domingo, 2 de agosto de 2015

ANÁTEMA FEUDAL – II



 Martinho Júnior, Luanda

2 – Os Estados Unidos detêm de longe o maior pendor ofensivo no âmbito dos programas do exercício de hegemonia unipolar, no que diz respeito aos seus instrumentos militares, com o Pentágono a estabelecer a quadrícula do mundo e com a disseminação de bases, que ultrapassam as 800, em todos os continentes.

Por essa razão os orçamentos para garantir essa cobertura típica dum império, que exige um enorme esforço de organização e manobra, são de longe os maiores do mundo, comparativamente a todos os outros.

Essa cobertura determina que sejam os Estados Unidos a deter o maior número de aviões e de porta-aviões, pois uma parte substancial das suas forças estão fora do seu território e as bases circundam o globo, embora haja concentrações em função das tónicas geo estratégicas e dos conflitos em curso.

Neste momento os Estados Unidos procuram aligeirar a sua presença no Oriente Médio, fortalecendo a NATO na Europa do Leste, em torno do contencioso da Ucrânia, ao mesmo tempo que começam a concentrar esforços e meios em direcção à China, via Pacífico.

Quer dizer que os Estados Unidos estão a todo o transe a procurar conter a emergência dos BRICS, começando por fixar a Rússia a oeste e a China a partir do Pacífico, integrando aliados como o Japão, a Coreia do Sul, as Filipinas e outros que procura manipular alimentando discórdias e disputas regionais.

A doutrina Obama aproveita a doutrina Bush, ao colocar o Estado Islâmico como prioridade em termos de ameaça, a par da Rússia, de modo a poder aproveitar o esboço de “conflito de civilizações” que herdou.

À falta de “comunismo”, quem detém o poder ofensivo precisa de ter um contraditório na definição da ameaça, que cumpra com um papel que justifique o seu próprio poder.

Os Estados Unidos para o efeito dominam em muitas regiões do globo e mantêm uma panóplia de alianças, que enquadram autênticos regimes de vassalagem, como os casos multilaterais da NATO,“Organização do Tratado do Atlântico Norte”, ou do ANZUS, “Pacto Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos”, ou os casos bilaterais como o Japão, ou as Filipinas.

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Por tabela, em África, a situação é similar, particularmente com o “laboratório” criado com a implantação do AFRICOM: a partir da destruição da Líbia, semeou-se o caos no Sahara, no Sahel, até Ogaden… e agora há toda a justificação para os Estados Unidos e seus vassalos da OTAN,“socorrerem” os débeis estados africanos que lhes caem nos braços em estranhas “parcerias”, a fim de fazerem face aos mentores tácticos do caos herdado, ao “terrorismo” do AQMI, do Boko Haram, ou do al Shabaad…

As suas forças situam-se sobretudo no hemisfério norte, mas também fazem cobertura de seus interesses no hemisfério sul, onde não é preciso muito, nem muitos recursos, para assumir a liderança em proveito da aristocracia financeira mundial.

A internacionalização do dólar e as manipulações que com ele são feitas, permitem que uma grande parte das verbas para os orçamentos sejam provenientes de outros, inclusive de alguns dos alvos (casos da Rússia e da China).

O recurso a ideologias de raiz feudal é comum nas doutrinas militares que os Estados Unidos têm vindo a elaborar.

Os Estados Unidos implantam assim as dialécticas manipuladoras, estabelecendo artificiosamente campos de “conflito de civilizações”, de “conflitos étnicos”, ou de “conflitos religiosos”…

Desde a IIª Guerra Mundial que os Estados Unidos estão por isso em conflito permanente onde quer que seja, com guerras de intensidade variável e recorrendo a todo o tipo de justificações, depois do “laboratório” de suas manipulações e ingerências.

Durante o período da “Guerra Fria”, os Estados Unidos disseminaram ingerências em todos os continentes e agora multiplicaram essas ingerências, ainda que alterando as perspectivas geo estratégicas de suas condutas tendo em conta a interligação de interesses e das capacidades de resposta que encontrem por parte de quem lhes é resistente.

O capitalismo, selvagem ou não, procurará sempre fórmulas “concorrenciais” que estimulem processos dialécticos de manipulação e ingerência, pois de outra maneira é impossível a implantação do domínio indispensável.

Mentores da tese, estimulam agora a antítese, para que a síntese seja o mais proveitosa possível.

A “guerra entre civilizações”, a “guerra entre etnias”, ou a “guerra entre religiões”, com todos os ingredientes de “guerra psicológica”, faz parte de suas mais estimulantes agendas e ementas que servem aos processos de domínio de que se socorre a hegemonia unipolar, ou seja, o que move as potencialidades de manipulação, ingerência e sobretudo de agressão ofensiva.

As “revoluções coloridas”, ou as “primaveras árabes”, inscrevem-se nessa guerra psicológica sem fim e de carácter sempre retrógrado, semeando o caos, dividindo sempre, subvertendo outras opções, ou interesses, corroendo todas as iniciativas e geo estratégias de paz! 

Imagem: Mapa de William Blum, relativo às acções levadas a cabo pelos Estados Unidos depois da IIª Guerra Mundial.

NUVENS NEGRAS CONTINUAM A ACUMULAR-SE SOBRE O HORIZONTE DA UE




No VOXeurope encontramos um artigo de Bruno Amable, publicado no francês Liberation, datado de Março de 2011, que em muito explica o que se passa na Europa, mais concretamente na chamada União Europeia. Preconiza o autor a evidência do horizonte neoliberal que está para durar. Convidamos a que leiam e que contribuam para que na UE o horizonte não seja o apontado mas sim outro, diferente, humanista, progressista, inovador, que colmate os roubos às populações europeias perpetrados por governantes, banqueiros e senhores do grande capital em conluio, as injustiças sociais que abundam por toda a UE.

Redação PG

EUROPA 2020: Um horizonte neoliberal

1 março 2011 - LIBÉRATION PARIS – em VOXeurope

Projeto de origem social-democrata, a Estratégia de Lisboa não favoreceu nem a inovação nem a coesão social na UE. Pelo contrário, a Comissão Europeia transformou-o num programa neoliberal. E a Estratégia 2020, que lhe vai suceder, irá acentuar esta tendência, considera um economista francês.


É necessário reconhecer aos (contra-)reformadores neoliberais qualidades que nem sempre se encontram nos seus opositores: sabem o que querem e o que é necessário para o obterem, são pacientes e não desanimam. Uma vez mais, parte da ação passa pela União Europeia.   Estamos recordados da Estratégia de Lisboa, lançada em 2000, que tinha por objetivo fazer da União Europeia “a economia do conhecimento mais competitiva e mais dinâmica do mundo, até 2010”. Traçava objetivos em matéria de inovação, de “coesão social” e emprego. Praticamente nenhum foi atingido, embora as taxas de emprego se tenham aproximado dos previstos 70% (da população idosa entre os 20 e os 64 anos). Mas as despesas em investigação e desenvolvimento aumentaram muito pouco e estão longe da meta dos 3% do PIB. Quanto à coesão social, basta salientar que o risco de pobreza (após transferências sociais) aumentou. Este balanço medíocre não impediu a Comissão de atribuir à Estratégia de Lisboa a criação de 18 milhões de empregos na União Europeia. Contudo, este número apenas se aplica ao aumento do emprego na Europa entre 2000 e 2008. Creditar a Estratégia de Lisboa por esse aumento no seu conjunto é, pois, um bocadinho forçado. Diga-se de passagem que metade desse valor correspondeu a empregos em tempo parcial.

Um programa de reformas estruturais neo-thatcherianas

O mais engraçado desta história é que a Estratégia de Lisboa foi inspirada por catedráticos maioritariamente classificados “de esquerda” e inicialmente lançada por governos considerados “de esquerda”. Mas foi tão mal concebida desde o início que, para a Comissão de Durão Barroso, foi uma brincadeira recuperar o movimento e transformar uma simpática proposta social-democrata voltada para as tecnologias de informação num programa de reformas estruturais neo-thatcherianas. Dito isto, a Estratégia de Lisboa, por si só, teve fraco impacto nas reformas estruturais efetuadas nos diferentes países; estas resultaram principalmente de compromissos políticos nacionais. Mas desempenhou apesar de tudo um papel de recurso político e ideológico posto à disposição dos atores nacionais. A sequência desta história chama-se “Europa 2020”, “uma estratégia para um crescimento inteligente, duradouro e inclusivo”. Daqui a 10 anos, tudo na Europa deverá ser “inteligente”: o crescimento e a economia, evidentemente, mas também a regulamentação, a especialização, as casas, as redes, a gestão do trânsito, etc. E tudo deverá ser também duradouro: a economia, o crescimento e por aí fora.

Quanto ao resto, poucas surpresas: o objetivo para as taxas de emprego passa para 75%; na política industrial, visa-se melhorar o “ambiente das empresas”; uma regulamentação “inteligente”, necessariamente, irá diminuir a “sobrecarga administrativa que pesa sobre as empresas”; avança-se no aprofundamento do mercado único, nomeadamente graças à diretiva “serviços” (a chamada diretiva Bolkestein); e, de uma maneira geral, reafirma-se que a concorrência (ou seja, desregulamentação, privatizações e desmantelamento dos serviços públicos) favorece o crescimento e a inovação, o que continua a levantar dúvidas.

"Europa 2020" atribuída ao lóbi patronal europeu

Em suma, tudo o que já se sabia e nada mais. Como disse o Corporate Europe Observatory, a inspiração do projeto Europa 2020 resulta em parte de um documento produzido pelo lóbi patronal europeu: “ERT’s Vision for a competitive Europe in 2025”. Onde surge uma ligeira novidade é em matéria de gestão, relacionada com a recente inovação do semestre europeu, que obriga a um exame dos orçamentos nacionais pela Comissão e o Conselho antes da adoção pelos Parlamentos nacionais. “A disciplina orçamental” e as reformas estruturais são assim reunidas “numa governação mais forte”: “O saneamento orçamental e a viabilidade financeira a longo prazo deverão ir a par de importantes reformas estruturais, nomeadamente nos domínios das reformas, dos cuidados de saúde e dos sistemas de proteção social e de educação” (Europa 2020, página 28).

No plano das reformas estruturais, não é possível efetuar nada de verdadeiramente vinculativo, mas são apresentados novos recursos políticos para uso dos atores nacionais que desejem prosseguir a via neoliberal, convindo ter finanças públicas “saudáveis”, se pretenderem preservar os respetivos sistemas de proteção social.

Angola. NÃO ADIANTA TER RAZÃO É PRECISO TER FORÇA!



Folha 8 digital – 01 agosto 2015

A Polícia de Angola, compor­tando-se mais uma vez como polícia do MPLA, carregou forte e feio contra os manifestan­tes que exigiam, em Luan­da, a libertação de 15 acti­vistas detidos desde Junho. Prendeu arbitrariamente e continuou impávida e se­rena a esquecer-se que é uma instituição do país e não de um governo, e não de um presidente que está no poder desde 1979 sem nunca ter sido nominal­mente eleito.

Vários feridos e muitas detenções são, para já, o saldo, de um intervenção policial e militar que mos­trou como é fácil ser forte com os que, embora ten­do razão, têm como única arma a liberdade de pensa­mento.

O protesto concretizou­-se, no Largo da Indepen­dência, com os jovens manifestantes gritando “liberdade” e a entrarem naquela área que, à seme­lhança de outros pontos da cidade, registava forte aparato policial que, aliás, cercou e manteve sob vi­gilância locais ligados à Oposição, como foi o caso da Rádio Despertar.

Para esta acção muscula­da a Polícia dita nacional usou estrategicamente o seu braço político-juvenil, a JMPLA, para estar pre­sente no mesmo local, justificando dessa forma a acção policial que, diz, se destinou a evitar confron­tos entre manifestantes.

Trata-se, aliás, de uma técnica fascista que é rei­teradamente usada pelo regime de José Eduardo dos Santos para justificar o injustificável. Ao saber que os jovens do Movimento Revolucionário tinham convocado, com a devida informação ao Governo provincial, uma manifes­tação para aquele local, o MPLA tratou de organizar igual evento.

Esta manifestação, tal como todas as que não tenham o patrocínio do MPLA, contrariando a pro­paganda do regime, que propala que ao abrigo do artigo 47 da Constituição todos se podem manifes­tar, resultou em actos de extrema violência, deten­ções e deslocação dos de­tidos para parte incerta.

Mais uma vez a brutali­dade do regime mostrou, embora sejam poucos os que queiram ver, que só existe liberdade quando é para idolatrar a figura de José Eduardo dos Santos ou, ainda, para bajular as suas políticas.

O regime escuda-se, e bem, no facto de se mem­bro do Conselho de Segu­rança da ONU para ter co­bertura internacional. Até agora tem dito que os jo­vens activistas pretendiam levar a efeito um golpe de Estado. Não tardará muito que passe à fase seguin­te que é da dizer que eles pertencem a grupos terro­ristas, até mesmo alegando que poderão pôr em risco a segurança da região.

Anunciada e comunicada a tempo e horas, e cumprin­do todas as formalidades legais (se bem que a lei em Angola é letra morta para quem não se ajoelhe perante o rei), a manifes­tação visava denunciar a arbitrariedade ditatorial do regime.

Não deixando os seus créditos por cassetetes e armas alheias, a Polí­cia Nacional (do MPLA, reafirme-se), materializou as suas intenções de dar porrada a todos quantos ousem perturbar o sono divino do “querido líder”, por sinal embalado pelo hino do Conselho de Segu­rança da ONU.

Com esta prática reite­rada, o regime pretende ensinar a todo o mundo – com excepção da Coreia do Norte – qual é a melhor forma, obviamente espon­tânea, legal e democrática, de acabar com manifesta­ções sem sequer usar gás lacrimogéneo. De facto, porrada e balas são méto­dos mais eficazes de um regime que se diz demo­crata mas que tem tudo de ditador.

Tudo indica que, a fazer fé na tradição democrática das forças policiais, que os detido serão despejados – espera-se que com vida – numa outra província, igualmente acusados de preparem um golpe de Es­tado. Ou será já uma mais larga acção terrorista?

TRAGICOMÉDIA DO REGIME

Enquanto isso, o vice­-Procurador-Geral da Re­pública garantiu que os 15 jovens activistas em prisão preventiva desde Junho, em Luanda, não são presos políticos e que a detenção se justificou por estarem, alegadamente, a preparar uma “insurreição”.

Nesta altura do espectá­culo levado a cabo pelos bobos da corte, o público esboçou um primeiro riso.

A posição do general Hél­der Pitta-Groz, transmitida pelos órgãos de propaganda do Estado, surgiu no dia em que estava anunciado o protesto que exigia a libertação destes jovens, considerando-os “presos políticos”.

“Não foi por pensarem, não foi pela consciência, que eles foram presos. Fo­ram presos somente por­que estavam a preparar actos que levavam à sub­versão do poder instituí­do”, afirmou o vice-Procu­rador-Geral da República.

Essa foi a altura da assis­tência rir às gargalhadas. O ar do general era sisudo, o drama dos activistas era, é e será enorme, mas a co­média escrita pelo regime é de elevado gabarito.

Insistiu o general (não há ninguém que não seja general) que “não há ne­nhum mecanismo a nível do Estado” que limite a liberdade de expressão e que em Angola “as pes­soas expressam-se livre­mente”, reafirmando que neste caso, os 15 detidos estavam a preparar “uma insurreição”.

Entre mais umas tantas gargalhadas, a assistência foi percebendo que no fundo do palco está, conti­nua a estar, nunca deixou de estar, o massacre do 27 de Maio de 1977.

“Se fossemos a pensar que foram presos por ser pre­sos políticos, já o tinham sido muito antes. Porque toda a gente sabe, das pes­soas que estão envolvidas, que estão detidas, todos sabemos o que eles pensa­vam, falavam, escreviam. Se assim fosse, já teriam sido presos há bastante tempo, não seria agora”, afirmou o general Hélder Pitta-Groz.

Embora não seja o autor do guião, o general dá uso ao que lhe mandaram di­zer embora, certamente por deficiência do encena­dor, sem a convicção que se exige a quem aceita ser actor – ou figurante – nesta tragicomédia.

Recorde-se que, segundo a generalícia sentença da PGR, o grupo de 15 jovens activistas – detidos des­de 20 de Junho – estaria a preparar, em Luanda, um atentado contra o Presidente e outros membros dos órgãos de soberania, num alegado golpe de Es­tado.

Os perigosos activistas, estudantes e licenciados, foram distribuídos por es­tabelecimentos prisionais em Viana (4), Calombo­loca (7) e Caquila (4), na região de Luanda, e ainda não têm qualquer acusa­ção formada, decorrendo o processo de investigação.

Associados ao Movimento Revolucionário (um gru­po de criminosos da pior espécie e procurados por todo o mundo pelos golpes de Estado levados a cabo), estes jovens encontravam­-se regularmente para dis­cutir intervenção política e cívica, inclusive com ac­ções de formação, como a que decorria na altura de detenção.

Este caso tem sido alvo de interesse nacional e internacional, com vários pedidos públicos de orga­nizações, artistas, escrito­res e activistas para a sua libertação.

A propósito desta situa­ção, o Presidente Eduardo dos Santos, também líder do MPLA, afirmou no iní­cio deste mês que “não se deve permitir” que o povo “seja submetido a mais uma situação dramática como a que viveu em 27 de maio de 1977″, aludindo ao assassinato de milhares de pessoas numa suposta ten­tativa de golpe de Estado.

“Quem quer alcançar o cargo de Presidente da Re­pública e formar Governo, que crie, se não tiver, o seu partido político, nos ter­mos da Constituição e da Lei, e se candidate às elei­ções. Quem escolhe a via da força para tomar o po­der ou usa meios para tal anticonstitucionais não é democrata. É tirano ou di­tador”, acusou José Eduar­do dos Santos.

Segundo a PGR, os deti­dos em prisão preventiva são Henrique Luati Beirão (conhecido como “Briga­deiro Mata Frakuzx”), Ma­nuel “Nito Alves”, Afonso Matias “Mbanza-Hamza”, José Gomes Hata, Hitler Jessy Chivonde, Inocêncio António de Brito, Sedrick Domingos de Carvalho, Albano Evaristo Bingoca­bingo, Fernando António Tomás “Nicola”, Nélson Dibango Mendes dos San­tos, Arante Kivuvu Lopes, Nuno Álvaro Dala, Bene­dito Jeremias, Domingos José da Cruz e Osvaldo Caholo (tenente das For­ças Armadas Angolanas).

SEM LIBERDADE NÃO HÁ VIDA

Diversas organizações e entidades manifestaram­-se na passa quarta-feira em Lisboa pela liberdade de expressão em Angola e pela libertação dos acu­sados de crimes contra o Estado, revelou hoje a di­rectora da Amnistia Inter­nacional em Portugal.

“Várias organizações e en­tidades vão estar presen­tes nesta concentração, precisamente porque no mesmo dia, em Luanda, pretende-se que haja um evento público pela defesa de todos os detidos. Por­tanto, a Amnistia Interna­cional (AI) e outras orga­nizações querem recordar todas as situações uma vez que as autoridades angola­nas permanecem inamovíveis”, disse Teresa Pina.

“Não são apenas organiza­ções não-governamentais que pretendem participar, temos a informação de que há partidos políticos, alguns angolanos, ou os seus representantes que querem estar presentes. Percebeu-se que havia aqui uma coincidência de várias entidades que querem fazer-se ouvir”, acrescentou a directora da Amnistia Internacional em Portugal.

“As autoridades angola­nas não escutam as vozes que tentam fazer-se ouvir em Angola nem as que estão fora de Angola. Isso não nos deve desmotivar. Pelo contrário, apelamos à libertação imediata dos detidos”, sublinha Teresa Pina.

De acordo com a respon­sável pela organização não-governamental, as autoridades angolanas usam o argumento dos crimes contra a segurança do Estado para “reprimir qualquer dissidência e não abrindo mão dessa vaga repressora para silenciar uma opinião, uma crítica, uma tentativa de manifestação pacífica” em que seja posta em causa a governa­ção e os poderes vigentes em Angola.

A AI mantém igualmente uma campanha pela li­bertação do activista José Marques Mavungo, detido em Cabinda há mais de quatro meses sob a acusa­ção de crimes contra a se­gurança do Estado, apesar de estar apenas envolvido, ao que a AI apurou, “na organização de uma ma­nifestação pacífica sobre a situação de direitos huma­nos e governação”.

O caso do jornalista e acti­vista Rafael Marques, au­tor do livro “Diamantes de Sangue”, que se encontra ainda em fase de julgamen­to, tem motivado várias campanhas e iniciativas da AI e de outras organiza­ções não-governamentais internacionais.


Angola. A SELFIE + 1 - cartoon de Sérgio Piçarra




Sérgio Piçarra - Luanda, 1969. Autor de BD e cartoonista, é pioneiro e impulsionador destas artes em Angola. Tem livros publicados e participação em exposições colectivas, obteve um Diploma de mérito do Ministério da Cultura.

Rede Angola

Liberdade Já! Concerto de apoio aos presos políticos angolanos em Lisboa




Diversos artistas juntam-se à campanha Liberdade Já! para seis horas de música na Galeria Zé dos Bois

Diversos artistas unem-se hoje, em Lisboa, num concerto a favor da campanha Liberdade Já!/Freedom now! que se vai realizar na galeria Zé dos Bois entre as 18h e as 24h.

Alek Rein, Aline Frazão, B Fachada, Bilan, Dino D’Santiago, Éme, Kalaf, Joaquim Albergaria e Selma Uamusse são alguns dos músicos que, simultaneamente com o concerto no Centro Cultural Elinga Teatro, em Luanda, se unem na defesa da liberdade de expressão em Angola e para exigir a libertação imediata dos 15 activistas detidos sob acusação de tentativa de golpe de Estado, destacou o Público.

Nesta campanha Liberdade Já estão envolvidos músicos, actores, artistas plásticos, produtores culturais, jornalistas, advogados, intelectuais da sociedade angolana e também da comunidade internacional.

Já o concerto no Elinga contará com as participações de Abadá Capoeira – Zwela Hungu, Laurinda Manuel Gouveia, Manuel Victoria Pereira, MCK, Jack Nkanga, Mona Dya Kidi, Sábio Louko & Ngamba Spoken Word, Pretos Racionais, Sanguinário, Jang Nómada, Emmanuel Pittra, Globo 112, Fat Soldiers, Dinamene, entre outros.

Rede Angola

Angola. GOVERNO RECORRE ÀS RESERVAS PARA EVITAR SAÍDA DOS CUBANOS




Dívida à cooperação cubana chegou a USD 300 milhões e a ameaça de partida preocupa executivo

O governo não teve outra alternativa se não autorizar o Banco Nacional de Angola (BNA) a recorrer às suas reservas cambiais para fazer face aos pagamentos em atraso à cooperação cubana, de modo a não se ver perante o êxodo de médicos, professores e engenheiros civis de Cuba que trabalham no país.

Segundo o semanário Expresso, o governador do BNA, José Pedro de Morais, recebeu a indicação do executivo para libertar reservas para fazer face às despesas mais prementes dos ministérios, nomeadamente o pagamento à Antex-Antillas Exportadora, empresa cubana que assegura o recrutamento e pagamento dos profissionais de Cuba que trabalham em Angola.

O atraso no pagamento foi a razão da recente visita a Luanda do vice-presidente do conselho de ministros de Cuba, Ricardo Cabrisas, que terá feito ver ao governo que os cubanos poderiam ter de partir caso não começassem a ser pagas as dívidas à cooperação cubana que ascendiam já a USD 300 milhões.

Receando as consequências da partida dos cubanos – só no sistema nacional de saúde trabalham cerca de 1800 profissionais -, o governo já pagou esta semana duas prestações em atraso no valor de USD 81 milhões. O mesmo aconteceu nos institutos médios de Saúde e Agrário, que podiam ter o ano lectivo em causa se, de repente, ficassem sem os professores cubanos que neles leccionam.

Apesar dos pagamentos desta semana, a partida dos cubanos está longe de deixar de estar no horizonte, daí que os ministérios da Saúde e da Educação estejam nas últimas semanas a procurar por todos os meios encontrar verbas para pagar as dívidas, acrescenta o semanário português.

Rede Angola

Artistas angolanos sobem ao palco em Luanda para pedir libertação de jovens




Músicos, atores, artistas angolanos juntam-se hoje em Luanda para um concerto de solidariedade para com os 15 jovens ativistas detidos desde junho, o segundo evento em Angola, com o mesmo propósito, em apenas quatro dias.

A organização anunciou que o evento integra a campanha "Liberdade Já", a favor deste grupo de jovens angolanos detidos pelo alegado envolvimento na preparação de um golpe de Estado, surgindo depois da manifestação de quarta-feira, também em Luanda, em que outros ativistas saíram à rua igualmente para exigir a libertação.

Na manifestação de quarta-feira, a polícia carregou sobre os manifestantes, reprimindo a iniciativa.

"Não podemos ser indiferentes a esta situação flagrante, que põe em causa a liberdade de todos nós. Acreditamos que o silêncio, além de nos tornar cúmplices de uma grande injustiça, é também o maior algoz da nossa liberdade", recorda a organização deste concerto.

Segundo informação anterior enviada à Lusa pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de Angola, os 15 jovens detidos desde 20 de junho - estudantes e licenciados - estariam a preparar, em Luanda, um atentado contra o Presidente José Eduardo dos Santos e outros membros dos órgãos de soberania, num alegado golpe de Estado, mas ainda não têm qualquer acusação formada.

A iniciativa de hoje pretende "apelar ao direito à liberdade de expressão e de pensamento" em Angola.

"A demora na apresentação das evidências que provem o alegado crime tem causado uma enorme onda de indignação em várias esferas da sociedade angolana e também no seio da comunidade internacional", acrescentam os promotores.

Para este espetáculo estão anunciadas as presenças de Abada Capoeira - Zwela Hungu, Laurinda Manuel Gouveia, Manuel Victoria Pereira, MC K, Jack Nkanga, Mona Dya Kidi, Sábio Louko & Ngamba Spoken Word, Pretos Racionais, Sanguinário, Jang Nómada, Emmanuel Pittra, Globo 112, Fat Soldiers e Dinamene.

"Pretendemos, assim, unir as nossas vozes por uma Angola em que possamos todos participar do seu crescimento, com os olhos secos e com o coração livre do medo", rematam.

Associados ao designado Movimento Revolucionário, os jovens detidos alegam que se encontravam regularmente para discutir intervenção política e cívica, inclusive com ações de formação, como a que decorria na altura de detenção e que envolveria também a leitura e análise de um livro sobre estas matérias.

De acordo com a PGR, os detidos em prisão preventiva são Henrique Luaty Beirão, Manuel "Nito Alves", Afonso Matias "Mbanza-Hamza", José Gomes Hata, Hitler Jessy Chivonde, Inocêncio António de Brito, Sedrick Domingos de Carvalho, Albano Evaristo Bingocabingo, Fernando António Tomás "Nicola", Nélson Dibango Mendes dos Santos, Arante Kivuvu Lopes, Nuno Álvaro Dala, Benedito Jeremias, Domingos José da Cruz e Osvaldo Caholo (tenente das Forças Armadas Angolanas).

O concerto de hoje está agendado para as 16:00 (mesma hora em Lisboa), no Centro Cultural Elinga Teatro, na cidade de Luanda.

Lusa, em RTP

Angola. DICIONÁRIO AMOROSO DA DITADURA




José Eduardo Agualusa – Rede Angola, opinião

Todos aqueles que vêm acompanhando as notícias sobre a prisão de quinze jovens, acusados de tentativa de Golpe de Estado, e as recentes manifestações a favor da sua libertação, certamente se deram conta de como as autoridades angolanas se confundem, baralham, atrapalham, mudando de discurso a cada dia. Não fosse o episódio tão trágico, na medida em que envolve a prisão de inocentes, e seria uma bela comédia.

A questão da linguagem é particularmente interessante. No início do processo, os servidores do regime  não pareceram incomodar-se com a expressão “preso político” – de resto, a única que faz sentido numa acusação de tentativa de Golpe de Estado. Pouco a pouco, porém, a expressão começou a irritá-los. Deixaram então de se referir a “presos políticos”, sugerindo que os jovens detidos deveriam ser referenciados como “delinquentes políticos”. Há poucos dias avançaram com outra ideia: não seriam “presos políticos” nem “delinquentes políticos” e sim “políticos presos”. Quanto aos manifestantes presos na sequência dos protestos, e depois soltos, foi dito que estariam “retidos”, e a seguir que teriam sido “recolhidos”. Esperei que fosse utilizada uma outra expressão muito popular nos anos noventa, “sob custódia do Governo”, mas isso ainda não aconteceu.

O recurso ao eufemismo é revelador da incomodidade do regime no que diz respeito às suas próprias acções. José Eduardo dos Santos já não consegue olhar-se ao espelho sem se horrorizar com o monstro em que se transformou. Manda então fabricar espelhos que distorçam a sua imagem real e a tornem um pouco menos pavorosa.

Queria aproveitar o espaço desta crónica para contribuir, ainda que de forma modesta, para a construção deste novo dicionário amoroso da ditadura. Sugiro, assim, que ao invés da expressão “os manifestantes foram espancados pela polícia”, todos os responsáveis angolanos, jornais, televisões, etc., passem a utilizar a expressão, “as forças da ordem disciplinaram os manifestantes”. Ao invés de se dizer que “os manifestantes foram perseguidos por cães”, será melhor dizer que “os manifestantes participaram de uma prova de corrida com o generoso  incentivo de cachorros treinados para o efeito”. Ao invés de se dizer que as autoridades proibiram ou não autorizaram uma manifestação convém dizer antes que as autoridades “encorajaram os jovens a manifestarem as suas opiniões no conforto dos próprios lares”. Ao invés de “protestos” passará a escrever-se “manifestações de livre pensamento próprias da grande democracia que se vive no país”. Ao invés de “presos políticos” sugiro “cidadãos disfuncionais abrigados à custa do governo em instituições adequadas ao seu estado”. Ao invés de “presos”, “retidos” ou mesmo “recolhidos”, sugiro “aconchegados”. Aconchegados é bonito. Por exemplo, “Luaty Beirão, aconchegado no regaço do Estado há mais de um mês, aguarda o desfecho do seu processo com tranquilidade”. Ao invés de prisões deverá escrever-se “Centros de acolhimento de cidadãos disfuncionais”. Ao invés de “interrogatório policial” fica melhor “bate-papo”. “Interrogatório com tortura” passa a ser “bate-bate-papo”. O belo eufemismo “excesso de zelo”, querendo significar “excesso de tortura”, tem já uma larga e sonora tradição histórica no nosso país, e só por isso merece ser recuperado.

Proponho que os leitores acrescentem o seu próprio verbete a este humilde dicionário. Podemos depois oferecê-lo ao José Mena Abrantes, que, certamente, o utilizará com proveito geral.

ANGOLA À BEIRA DO ABISMO




A juntar ao actual descalabro financeiro angolano, enxertaram-se num curto espaço de um punhado de meses, violações dramáticas dos direitos humanos consagrados pela Constituição da República de Angola.

William Tonet* - Folha 8, opinião

Umas dramáticas – sigam o nosso olhar para o genocídio indesmentível do 16 de Abril do ano em curso de mais de mil fiéis desarmados e sentados a cantar a Deus no Monte Sumi, na província do Huambo -, outras grotescas, como a de que foram vitimados quinze jovens encontrados numa casa da Vila Alice a dissertar sobre uma obra considerada subversiva e atentatória à Segurança do Estado, o que deu origem a um estapafúrdio encarceramento por via de uma acusação quase poética de “tentativa de golpe de Estado”.

Os jovens foram imediatamente encarcerados e postos num estádio de isolamento total durante 10 dias. Em seguida, foram levados para uma prisão situada a cerca de 70 quilómetros de Luanda, onde foram interrogados por agentes da autoridade estatal. Apenas quatro dentre tiveram direito a assistência de um advogado.

Uma vergonha, um escarro judicial dado à queima-roupa pela Segurança do Estado na figura do chefe supremo! (figura de estilo voluntariamente retorcida, pois as orientações vêm do Titular do Poder Executivo!). No fundo de todas estas exacções (com cubanos, kalupetekas e revús), impera um facto: o regime deixa pouca coisa ao acaso, domina os media, nomeia os seus lacaios para dirigir as instituições que levam a cabo as eleições, coopta políticos da oposição e intimida os opositores.

Por isso se pode dizer que não há oposição em Angola. Reina o medo de ser assassinado. E, nesta caminhada que Angola está a fazer rumo a uma verdadeira ditadura, compete-nos relembrar que «o general Kopelipa presidiu a um aparelho eleitoral que deixou 3,6 milhões de pessoas impossibilitadas de votarem: quase tantos votos quantos o MPLA teve. A percentagem de votos do MPLA caiu 9 pontos comparando com as eleições de 2008, mas registou ainda assim uma vitória esmagadora, com 72 por cento dos votos. No novo sistema, o primeiro nome na lista do partido vencedor seria o presidente. Mais de três décadas depois de tomar o poder, José Eduardo dos Santos podia dizer que tinha um mandato absoluto para governar “ad eternum”, apesar das revelações de uma reputada sondagem de opinião que mostravam que tinha a aprovação de apenas 16 por cento dos angolanos (Financial Times)».

Entretanto, cerca de metade da população de Angola vive abaixo da linha internacional de pobreza de 1,25 dólares por dia. Para dar uma ideia, podemos dizer que a esses mais-pobres levar-lhes-ia, a cada um, cerca de 260 anos para ganhar o suficiente que lhes permitisse comprar o apartamento mais barato no Kilamba.

O partido no poder prometeu electricidade na campanha eleitoral de 2008, mas pouca chegou e nada ou muita coisa sobrou da última promessa de abastecer água canalizada, feita no período que precedeu as eleições de 2012. E entretanto, o governo gastou 1,4 vezes mais na Defesa do que na Saúde e na Educação em conjunto. Por comparação, o Reino Unido gastou quatro vezes mais em Saúde e Educação do que na Defesa.

Citemos ainda o Financial Times: «Os generosos subsídios ao combustível são apresentados como um bálsamo para os pobres, mas na verdade, fundamentalmente beneficiam os suficientemente ricos para poderem ter carro e os politicamente relacionados para ganharem uma licença de importação de combustível. O governo de Angola meteu petro-dólares em contratos para estradas, habitação, caminhos-de-ferro e pontes a um ritmo de 15 mil milhões de dólares por ano, na década até 2012, uma soma enorme para um país com 20 milhões de pessoas. As estradas estão melhores, os caminhos-de-ferro estão lentamente a chegar ao interior, mas a explosão na construção também se revelou uma benesse para os burlões: calcula se que os subornos sejam responsáveis por mais de um quarto dos custos finais dos contratos de construção do governo. Além disso, muito do financiamento é feito sob a forma de crédito da China garantido pelo petróleo, sendo que muito desse crédito é controlado por um departamento especial que o general Kopelipa dirige há anos».

Somos de opinião que só um abandono do poder por parte de José Eduardo dos Santos poderá evitar uma explosão social, quiçá uma bancarrota técnica.

*William Tonet é diretor do Folha 8

Angola. TOLERÂNCIA ZERO À CONTESTAÇÃO AO REGIME




Polícia está em “prontidão combativa” para dispersar manifestações antigovernamentais

Com os cofres vazios e a contestação social e política a subir de tom, o nervosismo e o pânico parecem estar a tomar conta do regime de Luanda. Os últimos dias apontam para um brutal aumento da tensão, pouco comum para um país que está a dois anos das eleições e que, ‘suspenso’ com a ausência do Presidente, de férias em Espanha, parece estar cada vez mais ‘órfão’ de Eduardo dos Santos.

Tensão que se observa pelo desproporcional patrulhamento a que está sujeita a capital sempre que se fala de uma manifestação antigovernamental, e que alastra ao cidadão comum devido ao vertiginoso aumento do custo de vida.

Tudo se precipitou com a detenção, há mais de um mês, de 15 jovens, acusados de envolvimento numa pretensa tentativa de golpe de Estado. Graças à coincidência entre a realização de uma nova manifestação (na quarta-feira) e a presença em Angola da eurodeputada Ana Gomes, detestada em muitos círculos afetos ao regime, a tensão propagandística ganhou esta semana novos contornos.

Norberto Garcia, jurista do comité provincial do MPLA, ao qualificar a eurodeputada como “mal-vinda”, foi quem se encarregou de fazer as mais sérias advertências públicas à natureza da sua presença em Angola. A Televisão Pública Angolana (TPA), no principal noticiário de quinta-feira à noite, consumiu 17 minutos a ouvir o ministro da Justiça, Rui Mangueira, a debruçar-se sobre o conteúdo da audiência que concedera à visitante portuguesa.

Longe de ficar convencida com os argumentos avançados pelo governante angolano, Ana Gomes, recebida com ‘duas pedras na mão’ em certos meios governamentais, em declarações ao Expresso, não deixou de manifestar a sua “preocupação” face ao estado dos direitos humanos em Angola.

Atribuindo a atual tensão à situação económica refletida “na forma como o poder lida com as manifestações”, a eurodeputada reuniu-se com familiares dos jovens detidos e concluiu que estes, “sem terem por trás uma organização estruturada”, estão nas cadeias sujeitos “a custos psicológicos e de saúde”.

TAL COMO O CASO SÓCRATES

Ao encontrar-se com alguns dirigentes moderados do próprio regime, Ana Gomes não deixou de achar “ridícula” a acusação do crime de rebelião que as autoridades pretendem imputar aos jovens. “Ninguém acredita na história do golpe de Estado”, disse ela, que veio a Luanda a convite da Associação Justiça, Paz e Democracia (AJP).

Para a eurodeputada, “a contramanifestação, organizada pelo Governo, é uma atitude antidemocrática e totalitária e uma negação do espaço democrático” reservado àqueles que têm direito à diferença.

Assustados com a dimensão da acusação que paira sobre este grupo de ativistas sem qualquer filiação partidária mas apoiados por destacados juristas, intelectuais, músicos e outros respeitados intervenientes da sociedade civil, o regime pondera agora recuar e incriminá-los apenas como “perturbadores” da ordem pública.

O ministro da Justiça, Rui Mangueira, e o vice-procurador-geral da República, Hélder Pita Gróz, vieram a público, esta semana, serenar os ânimos, reafirmando o direito à liberdade de expressão consagrado na Constituição. “Nenhum deles é preso político!”, disseram. E o ministro da Administração Territorial, Bornito de Sousa, em resposta às críticas às autoridades sobre um possível prolongamento da prisão preventiva que recai sobre os jovens detidos, comparou o assunto com o que se passa em Portugal com o ex-primeiro-ministro José Sócrates...

Já o ministro do Interior, Ângelo Veiga, viu-se obrigado a contestar as críticas que os advogados de defesa fazem por não terem acesso aos seus constituintes, uma denúncia endereçada pela AJP ao diretor dos serviços penitenciários, António Fortunato. A mesma organização não-governamental, defensora dos direitos humanos, pretende que o direito de visita aos prisioneiros seja extensivo a amigos e jornalistas, e não restrito apenas aos pais, cônjuges e filhos.

POLÍCIA PRONTA A COMBATER

Indiferentes a esta onda de solidariedade para com os 15 detidos em cadeias de Luanda, Viana e Calomboloca, as autoridades não deixaram de reprimir, de forma violenta, a manifestação que um outro grupo de contestatários pretendia promover, na quarta-feira, exigindo a sua libertação.

Em círculos diplomáticos, ninguém compreende como, perante o anúncio de uma manifestação de pouco mais de meia centena de jovens, a polícia, em tom musculado, se disponha a declarar-se “em prontidão combativa” para manter “a tranquilidade e a segurança públicas”. Mais preocupante ainda é o facto de, na quarta-feira, numa folclórica maratona de comícios, alguns dirigentes do MPLA, detentor de uma maioria absoluta, terem exortado a população “a não dar um palmo da nossa terra” a angolanos que pensam de maneira diferente do regime.

“Estamos a criar factos políticos desnecessários, respondendo a flechadas com mísseis nucleares. É ridículo”, disse ao Expresso Galvão Branco, ex-dirigente sindical afeto ao MPLA. O jornalista Graça Campos acha que “a reação do Governo às manifestações revela que não está preparado para conviver num clima democrático em que as pessoas possam exprimir as suas ideias. O MPLA é o avesso da Constituição”.

Entre os apoiantes deste movimento contestatário estão o escritor Ondjaki, filho de Júlio de Almeida (‘Juju’), antigo comandante das FAPLA, ex-vice-ministro dos Transportes e ex-deputado do MPLA; Kami Lara, neta do nacionalista e dirigente histórico do MPLAm Lúcio Lara; e Nástio Mosquito, filho do novo patrão da Soares da Costa e da Global Media, Horácio Mosquito.

Os escritores Artur Pestana Pepetela (antigo guerrilheiro do MPLA e ex-vice-ministro da Educação) e Eduardo Agualusa, o antropólogo António Tomáz e o músico Paulo Flores também integram o coro das vozes que lutam pela libertação dos jovens detidos.

Na foto: Com a ausência do Presidente, de férias em Espanha, o país parece estar cada vez mais ‘órfão’ de Eduardo dos Santos - ESTELLE MAUSSION

Gustavo Costa – Expresso

A ILUSÃO DA REDUÇÃO DO DESEMPREGO EM PORTUGAL




509.400 desempregados não são considerados no desemprego oficial divulgado pelo INE

Eugénio Rosa [*]

No estudo anterior , utilizando os dados oficiais do desemprego registado divulgados pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) na sua publicação " Informação mensal do mercado de emprego" , mostramos que esses dados não dão, contrariamente ao que o governo e os seus defensores nos media pretendem fazer crer, uma informação rigorosa sobre a dimensão do desemprego e sobre a redução do desemprego.

Em 1 de Janeiro de 2015, de acordo com a "Informação mensal do mercado de emprego" do IEFP, estavam inscritos nos Centros de Emprego de todo o país 598.581 desempregados. Entre 1 de Janeiro e 30 de Junho de 2015, inscreveram nos Centros de Emprego mais 340.733 novos desempregados, e durante este mesmo período (6 meses) os Centro de Emprego arranjaram trabalho (colocaram) apenas 64.565 desempregados. Fazendo as contas deviam existir, no fim do mês de Junho de 2015, 874.749 desempregados (598.581 + 340.733 – 64.565 = 874.749) inscritos nos Centros de Emprego. No entanto, segundo a "Informação mensal do mercado de emprego" de Junho de 2015, estavam inscritos nos Centros de Emprego, no fim de Junho de 2015, apenas 536.656 desempregados. Isto significa que desapareceram dos ficheiros dos Centros de Emprego 338.093 desempregados durante o 1º semestre de 2015. E nem o IEFP nem o Ministério da Solidariedade e da Segurança Social, que tutela aquele Instituto, deram qualquer explicação para a limpeza de 338.093 desempregados (apagão) dos ficheiros dos Centros de Emprego. É evidente que os dados do chamado desemprego registado do IEFP, utilizados pelo governo para enganar a opinião pública fazendo crer que o desemprego está a diminuir, não traduzem com rigor a realidade do desemprego.

509 MIL DESEMPREGADOS NÃO SÃO CONSIDERADOS NO DESEMPREGO OFICIAL

Analisemos agora as limitações dos dados sobre o desemprego divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Estes já não se limitam ao desemprego registado, ou seja, não estão dependentes do facto do desempregado se ter inscrito nos Centros de Emprego e, consequentemente, se não se inscrever não é considerado. O desemprego do INE é já estimado com base num inquérito feito a uma amostra que se pretende que seja representativa da população portuguesa e, por isso, que dê uma informação rigorosa sobre o desemprego total em Portugal. Mas como vamos provar, utilizando dados do próprio INE, isso não corresponde à verdade. Para isso observe-se o quadro 1. 


Como revelam os dados do quadro anterior, o desemprego oficial divulgado pelo INE que, no 2º Trimestre de 2011 data em que o governo PSD/CDS entrou em funções, era de 675.000 cresceu rapidamente tendo atingido 952.200 no 1º Trim.2013, registando uma diminuição a partir desse data, sendo 688.900 no 3º Trimestre de 2013, para novamente aumentar, invertendo a descida que se estava a verificar, alcançando, no final do 1º Trimestre de 2011, 970.600. No entanto, esta redução no desemprego oficial é ilusória.

Para concluir basta ter presente a evolução verificada, entre 2011 e 2015, no numero de "Inativos disponíveis" e no chamado "Subemprego a tempo parcial". Mas antes interessa esclarecer o que se entende por um e outro.

"Inativos disponíveis " são desempregados que, pelo facto, de não terem procurado emprego no período em que foi feito o inquérito não foram, por esse motivo, considerados nos números do desemprego oficial do INE. " Subemprego a tempo parcial " é constituído por desempregados que pretendiam arranjar trabalho a tempo completo, mas como o não conseguem, aceitaram trabalho a tempo parcial (os biscates para sobreviver).

Os números de "Inativos disponíveis" e de no "Subemprego a tempo parcial", entre 2011 e 2015, ou seja com a "troika e com o governo PSD/CDS dispararam. Entre 2011 e 2015, os "inativos disponíveis" aumentaram de 143,8 mil para 257,7 mil (+ 79,2%) e o Subemprego atempo parcial cresceu de 147,7 mil para 251,7 mil ( +70,4%). No 2º Trimestre de 2011, os "Inativos disponíveis" mais o "Subemprego a tempo parcial" totalizava 291.500, enquanto no 1º Trimestre de 2015 já somava 509.400 (74,8%).

Assim, a "redução" do desemprego oficial tem sido conseguida através do aumento significativo do número de desempregados que não são considerados nos números oficias de desemprego (os chamados Inativos disponíveis e subemprego a tempo parcial). Por essa razão, quem olhe apenas para os dados oficiais sobre desemprego oficial é ludibriado pois existem muitos mais desempregados, como revelam os dados do INE, que não são considerados no desemprego oficial, sendo "empurrados" administrativamente para fora, através de uma definição metodológica "adequada" que serve o poder dominante para fora do desemprego oficial, ficando assim uma parte do desemprego escondido. Tal permite a Passos Coelho e a Portas dizerem que o desemprego tem diminuído em Portugal. Se somarmos os desempregados que não são considerados nas estatísticas oficiais de desemprego ao desemprego oficial, no fim do 1º Trim.2015, o desemprego total passa de 712.900, que é o oficial, para 1.222.300 desempregados, e a taxa de desemprego oficial sobe de 13,7% para 22,4%. Números muito diferentes dos oficiais que merecem uma grande atenção e uma profunda reflexão pois eles revelam uma realidade que é dramática, que não devemos permitir que a manipulação das estatísticas a oculte até porque a maioria é já atingida pela pobreza.

E toda esta situação é ainda mais dramática se se tiver presente que o numero de portugueses a receber os apoios sociais feitos através das prestações sociais – subsidio de desemprego, subsidio social de emprego, rendimento social de inserção – continua a diminuir em Portugal. O quadro 2 mostra a quebra verificada na prestação mais importante de apoio aos desempregados que é o subsídio de desemprego.    


Em apenas seis meses (Jan. a Jun. de 2015), o número de desempregados a receber o subsídio de desemprego diminuiu em 14,5% (-45.363 desempregados. Em como revelam os últimos dados divulgados no portal da Segurança social (quadro 2). E no fim do 1º Trimestre de 2015 o numero verdadeiro de desempregados era superior a 1.200.000, enquanto o numero de desempregados a receber subsidio correspondia apenas 25%, e esta percentagem diminui continuamente como mostram os dados do quadro. Como sobreviverão sem emprego e sem subsidio? Deixo a pergunta para que não sejam esquecidos. 

30/Julho/2015


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/
 

Portugal. VERÃO DE MUITOS MEDOS



Carvalho da Silva – Jornal de Notícias, opinião

A força e a amplitude com que se apresentam as dinâmicas sociais e políticas resultantes da convergência de interesses entre o grande capital financeiro e uma ideologia neoliberal, colonialista e com expressões fascistas varrem a Europa e outras regiões do Mundo neste verão de 2015, com expressões assustadoras.

As Sociedades de Risco estão a transformar-se em Sociedades do Medo. Em nome do combate ao terrorismo foram gerados monstros; em nome dos combates aos "constrangimentos" provocados pelas leis e pelos compromissos coletivos universais fundadores dos estados democráticos, desenvolvem-se monstruosidades, nomeadamente ao nível das desigualdades.

As guerras generalizadas eclodem quando se generaliza a degradação das relações sociais e do funcionamento das sociedades, quando as injustiças são gritantes: a faísca que incendeia pode surgir de qualquer pormenor sem o mínimo de previsibilidade. Alguns velhos medos históricos estão aí: há que tomarmos em mãos os ensinamentos da vida em democracia e os valores do progresso social e humano, entretanto conseguidos, para travar o desastre.

Inquietemo-nos perante o domínio avassalador do grande capital financeiro que aprisiona e chantageia o exercício da política, que cilindra as condições para os povos e os países se desenvolverem. Revoltemo-nos com as injustiças e desigualdades, com as atrocidades e a falta de solidariedade a que são sujeitos muitos milhões de seres humanos que fogem das guerras ou da miséria absoluta. Tenhamos medo desta realidade que nos rodeia e, por isso, mobilizemo-nos contra as políticas que estão na sua origem.

Nós, portugueses, fazemos parte de um projeto político - a União Europeia - apresentado como espaço privilegiado da democracia, do desenvolvimento sustentado na prioridade ao social, ao cultural e às relações solidárias entre os povos. Os estados e as instâncias de poder europeu supostamente regulavam os mercados para que o capital não abusasse do seu poder. Entretanto, há muito que o rumo seguido começou a merecer fortes reparos e denúncias. Com o eclodir da "crise", e depois com as brutais políticas de austeridade impostas a alguns países, como à Grécia e a Portugal, as contradições começaram a vir ao de cima em força. Mas, foi nos últimos meses que desabou sobre nós uma avalancha de problemas, de negações daquele projeto que agora nos amedronta.

Está à vista de todos que a crise grega ou a portuguesa são apenas expressões limite da crise de uma União Europeia que nega a democracia. A determinação do povo grego e a ação do seu governo - apesar das contradições em que se move - puseram a nu, em poucos meses, toda a miséria política e a falta de princípios democráticos daqueles que nos estão desgovernando.

Como se poderão reconstruir bases de confiança e compromisso entre os povos, quando foi inculcado, nos do Norte, a ideia mentirosa de que são eles que estão a pagar os vícios dos do Sul, e nos do Sul se gerou uma certa "aceitação" de condições de colonizados?

Como podem os povos assumir as suas responsabilidades se não lhes permitem escolhas democráticas e se lhes impõem "programas de ajuda" que se consubstanciam em mais dívidas, em menos emprego, mais pobreza e desproteção social?

Assusta vermos que os processos de privatizações na Grécia como em Portugal são meros saques que os "credores" nos fazem depois de nos submeterem.

Como o processo grego comprova, os "devedores" estão muito condicionados pelo medo resultante de uma imensidão de chantagens a que ficaram sujeitos mas, talvez pela primeira vez, também foram visíveis os medos dos "credores". Esta União Europeia desagregar-se-á, com prejuízo para todos, se teimar nos objetivos e práticas que vêm prosseguindo com os espartilhos da "moeda única" e outros instituídos sem regras democráticas.

O cenário em que nos encontramos é de certa forma assustador, também porque vamos começar a viver as tensões resultantes de novos rumos em gestação.

O país precisa de um Governo sério, credível, mobilizador, a favor do povo e ofensivo no quadro da União Europeia.

O "arco da governação" é mais que nunca sinónimo de arco da subjugação. Libertemo-nos!

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