Depois
de 47 dias perdido no mar, Juvenal só quer regressar a casa
Fernanda
Barbosa, da agência Lusa
São
Paulo, 04 dez (Lusa) -- Depois de ter andado à deriva no mar durante 47 dias e
de ter sido resgatado em Santos, Brasil, o pescador cabo-verdiano Juvenal
Ferreira Mendes, só pensa no regresso à casa que pensava já não voltar a ver.
"O
que eu quero é chegar ao pé dos meus familiares todos, meu bebé está com quase
três anos, estou com saudade delas", disse o pescador, de 52 anos, que tem
12 filhos.
Em
entrevista à Lusa, no Consulado Honorário de Cabo Verde em São Paulo, recorda
os dias em que viveu somente do pescava à espera de alguém que reparasse no seu
pequeno barco.
"A
parte mais difícil foi quando vi o navio passar, fiz sinal, [mas] não me vê,
nem me salva. Fiquei assim, mais ou menos desanimado", afirmou, sobre as cerca
de 15 embarcações que passaram por ele no caminho.
Juvenal
Ferreira Mendes, nascido em São Tomé e Príncipe, mora na ilha de Santiago, mas
pescava na Boa Vista quando se perdeu, há sete semanas.
O
vento rasgou a vela e o vento empurrou a embarcação para o mar alto. Quando
tentava regressar, o motor ficou sem combustível e ficou à deriva no meio do
Atlântico.
Na
última terça-feira, foi resgatado pelo navio Ouro do Brasil, de bandeira
libanesa, a cerca de 300 quilómetros da costa brasileira, entre os Estados do
Amapá e Pará, no norte do país. Na sexta-feira à noite, dirigiu-se ao aeroporto
de São Paulo para apanhar o voo de volta para casa, com escala em Fortaleza, no
nordeste brasileiro e deve regressar à Praia, em Cabo Verde, na noite de hoje.
Para
comer, cozeu peixes na água do mar e bebia água da chuva. No entanto, nunca
desistiu: "Tinha fé que ia ser salvo", disse.
A
volta de Ferreira Mendes a Cabo Verde foi financiada pela empresa brasileira
representante do navio que o resgatou e atracou na cidade de Santos, litoral do
Estado de São Paulo, na quarta-feira.
O
pescador afirmou à Lusa que não sabia que estava no caminho do Brasil e nem
contou os dias que ficou a um mar onde quer regressar em breve.
"Vou
voltar a pescar, é minha profissão desde 14 anos de idade. Pesquei até agora e
vou continuar a pescar", justificou.
O
cônsul honorário de Cabo Verde em São Paulo, Emannuel Rocha, afirmou que este
não é caso único, já que as correntes fortes empurram as embarcações
cabo-verdianas com facilidade.
O
último caso, disse, ocorreu em 2004, com quatro pescadores (um não sobreviveu).
"Uma
das lendas ou histórias de pescadores diz que Pedro Álvares Cabral estava a
Caminho das Índias quando foi apanhado por essa corrente marítima, e acabou no
Brasil", disse Rocha.
O
cônsul realçou que os pescadores experientes, que sabem que não devem tomar
água do mar, apenas da chuva, e que conseguem se alimentar dos peixes no
caminho, sobrevivem à travessia até o Brasil, que dura entre um e dois meses.
FYB
// PJA - Lusa
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