Bocas
do Inferno
Mário
Motta, Lisboa
Os
jornalistas têm sido vítimas de bárbaros assassínios ao longo da existência e exercício
da profissão. Nos últimos anos o número de jornalistas assassinados por todo o
mundo subiu como não há memória. Terrorismo seletivo contra aqueles
profissionais chega aos nossos olhos com degolações e disso fazem garbo os seus
terríveis assassinos. Há dias foi em Paris. De rajada 12 profissionais do jornal satírico
Charlie Hebdo foram assassinados, outros 10 estão gravemente feridos e a
receberem tratamentos adequados em hospitais da capital francesa. Dois
terroristas cometeram em Paris o vil ato de atentarem contra as vidas de
trabalhadores daquele jornal e contra a liberdade de expressão. Outros atos de
terrorismo se sucederam em Paris após o do Charlie. A hedionda ação terrorista
merece a repulsa de todos que prezam a vida, a liberdade e a democracia – pese embora
que na Europa a democracia já é algo fictício. Ninguém, no seu juízo perfeito, defensor
de valores da vida e da democracia, da justiça, se inibe de condenar vivamente
aqueles atos terroristas. Aqueles e outros. Também os atos de terrorismo que
estadistas e Estados exercem sobre os cidadãos inocentes. E a Europa não está
livre de não conter em muitos dos seus governos executantes de terrorismo, mais
que não seja o terrorismo económico, para além do terrorismo praticado em invasões
de países e matança de civis inocentes com objetivos de subjugação, exploração
e geoestratégia. Pese-se ainda mais o apoio que a UE oferece aos nazis na Ucrânia,
o que pode ser o prenúncio do nazismo encapotado que alimenta ideologicamente governantes
europeus e mais além no ocidente, os EUA.
Bernard
Holtrop, cartoonista do jornal satírico Charlie Hebdo, afirmou com todas as
letras que os sobreviventes do Charlie Hebdo vomitam sobre todas as pessoas que
se dizem amigas do jornal e seus trabalhadores, desvalorizando a onda de hipócrita
solidariedade que tem sido manifestada.
Bernard
Holtrop, explicou que a maior parte do apoio tem chegado por parte de pessoas
que “nunca viram o Charlie Hebdo”.
“Para
o cartoonista todo este apoio de pessoas como Vladimir Putin, Papa Francisco e
rainha Isabel II dá-lhe vontade de “rir”. Pode ler-se na notícia que publicamos
mais em baixo com origem no Jornal de Notícias.
Não
refere o cartonista que a manipulação à volta dos atos terroristas ocorridos em
Paris nos últimos dias são igualmente motivo de muitos vómitos. A indiscutível
reprovação e condenação dos referidos atos não deve cegar os cidadãos porque
também o terrorismo de Estado merece o mesmo trato. Igual reprovação e condenação.
Contudo esse terrorismo, exercido indiscriminadamente sobre povos (civis) do Médio
Oriente, da Ásia e de África nunca mobiliza um milhão de manifestantes europeus
em Paris ou noutra capital europeia, para além de os responsáveis que decidem
tais operações militares gozarem de estatutos de impunidade que até lhes
permite receberem por retorno promoções, nomeações em cargos nunca
anteriormente sequer sonhados pelos próprios beneficiários. Lembro o caso de
Durão Barroso (outros exemplos existem), à data primeiro-ministro de Portugal,
que após se ter aliado a George W. Bush – com Blair e Asnar – para a invasão do
Iraque à revelia da ONU, foi nomeado Presidente da Comissão Europeia,
abandonando inusitadamente o cargo de primeiro-ministro em Portugal. Se não foi
a compensação de um favor...
As
tropas da coligação no Iraque a quantos inocentes civis levaram o terror e a
morte? E quem colocou os militares no terreno com ordens para destruir e matar não
é terrorista? Quantas dezenas de milhares de inocentes civis foram
aterrorizados e assassinados desde então e até à atualidade? Por certo existiam
vias de diálogo e diplomacia para que fossem evitadas ações bélicas com produção
de tantas vítimas humanas mas esse não era o objetivo do terrorista W. Bush,
que mentiu a todo o mundo sobre o “perigoso arsenal militar existente no Iraque
às mãos de Sadam”. Levar o terror ao povos são atos terroristas. Muitos estadistas
do passado e da atualidade encaixam perfeitamente no conceito.
Na
atualidade os atos terroristas de países do ocidente continuam a existir. Condenar
povos à fome e à miséria também se enquadra em atos terroristas no conceito de
muitos cidadãos. Na Europa viram-se já imensas manifestações contra a fome e a
austeridade - principalmente nos países do sul – e não tem sido por isso que o
terror da miséria e da fome abrandou. E isso porque existem imensas famílias
europeias que continuam a sobreviver nesse terror. Nessa sujeição imposta por
governantes que consciente ou inconscientemente exercem terrorismo sobre os
seus povos. Um aspeto é certo: agem em obdiencia servil e total aos Mercados e
a Ângela Merkel. Onde está a diferença de uns terroristas e de outros? Será que
é por uns usarem botas cardadas e atuarem com estradalhaço, dispararem metralhadoras
e acabarem logo ali com a vida de inocentes, enquanto outros usam pantufas, fortes
doses de hipocrisia e vão destruindo e matando lentamente? Não é pelos
diferentes modos de atuarem que não são terroristas.
E
são exatamente esses que hoje se colam à manifestação de Paris. Imagine-se que
até Netanyahu,
PM de Israel que exerce verdadeiro terrorismo dizimante de vidas inocentes na
Palestina, se manifesta contra o terrorismo e marcha ao lado de outros
estadistas, dizem que cerca de 50. Também de Portugal marcha em Paris Passos Coelho.
Um terrorista da fome e miséria a que condenou muitos portugueses. E são estes
maus exemplos que em Paris se colaram a algo que cidadãos franceses pretenderam
organizar em solidariedade com as vítimas do Charlie Hebdo e na defesa da
liberdade de expressão. Liberdade de expressão que tantas vezes é manipulada
pelos estadistas marchantes em Paris. Liberdade de expressão que é tolhida a
jornalistas que perderam as forças necessárias para defendê-la nos órgãos de
comunicação social em que trabalham porque se o fizerem declaradamente a “prateleira”
e o desemprego espera-os.
É
de um descaramento inqualificável assistirmos à colagem de políticos a
marchantes em Paris que participam numa manifestação que devido a eles ganhou a
chancela de alta manipulação e que certamente não era o desejado pelos seus
promotores. Mas é o que se vê e daqui foi ganho terreno para justificar maior
controlo dos cidadãos europeus no Espaço Schengen,
na Internet, noutras comunicações, em quase tudo. É o controlo à laia de Hitler numa Europa
que caminha para o nazismo pelas mãos de Merkel e seus servis pares dos
governos dos restantes países europeus que se dizem União Europeia. União de
alguns das elites a exercerem a subjugação de milhões. Puro terrorismo.
Foto:
Philippe Wojazer / Reuters
Sem comentários:
Enviar um comentário