Martinho Júnior, Luanda
Ainda
em 2002 estava no ovo do “IASPS”, “Institute for Advanced Strategic
and Political Studies”, ligado à projecção “PNAC”, “Project for the
New American Century”, o embrião “AOPIG” (“Africa Oil Policy
Innitiative Group”) a partir do qual nasceria cinco anos mais tarde o Comando
África do Pentágono (AFRICOM), já a quietude de São Tomé começava a ser
sacudida pelas geo estratégicas de George W. Bush em relação ao Golfo da Guiné,
até por que ele próprio, em nome do seu clã, estava interessado em investir
nesse espaço pelo que, claro está, começou a acenar a “cenoura inaugural”…
Nessa
época eu escrevia para o Semanário “Actual” e é a lembrança de três
intervenções minhas sucessivas que vou trazer para aqui, marcando o seguimento
desta minha trilha que dá pelo nome de “LABORATÓRIO AFRICOM”…
Ao
trazer essa primeira intervenção sob o título de “USS São
Tomé” (United States Ship…), recordo quão “atlantista” eram já o
ovo, o embrião e a criança do laboratório.
Muito
recentemente e a atestá-lo, os republicanos accionaram “lobbies” para
que a sede do AFRICOM fosse colocado nos Açores, “para compensar o
arquipélago dos benefícios perdidos com a saída de grande parte dos efectivos
norte-americanos da base das Lajes”.
Lembro,
passando o artigo na íntegra…
“A
bill was introduced in the House of Representatives, by Portuguese American
Rep. Devin Nunes (R-CA), proposing to relocate AFRICOM’s headquarters from
Stuttgart, Germany, to the continental United States, with the provision that Lajes
Air Field, on Terceira, Azores, be made into AFRICOM’s forward operating base.
The
bill also proposes that throughout the transfer process, and until 2018, Lajes
Field continue operating 24 hours a day, at or above its 2012 levels of
readiness.
In
a hearing in the House of Representatives, before the House Armed Services
Committee, Rep. Devin Nunes has stated:
In
conjunction with the transfer, the Lajes Field air base should be designated as
AFRICOM’s forward operating base. Located on Portugal’s Azores island chain in
mid-Atlantic, Lajes would be an exceptional staging ground for troop movements
and training. Crucially, terrorist hot-spots in western Africa can all be
reached from Lajes in less than five hours with few if any over-flight concerns,
and ten of the eighteen African counties that hold State Department Travel
Warnings can be reached within six hours.
In
a prepared statement, the President of the Government of the Azores, Vasco
Cordeiro, said today that Rep. Devin Nunes’s legislative proposal is the
recognition of the geostrategic importance of Lajes Air Field to the to the
United States.
This
proposal, currently before the House of Representatives, regardless of its
terminology, is the undeniable proof of the recognition of the geostrategic
value of the Azores and, specifically, of the important position of Lajes
Air Base to the United States, he said.
Designated
as the Africa Counter Terrorism Initiative Act, the bill requires the Secretary
of Defense to develop a plan for the transfer and also provide for the
relocation of the Special-Purpose Marine Air-Ground Task Force Crisis Response
(SP-MAGTF CR) from Moron Air Base, Spain, to Lajes Field.
According
to Devin Nunes, the transfer of AFRICOM to continental United States will save
$60 million to $70 million annually, will create 4,300 jobs and infuse $350 to
$450 million into the local economy.
It
is in the national interest of the United States to save tens of thousands of
dollars annually and to bring thousands of jobs to the United States by moving
AFRICOM headquarters from Stuttgart to the continental Unites States, and
create a dedicated forward operating base at Lajes that insures the strategic
reach for AFRICOM’s operations, he said.
In
2012, citing budgetary constraints, the US Administration had announced it was
planning to downsize its military operations and personnel in the Lajes Air
Field. The reduction would have saved an estimated $35 million annually.
Last
December, the United States Senate had voted on a provisional measure, with a specific reference to reviewing
the status of Lajes Air Field. The provisional measure recommended keeping the
US military facility on Terceira island at full capacity until further notice.
It also recognized the importance of the Lajes Air Field in the context of the
ongoing reevaluation process of restructuring the US military presence in
Europe.
Currently,
Lajes Air Field, the second largest employer on Terceira island, provides
refueling and other support to US military and NATO aircraft transiting over
the Atlantic Ocean.
Currently,
Rep. Devin Nunes represents California’s 22nd congressional district, which is
located in the San Joaquin Valley and includes portions of Tulare and Fresno
Counties.
AFRICOM is
the result of an internal reorganization of the U.S. military command
structure, creating one administrative headquarters that is responsible to the
Secretary of Defense for US military relations with 53 African countries.”
A
persistência “atlantista” (que passa também pelas atenções especiais
que merecem do Pentágono e da NATO por exemplo Cabo Verde, a Guiné Equatorial e
a ilha de Ascensão, por motivos distintos), justifica-se até em função dos
custos, para os instrumentos da aristocracia financeira mundial, pois quantas
vezes os meios a utilizar (no quadro do Exército, da Marinha e da Aviação)
prestam serviço simultaneamente à NATO e ao AFRICOM, como acontece com a VIª
Frota baseada na Itália…
…
E a instalação do AFRICOM acabou por não ser feita até hoje em São Tomé, por
que o Pentágono não se decidiu a investimentos colossais que seriam precisos
para a construção dum porto de águas profundas e duma base aérea…
Ironicamente
é agora a China que vai construir esse porto, mas sem AFRICOM!
“USS” SÃO
TOMÉ!
“Senhor
Hayes, Distintos membros do Corporate Council for Africa, Senhoras e Senhores.
É
com subida honra que hoje estou aqui convosco, o que tenho antes de
mais a agradecer ao Senhor Hayes, ao seu staff, à Exxon – Mobil, à
Phillips Petroleum e à Anadarko Petroleum, por ter organizado este almoço, que
me dá a oportunidade de me pronunciar um pouco sobre o meu País, São Tomé .
Durante
muitos anos o meu País devotou-se quase exclusivamente ao plantio do cacau e eu
posso garantir-vos que nessa altura não teria sido provavelmente possível
organizar um encontro tão valioso, deste género.
Como
sabem , fui eleito Presidente de São Tomé e Príncipe em Setembro último, esta é
a minha primeira visita aos Estados Unidos como Presidente e uma das coisas que
já aprendi, no curto tempo em que desempenho esse cargo, é que o petróleo abre
muito mais portas que o chocolate”.
Foi
com um humor refinado e subtil que o Presidente Fradique de Menezes, a 14 de
Maio de 2002 , se dirigiu ao prestigioso CCA, inaugurando um período de
relações privilegiadas entre SãoTomé e os Estados Unidos e beneficiando do novo
quadro geo estratégico e político do AOPIG (African Oil Policy Initiative
Group) em relação ao Golfo da Guiné.
Em
nome de seu Povo, o Presidente de São Tomé evidenciava quão importante se
tornava virar uma página da história do arquipélago, passando a um novo ciclo
de vida política, económica, social e psicológica, que nunca antes aquele
ignoto paraíso terrestre teve oportunidade de conhecer.
As
expectativas eram (e continuam a ser) em muitos sentidos optimistas, mas também
de certo modo imprevisíveis e subsistem bastas razões para tal:
-
Após o terrível atentado de 11 de Setembro de 2001 em Nova York, que destruiu
um dos símbolos mais exuberantes da América, os Estados Unidos iniciavam uma
nova estratégia correspondendo aos interesses dos
poderosos “lobbies” judeus, em relação às explorações de petróleo,
substituindo a conturbada zona do Médio Oriente, região onde Bin Laden e
a “Al Quaeda” tinham a sua principal guarida cultural, política e
religiosa, por investimentos noutras regiões do mundo, entre elas o Golfo da
Guiné, o que tornava estimulante o facto de São Tomé possuir tão promissores
lençóis no seu fabuloso “offshore” à ilharga do seu território
insular, assim como tão importantes possibilidades geo estratégicas.
-
Sem melhores soluções económicas ao longo de vários séculos a não ser o cultivo
comercial do cacau que havia produzido terríveis consequências sobre as
sociedades africanas fornecedoras de mão-de-obra e na própria sociedade do
país, com modelos de vida típicos de escravatura e de contrato, (salvo nos anos
imediatamente antes da independência e por fim após a Independência), o povo de
São Tomé, com toda a legitimidade que lhe assiste passou a aguardar com
impaciência a abertura dessas novas possibilidades e o início duma era sem
precedentes na sua história, na miragem de melhores níveis de vida e
prosperidade.
Decorrido
um ano após o seu mandato, numa grande festa que assinalou a sua chegada à
Presidência da República realizada na Praça da Independência na Capital do
País, o Presidente Fradique de Menezes tinha contudo com que se lamentar.
Ele
disse ao seu povo que “já descobriu a diferença que existe entre a gestão
de uma empresa e um Estado. Numa empresa como a que geria antes de ser Chefe de
Estado, movimentava o dinheiro sem problemas, mas num Estado as regras
burocráticas são difíceis de ultrapassar”.
De
facto o país tem para investir, por exemplo nos sectores sociais e noutras
áreas onde as carências da população são grandes, 5 milhões de USD. O dinheiro
foi disponibilizado pela Nigéria como um avanço no quadro do processo de
exploração do petróleo, mas o governo são-tomense não pode nesta altura
injectar o montante nos projectos de desenvolvimento, tudo porque o Banco
Mundial e o Fundo Monetário Internacional exigem o respeito escrupuloso do
orçamento de contenção de despesas, recentemente aprovado pelo Parlamento.
É
pois apenas com o que está agendado no orçamento do Estado que o país
deve contar até o fecho deste ano.
As
recomendações do FMI e do Banco Mundial, seguindo figurinos estimulados pela
aristocracia financeira mundial e pelos Estados Unidos não podem ser
desrespeitadas, (caso contrário o país perde o perdão da dívida externa e terá
mais dificuldades em progredir) aliás, segundo técnicos em economia, a injecção
do dinheiro disponibilizado pela Nigéria no sistema financeiro à margem do
Orçamento Geral do Estado poderá forçar o disparo da inflação que para este
ano, segundo as mesmas recomendações, não pode ultrapassar os 9%.
O
Presidente Fradique de Menezes tem assim o dinheiro que pediu ao seu homólogo
Olusengun Obasanjo entre as mãos, mas para sua frustração neste ano não poderá
tocar sequer num tostão, o que o obriga a continuar ancorado a uma época em
que gerir São Tomé, ainda só pode ser feito com base em orçamentos
característicos do magro tempo do chocolate, quando são tão fantásticas as
promessas em relação ao futuro.
Habituado
aos lucros, mas também aos revezes nos seus negócios, (o Presidente Fradique de
Menezes é um conhecido comerciante de seu país), ele porém não desistiu de
continuar na senda de urgentes e melhores soluções.
O
AOPIG para além da mudança de importantes investimentos no petróleo do Médio
Oriente (particularmente do Golfo Pérsico) para o Golfo da Guiné prevê:
1
) A redução ou mesmo o perdão da dívida externa devido à implicação da atracção
de importantes financiamentos privados previstos na exploração do petróleo, na
sequência de um clima propício que existe já nesse sentido.
2
) A implantação dum Comando Naval Americano em São Tomé, confirmando o
interesse estratégico do Golfo da Guiné e a importância da segurança dos
investimentos americanos, tendo em conta a importância que o petróleo tem para
a economia dos Estados Unidos.
3
) A aplicação da redução das medidas tarifárias conformes ao AGOA (The African
Growth and Oppourtinty Act) em relação a produtos produzidos no continente
africano, estimulando as oportunidades para a sua colocação no mercado
americano.
A
miragem da nova era no quadro da Nova Ordem Global levou agora o Presidente
Fradique de Menezes, numa segunda viagem aos Estados Unidos onde assinou
acordos para integrar o seu país na estratégia AOPIG para o Golfo da Guiné, ao
abrigo dos reflexos da globalização e da viragem da situação global após o 11
de Setembro, aproveitando a hegemonia americana num alinhamento sem
precedentes.
São
Tomé, para além da garantir a exploração do petróleo na plataforma continental
onde possui uma posição central, dará guarida:
-
A novas possibilidades de comércio tirando proveito da equidistância que o seu
território se encontra em relação a todos os países da região desde
Angola, a sul, até ao Gana, a norte.
-
À criação nesse sentido de um porto em águas profundas capaz de servir para o
desembarque e embarque de mercadorias que darão suporte às operações numa vasta
região marítima e costeira (uma aspiração antiga que nunca antes teve
possibilidades de ser realizada).
-
À implantação dum cada vez mais importante nó de comunicações no Golfo
da Guiné, dando continuidade aos programas que já existem.
-
À implantação duma base naval americana de forma a garantir segurança no Golfo
da Guiné, tornando o país num autêntico porta aviões e retaguarda duma esquadra
de superfície que estará implicada na segurança dos investimentos em toda a
região.
O
paraíso terrestre virgem, ignoto e impoluto, está à beira de entrar para a era
da globalização, onde começa a conhecer as novas regras do jogo:
-
Abrir as portas ao neo liberalismo e à hegemonia americana.
-
Arriscar-se a sofrer os efeitos da poluição ambiental (e humana).
-
Sujeitar-se às imposições típicas dum papel que é essencialmente criado por uma
abissal e insolúvel dependência, com todas as tensões e desigualdades que isso
comporta.
A
partir do momento que o Presidente Fradique de Menezes assinou os termos dos
novos compromissos serão de certeza abertos os cordões financeiros na direcção
de São Tomé e escalonados os procedimentos e acções.
Dentro
dum ano ele terá possivelmente muito menos que se queixar e o engodo da nova
miragem erguerá uma babel crítica numa parte do Atlântico até hoje pouco
frequentada e quase esquecida, em tributo às novas opções.
SÃO
TOMÉ deixará de ser um paraíso perdido, tornar-se-á num centro cada vez mais
cosmopolita, sublimado na integração que lhe está destinada, mas
ficará sem dúvida, indelevelmente marcada na alma do seu povo, uma era de
dependência mais do que inter dependência que se avizinha, por muitos e longos
anos.
Imagens:
-
Dois mapas referentes ao petróleo na Zona Económica Exclusiva de São Tomé;
-
Bandeiras do “portuguese american jornal”…
A
consultar:
Sem comentários:
Enviar um comentário