terça-feira, 6 de outubro de 2015

Portugal. O BLOCO DE CATARINA VAI SER O NOVO PS?



Pedro Tadeu – Diário de Notícias, opinião

Pedro Passos Coelho fez com que PSD e CDS perdessem desde as últimas eleições "apenas" 727 mil votos (repito: 727 mil votos) nas urnas eleitorais, conquistando uma maioria relativa no Parlamento, depois de liderar durante quatro anos um executivo de austeridade. Passos é um péssimo governante mas um ótimo político.

O primeiro-ministro é capaz de ser o mais brilhante tático que a direita produziu desde o 25 de Abril, melhor do que Sá Carneiro e Cavaco Silva. Demonstram-no a recusa em sair de São Bento, há dois anos, quando Paulo Portas se demitiu, e a forma como ganhou as legislativas de domingo.

O inteligente e brilhante líder do CDS-PP, por seu lado, abdicou da grandeza e passou a sócio menor. A recompensa são 18 deputados.

António Costa ganhou apenas (sem aspas) 182 mil votos e ficou-se pelo segundo grupo parlamentar. Foi curto para quem garantia ser fácil conquistar a maioria absoluta.

Costa apresentou um programa económico agradável para a direita embrulhado numa retórica de esquerda. Fez o que o PS sempre fez, desde há 40 anos: apontar ao "centrão". Agora, não resultou. Porquê?

O momento simbólico da derrota socialista ocorreu na televisão, quando Catarina Martins, despida da agressividade gongórica dos debates parlamentares, propôs a António Costa a abdicação da reforma que este propunha para a Segurança Social para discutir o apoio do Bloco a um governo.

Talvez fosse uma falácia de Catarina mas, de repente, para muitos dos que admitiam votar no PS estava ali uma verdadeira alternativa positiva aos arranjos de regime do costume.

O Bloco tirou assim a Costa o argumento do voto útil e a hipótese de vitória que lhe poderiam dar a maior parte dos 260 mil votos que Catarina ganhou de uma eleição para a outra, passando mesmo a CDU, que subiu apenas 3300 votos, coisa que lhe está, evidentemente, a doer.

Graças a Deus e aos eleitores, ninguém tem maioria absoluta. Isto impedirá Passos de abusar. Isto obrigará o PS a definir-se. É, para já, a melhor solução para o país.

Se o PS se aliar à direita (e o Bloco não se despistar na puerilidade das divergências internas) esta versão de Catarina Martins pode captar o apoio dos não comunistas desiludidos com o crónico socialismo metido na gaveta pelos residentes do Largo do Rato.

Se o PS se aliar à esquerda, a ala direita do partido rompe, toma o partido de assalto, funda outro, ou vai para o PAF. O PS que restar, viciado em viver à conta do Estado, avançará, desorientado, para o suicídio político ou correrá para os braços deste eventual novo Bloco.

O PS de hoje não discute, portanto, a liderança de António Costa. Discute a sobrevivência.

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