quinta-feira, 9 de julho de 2015

Enquanto no Brasil "Maju" é alvo de racistas, em Portugal, jornalista negra faz história




Lisboa/Portugal - Na mesma semana em que, no Brasil, a jornalista Maria Júlia Coutinho, apresentadora do tempo do Jornal Nacional, da Rede Globo, se tornou alvo de hostilidades e ataques racistas, em Portugal, Conceição Queiroz, jornalista portuguesa nascida em Moçambique assumiu o jornalismo da TVI24, canal de notícias a cabo da TVI, uma das principais estações da televisão portuguesa.

É o que relata, o jornalista Alberto Castro, correspondente de Afropress em Londres. "Um dia após os restos mortais do grande Eusébio da Silva Ferreira receber honras de Estado e passar a repousar eternamente no Panteão Nacional, ao lado dos grandes vultos da história de Portugal, o país do agora imortal Pantera Negra, marcou mais um golaço em favor da inclusão e da sua diversidade étnico-racial" conta Castro, ao mencionar a data em que Queiroz assumiu o telejornalismo do canal. 

Ela tem nacionalidade portuguesa, mas nasceu em Moçambique. Desde sábado (04/07), a jornalista assumiu a apresentação do telejornal da TVI24, que vai ao ar das 09h às 15h, na TVI. Conceição tornou-se, 21 anos depois, a segunda pessoa negra a sentar-se na bancada principal da estação de TV. A primeira foi José Mussuali, também de origem moçambicana que, em 1994, fez história ao se tornar no primeiro homem negro a apresentar um telejornal, e logo em horário nobre. 

''É importante assumir a diferença. Assumo toda a minha africanidade'', disse Conceição, em entrevista ao jornal luso Diário de Notícias. Ciente da realidade e dos preconceitos raciais que disse já ter sentido na pele, a jornalista mostra-se, no entanto, otimista quanto ao futuro, lembrando ser perfeitamente comum a presença de âncoras das mais diversas etnias no panorama televisivo de países como a Inglaterra ou os Estados Unidos. 

''Acho que vamos chegar lá. Vai demorar algum tempo, mas esta situação já é um bom sinal, estamos no bom caminho", afirmou.

Em Portugal, segundo Alberto, são poucos os casos de profissionais de imprensa originários de minorias étnicas como apresentadores principais de programas informativos ou de entretenimento. "A jornalista Alberta Marques Fernandes foi o primeiro rosto marcadamente afrodescendente do noticiário da televisão em Portugal. Atualmente moderadora de programas e apresentadora de noticiários na RTP Informação, ela fez história em 1992 quando se tornou na primeira pessoa a abrir as emissões da SIC", afirma.
 

*Alberto Castro é correspondente de Afropress em Londres e colabora em Página Global

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