sábado, 16 de janeiro de 2016

O LABORATÓRIO AFRICOM – XVI



Martinho Júnior, Luanda 

Como frutas maduras, duma maneira ou de outra, as pequenas nações-arquipélagos do Atlântico caíram nos “Jogos Africanos” que se moldaram no berço do “Laboratório AFRICOM”, entre 2002 e 2007.

A vitória de Margaret Thatcher nas Malvinas em 1982, em reforço das políticas do capitalismo neoliberal anglo-saxão e transatlântico, constituíram por si uma antecipação histórica, abrindo as portas à hipótese de mesclar “a uma só voz” colonialismo e neocolonialismo.

O poder de manobra transformava o Atlântico num “mare nostrum” do Pentágono e da NATO.

Ali onde pouco mais de vinte anos depois não vincou o “transviado corsário” Mark Thatcher, vincaram os Estados Unidos com seu arsenal de multinacionais petroleiras de ambos os lados do Atlântico, ávidos de alargarem a malha de influência, de interesses e conveniências, estendendo-a ao Golfo da Guiné.

O seu poderio foi de tal ordem que a França alinhou depois do genocídio do Ruanda, integrando a ELF na Total e reformulando o “pré carré”.

Vinte anos foi o tempo suficiente para a instalação do “ECHELON” que no Atlântico Sul teria como base principal entre a América do Sul e África (entre Brasil e Angola), a ilha de Ascensão que sintomaticamente serviu de base logística principal à Grã-Bretanha para levar a cabo a Guerra das Malvinas.

Observando na profundidade, as antenas do ECHELON da Ascensão cobriram também o Golfo da Guiné na intercepção de sua vigilância, antes de outras antenas serem colocadas em reforço em São Tomé e Príncipe, entre a capital e Santana… aumentando ainda mais a cobertura do espaço da CPLP.

A panóplia de satélites em conexão às estações terrestres, cumprem com suas funções, sem obstáculos.

O berço do “Laboratório AFRICOM” teve uma sequência que foi criando condições de sustentabilidade no Atlântico, evidenciando-se em termos de ECHELON os sistemas instalados em Ascensão e São Tomé e Príncipe, enquanto no Índico era Diego Garcia utilizada no mesmo sentido… assim se rodeou África, preparando-se todas as condições para se entrar profundamente nela…

GLOBALIZAÇÃO, NEOLIBERALISMO E PETRÓLEO – THATCHER E AS MALVINAS

1 – Uma semana depois da passagem da armada colonial britânica por Luanda a 1 de Maio de 2013, morreu em Londres Margaret Thatcher.

Os dois acontecimentos têm referências de fundo comuns:

- Seria impossível Margaret Thatcher ser uma aliada do regime do “apartheid” da África do Sul, como de Augusto Pinochet do Chile, se não fosse a sua opção doutrinária, ideológica e política, eminentemente capitalista, neo liberal e elitista (de acordo com a “escola de Oxford”);

- Seria impossível a manutenção pela força das Malvinas enquanto colónia britânica e resquício do império colonial, se a opção de raiz de Margaret Tharcher não fosse tão zelosa e exponencialmente conservadora;

- Seria impossível ao império anglo-saxónico fazer opções na América Latina no quadro do seu domínio; entre as ditaduras as preferências foram desde logo para aquelas que faziam escola de capitalismo neo liberal e elitista, a escola dos “rapazes de Chicago” (e com isso estava ditada a sorte dos ditadores argentinos);

- Seria impossível a sobrevivência do quadro de capitalismo neo liberal na Grã Bretanha até aos nossos dias, não fosse a força desde logo colocada à disposição da “dama de ferro”, a Primeira Ministra que em pleno século XX mais anos esteve no poder na Grã Bretanha (de 1979 a 1990), o tempo suficiente para lançar as bases da opção que no futuro, tirando partido do desaparecimento do bloco socialista, passaria a moldar os termos da globalização;

- Seria impossível tudo isso sem que a geo estratégia anglo-saxónica década após década não funcionasse consolidada a partir dos factores energéticos próprios da Revolução Industrial, com particular incidência Atlântica!

2 – Por razões geo estratégias contudo, em relação ao sul, Margaret Thatcher mais do que a “dama de ferro” que saia vencedora com seu “parceiro” Ronald Reagan da Guerra Fria, não podia deixar de ser sobretudo uma verdadeira “dama do petróleo”, o que aliás ficou bem vincado com a trajectória de sua própria família e descendentes.

As Malvinas, veio-se a verificar, possuem ricas jazidas de petróleo ainda por explorar, em condições próximas às que o Reino Unido beneficiou com outros aliados no Mar do Norte.

Ao manter as Malvinas como colónia, o Reino Unido garantia reservas de petróleo “in” para além das previsibilidades a norte, em contradição uma vez mais com os interesses do sul, ávidos de independência e soberania!

3 – A posição das Malvinas além do mais e por seu turno, conferem à Grã-Bretanha – Reino Unido potencialidades enormes em relação ao Atlântico, como importante segmento vinculado numa linha de domínio que se desprende desde o Árctico, a norte, à Antárctida, a sul.

Nessa linha, só a Grã-Bretanha se encontra tão próxima dum continente (a Europa): as Malvinas estão similarmente próximas da América do Sul e todas as outras ilhas, a maior parte minúsculos arquipélagos, se encontram bem no miolo oceânico, longe de costas continentais.

Os arquipélagos constituem os ninhos da pirataria atlântica dos anglo-saxões, um projecto de muito longa duração em fase de despontar, no seguimento dos projectos elitistas e egoístas típicos de Oxford e de Chicago: para essas elites o mundo tem de forçosamente ser gerido pelo seu domínio, o domínio dos 1% sobre os outros 99%, nunca a humanidade gerida como um todo, com seus interesses comuns o que obsta à gestão efectiva do planeta enquanto nossa preciosa e única casa comum!

A NATO, o SOUTHCOM e o AFRICOM do Pentágono são os mentores geo estratégicos principais dos projectos que nessa opção se inscrevem, sob o ponto de vista de inteligência e militar ao serviço desse domínio!

Todas as “parcerias” que a partir daí se dilatem ou difundam, não passam de meras articulações subjugadas pela imensa capacidade tecnológica dos núcleos duros do poder e dos poderosos instrumentos à sua disposição.

A posição das Malvinas, para além dos aspectos de retaguarda em relação às bases anglo-saxónicas na Antárctida, sob o ponto de vista funcional actua como uma permanente “testa-de-ponte”capitalista neo liberal que, como emulsão do império, visa submeter a vontade de independência e emergência das nações latino americanas, 200 anos depois do hastear de suas bandeiras!

4 – Ao aceitar a passagem da armada colonial britânica pelos portos de África enquanto realizam exercícios de toda a ordem de acordo com o exclusivo padrão do AFRICOM e da NATO, os países africanos, inclusive aqueles que lutaram contra o colonialismo e o “apartheid” nas décadas de 70 e 80 do século passado, contribuem para os parâmetros da globalização neo liberal, contrariando a vontade de independência e emergência dos países que na América Latina optam pelas alternativas da dignidade, contrariando sua própria vontade de independência e emergência!

Desse modo eles estão muito mais próximos da submissão neocolonial, próximos das opções de Margaret Thatcher, próximos da época em que foram geradas as raízes-padrão do modelo de globalização estimulado pelas elites ocidentais eminentemente anglo-saxónicas!

É preciso que se explique no quadro desta globalização neo liberal: o Atlântico é um “mare nostrum” para o império anglo-saxónico com sua panóplia de aliados e todas as riquezas existentes nele estão à mercê da rapina de seus velhos e poderosos piratas constituídos nas suas actuais elites! 

Mapa: A rota britânica em direcção à Guerra nas Malvinas; essa não é a rota da armada colonial britânica de hoje, que opta por uma rota que, domínio obriga, torna visíveis suas naves ao longo da costa ocidental africana, de Marrocos à África do Sul! – http://en.wikipedia.org/wiki/Falklands_War
  
Recomendação relativa às produções de Martinho Júnior:
A série “A inteligência resolve”, publicada em Janeiro de 2013 no Página Global é subjacente a este tema; de facto é necessário avaliar quanto o processo de globalização que constrói o império em nome dos 1% da humanidade, ciosa dos seus poderes e lucros, se tornou num processo inteligente e actuante, recorrendo a toda a panóplia de recursos e ensinamentos, inclusive recursos e ensinamentos doutrinários e ideológicos.

A consultar: 
.Thatcher, o mito – http://www.odiario.info/?p=2831 
.Guerra das Malvinas, o desfecho da ditadura mais sangrenta da América Latina –http://paginaglobal.blogspot.com/2012/04/guerra-das-malvinas-o-desfecho-da.html 
.HMS Argyll begins her West Africa and South Atlantic tour –http://en.mercopress.com/2013/02/19/hms-argyll-begins-her-west-africa-and-south-atlantic-tour 
.Militarizando o Atlântico Sul a partir da base nas Malvinas – http://www.odiario.info/?p=2840 

Ilustrações:
- Mapas relativos aos dispositivos britânicos a fim de levar a cabo a guerra das Malvinas;
- Foto de Margaret Thatcher no apogeu de sua carreira política.

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