sábado, 16 de maio de 2015

APAGÃO



Perguntarão os portugueses habituados a verem o PCP na rua em iniciativas próprias; nas empresas ao lado dos trabalhadores em luta; pelo SNS exigindo o respeito pela Constituição nesta (e noutras) área(s); por melhores condições nos hospitais ou centro de saúde públicos; na luta pelo Ensino gratuito, universal e de qualidade; contra o encerramento de tribunais; pela construção da estrada; ao lado dos pescadores e dos pequenos agricultores, etc.,etc.,etc., porque diacho nas televisões e imprensa escrita nacionais, o PCP evapora-se, leva sumiço, escafede-se? É um apagão geral!

Com a grande probabilidade do PSD e o CDS levarem uma grande “abada” na próximas eleições ficando o primeiro longe de ser laranja e encolher até tangerina e o segundo deixar de ser lembrado como o partido do táxi para passar a lambreta, ainda assim de PCP, népia.

As propostas de “uma década para Portugal” tão negra como as duas décadas passadas, variando das propostas do governo apenas “no ritmo e intensidade da mesma política” (1), não seriam razões mais que suficientes para os “Charlies” deste país “fazerem referência à consigna que dá nome ao programa do PCP – Os Valores de Abril no Futuro de Portugal” (2), este sim, um programa alternativo, mesmo? Nã senhor!

O PS encomendou as suas propostas a um grupo de técnicos, quiçá sábios, cujo conteúdo é mais do mesmo e a sempre livre e democrática comunicação social mais os comentadores amestrados, fizeram soar as trombetas anunciando as boas novas. O PSD e O CDS dão um calorzinho naquele prato requentado que nos deu volta à tripa e à vida, sendo que o coordenador do “programa” do PSD é o tipo, perdão, doutor que dá pelo nome de Rogério Gomes que, ao que dizem, “fez contratos públicos a associações a que está ou esteve ligado” , e disso farão alarde os defensores da  «liberdade editorial e informativa».

Em 2007 o programa da RTP “Prós e Contras” que muitas vezes deveria designar-se por “Prós e Prós”, sobre o rescaldo das eleições francesas e às definições de esquerda e direita, convidou para o debate Mário Soares (PS), Miguel Portas (BE), Adriano Moreira (CDS) e Paulo Rangel (PSD). Cadê o PCP? Questionada a moderadora do projecto, doutora Qualquer Coisa Ferreira, reagiu empertigada, dizendo que "o programa não pretende fazer o arco partidário" e que “existem outros espaços para a representação partidária na RTP mas que esse não é o pressuposto do "Prós e contras" (4). Onde? A que horas? Má que jête? Em 2009, sobre o tema "Prioridades da Governação", uma vez mais o PCP se viu excluído daquele programa (5), tendo inclusive apresentado queixa na Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC). E mais recentemente, a CDU protestou contra a exclusão do mesmo programa (6).

Em 25 de Abril a Revolução dos Cravos comemorou 41 benditos anos. Destaques do dia: o discurso do excelentíssimo senhor professor Aníbal António Cavaco Silva; o anúncio da coligação PSD/CDS-PP às legislativas; o desfile popular na Avenida da Liberdade.

Sobre os primeiros, estamos conversados, ou seja, a coisa repetiu-se por mais uns dias não fossem os portugueses esquecer um e outro acto da mais alta política; sobre o desfile, a RTP canal público de televisão no seu noticiário das 20 horas a “rasura da presença do PCP no desfile foi total. Houve espaço de imagem para quase todos: dentro ou fora da zona da comissão promotora lá couberam dirigentes do PS e do BE, candidatos presidenciais. Só o PCP, mesmo com imagens recolhidas e depoimento gravado, foi apagado!” (7)

Para quem não pode assistir aos debates parlamentares em directo através do canal AR TV e aguarda pelos noticiários televisivos fica com a ideia errada, erradíssima que o PCP só intervém para «mandar umas bocas» ou, como publica o «Avante!», “o PCP só entra no campeonato dos soundbites” (8), ficando para as calendas as propostas e as denúncias dos comunistas.

Por esse País fora e quase diariamente, o PCP leva a efeito diversas iniciativas de âmbito local e regional, e é claro para todos que não se pede o impossível, ou seja, que todas elas fossem mencionadas nos grandes jornais nacionais e nas televisões. Mas que dizer sobre os grandes eventos nacionais? Se o Costa espirra, lá estão todos; se o Portas deixa voar o capachinho, lá estão todos; se o Passos saltita como um coelho, lá estão todos; quando o PCP discute com as mais diversas entidades e/ou organizações (Ordem dos Advogados, PEV, CNA, ID, CGTP, Associação Sindical dos Juízes, etc.), nada, rien! Sobre o Encontro Nacional «Não ao declínio nacional. Soluções para o País» a 28 de Fevereiro em Loures, onde estiveram presente para cima de 2500 participantes, ZERO! Mas há mais, muito mais, e aqui fica uma pequena amostra do que tem sido feito: sectores estratégicos e nacionalizações; a dívida, o euro e a crise: causas e saídas para um Portugal com futuro; valorizar o trabalho e os trabalhadores; etc.

Nesta quinta-feira (14) decorreu a audição sobre políticas migratórias e anuncia iniciativas; no próximo dia 16 será a audição «Defender o SNS, garantir o acesso à saúde», em Lisboa; também nesse dia mas em Faro a audição/debate «Defender os serviços públicos e as funções sociais do Estado»; no dia 18 em Lisboa está agendada a audição «Democratizar a Cultura, valorizar os seus trabalhadores», e claro já sem falar da grande Marcha Nacional – A Força do Povo que ocorrerá no próximo dia 6 de Junho, conforme anunciado no Encontro do passado dia 28 de Fevereiro em Loures. Já estamos à espera que o grande destaque desse dia para a comunicação social “livre e democrática” vá para o anúncio do programa eleitoral do PS, contributo magnífico para que tudo continue igual.

Todo o trabalho desenvolvido junto das populações, dos trabalhadores, dos jovens, das mulheres, dos reformados e pensionistas, dos micro, pequenos e médios comerciantes e industriais, é um contributo precioso para a elaboração de um programa eleitoral. Também estas audições servem para a construção desse programa. Mas o «fechado» e «antidemocrático» PCP ainda abre, para quem quiser, a possibilidade de participar na feitura desse programa através do sítio da internet: http://www.cdu.pt/legislativas2015/.

Posto isto que aqui está descrito e sendo apenas uma pequena amostra, como é que os papagaios de serviço têm a distinta lata e muita falta de vergonha de dizer que o PCP não apresenta propostas e é um partido que não quer assumir responsabilidades governativas fechando-se em si mesmo? Esta comunicação social ajuda a determinar os resultados eleitorais, a restringir o conhecimento sobre a crise real e as soluções alternativas que se apresentam ao País.

E mesmo para acabar que a prosa já vai longa, leiam só mais este excerto do jornal «Avante!» e vejam por vós, como a coisa funciona. “Curiosamente, assistimos a um conjunto de coincidências interessantes. Na noite de dia 6, Francisco Pinto Balsemão, fundador e ex-presidente do PSD, intervinha no aniversário do seu partido, onde enviava recados ao primeiro-ministro. No dia seguinte, o mesmo Pinto Balsemão – mas desta vez presidente da empresa que detém a SIC, o Expresso e a Visão – falava em nome da Plataforma dos Media Privados à saída de um encontro com o PSD e o CDS em que exigia «que nos deixem abordar as campanhas eleitorais como entendermos». Mais dois dias corridos e enviava as suas propostas para o programa eleitoral do PSD a Passos Coelho. Pelo meio, o bloco central ficou completo com Luís Nazaré, director-executivo da tal plataforma, militante e eleito pelas listas do PS a uma freguesia de Lisboa, a falar no final de um encontro similar com o seu partido. Fica evidente a quem serve a discricionariedade de quem manda nos órgãos de comunicação social.” (9).

Perante tal cenário não é de admirar que muitos milhares de pessoas continuem ainda “formatadas” pelos partidos de direita e por esta comunicação social. Como fazer chegar a esses as propostas, lutas e iniciativas do PCP diante de tamanha desigualdade de tratamento? Desculpem os estimados leitores mas, como dizem os brasileiros, é foda!

Notas 
(1)          – João Oliveira, «Avante!», de 14/05/2015
(2)          - «Avante!», de 30/04/2015
(3)          – Diário de Notícias, de 10/04/2015
(4)          – Jornal de Notícias, de 08/05/2007
(5)          - Diário de Notícias, de 10/11/2099
(6)          - CDU – Coligação Democrática Unitária / Cidade do Porto, 10/02/2014
(7)          - «Avante!», de 30/04/2015
(8)          - «Avante!», de 14/05/2015
(9)          - «Avante!», de 14/05/2015

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