O
gasoduto Turkish Stream deverá passar através da Turquia, da Grécia, da
Macedónia e da Sérvia para fornecer a União Europeia com gás russo. Por
iniciativa do Presidente húngaro, Viktor Orbán, os ministros dos Estrangeiros
dos países envolvidos reuniram-se em 7 de Abril, em Budapeste, para se
coordenarem face aos Estados Unidos e à União Europeia.
Thierry
Meyssan*
A
Macedónia acaba de colocar fora combate um grupo armado, impossibilitando-o de
causar danos, do qual ela vigiava os comanditários, desde há pelo menos oito
meses. Ela preveniu, assim, um novo golpe de Estado, planeado por Washington
para 17 de maio. Tratava-se de expandir para a Macedónia o caos já instalado na
Ucrânia, de modo a impedir a passagem de um gasoduto russo para a União
Europeia.
O
caso de Kumanovo
A
polícia da Macedónia lançou, ao alvorecer de 9 de maio de 2015, uma operação
para deter um grupo armado, que se tinha infiltrado no país e que ela
suspeitava preparar diversos atentados.
A
polícia evacuou a população civil antes de lançar o assalto.
Tendo
os suspeitos aberto fogo, seguiu-se uma feroz batalha que causou 14 mortos do
lado dos terroristas e 8 no lado das forças da ordem. Foram feitos prisioneiras
30 pessoas. Há muitos feridos.
Não
é ação terrorista, mas sim uma tentativa de golpe Estado
A
polícia da Macedónia estava manifestamente bem informada antes de lançar a sua operação.
De acordo com o ministro do Interior, Ivo Kotevski, o grupo preparava uma
operação muito importante para 17 de maio (quer dizer, logo aquando da
manifestação convocada pela oposição albanófona em Skopje).
A
identificação dos suspeitos permitiu estabelecer que eles eram quase todos
antigos membros do UÇK (Exército de Libertação do Kosovo) [1].
Entre
estes encontram-se :
• Sami Ukshini dito «Comandante Sokoli», cuja família desempenhou um papel histórico no UÇK.
• Rijai Bey, antigo guarda-costas de Ramush Haradinaj, (ele próprio traficante de droga, chefe militar do UÇK, depois Primeiro-ministro do Kosovo. Foi julgado duas vezes, pelo Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia, por crimes de guerra, mas absolvido porque 9 testemunhas cruciais foram assassinados durante o decorrer do processo). _ • Dem Shehu, actual guarda-costas do líder albanófono e fundador do partido albanês BDI, Ali Ahmeti.
• Mirsad Ndrecaj dito «Comandante da Otan», neto de Malic Ndrecaj comandante da 132ª Brigada do UÇK.
Os
principais chefes desta operação, entre os quais Fadil Fejzullahu (morto
durante o assalto) são próximos do embaixador dos Estados Unidos em Skopje,
Paul Wohlers.
Este
último é filho de um diplomata norte-americano, Lester Wohlers, que jogou um
papel importante na propaganda atlantista e dirigiu o departamento
cinematográfico da U.S. Information Agency (Agência de Informação dos E.U.-
ndT). O irmão de Paul, Laurence Wohlers, é actualmente embaixador na República
Centro-Africana. O próprio Paulo Wohlers, antigo piloto da Marinha, é um
especialista de contra-espionagem. Foi director-adjunto do Centro de operações
do Departamento de Estado (ou seja, o serviço de vigilância e proteção de
diplomatas).
Para
que não reste qualquer dúvida sobre os comanditários, o secretário-geral da
Otan, Jens Stoltenberg, interveio antes do final do assalto. Não para declarar
a sua condenação do terrorismo e o seu apoio ao governo constitucional da
Macedónia, mas para transformar o grupo terrorista numa oposição étnica
legítima: «É com viva preocupação que sigo os acontecimentos que se desenrolam em Kumanovo. Eu envio as
minhas condolências ás famílias dos mortos ou feridos. É importante que todos
os dirigentes políticos e líderes da comunidade se empenhem, em conjunto, a
restabelecer a calma e lancem uma investigação transparente para determinar o
que se passou. Eu apelo, veementemente, a todos para mostrarem moderação e
evitarem qualquer nova escalada, no interesse do país e do conjunto da região.»
Será
preciso ser cego para não compreender.
Em
janeiro de 2015, a Macedónia frustrou uma tentativa de golpe de Estado em favor
do líder da oposição social-democrata Zoran Zaev. Quatro pessoas foram presas e
Z. Zaev viu o seu passaporte confiscado, enquanto a imprensa atlantista
começava a denunciar uma «deriva autoritária do regime» (sic).
Zoran
Zaev é publicamente apoiado pelas embaixadas dos Estados Unidos, do Reino
Unido, da Alemanha e da Holanda. Mas, até agora, não há nenhum vestígio na
tentativa de golpe de Estado senão o de responsabilidade dos EUA.
A
17 de maio, era suposto o Partido Social-Democrata (SDSM) [2] de Zoran Zaev
organizar uma manifestação. Ele devia distribuir 2.000 máscaras de modo a
impedir a polícia de identificar os terroristas no seio do cortejo. Durante a
manifestação o grupo armado, disfarçado por estas máscaras, devia atacar várias
instituições e lançar uma pseudo- «revolução» comparável à da Praça Maidan, em
Kiev.
Este
golpe foi coordenado por Zechevich Mile, um antigo funcionário de uma das
fundações de George Soros.
Para
compreender a urgência de Washington em derrubar o governo da Macedónia, é
preciso voltarmos à guerra dos gasodutos. Porque a política internacional é um
grande tabuleiro de xadrez, onde cada movimentação de uma peça provoca
repercussões sobre as outras.
A
guerra do gás
Desde
2007, os Estados Unidos tentam cortar as comunicações entre a Rússia e a União
Europeia. Eles conseguiram sabotar o projeto South Stream, forçando a Bulgária
a anular a sua participação, mas a 1 de dezembro de 2014, para surpresa geral,
o presidente russo Vladimir Putin lançou um novo projecto conseguindo convencer
o seu homólogo turco Recep Tayyip Erdogan a estabelecer um acordo com ele,
muito embora a Turquia seja membro da Otan [3].
Foi acordado que Moscovo(Moscou-br) iria fornecer gás a Ancara e que esta a
forneceria, por sua vez, à União Europeia, contornando assim o embargo
anti-russo de Bruxelas. A 18 de abril de 2015, o novo primeiro-ministro grego,
Alexis Tsipras, deu o seu acordo para que o gasoduto atravesse o seu país [4].
O primeiro-ministro macedónio, Nikola Gruevski, tinha, entretanto,
discretamente chegado a acordo em março último [5].
Finalmente, a Sérvia, que já fazia parte do projecto South Stream, tinha
indicado ao ministro russo da Energia, Aleksandar Novak, aquando da sua
recepção em Belgrado, em abril, que estava pronta a mudar para o projecto
Turkish Stream [6]
.
Para
parar o projecto russo, Washington multiplicou as iniciativas:




Última
notas e não das menos importantes : o Turkish Stream alimentará a Hungria e a
Áustria, pondo fim ao projecto alternativo negociado pelos Estados Unidos com o
Presidente Hassan Rohani, (contra o conselho dos Guardas da Revolução), de
aprovisionamento com gás iraniano [8].
Thierry Meyssan - Tradução Alva – Voltaire.net
Notas:
[1]
« L’UÇK, une armée
kosovare sous encadrement allemand » (Fr- «O UÇK, um exército kosovar
sob direcção alemã»- ndT), par Thierry Meyssan, Réseau Voltaire, 15 avril
1999.
[2]
O SDSM é membro da Internacional
socialista..
[3]
“Como Vladimir Putin
deu a volta à estratégia da Otan”, Thierry
Meyssan, Tradução Alva, Odnako (Rússia), Rede Voltaire, 8 de
Dezembro de 2014.
[4]
“Möglicher
Deal zwischen Athen und Moskau: Griechenland hofft auf russische
Pipeline-Milliarden” (Al- «Possível Negócio entre Atenas e Moscovo : A
Grécia espera Biliões por pipeline Russo»-ndT), Von Giorgos Christides, Der
Spiegel, 18. April 2015.
[5]
“Геннадий Тимченко задержится на
Балканах. Вместо South Stream "Стройтрансгаз" построит трубу в
Македонии” (Fr- «A Rússia construirá um gasoduto na Macedónia»- ndT), Юрий
Барсуков, Коммерсант, 12 марта 2015 r.
[6]
«Énergie
: la Serbie souhaite participer au gazoduc Turkish Stream» (Fr-«Energia : a
Sérvia quer participar no gasoduto Turkish Stream»- ndT),B92, 14 avril 2015.
[7]
« La Voïvodine,
prochain pseudo-État en Europe ? » (Fr- «A Voivodina, próximo
pseudo-Estado na Europa?»-ndT), par Wayne Madsen, Traduction Milko Terzić, Strategic
Culture Foundation (Russie), Réseau Voltaire, 18 février 2015.
[8]
“Por trás do álibi anti-terrorista, a guerra do gaz no Levante”,
Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 6 de Outubro de 2014.
*Intelectual
francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace.
As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe,
latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable
imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand,
2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y
desinformación en los medios de comunicación(Monte Ávila Editores, 2008).
Sem comentários:
Enviar um comentário