Mariana
Mortágua – Jornal de Notícias, opinião
Passos
Coelho escolheu a inauguração de uma queijaria para marcar o Dia do
Trabalhador. Aí, elogiou de forma muito decidida não o esforço dos
trabalhadores, mas o dos empresários. Corrijo, elogiou "de uma forma muito
amiga e especial" um empresário em concreto. Diz o
primeiro-ministro que a história deste "empresário bem-sucedido" é um
exemplo para todos quantos "sabem que, se queremos vencer na vida, chegar
longe, ter uma economia desenvolvida e pujante, temos de ser exigentes e
metódicos". Um empresário que "viu muitas coisas por esse Mundo
fora", e que nos dá lições importantes ao mostrar que "os ricos não
são ricos a esbanjar dinheiro".
Mas
quem é, então, esta conjugação de Steve Jobs com Henry Ford? Dias Loureiro.
Compreendo o seu espanto, pois também foi o meu quando vi as imagens, mas é
esse mesmo Dias Loureiro. O do BPN que nos custou mais de 5000 milhões de
euros. O homem que "viu muitas coisas no Mundo", de Porto Rico a
Marrocos, onde arranjou uns negócios ruinosos (estou a ser simpática na definição...)
que acabaram todos a ser pagos pelos contribuintes. O "metódico" Dias
Loureiro que garantiu, na comissão de inquérito ao BPN, que não conhecia um
fundo usado pelo BPN nos seus esquemas financeiros, mas que se mostrou dias
depois ter assinado vários documentos desse fundo. A mentira, recorde-se, foi
um dos motivos que o levou a renunciar do Conselho de Estado, para o qual tinha
sido nomeado por Cavaco Silva.
As
conclusões do relatório dessa comissão parlamentar, aliás, não deixam muitas
margens para dúvidas sobre o modelo de negócio e "exigência" deste
"empresário bem-sucedido". O seu nome e o de Oliveira e Costa são os
únicos nomeados para explicar como foi montado o "banco laranja".
"O Grupo desenvolveu-se rapidamente mercê da colaboração objectiva de
várias pessoas influentes, em virtude do exercício de altos cargos públicos,
designadamente, o Dr. Dias Loureiro e o próprio Dr. Oliveira e Costa, bem como
alguns acionistas".
Sobre
Dias Loureiro não há muito mais a dizer, mas as palavras escolhidas por Passos
Coelho, na verdade, dizem-nos mais sobre a forma como o primeiro-ministro vê o
Mundo, e a relação entre política e negócios, do que sobre um dos responsáveis
pelo caso de polícia que foi o BPN. Esperava-se que um empresário com as
características elencadas por Passos fosse alguém que tivesse criado empregos
bem pagos e desenvolvido a economia do país, não alguém que, à sombra de
Oliveira e Costa, ajudou a montar uma espécie de Tecnoforma gigante. Ou então é
isso, é mesmo este modelo de vida, negócio e "vencer na vida" que
Passos conhece e admira.
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