Díli,
21 fev (Lusa) - O Tribunal de Díli devolveu o passaporte que tinha confiscado à
ex-ministra das Finanças timorense Emília Pires que partiu hoje numa viagem
"de trabalho de Estado" com o ex-primeiro-ministro Xanana Gusmão ao
continente africano.
Agentes
da unidade de investigação da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL) tinham
apreendido o passaporte de Emília Pires, quando esta chegou a Díli na passada
quinta-feira, segundo disseram à Lusa fontes policiais.
Fontes
judiciais e fontes próximas à ex-ministra confirmaram à Lusa que na
sexta-feira, a pedido do Governo, o Tribunal devolveu o passaporte a Emília
Pires para que esta pudesse deslocar-se na viagem que hoje começou.
Momentos
antes da partida, o primeiro-ministro timorense, Rui Maria Araújo, e o seu
antecessor Xanana Gusmão convocaram a imprensa para a sala VIP do aeroporto
Nicolau Lobato em Díli, para uma declaração sem direito a perguntas.
Xanana
Gusmão, que fez uma longa declaração a apelar à imprensa timorense para ser
mais cuidadosa nas notícias que publica, respondeu a acusações de que com esta
viagem estava a ajudar Emília Pires a rugir.
"Vou
em trabalho de Estado para a República Central Africana e para a República
Democrática do Congo", afirmou o atual ministro do Planeamento e
Investimento Estratégico.
"Apareceu
nos jornais que estou a ajudar a senhora Emília a fugir. Vim esclarecer que se
ela quisesse fugir não tinha voltado. Ela foi a Washington, voltou de
Washington e não esteve lá a passear", disse.
Na
sua última viagem ao estrangeiro, de onde regressou na quinta-feira, Emília
Pires deslocou-se a Washington onde, segundo Xanana Gusmão, esteve em
representação do Estado e do Governo timorenses.
"Continuou
a trabalhar nessa questão grande, entre nós a Austrália e a Conoco Phillips.
Continuou a trabalhar e regressou para ir comigo a África. Pedi a todos para
respeitarem as pessoas", explicou.
Antes,
durante mais de 15 minutos, Xanana Gusmão criticou várias noticias publicadas
pela imprensa timorense sobre alegados casos de corrupção envolvendo membros do
executivo que comandou.
Fonte
próxima à ex-ministra das Finanças confirmou à Lusa que dois dias depois da
ministra sair nesta sua última viagem, apareceram na sua casa agentes policiais
e funcionários do Tribunal de Díli que pretendiam confiscar o seu passaporte.
Como
a ex-governante não estava em casa os agentes confiscaram o passaporte apenas
quando Emília Pires regressou a Díli, na quinta-feira.
Recorde-se
Emília Pires é arguida, conjuntamente com a antiga vice-ministra da Saúde
Madalena Hanjam num processo de alegada corrupção e participação económica em
negócio.
Em
causa está a aprovação de um pagamento para o fornecimento de camas para vários
hospitais de Timor-Leste a uma empresa da qual o marido de Emilia Pires, Warren
McLeod, é o proprietário.
O
seu julgamento foi adiado 'sine die' a 27 de outubro último por não ter sido
levantada a imunidade de que gozava como ministra.
Essa
imunidade deixou de existir no momento em que Emília Pires
terminou o seu mandato, esta semana, com a entrada em funções do VI Governo
Constitucional.
Esse
adiamento ocorreu dias depois do Governo e do Parlamento Nacional terem
aprovado, a 24 de outubro, duas resoluções em que, alegando "motivos de
força maior e de interesse nacional", suspenderam os contratos com
funcionários judiciais internacionais, a maior parte portugueses, que estava a
trabalhar no país.
Dias
depois, a 31 de outubro, o Governo timorense deu mais um passo, com uma
resolução em que ordenava aos serviços de migração a expulsão dos funcionários
judiciais internacionais, incluindo cinco juízes, um procurador e um oficial da
PSP de nacionalidade portuguesa, num prazo de 48 horas.
Questionada
pela Lusa em janeiro - numa das poucas entrevista que deu nos últimos meses -
sobre como reage a essas acusações, Emília Pires disse que tem a consciência
tranquila, mas que lamenta as acusações.
"Claro
que custa. Também sou humana. Mas o que é que eu posso fazer",
interrogou-se.
ASP
// MSF
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