sábado, 19 de março de 2016

Portugal. GOVERNO, PROFESSORES E IGREJA VIOLAM SEPARAÇÃO ENTRE ESTADO E IGREJA





Para os mais novos é bom que se diga que no regime fascista-salazarista e igreja católica apostólica romana predominava na sociedade, padres fascistas eram mato em Portugal a exemplo do Cardeal Cerejeira, companheiro de Salazar. Fascismo e essa malfada igreja portuguesa andavam de mãos dadas e muitas vezes eram dois em um. Havia exceções, não se podia generalizar, havia padres progressistas… mas os do regime eram demasiados. Era aquilo a que se pode chamar, no modo mais doentio e repressor, “Deus, Pátria e Autoridade” – levemente retratado em 1976 no filme do realizador português Rui Simões (que pode ver aqui).

Em 25 de Abril de 1974 a igreja estrebuchou. O sucessor do cardeal Cerejeira amouxou, a igreja reacionária, fascista, salazarista, manobrou por debaixo dos panos com o objetivo de Portugal manter o salazarismo vivo, atuante, antidemocrático, repressor, atroz, assassino. Houve padres que pertenceram ativamente aos movimentos saudosistas. Pelo menos um houve (cónego Melo) que pertenceu à rede bombista que operou na reação à libertação e democratização de Portugal. Cónego Melo a quem, em Braga, erigiram uma estátua causadora de grande polémica. Melo é associado, entre outras acusações, de ter no cardápio de seus crimes responsabilidades no assassinato do padre Max (Maximino Barbosa de Sousa) e de Maria de Lurdes, que considerava da esquerda. E era assim a igreja em Portugal. Era e é, pelo visto e sabido. Aparentemente está diferente, parece que de parco modo acompanha a evolução gerada na sociedade portuguesa, mas à primeira, mal nos distraímos, parte dessa mesma igreja demonstra querer voltar ao que era.

No salazarismo havia a obrigação de nas escolas termos de aturar os padres e a propaganda inerente às suas convicções religiosas e até ideológicas. Existia uma disciplina chamada “Religião e Moral” (uma seca). Assistir era obrigatório. No ano letivo só se podiam dar 3 faltas injustificadas àquela disciplina, enquanto nas outras podíamos dar 12 ou 15 faltas. Era a igreja, a religião, nas escolas. A promiscuidade entre estado e igreja. Na libertação de Portugal, em 25 de Abril de 1974, isso acabou. A separação entre estado e igreja foi declarada. Aconteceu efetivamente. É constante constitucional. Não reconhecer essa separação no estado laico que é Portugal significa violar a Constituição, a lei das leis.

Para espanto voltámos ao mesmo, voltámos à padralhada reacionária, segundo relata o JN em peça que poderá ler a seguir. “Escolas públicas celebram missa durante as aulas”, é o título no JN. Uma falta de vergonha, um desrespeito pela Constituição. Um atropelo à democracia e às liberdades garantidas aos portugueses. A separação entre estado e igreja está a ser violada.

Se repararmos nos avanços da direita radical e saudosista em Portugal, pela Europa e resto do mundo, percebemos facilmente este avanço atentatório e inconstitucional. Já não vão só à missa os que querem e para isso entram numa igreja, a missa vai a escolas e obriga alunos a assistirem… ou a ficarem fechados numa sala (de castigo) por não quererem assistir à missa.

São mais que naturais estes avanços da direita reacionária e da sua aliada igreja católica, apostólica, romana, o cavaquismo de décadas, somado à última década, deu força ao reacionarismo fascista que quer trazer os seus hábitos salazaristas para a modernidade. Na última década Cavaco tudo fez por isso enquanto presidente da República (já o havia feito em primeiro-ministro) deu força ao rastilho. Para agravar surgiram os seus comparsas Pedro Passos Coelho e Paulo Portas num governo ressabiado que espumava saudosismo, repressão, exploração, miserabilização, desemprego, emigração, fome. Um regime hegemónico a que setores da igreja deu as mãos e avançou, violando a Constituição.

Não podem dizer os do governo que desconheciam a situação de invadirem com missas as escolas. Não podem, igualmente, os responsáveis máximos da igreja alegar esse desconhecimento, nem o Ministério da Educação, nem os professores, nem os Sindicatos dos Professores, nem os pais dos alunos. Todos são cúmplices desta violação constitucional, desta violação da democracia. Todos seremos cúmplices se não reagirmos e exigirmos que a Constituição seja respeitada, cumprida. Ou isso ou o regresso do nacional carneirismo que elege Cavacos, Passos, Portas e quejandos. Ou os que veneram padres, afins e bispos, que em quatro décadas de democracia e liberdade não aprenderam nada e prosseguem obstinamente os seus objetivos de seita, de máfia. Uma máfia suportada pelo governo e outros anteriormente citados. Referem "tradição". Tradição salazarista, tradição inconstitucional. Tradição daqueles que estão a fazer "o tempo voltar para trás" sem se aperceberem e a servirem os que desejam e se esforçam para que os tempos áureos da igreja regressem, se confundam com/dominem no Estado.

Não devemos generalizar mas também não devemos tolerar que ameacem a democracia, as liberdades, os direitos, a Constituição, com conceitos de seita que estão provados serem obsoletos, fanáticos e antidemocráticos. Perigosos.

Vade retro.

Escolas públicas celebram missa durante as aulas

Há escolas públicas a realizar cerimónias religiosas durante o horário letivo. Não obrigam os alunos a participar, mas os que optarem por não ir ficam numa sala "a passar tempo".

Escolas e Ministério defendem-se com "a tradição" e dizem que "vai quem quer". A Associação República e Laicidade diz que se está a "excluir alunos por não terem uma determinada religião" e que estas celebrações são "ilegais".

A situação parece repetir-se em muitas escolas, sobretudo na Região Norte.

Ana Trocato Marques – Jornal de Notícias, ontem

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