quinta-feira, 9 de julho de 2015

LUTA PELA INDEPENDÊNCIA DE CABO VERDE COMEÇOU HÁ 193 ANOS




No fim-de-semana em que os cabo-verdianos assinalavam os 40 anos de independência, o historiador Eduardo Camilo Pereira defendeu no Luxemburgo que o primeiro o projecto de independência em relação a Portugal foi em 1822, com a criação do partido Pro-Brasil.

“O objectivo era separar Cabo Verde de Portugal e implantar uma república ligada ao governo de Rio de Janeiro, com administração britânica. Quem estava por detrás disso eram os liberais exaltados, a maioria residentes no Rio de Janeiro, mas também em Cabo Verde, onde os padres eram dos principais líderes do partido Pro-Brasil”, disse o historiador cabo-verdiano ao CONTACTO.

Eduardo Camilo Pereira esteve no sábado na sede do CLAE para apresentar a 3a edição do seu livro “Política e Cultura: As revoltas dos Engenhos (1822), de Achada Falcão (1841) e de Ribeirão Manuel (1910)”.

Para o historiador e professor da Universidade de Cabo Verde, as revoltas foram “um dos instrumentos do partido Pro-Brasil para fazer uma profunda revolução política, social e económica em Cabo Verde e conseguir a emancipação de Portugal”, entretanto falhada. 
As duas primeiras edições do livro esgotaram-se rapidamente e a terceira vem "provar a actualidade de temas como a escravatura" no arquipélago, diz Eduardo Camilo Pereira.

"Há todo um estereótipo construído por volta dessa altura e que se observa ainda hoje. Algumas pessoas em Cabo Verde ainda mantêm a mentalidade de que são civilizadas e de que outras apenas possuem a força braçal. É o que pensam, por exemplo, das pessoas do interior de Santiago, pessoas conotadas com força física".

"A separação Norte-Sul" é outro dos exemplos ainda existentes na sociedade cabo-verdiana, sustenta o historiador.

"Esse regionalismo é um discurso forjado pelo então deputado Teófilo Dias e o governador Joaquim Pereira Marinho, e que permanece até hoje. O Teófilo Dias dizia que a ilha de Santiago nunca haveria de se civilizar, e não é por acaso que o primeiro liceu foi construído na ilha de São Vicente, onde queriam construir um modelo de desenvolvimento para as outras ilhas, com o objectivo de exterminar os negros. A cidade ideal de Mindelo [capital de São Vicente], mandada elaborar pelo Marquês Sá da Bandeira, foi criada para abrigar a civilização e o escravo não podia entrar ali, segundo o governador Marinho, com excepção daquele que tivesse um ofício reconhecido", acrescenta o investigador, que defende o abandono desses preconceitos.

Sobre a independência, de há 40 anos, o professor diz que “foi a melhor coisa que poderia ter acontecido na história de Cabo Verde".

"Valeu a pena a independência. O povo cabo-verdiano passou a ser respeitado pelo seu trabalho e temos uma cultura reconhecida no mundo. Apesar de termos ainda muitas dificuldades, acredito que somos um país viável", concluiu Eduardo Camilo Pereira.

Henrique de Burgo – Contacto

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