Para
os mais novos é bom que se diga que no regime fascista-salazarista e igreja
católica apostólica romana predominava na sociedade, padres fascistas eram mato
em Portugal a exemplo do Cardeal Cerejeira, companheiro de Salazar. Fascismo e
essa malfada igreja portuguesa andavam de mãos dadas e muitas vezes eram dois
em um. Havia exceções, não se podia generalizar, havia padres progressistas…
mas os do regime eram demasiados. Era aquilo a que se pode chamar, no modo mais
doentio e repressor, “Deus, Pátria e Autoridade” – levemente retratado em 1976
no filme do realizador português Rui Simões (que pode ver aqui).
Em
25 de Abril de 1974 a igreja estrebuchou. O sucessor do cardeal Cerejeira
amouxou, a igreja reacionária, fascista, salazarista, manobrou por debaixo dos
panos com o objetivo de Portugal manter o salazarismo vivo, atuante, antidemocrático,
repressor, atroz, assassino. Houve padres que pertenceram ativamente aos movimentos
saudosistas. Pelo menos um houve (cónego Melo) que pertenceu à rede bombista
que operou na reação à libertação e democratização de Portugal. Cónego Melo a
quem, em Braga, erigiram uma estátua causadora de grande polémica. Melo é
associado, entre outras acusações, de ter no cardápio de seus crimes
responsabilidades no assassinato do padre Max (Maximino Barbosa de Sousa) e de
Maria de Lurdes, que considerava da esquerda. E era assim a igreja em Portugal. Era e é,
pelo visto e sabido. Aparentemente está diferente, parece que de parco modo
acompanha a evolução gerada na sociedade portuguesa, mas à primeira, mal nos
distraímos, parte dessa mesma igreja demonstra querer voltar ao que era.
No
salazarismo havia a obrigação de nas escolas termos de aturar os padres e a
propaganda inerente às suas convicções religiosas e até ideológicas. Existia
uma disciplina chamada “Religião e Moral” (uma seca). Assistir era obrigatório.
No ano letivo só se podiam dar 3 faltas injustificadas àquela disciplina,
enquanto nas outras podíamos dar 12 ou 15 faltas. Era a igreja, a religião, nas
escolas. A promiscuidade entre estado e igreja. Na libertação de Portugal, em
25 de Abril de 1974, isso acabou. A separação entre estado e igreja foi
declarada. Aconteceu efetivamente. É constante constitucional. Não reconhecer
essa separação no estado laico que é Portugal significa violar a Constituição,
a lei das leis.
Para
espanto voltámos ao mesmo, voltámos à padralhada reacionária, segundo relata o
JN em peça que poderá ler a seguir. “Escolas públicas celebram missa durante as
aulas”, é o título no JN. Uma falta de vergonha, um desrespeito pela Constituição.
Um atropelo à democracia e às liberdades garantidas aos portugueses. A separação
entre estado e igreja está a ser violada.
Se
repararmos nos avanços da direita radical e saudosista em Portugal, pela Europa
e resto do mundo, percebemos facilmente este avanço atentatório e
inconstitucional. Já não vão só à missa os que querem e para isso entram numa
igreja, a missa vai a escolas e obriga alunos a assistirem… ou a ficarem
fechados numa sala (de castigo) por não quererem assistir à missa.
São
mais que naturais estes avanços da direita reacionária e da sua aliada igreja católica, apostólica,
romana, o cavaquismo de décadas, somado à última década, deu força ao
reacionarismo fascista que quer trazer os seus hábitos salazaristas para a
modernidade. Na última década Cavaco tudo fez por isso enquanto presidente da
República (já o havia feito em primeiro-ministro) deu força ao rastilho. Para
agravar surgiram os seus comparsas Pedro Passos Coelho e Paulo Portas num
governo ressabiado que espumava saudosismo, repressão, exploração,
miserabilização, desemprego, emigração, fome. Um regime hegemónico a que setores
da igreja deu as mãos e avançou, violando a Constituição.
Não
podem dizer os do governo que desconheciam a situação de invadirem com missas
as escolas. Não podem, igualmente, os responsáveis máximos da igreja alegar
esse desconhecimento, nem o Ministério da Educação, nem os professores, nem os
Sindicatos dos Professores, nem os pais dos alunos. Todos são cúmplices desta
violação constitucional, desta violação da democracia. Todos seremos cúmplices se
não reagirmos e exigirmos que a Constituição seja respeitada, cumprida. Ou isso
ou o regresso do nacional carneirismo que elege Cavacos, Passos, Portas e
quejandos. Ou os que veneram padres, afins e bispos, que em quatro décadas de
democracia e liberdade não aprenderam nada e prosseguem obstinamente os seus
objetivos de seita, de máfia. Uma máfia suportada pelo governo e outros anteriormente citados. Referem "tradição". Tradição salazarista, tradição inconstitucional. Tradição daqueles que estão a fazer "o tempo voltar para trás" sem se aperceberem e a servirem os que desejam e se esforçam para que os tempos áureos da igreja regressem, se confundam com/dominem no Estado.
Não
devemos generalizar mas também não devemos tolerar que ameacem a democracia, as
liberdades, os direitos, a Constituição, com conceitos de seita que estão
provados serem obsoletos, fanáticos e antidemocráticos. Perigosos.
Vade
retro.
Escolas
públicas celebram missa durante as aulas
Há
escolas públicas a realizar cerimónias religiosas durante o horário letivo. Não
obrigam os alunos a participar, mas os que optarem por não ir ficam numa sala
"a passar tempo".
Escolas
e Ministério defendem-se com "a tradição" e dizem que "vai quem
quer". A Associação República e Laicidade diz que se está a "excluir
alunos por não terem uma determinada religião" e que estas celebrações são
"ilegais".
A
situação parece repetir-se em muitas escolas, sobretudo na Região Norte.
Ana
Trocato Marques – Jornal de Notícias, ontem
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