública pode ser uma empresa bem gerida" e por isso "deve continuar a ser uma empresa pública".

"Nem me oponho a que haja um aumento de capital por dispersão do capital em bolsa que mobilize capital privado, mas não é por alienação da participação do Estado, é por reforço do capital da empresa. Em caso algum o Estado deve perder a maioria e a posição de controlo na empresa", advertiu.

No debate quinzenal de sexta-feira, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, afirmou que "a privatização da TAP (...) era um dos objetivos inscritos no memorando de entendimento [com a ´troika´].

"Era uma privatização da TAP a 100%, veja-se até onde ia o neoliberalismo em maio de 2011", declarou.

O Governo aprovou no dia 13 de novembro o processo de privatização da TAP, através da alienação de ações representativas de até 66% do capital social da TAP SGPS, ficando o Estado com uma opção de venda de até 34% do capital remanescente, ao adquirente na venda direta de referência, caso faça uma apreciação positiva do cumprimento das obrigações pelo mesmo assumidas no âmbito da reprivatização.

Segundo as Grandes Opções do Plano para 2015 a receita global das privatizações conduzidas na atual legislatura corresponde a cerca de 9,2 mil milhões de euros, valor que, segundo o mesmo documento "ultrapassou o objetivo fixado no Memorando de Entendimento".

Lusa, em Notícias ao Minuto

A GUERRA PELOS MÉDIA E O TRIUNFO DA PROPAGANDA


clicar para ampliar
John Pilger [*]

Por que tão grande parte do jornalismo sucumbiu à propaganda? Por que a censura e a distorção são a prática padrão? Por que a BBC é tão frequentemente uma porta-voz do poder rapinante? Por que o New York Times e o Washington Post enganam os seus leitores?

Por que não ensinam os jornalistas jovens a entender as agendas dos media e a desafiar as afirmações altissonantes e os baixos objectivos da falsa objectividade? E por que não lhes ensinam que a essência de grande parte do que se publica nos media de referência não tem a ver com informação e sim com poder?

Estas são questões urgentes. O mundo está a enfrentar a perspectiva de uma grande guerra, talvez nuclear – com os Estados Unidos claramente determinados a isolar e provocar a Rússia e finalmente a China. Esta verdade está a ser invertida e posta às avessas por jornalistas, incluindo aqueles que promoveram as mentiras que levaram ao banho de sangue no Iraque em 2003.

Os tempos que vivemos são tão perigosos e tão distorcidos na percepção pública que a propaganda já não é, como a denominou Edward Bernays, um "governo invisível". Ela é o governo. Ele domina directamente sem receio de contradição e seu principal objectivo é a conquista de nós próprios: do nosso sentido do mundo, da nossa capacidade para separar verdade de mentiras.

A era da informação é realmente uma era dos media. Temos guerra pelos media; censura pelos media; demonologia pelos media; retaliação pelos media; diversionismo pelos media – uma linha de montagem surreal de clichés obedientes e pressupostos falsos.

O poder de criar uma nova "realidade" tem estado em construção há muito tempo. Quarenta e cinco anos atrás, um livro intitulado The Greening of Americaprovocou sensação. Na capa constavam estas palavras: "Há uma revolução que se aproxima. Ela não será como revoluções do passado. Ela terá origem com o indivíduo".

Eu era correspondente nos Estados Unidos naquele tempo e recordo a elevação ao status de guru do seu autor, um jovem académico de Yale, Charles Reich. A sua mensagem era que dizer a verdade e a acção política haviam fracasso e só a "cultura" e a introspecção podiam mudar o mundo.

Dentro de poucos anos, conduzido pelas forças do lucro, o culto do "eu-ismo" quase havia esmagado nosso sentido de actuação conjunta, nosso sentido de justiça social e de internacionalismo. Classe, género e raça eram separados. O pessoal era a política e os media era a mensagem.

Depois da guerra fria, a fabricação de novas "ameaças" completou a desorientação política daqueles que, 20 anos antes, teriam constituído uma oposição veemente.

Em 2003, filmei em Washington uma entrevista com Charles Lewis, distinto jornalista de investigação americano. Discutimos a invasão do Iraque uns poucos meses antes. Perguntei-lhe: "E se os media mais livres do mundo tivessem desafiado seriamente George Busch e Donald Rumsfeld e investigado suas afirmações, ao invés de canalizar o que se revelou como propaganda bruta?" Ele respondeu que se nós jornalistas tivéssemos feito o nosso trabalho "haveria uma possibilidade muito boa de não termos ido à guerra no Iraque".

Trata-se de uma declaração chocante e que é partilhada por outros jornalistas famosos a quem fiz a mesma pergunta. Dan Rather, anteriormente da CBS, deu-me a mesma resposta. David Rose do Observer e jornalistas e produtores antigos da BBC, que pediram para permanecer anónimos, deram-me a mesma resposta.

Por outras palavras, tivessem jornalistas cumprido a sua tarefa, tivessem eles questionado e investigado a propaganda ao invés de ampliá-la, centenas de milhares de homens, mulheres e crianças podiam hoje estar vivos, e milhões podiam não terem fugido dos seus lares; a guerra sectária entre sunitas e xiitas podiam não ter sido desencadeada e o infame Estado Islâmico podia agora não existir.

Mesmo agora, apesar dos milhões que foram às ruas em protesto, a maior parte do público nos países ocidentais mal faz ideia da escala absoluta do crime cometido pelos nossos governos no Iraque. Mesmo com poucos conscientes disso, nos 12 anos que precederam a invasão, os governos estado-unidense e britânico activaram um holocausto ao negarem meios de vida à população civil do Iraque.

Estas são as palavras do alto responsável britânico pelas sanções ao Iraque na década de 1990 – um assédio medieval que provocou as mortes de meio milhão de crianças com menos de cinco anos, informou a UNICEF. O nome do responsável é Carne Ross. No Foreign Office em Londres ele era conhecido como "Sr. Iraque". Hoje é alguém que conta a verdade sobre como governos enganam e como jornalistas propagam o engano de bom grado. "Nós alimentávamos jornalistas com factóides de inteligência expurgada", contou-me, "ou nós os congelávamos do lado de fora".

O principal denunciante durante este período terrível e mudo foi Denis Halliday. Então secretário-geral assistente das Nações Unidas e o alto responsável da ONU no Iraque, Halliday preferiu renunciar a implementar políticas que descreveu como genocidas. Ele estima que as sanções mataram mais de um milhão de iraquianos.

O que aconteceu a seguir a Halliday foi instrutivo. Ele foi camuflado. Ou foi vilipendiado. No programa Newsnight da BBC, o apresentador Jeremy Paxman sussurrou-lhe: "Não será você um apologista de Saddam Hussein?" O Guardian recentemente descreveu isto como um dos "momentos memoráveis" de Paxman. Na semana passada, Paxman assinou um contrato de £1 milhão para um livro.

Os serviçais do silenciamento (suppression) fizeram bem o seu trabalho. Considerem os efeitos. Em 2013, um inquérito ComRes descobriu que a maioria do público britânico acreditava que o número de baixas no Iraque era de menos de 10 mil – uma minúscula fracção da verdade. Um rastro de sangue que vai desde o Iraque até Londres foi lavado até quase ficar limpo.

Diz-se que Rupert Murdoch é o padrinho da mafia dos media e ninguém deveria por em dúvida o poder acrescido dos seus jornais – 127 ao todo, com uma circulação somada de 40 milhões, e da sua rede Fox. Mas a influência do império Murdoch não é maior do que o seu reflexo da generalidade dos media.

A propaganda mais eficaz não se encontra no Sun ou na Fox News – mas debaixo de um halo liberal. Quando o New York Times publicou afirmações de que Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa, suas provas falsas foram acreditadas porque não era a Fox News; era o New York Times.

O mesmo é verdadeiro em relação ao Washington Post e ao Guardian, ambos os quais desempenharam um papel crítico para condicionar os seus leitores a aceitar uma nova e perigosa guerra fria. Todos estes três jornais liberais adulteraram acontecimentos na Ucrânia como actos malignos da Rússia – quando, de facto, o golpe fascista na Ucrânia foi obra dos Estados Unidos, ajudados pela Alemanha e pela NATO.

A inversão da realidade é tão predominante que o cerco militar de Washington e a intimidação da Rússia não é contestada. Isso não é sequer notícia, mas silenciado por trás de uma campanha de difamação e medo da espécie a que assistíamos durante a primeira guerra fria.

Mais uma vez, o império do mal está a vir apanhar-nos, liderado por um outro Staline ou, perversamente, um novo Hitler. Nomeie o seu demónio e dispare.

O silenciamento da verdade acerca da Ucrânia é um dos mais completos blackouts noticiosos de que me posso lembrar. A maior acumulação militar do ocidente no Cáucaso e na Europa oriental desde a segunda guerra mundial é censurada. A ajuda secreta de Washington a Kiev e suas brigadas neo-nazis responsáveis por crimes de guerra contra a população do Leste da Ucrânia são censurados. Evidências que contradigam a propaganda de que a Rússia foi responsável pelo derrube um avião da Malaysian são censuradas.

E, mais uma vez, os media supostamente liberais são os censores. Sem mencionar factos, sem prova, um jornalista identificou um líder pró Rússia na Ucrânia como o homem que derrubou o avião de carreira. Este homem, escreveu ele, era conhecido como O Demónio. Ele era um homem amedrontador que assustou o jornalista. Essa era a prova.

Grande parte dos media ocidentais tem-se esforçado por apresentar a população de etnia russa da Ucrânia como intrusos (outsiders) no seu próprio país, quase nunca como ucranianos à procura de uma federação dentro da Ucrânia nem como cidadãos ucranianos a resistirem a um golpe orquestrado no estrangeiro contra o seu governo eleito.

O que o presidente russo tem a dizer não tem consequência; ele é um vilão de pantomina que pode ser maltratado com impunidade. Um general americano que encabeça a NATO é um sucessor directo do Dr. Strangelove – um general Breedlove – afirma rotineiramente invasões russos sem nem um fragmento de prova visual. A sua personificação do general Jack D. Ripper, de Stanley Kubrick, é uma caracterização perfeita.

Quarenta mil ruskies estavam a amontoar-se na fronteira, segundo Breedlove. Isso foi suficiente para o New York Times, o Washington Post e o Observer – este último tendo anteriormente distinguido-se com mentiras e falsificações que apoiavam a invasão de Blair do Iraque, como revelou seu antigo repórter David Rose.

Há quase a joie d'esprit de uma reunião de classe. Os tocadores de tambor do Washington Post são exactamente os mesmos editorialistas que declararam a existência de armas de destruição em massa de Saddam como "factos indiscutíveis".

"Se quiser saber", escreveu Robert Parry, "como o mundo poderia afundar numa terceira guerra mundial – tal como aconteceu com a primeira guerra mundial um século atrás – tudo o que precisa fazer é olhar para a loucura que envolveu virtualmente toda a estrutura política e dos media dos EUA sobre a Ucrânia onde uma falsa narrativa de chapéus brancos contra chapéus pretos desencadeou-se a princípio e demonstrou-se impermeável a factos ou à razão".

Parry, o jornalista que revelou o [escândalo] Irão-Contra, é um dos poucos que investiga o papel central dos media neste " game of chicken ", como o chamou o ministro russo dos Estrangeiros. Mas será um jogo? Quando escrevo isto, o Congresso dos EUA vota a Resolução 758 a qual, em poucas palavras, diz: "Vamos nos preparar para a guerra com a Rússia".

No século XIX, o escritor Alexander Herzen descreveu o liberalismo laico como "a religião final, embora a sua igreja não seja do outro mundo mas sim deste". Hoje, este direito divino é muito mais violento e perigoso do que qualquer coisa que o mundo muçulmano vomite, apesar de o seu maior triunfo ser talvez a ilusão da informação livre e aberta.

Nos noticiários, países inteiros são desaparecidos. A Arábia Saudita, a fonte de extremismo e de terror apoiado pelo ocidente, não é notícia, excepto quando ela deita abaixo o preço do petróleo. O Iémen aguentou doze anos de ataques de drones americanos. Quem sabe disso? Quem se importa?

Em 2009, a University of the West of England publicou os resultados de um estudo de dez anos de cobertura da Venezuela feita pela BBC. Das 304 reportagens difundidas, apenas três mencionavam qualquer das políticas positivas introduzidas pelo governo de Hugo Chavez. O programa de alfabetização da história humana mal recebeu uma referência de passagem.

Na Europa e nos Estados Unidos, milhões de leitores e telespectadores não sabem quase nada acerca das notáveis mudanças, vivificantes, implementadas na América Latina, muitas delas inspiradas por Chavez. Tal como a BBC, a reportagens do New York Times, do Washington Post, do Guardian e do resto dos respeitáveis media ocidentais eram notoriamente de má fé. Chavez foi ridicularizado mesmo no seu leito de morte. Como é que isto é explicado, pergunto, nas escolas de jornalismo? Por que é que milhões de pessoas na Grã-Bretanha são persuadidas de que é necessária uma punição colectiva chamada "austeridade"?

Na sequência do crash económico de 2008 revelou-se um sistema apodrecido. Durante uma fracção de segundo os bancos foram alinhados como vigaristas com obrigações para com o público que haviam traído.

Mas dentro de poucos meses – com excepção de algumas pedras lançadas sobre os excessivos "bónus" corporativos – a mensagem mudou. As fotos dos banqueiros culpados desvaneceram-se dos tablóides e algo chamado "austeridade" tornou-se o fardo de milhões de pessoas comuns. Houve alguma vez um truque de prestidigitação tão descarado?

Hoje, muitas das condições básicas de vida civilizada na Grã-Bretanha estão a ser desmanteladas a fim de reembolsar uma dívida fraudulenta – a dívida de vigaristas. Dizem que os cortes da "austeridade" montam a £83 mil milhões. Essa é quase exactamente o montante do imposto evitado pelos mesmos bancos e por corporações como a Amazon e a News UK de Murdoch. Além disso, aos bancos vigaristas é concedido um subsídio anual de £100 mil milhões em seguro gratuito e garantias – um número que financiaria todo o Serviço Nacional de Saúde.

A crise económica é pura propaganda. Políticas extremistas dominam agora a Grã-Bretanha, os Estados Unidos, grande parte da Europa, Canadá e Austrália. Quem defende os interesses da maioria? Quem está a contar a sua história? Quem está a manter o registo claro? Não é isso o que os jornalistas deveriam fazer?

Em 1977, Carl Bernsein, que ganhou fama com o Watergate, revelou que mais de 400 jornalistas e executivos dos noticiários trabalhavam para a CIA. Neles incluíam-se jornalistas do New York Times, da Time e de redes de TV. Em 1991, Richard Norton Taylor, do Guardian, revelou algo semelhante neste país.

Nada disto é necessário nos dias de hoje. Duvido que alguém pague o Washington Post e muitos outros media para acusar Edwar Snowden de ajudar o terrorismo. Duvido que alguém pague aqueles que rotineiramente enlameiam Julian Assange – embora outros prémios possam ser abundantes.

Para mim está claro que a principal razão porque Assange atraiu tanto veneno, despeito e inveja é que a WikiLeaks destruiu a fachada de uma elite política corrupta mantida a flutuar por jornalistas. Ao anunciar uma era extraordinária de revelações, Assange fez inimigos por iluminar e envergonhar os porteiros dos media, inclusive no jornal que publicou e apropriou-se do seu grande furo de reportagem. Ele tornou-se não só um alvo como uma galinha dos ovos de ouro.

Contratos de livros lucrativos e filmes de Hollywood foram feitos e carreiras nos media lançadas ou avançadas nas costas do WikiLeaks e do seu fundador. Pessoas ganharam muito dinheiro, enquanto a WikiLeaks tem lutado para sobreviver.

Nada disto foi mencionado dia 1 de Dezembro em Estocolmo quando o editor do Guardian, Alan Rusbridger, partilhou com Edward Snowden o Right Livelihood Award, conhecido como o Prémio Nobel da Paz alternativo. O chocante neste evento foi que Assange e a WikiLeaks foram vaporizados. Eles não existiam. Eles eram não pessoas.

Ninguém levantou a voz pelo homem que foi o pioneiro da denúncia digital e forneceu ao Guardian um dos maiores furos da história. Além disso, foi Assange e sua equipe da WikiLeaks quem efectivamente – e brilhantemente – resgatou Edward Snowden de Hong Kong e enviou-o para a segurança. Nem uma palavra.

O que tornou esta censura por omissão tão irónica, pungente e desgraçada foi o facto de que cerimónia se realizou no parlamento sueco – cujo silêncio covarde sobre o caso Assange tem sido conivente com um grotesco aborto de justiça em Estocolmo.

"Quando a verdade é substituída pelo silêncio", disse o dissidente soviético Yevtushenko, "o silêncio é uma mentira".

É esta espécie de silêncio que nós jornalistas precisamos romper. Precisamos olhar ao espelho. Precisamos prestar contas quanto aos media que não as prestam e que servem poder e [alimentam] uma psicose que ameaça uma guerra mundial.

No século XVIII, Edmund Burke descreveu o papel da imprensa como um Quarto Estado controlando os poderosos. Será que isto era verdade? Ela certamente já não faz isso. O que precisamos é de um Quinto Estado: um jornalismo que monitore, desconstrua, faça contra-propaganda e ensine os jovens a serem agentes do povo, não do poder. Precisamos do que os russos chamavam perestroika – uma insurreição do conhecimento subjugado. Eu chamaria a isto jornalismo real.

Fazem agora 100 anos desde o início da Primeira Guerra Mundial. Repórteres então foram premiados e condecorados pelo seu silêncio e conivência. Na altura da carnificina, o primeiro-ministro britânico David Lloyd George confidenciou a C.P. Scott, editor do Manchester Guardian: "Se o povo realmente soubesse [a verdade] a guerra seria travada amanhã, mas naturalmente eles não sabem e não podem saber".

É tempo de saberem.

[*] O texto acima é a transcrição do discurso de John Pilger no Logan Symposium, "Building an Alliance Against Secrecy, Surveillance & Censorship", organizado pelo Centre for Investigative Journalism, Londres, 5-7/Dezembro/2014.

O original encontra-se em www.globalresearch.ca/war-by-media-and-the-triumph-of-propaganda/5418152

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/
 

O SONHO AMERICANO É HOJE UMA ILUSÃO? ECONOMISTA AFIRMA QUE SEMPRE FOI




“Os Estados Unidos possuem uma taxa de mobilidade social menor do que a Inglaterra medieval”, afirmou economista da Califórnia – e as chances de isso mudar nas próximas décadas é incrivelmente baixa

Revista Forum, com informações de Alternet

Um professor de Economia da Universidade da Califórnia afirma ter estudado todos os números e a conclusão é uma só: o “sonho americano” foi sempre uma ilusão.

Em entrevista, Gregory Clark disse que a mobilidade entre classes sociais no país diminuiu significativamente nos últimos 100 anos: “Os EUA possuem uma taxa de mobilidade social menor que a Inglaterra medieval ou a Suécia pré-industrial”. Vale salientar que este último, conforme o economista do momento, Thomas Piketty, disse recentemente à Fórum, era uma das sociedades mais desiguais do mundo e hoje é um país-modelo. “Essa é a parte mais difícil quando se fala em mobilidade social, pois está despedaçando o sonho de pessoas”, continuou Clark.

“O status de seus filhos, netos, bisnetos e tataranetos será bem próximo ao seu status atual”, disse o professor, confirmando também que muitos de seus estudantes discordam dele – principalmente pelo fato de a Califórnia ter uma presença latina extremamente alta: “Meus alunos sempre discutem comigo, mas eu acho que a coisa que eles acham bem difícil de aceitar é a ideia de que grande parte de suas vidas podem ser projetadas por conta de sua linhagem e de seus ancestrais”.

Segundo a pesquisa de Clark, dois entre cinco imigrantes nos EUA vieram do México e da América Central e constituem 22% de todas as crianças no país. Até 2050, o número será de 39%, mas que o status social, até mesmo para aqueles que nasceram em solo norte-americano, é persistentemente baixo – e pouco mudará nos anos vindouros. O estudo de Clark foi publicado pelo Conselho de Relações Exteriores e pode ser lido (em inglês) aqui.

*Leia também mais 10 fatos sobre por que o “sonho americano”, de fato, morreu.


México: A CRISE INSTITUCIONAL NO GOVERNO DE ENRIQUE PEÑA NETO




O caso dos 43 estudantes desaparecidos no Estado de Guerrero, no México, trouxe à tona ao mundo um contexto muito mais extenso de casos de desaparecimentos no país. Compõem um quadro brutal e extenso de casos de violência sem resolução as recentes execuções de Tlatlaya praticadas pelo Exército, o massacre de migrantes em San Fernando (Tamaulipas) cometido por um grupo criminoso, a prolongada onda de feminicídios em Ciudad Juárez, o incêndio do Casino Royale em Monterrey e a dominação criminosa de territórios completos em Michoacán. Tal contexto representa a profunda fragilidade política, social e moral do Estado do México e alerta para a vulnerabilidade da população ao Poder Público.

Em todos esses casos, a repressão em forma de violência foi praticada pelas autoridades estatais e nenhum dos casos foi gerado por confronto de grandes proporções em protestos ou outras manifestações públicas que saíssem do controle. Tratam-se de execuções sumárias contra vítimas desarmadas e submetidas ao domínio policial ou militar.

Depois de quase 60 dias do ataque aos normalistas de Ayotzinapa, no último dia 27 de setembro, foram descobertas mais 10 valas clandestinas com restos humanos em Iguala, município onde desapareceram os estudantes. Segundo a imprensa local, familiares dos jovens realizaram uma escavação na localidade de La laguna, com a ajuda de representantes da associação civil Ciência Forense Cidadania e a União de Povos e Organizações do Estado de Guerrero (Upoeg). Testemunhos dão conta de que havia nas fossas restos ósseos e roupa impregnada com sangue.

Ainda não se sabe de quem são todos os restos mortais. Parte do material será encaminhada à Procuradoria Geral da República, para que seja feita uma perícia. Enquanto isso, as autoridades federais mexicanas afirmam ainda não terem identificado os responsáveis pelo ataque contra os alunos da Escola Normal Rural de Ayotzinapa.

Resposta do Estado: pacote de medidas

Diante desse contexto, o governo do presidente Enrique Peña Nieto vive uma verdadeira crise institucional. Há apenas dois anos como chefe do Executivo, Peña Nieto enfrenta um ambiente político inóspito, em que o país sofre queda na economia, salto nos índices de insegurança e violência e uma grande insatisfação da sociedade frente à sua gestão.

Em resposta, o mandatário mexicano lançou, no último dia 27 de novembro, um conjunto de princípios que visam a fortalecer o Estado de Direito do México. Dentre as iniciativas estão: uma proposta de Reforma Constitucional com o fim de expedir uma lei contra a infiltração do crime organizado nas autoridades municipais e outra reforma para redefinir o sistema de competências dentro do Direito Penal.

O presidente propõe também a criação de polícias estatais únicas, expedição de leis gerais sobre tortura e desaparecimento forçado, criação de um número de telefone único para auxílio em casos de urgência, ações para garantir o acesso da população à Justiça e o fortalecimento de protocolos e procedimentos para investigações exaustivas em casos de desaparecimento. No que tange à Administração Pública, o pacote prevê esquemas de vigilância de autoridades por parte dos cidadãos e mecanismos mais ágeis para denúncias de corrupção, dentre outras ações.

O histórico do presidente, entretanto, aponta para um acúmulo de propostas não cumpridas. Desde sua campanha para a Presidência, dois anos atrás, Peña Nieto opta por enfrentar crises por meio da divulgação de pacotes de ações emergenciais. A primeira vez foi em maio de 2012, quando, em plena campanha presidencial, foi praticamente expulso pela porta de trás da Universidade Ibero-Americana, na capital Cidade do México. Os jovens universitários, indignados com os gastos de sua campanha e com a parcialidade dos meios de comunicação comerciais, não deram trégua às críticas ao postulante ao cargo.

Ainda assim, ele foi eleito. Das medidas reunidas no documento “Por uma presidência democrática”, que ajudaram a dissipar os protestos da juventude mexicana, nada foi cumprido até hoje. Depois, viriam anúncios de outros pacotes de medidas: o que prometia melhorar a economia familiar, os que tratava de retirar o país da crise econômica, o que respondia ao agravamento da violência, o que acelerava a Reforma Energética. A maioria dos pontos continua pendente.

Marcela Belchior, Aditalem Pragmatismo Político

Acompanhe Pragmatismo Político no Twitter e no Facebook.

Leia mais em Pragmatismo Político

FILHO DE CHE GUEVARA VENDE PASSEIOS DE HARLEY-DAVIDSON EM CUBA



Solange Sousa Mendes – jornal i

Os pacotes são de seis e nove dias e custam entre 3 mil e 5.800 dólares

A agência de viagens do filho mais novo de Che Guevara sugere  visitas a Cuba de moto. Mas não é de uma moto qualquer, trata-se de uma Harley Davidson.

O benjamim do guerrilheiro segue assim a paixão do seu pai, relatada no filme “Diários de Motocicleta”.

La Poderosa Tours oferece circuitos que combinam o desfrute de variadas paisagens da ilha e o contacto íntimo com parte da história de uma revolução única”, diz o site da agência gerida por Ernesto Guevara, de 49 anos.

A agência chama-se “La Poderosa”, em homenagem ao apelido dado por Che à motocicleta britânica Norton 500, que conduziu na sua viagem pela Argentina, Chile, Peru, Colômbia e Venezuela entre Dezembro de 1951 e Julho de 1952.

Nesta travessia, Che Guevara foi acompanhado pelo seu grande amigo Alberto Granado. E a viagem foi tão memorável que não pode deixar de ser partilhada. O filme “Diários de Motocicleta” (2004), do cineasta brasileiro Walter Salles, faz-lhe jus e mostrou as suas aventuras.

As viagens de Harley incluem uma visita à fortaleza La Cabaña, em Havana. Foi aqui que Che fez o seu escritório, a partir de 3 de Janeiro de 1959, dois dias depois do triunfo da revolução de Fidel Castro.

Também estão previstos passeios a Santa Clara, 270 km a leste de Havana - cidade que tomada por Guevara em Dezembro de 1958. Este episódio foi decisivo para o triunfo da Revolução. E hoje abriga um mausoléu construído em homenagem ao guerrilheiro.

Curiosamente, Camilo Sánchez, filho do cubano Antonio Sánchez Díaz, “Marcos” na guerrilha da Bolívia, é o guia da agência de turismo.

Os pacotes são de seis e nove dias e custam entre 3 mil e 5.800 dólares.

INDIOS BRASILEIROS TERENA AMEAÇAM RETOMAR TERRAS EM CARTA AO GOVERNO




"A gente sabe que, se lutar, corre o risco de morrer. Mas, se ficarmos de braços cruzados, morremos do mesmo jeito"

Os indígenas do povo Terena, moradores do Mato Grosso do Sul, no centro-oeste do Brasil, ameaçam, em carta ao governo, que irão retomar "fazenda por fazenda" que esteja na terra indígena Taunay/Ipegue, ainda não demarcada oficialmente.

"Não há por parte do governo brasileiro nenhuma intenção de dar prosseguimento à demarcação de terras. É triste o facto de que nosso povo tenha de se organizar para buscar o território através das acções de retomada", já que existirá "enfrentamento com capangas", afirmou à Lusa Lindomar Ferreira, 40 anos, do povo Terena.

Na madrugada do último dia 28, 200 indígenas Terena viram-se envolvidos com seguranças armados numa das fazendas do Mato Grosso do Sul onde haviam montado um acampamento.

E é no seguimento desses confrontos que agora enviam uma carta formal ao governo, reafirmando as acções de ocupação e exigindo apoio.

"Não aceitamos que o governo falte com vontade política para resolver nosso impasse, que passa de geração a geração. Os que não morrem, ficam enfermos", acrescentou Ferreira.

O processo de demarcação de 33 mil hectares da terra indígena Taunay/Ipegue iniciou-se na década de 1980, mas foi suspenso em 2010 pela Justiça após acções de fazendeiros da região. Em Abril deste ano, a decisão judicial foi revogada, e, desde então o povo Terena aguarda a expedição de uma portaria do governo federal que dê continuidade ao processo.

Actualmente, afirmou Ferreira, entre seis e sete mil indígenas Terena vivem em três mil hectares de terra, o que é insuficiente para sua subsistência. "O espaço não oferece perspectiva de vida, a terra está cansada e não temos espaço para produzir o nosso próprio alimento. Sempre vivemos da agricultura", afirmou.

O restante da área reivindicada pelo povo Terena integra actualmente fazendas de criação de animais, maioritariamente. Segundo Ferreira, as ocupações são pacíficas e, assim que as famílias chegam se instalam na terra, costumam levar arroz, feijão e açúcar para cultivo, além de lonas a para o acampamento, com a esperança de fixar residência. Entretanto, sofrem retaliações de seguranças.

"A gente sabe que, se lutar, corre o risco de morrer. Mas, se ficarmos de braços cruzados, morremos do mesmo jeito", disse.

Lindomar Ferreira realçou que os indígenas se apoiam em instituições como o Ministério Público e a Funai (Fundação Nacional do Índio) para denunciar a violência e obter protecção. Apesar da disposição para reivindicar as terras, ele reconhece que, em 2015, o panorama não é favorável.

"A perspectiva é a de que a luta seja mais difícil, vemos um Congresso mais conservador e um governo reeleito que retrocedeu na nossa questão. Para o segundo mandato, esperamos que a presidente deixe transparecer uma imagem melhor, de quem já sofreu e lutou contra abusos", disse Ferreira, referindo-se à actuação política de Dilma Rousseff durante a ditadura militar brasileira.

Lusa, em jornal i

BOLSONARO AFRONTA CÓDIGO PENAL E ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO




Ao propor a prática de crimes tipificados no Código Penal e no arcabouço legal brasileiro, Bolsonaro coloca-se fora da lei. Não é mera quebra de decoro.

Marco Aurélio Weissheimer – Carta Maior

O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) não é, definitivamente, um simples caso de quebra sistemática de decoro parlamentar. Esse decoro é a menor das vítimas do nada ilustre parlamentar. Ao dizer, da tribuna do parlamento, que não estupraria a deputada Maria do Rosário (PT-RS) porque ela “não merecia”, e ao defender o crime da tortura, Bolsonaro afronta o Direito e a lei brasileira. A fala do deputado, nesta terça-feira (9) foi a seguinte:

 “Não sai não, dona Maria do Rosário, fica aí. Fica aí, Maria do Rosário, fica. Há poucos dias você me chamou de estuprador, no Salão Verde, e eu falei que não ia estuprar você porque você não merece. Fica aqui pra ouvir”.

Os absurdos e anúncios de crime que a fala do deputado contém são tantos e tão gritantes que fica difícil ordená-los com a gravidade que merecem. Em primeiro lugar, anuncia sua disposição para estuprar uma mulher. O fato de Maria do Rosário ser uma parlamentar aí é um detalhe. Do alto de sua boçalidade fascista, Bolsonaro misturou o que seria uma ameaça (o estupro) com um prêmio (o estupro também). A parlamentar gaúcha estaria livre da ameaça por “não merecê-la” como um prêmio corretivo.

O crime de estupro – crime hediondo, aliás – está tipificado no artigo 213 do Código Penal brasileiro. Segundo prevê a legislação brasileira, o crime de estupro consiste no fato de o agente “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”. Para constranger a vítima, o sujeito pode se valer da violência ou grave ameaça, que são os meios de execução do crime de estupro, legalmente previstos no Código Penal. Também denominada de violência moral, a grave ameaça é a promessa da prática de um mal a alguém, de acordo com a vontade do agente. Não é necessário que esse agente tenha intenção ou efetiva condição para concretizar a ameaça, basta que a ameaça seja séria, capaz de intimidar.

Bolsonaro é reincidente nesta amaça contra Maria do Rosário. Em 2003, durante uma entrevista à RedeTV!, ele travou o seguinte diálogo (se é que se pode chamar isso de diálogo): "O senhor promove a violência", disse Maria do Rosário na ocasião. "Eu sou estuprador agora? Jamais iria estuprar você, porque você não merece". Além disso, ele a empurrou e xingou de "vagabunda".

No caso de Bolsonaro, as ameaças de agredir o corpo de outras pessoas, por causa de diferenças de opinião, não se limitam ao crime do estupro. O deputado também é defensor de outra prática criminosa, a tortura, tipificada na  Lei nº 9.455 nos seguintes termos:

Art. 1º. Constitui crime de tortura:

I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico e mental:

a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;

b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;

c) em razão de discriminação racial ou religiosa;

II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.

Pena - reclusão, de dois a oito anos.

A tortura é um crime imprescritível, inafiançável, não sujeito a graça e anistia como dispõe o Artigo 5º inciso XLIII da Constituição Federal.

O deputado Bolsonaro, portanto, não é um tema apenas para a Comissão de Ética da Câmara e para debates envolvendo a quebra de decoro parlamentar. A conversa com ele se dá no terreno do Código Penal, da Constituição e do ordenamento jurídico. Não parece ser por acaso, aliás, que o sujeito em questão seja um herdeiro da ditadura que agrediu, torturou e matou centenas de brasileiros e que participou, com a sua logística macabra, da morte de milhares de outras pessoas em outros países do continente. Ao propor reiteradamente a prática de crimes tipificados no Código Penal e no arcabouço legal brasileiro, Jair Bolsonaro coloca-se fora da lei.

Créditos da foto: Arquivo

Brasil: DILMA, O SONHO DOS VIVOS E DOS MORTOS




Dilma sabe o quanto é imperioso manter uma nação a salvo de forças incontroláveis. Se pensar pequeno, o Brasil corre o risco de ser sequestrado por elas.

Saul Leblon – Carta Maior, editorial

A emoção da Presidenta Dilma na cerimônia de entrega do Relatório da Comissão da Verdade, nesta 4ª feira, condensa camadas de angústia de quem conheceu de perto o horror de ser mastigada por forças incontroláveis.

O chão tinto de sangue do banheiro onde foi jogada após as sessões de tortura ficou impregnado na memória da jovem ativista de 19 anos.

Presa em 1970, ela foi manuseada por quase três anos na máquina de sadismo que matou 434 pessoas no Brasil, perseguiu milhares de outras, submeteu a sociedade a um regime de arrocho, terror, censura e medo.

As lágrimas incontidas desta 4ª feira, miravam o passado dos que foram supliciados como ela; o eterno presente dos familiares dos desaparecidos, ‘que sofrem como se eles morressem de novo, e sempre, a cada dia’; mas também, é muito provável, carregavam a angústia da chefe da nação diante da encruzilhada brasileira atual.

O sonho dos vivos e dos mortos desafia a mulher madura que hoje se prepara para assumir o segundo mandato presidencial e sabe o quanto é imperativo manter uma nação a salvo de forças incontroláveis.

Sabe, sobretudo, que elas não se manifestam mais apenas na forma do totalitarismo policial.

A supremacia do poder financeiro no século XXI pode sequestrar o destino de uma nação através de fluxos financeiros à paisana.

E impor a sua vontade, interditos históricos, e os mesmos custos sociais de um Estado ditatorial.

O passado, o presente e o futuro se entrecruzam nesse momento a evidenciar que o Brasil vive um divisor nessa história.

Um ciclo de expansão se esgotou, um outro pede para ser construído.

Pendências novas e antigas se misturam em meio a um cenário mundial adverso.

A variável determinante passa pela velocidade imprevista da transição chinesa.

A sensação de que tudo está despencando não é fora de propósito.

É como se o mastro que ancorava a lona da economia global de repente afundasse.

O motor asiático investia, em média, cerca de 45% do PIB e importava outros 10% em matérias-primas para saciar sua fornalha.

O velocímetro do seu crescimento recuou de 11% para perto de 7% ao ano.

O ritmo da freada sugere que poderá recuar ainda mais.

O tranco derruba as cotações das commodities nos cinco continentes.

As agrícolas estão em média 15% abaixo do piso declinante de 2013. O custo barril de petróleo ficou 40% mais barato desde junho.

Caiu mais um pouco nesta 4ª feira.

O freio de arrumação vai desativar poços ineficientes que flutuavam sobre uma demanda a US$ 120/barril.

O canal externo da economia nos países exportadores de óleo, metais e alimentos foi comprimido.

Em muitos deles, estreitou-se a margem de manobra de políticas associadas a um projeto de desenvolvimento com repartição de renda.

A descrição se encaixa nas características do modelo em curso na América Latina, pilotado por um colar de governos progressistas que mudou a geopolítica regional.

Em 2014, pela primeira vez em dez anos, segundo a OCDE, o PIB médio da região terá um crescimento inferior à expansão, já medíocre, prevista para as economias ricas: poderá situar-se abaixo de 1,5%.

O Brasil será atingido pela queda nas cotações e no volume dos embarques de minérios e grãos. Mas também de produtos manufaturados vendidos a parceiros latino-americanos em idêntico apuro.

O raciocínio não vale para o caso da Petrobrás.

Sobretudo, não vale para o pré-sal, que opera com tecnologia de ponta e risco zero em cada poço, sendo viável a partir de um barril em torno de  U$45/50.

A escala gigantesca das reservas é outro diferencial quando cálculos de amortização de custos tem que ser refeitos.

O número mais comedido estima em 45 bilhões de barris o total recuperável das reservas descobertas a seis mil metros da superfície, no fundo do oceano. Estimativas não descabidas falam em algo como o dobro disso.

O fato é que o pré-sal oferece o melhor horizonte de desenvolvimento para a indústria de petróleo no mundo.

A taxa que mede isso mostra que ele garante 88% de óleo recuperável sobre o total existente, contra 75% na Arábia Saudita, 65% na Rússia e 55% nos EUA.

O avanço do xisto norte-americano mexe com a demanda mundial, mas não altera o trunfo das vantagens comparativas, que inclui o domínio brasileiro da tecnologia de ponta em águas profundas.

O conjunto compõe o chão firme sobre o qual se desenvolve o maior projeto de investimento empresarial do planeta na atualidade.

Repita-se: o maior plano de investimento em curso no século XXI, feito por uma única corporação, é o da Petrobras.

Algo em torno de U$ 200 bilhões de dólares serão aplicados pela estatal em exploração e produção, entre 2014 e 2018.

Cerca de US$ 12 bilhões de dólares terão que ser financiados no mercado internacional.

Caso o mergulho das commodities ganhe a parceria de uma elevação nas taxas de juros nos EUA, o custo desse financiamento poderá impor algum freio no ritmo da exploração.

Mas não a ponto de inviabilizar as suas referências estratégicas de longo prazo.

Entre elas inclua-se a insubstituível necessidade de uma oferta estável de petróleo para que a humanidade possa realizar a transição rumo a energias renováveis, sem atropelos de abastecimento ou explosão de custos.

O pré-sal e o seu modelo de regulação soberana, acoplado à exigência de conteúdo nacional, continuam a figurar como o bilhete premiado do desenvolvimento brasileiro.

Mais que isso.

Talvez representem o derradeiro impulso industrializante capaz de rejuvenescer a sua base competitiva, garantindo o excedente necessário à finalidade social do crescimento.

O tesouro não contradiz, antes explica a angústia que talvez tenha contribuído para a demonstração incomum de emotividade da Presidenta da República na cerimônia da Comissão da Verdade.

A exploração conservadora dos casos de corrupção dentro da empresa pode inviabilizar esse trunfo contracíclico no momento em que a China desacelera, a Europa deflaciona e a recuperação norte-americana se faz com elevada desigualdade social.

Fomentar uma crise de confiança no país para atingir o governo Dilma é a estratégia do terceiro turno em marcha.

Desqualificar a Petrobrás, e o projeto de desenvolvimento que ela pilota, é a pedra basilar do mutirão graúdo.

Não se mira a lisura na gestão do dinheiro público.

Fosse isso o clamor da faxina viria associado à defesa da reforma política, do pré-sal e do que ele significa para o crescimento, a educação e a saúde.

O alvo é outro.

Trata-se de usar o pé-de-cabra da corrupção para derrubar um governo, e escancarar portas que permitam ao capital estrangeiro servir-se do pré-sal como um banco de sangue na transfusão requerida pela riqueza papeleira.

A angústia estampada no rosto crispado da Presidenta da República nesta quarta-feira refletia o desfile dos vivos e dos mortos; mas também do sonho brasileiro que os mobilizou.

O risco de vê-lo escapar é real.

A curetagem conservadora pode anular a alma de uma nação se conseguir convencê-la a rastejar por debaixo de suas possibilidades históricas.

A Petrobras sozinha representa mais de 10% de todo o investimento brasileiro em 2014, estimado em insuficientes 18,5% do PIB.

As empreiteiras associadas ao esquema de corrupção da estatal, segundo cálculos rápidos do economista Luiz Gonzaga Belluzzo, estariam ligadas a um conjunto de obras em diferentes setores que somariam quase a metade da taxa de investimento prevista para o ano.

‘É importante o rigor com os envolvidos na corrupção; mas as empresas, a exemplo da Petrobras, e assim como se faz nos EUA, não podem ser inviabilizadas. Há um risco real de paralisar o país’, diz Belluzzo que discorda da orientação ministerial de sua amiga, ex-aluna e Presidenta da República.

Um aperto fiscal e monetário agora, pondera o economista, reforça a ameaçadora dinâmica do estrangulamento recessivo: ‘Tínhamos que reagir com um forte investimento público, mas cedemos ao senso comum’, diz com desacordo: ‘É como se coisas movessem os humanos e não o contrário. A hierarquia só será recomposta quando o desemprego bater nas ruas’.

O conservadorismo opera diuturnamente para reforçar essa coisificação da economia e assim sepultar qualquer disposição para enfrentar dogmas e interditos.

O matadouro é visível até a um bife a Camões.

Trata-se de espremer Dilma e tanger o  PT, obrigando-os a pensar pequeno.

Pensar um futuro menor que o país.

Uma segunda gestão de Dilma menor que as possibilidades e urgências da Nação.

Com um programa menor que a ponte necessária para saltar da prostração ao discernimento de um pacto feito de prazos, salvaguardas, reformas e metas críveis de crescimento.

Se pensar pequeno, o Brasil corre o risco de caber no projeto conservador.

E emergir do outro lado na lista dos desaparecidos da Comissão da Verdade, com um adendo:

‘O sonho da democracia social brasileira’.

Não é impossível que a Presidenta Dilma tenha vislumbrado esse risco na cerimônia de hoje.

A ver.


Mais lidas da semana