quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Portugal: HEPATITE C MATA QUE SE FARTA. GOVERNO TAMBÉM


Bocas do Inferno

Mário Motta, Lisboa

A realidade sobre a Hepatite C tem passado bastante ao lado da divulgação e entendimento no Página Global e provavelmente de muitos portugueses. Pela nossa parte não aconteceu por indiferença mas sim por ignorância e falta de interesse no conhecimento especifico desta doença e suas consequências. Isso não mais acontecerá aqui.

Infelizmente foi preciso deparar com a realidade da periclitante sobrevivência de um antigo colaborador do PG, camarada de trabalho e bom amigo, para que se fizesse luz e a sensibilização sobre a doença funcionasse como deve. Hepatite C, o que é isso? A Hepatite C pode ser a morte se acaso não for atempada e devidamente tratada. Em Portugal existem cerca de 100 mil infetados com o vírus. Muitos milhares já morreram por ausência dos tratamentos adequados. As consequências têm sido desastrosas e nem por isso as campanhas de sensibilização são tão intensas como as da Sida. Pelo menos o efeito sensibilizante tem sido muito menor (ao que entendo). Algo de muito importante deve ser feito para reverter a situação. Muito importante também será prestar os cuidados devidos aos que padecem da doença e que podem de um momento para o outro falecer. Pelo que se sabe essa não tem sido a postura do Estado português. Muito menos do atual governo. Quantos doentes com Hepatite C já morreram por responsabilidade do governo português devido à ausência de cuidados adequados na assistência médica e medicamentosa?

Prevalece o argumento do preço dispendioso do medicamento (48 mil euros, salvo erro) que um laboratório norte-americano exige. Mas qual é o problema do governo português e de outros governos em declarar o respetivo medicamento como de suma importância e interesse para a saúde pública e usar a fórmula à revelia do laboratório que inicialmente o produz com custos inferiores a 500 euros? Aliás, tal laboratório e outros são useiros e vezeiros em aproveitar determinadas doenças para explorarem os doentes e as sociedades através de preços exorbitantes, diria mesmo escandalosos. Se isto não configura um crime contra a humanidade o que é que é um crime?

Mais haverá para adiantar sobre a Hepatite C e a sua envolvência. Também sobre a indiferença e incompetência do governo português na resolução que  poderá salvar dezenas de milhares de vidas. As políticas austeras impostas pelo governo e executadas por um ministro que já apelidam de Doutor Morte também terão de responder sobre os motivos que causam o retardamento de transplantes do fígado. Presume-se que é por razões orçamentais. Só pode. Assim se vê que a vida dos portugueses nada vale para este governo e para um ministro associado à mortandade de compatriotas. É que se alguma decência visitasse o ministro da Saúde, Paulo Macedo, - nem que fosse num pequeno lapso de tempo - ele já devia ter-se demitido por impossibilidade de cumprir com aquilo a que se comprometem os ministros: governar para os portugueses. Neste caso para a saúde e para salvar vidas. Mas não, ele desempenha o cargo ao invés. Macedo governa para a poupança, para a austeridade, para matar a baixo custo. É que até para o não pagamento de reformas (aos pensionistas) dá jeito. Dá jeito morrerem mais uns quantos e sempre poupam milhões...

Voltaremos sempre à abordagem deste assunto, a Hepatite C. Agora já despertámos. Segue a notícia sobre a Hepatite C, compilada do Jornal de Notícias.

Especialistas alertam que doentes com Hepatite C morrem por falta de medicamento

O vice presidente da Sociedade de Gastrenterologia apelou hoje a uma "agilização" nas negociações entre a tutela e a indústria farmacêutica em relação ao tratamento da hepatite C, referindo que "têm morrido doentes por não terem tido acesso ao medicamento".

José Cotter lembrou que este processo negocial se arrasta há muitos meses e que apesar de oficialmente o novo tratamento ser disponibilizado aos doentes portugueses considerados prioritários, a verdade é que, aparentemente, isso não está a acontecer em todos os casos.

José Cotter falava à Lusa a propósito de um encontro que se realiza sábado, em Guimarães, sobre "Hepatite C, Novas Realidades, Novos Horizontes".

Em Portugal estima-se que o número de infetados seja de cerca de cem mil, provocando cerca de mil mortos por ano. A hepatite C continua a ser a causa mais frequente de cancro do fígado e de transplante hepático.

"O que se passa neste momento é que há administrações hospitalares que têm doentes já com autorização para fazer tratamentos, mas não desbloqueiam as verbas para o concretizar", afirmou o especialista.

José Cotter entende que "este circuito" de acesso ao novo tratamento, com custos muito elevados mas com uma eficácia de "cerca de 95%", tem de ser repensado para que se agilize todo o processo.

"O circuito não está correto, porque os doentes são autorizados por uma comissão nacional de farmácia e terapêutica, mas depois é endossado aos hospitais a responsabilidade do custo destes tratamentos. Ora, nós sabemos que em Portugal temos hospitais eventualmente subfinanciados, eventualmente descapitalizados e sabemos que estes tratamentos são caros. Portanto, como é que os hospitais vão assumir o custo, se à partida, já estão numa difícil situação financeira", questionou.

O especialista considera que tem de se encontrar outras formas de os hospitais acederem aos tratamentos.

"Pode haver uma verba fixa para este programa ou pode haver um fundo onde os hospitais recorram especificamente para isto. É uma questão política que compete à tutela e a mais ninguém agilizar", sublinhou.

Enquanto isso, frisou, "os doentes esperam e desesperam pelos tratamentos e a situação está-se a tornar insustentável, porque isto não tem um mês nem dois".

"O que estamos aqui a equacionar é uma questão de economia de curto/médio prazo, porque é evidente que alguns destes doentes se forem curados não necessitam de fazer transplantes que também têm custos elevados", disse.

E questionou: "O que é que é mais caro, fazer um tratamento destes ou um transplante? E a qualidade de vida do doente? Então se o doente ficar curado com um tratamento de 12 semanas, um tratamento cómodo, com pouquíssimos efeitos colaterais, não é muito melhor do que ter de fazer uma grande cirurgia, ter de ficar a tomar medicamentos para o resto da vida para conseguir manter o seu órgão transplantado em boas condições?"

"É uma questão de equacionar custos e equacionar a qualidade de vida dos cidadãos", frisou.

Em relação às negociações que ainda decorrem entre o Ministério da Saúde e a farmacêutica que disponibiliza o tratamento, o vice presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia apela a que haja um entendimento urgente de forma que estes fármacos possam ser disponibilizados de acordo com o que é o estado da arte no tratamento da Hepatite C atual.

"Todos estes processos não estão devidamente agilizados, basta lembrar que estamos há cerca de um ano com uma negociação arrastada entre a tutela e a farmacêutica e os resultados até ao momento foram muito poucos", acrescentou.

O ministro da Saúde disse quarta-feira no Algarve que espera receber dentro de dias a proposta da farmacêutica Gilead Sciences no âmbito das negociações para baixar o preço de um novo medicamento para a hepatite C que a empresa comercializa.

"Estamos à espera de uma proposta, precisamente durante estes dias, para podermos analisar e reagir", disse Paulo Macedo aos jornalistas à margem de uma visita às Urgências do Hospital de Faro, sublinhando que, com as condições iniciais, os preços eram "totalmente incomportáveis" e "não valia a pena sequer estar a negociar".

De acordo com uma notícia publicada hoje pelo Jornal de Notícias (JN), os cinco maiores hospitais do país vão interpor uma providência cautelar contra a empresa que vende o medicamento Sofosbuvir, por "abuso de posição dominante", e pretendem também fazer uma queixa na Autoridade da Concorrência.

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