terça-feira, 17 de março de 2015

“PREFIRO MORRER A FALAR DO QUE MORRER CALADO”, diz opositor na Guiné Equatorial




Jeronimo Ndong Mesi sabe o que arrisca ao dizer que a Guiné Equatorial vive num regime "ditatorial, brutal e corrupto": "Prefiro que a morte me chegue a qualquer momento por falar, do que depois por me ter calado".

Jeronimo é secretário-geral da União Popular, um dos partidos "ilegalizados" que se opõem ao regime do presidente Teodoro Obiang, na Guiné Equatorial. A entrevista que concede à agência Lusa, em Madrid, coloca-o em risco e ele sabe disso.

"As declarações que faço representam um perigo para a minha integridade física. Mas é um risco assumido. Se falo matam-me, mas se me calo no final também morro. Prefiro que a morte me chegue a qualquer momento por falar, do que depois por me ter calado", sublinha.

A descrição da vida política na Guiné-Equatorial sai-lhe de um jato, em frases curtas e focadas, que abrangem os principais temas do que considera ser a negação de um Estado de Direito: imprensa censurada, perseguição política, assassínios e desaparecimentos, poder judicial ao serviço do regime, corrupção.

Em tudo isto, diz, está a figura do presidente: Teodoro Obiang, no poder na Guiné Equatorial desde 1979, quando - ainda general - liderou um golpe de Estado no país.
"Não existe qualquer separação entre o Estado e o Poder Judicial. O ditador, Obiang, está acima de tudo. Primeiro, nomeia os juízes e os magistrados, exercendo o seu poder sobre eles", realça Jeronimo Mesi.

No melhor dos casos - como já lhe aconteceu, pessoalmente, durante a campanha eleitoral em 2013 - um opositor vai preso, recorda.

"Ao regime não lhe custa nada meter-te na prisão, e depois tira-te de lá quando quer, sem nenhuma explicação. O regime da Guiné é ditatorial, com tudo o que isso implica: ter opiniões contrárias ao regime é um problema e metem-nos na prisão porque dizemos ?não' a uma coisa que Obiang diz ?sim'", conta.

Há outros com menos sorte, refere Jerónimo Ndongo Mesi.

"Quando Obiang mata, tem vários métodos para fazê-lo. Há assassínios políticos e há gente que desaparece e que até hoje não se sabe onde está", sublinha.

De acordo com o secretário-geral da União Popular (UP), Obiang chega a "nomear" os presidentes dos partidos da oposição. No caso da UP, essa prática abriu brechas no partido, que agora se tenta organizar para continuar a "combater" o regime.

"Há anos que o regime nomeia os presidentes dos outros partidos. Exonera-os de forma fulminante e coloca lá novos. (No nosso caso) é como se existissem duas União Popular: uma facção criada, à força, em ?coligação' com Obiang [presidida por Alfredo Mitogo Mitogo]. E outra, que somos nós, que ele não quer reconhecer", explicou o responsável da UP.

Jerónimo diz que o "seu" presidente da UP continua a ser Daniel Darío Martínez [Ayecaba].
"Foi substituído por outro, nomeado por Obiang. E esse outro não faz oposição, trabalha em conjunto com o regime", descreve Jerónimo.

O responsável da UP, que acredita que o seu partido "está legal", garante que não vai desistir.

"A oposição não vai atirar a toalha. A nossa ação consiste numa luta não violenta. Optámos pela democracia, optámos por instrumentos não bélicos, porque - para começar - não os temos e porque queremos aplicar a lei, mudar o regime através do voto. Temos um programa de governo que o regime não tem. Temos um programa que pode ajudar mais o povo", diz Jeronimo.

Diário de Notícias Funchal

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