domingo, 31 de julho de 2016

63 ANOS DE REBELDIA!




1 – Cuba, as comunidades cubanas espalhadas pelo mundo e muitos sectores progressistas dos países onde essas comunidades estão implantadas, comemoraram o 26 de Julho de 2016 com a convicção de quão têm sido justas e sensíveis para os povos as trilhas de internacionalismo e solidariedade distendidas pelo povo cubano e sua revolução, em benefícios dos mais oprimidos da Terra.

Em Cuba o acto central ocorreu em Sancti Spíritus, atendendo aos progressos registados naquela região em relação ao último ano, no que diz respeito ao turismo, aos programas agrícolas das culturas de arroz, à produção de alimentos e aos avanços sociais.

Em Angola a data foi também assinalada no âmbito da estreita conexão histórica entre a Revolução Cubana e o Movimento de Libertação em África, pois há identidade comum, nos seus múltiplos e complexos significados, entre os pilares que constituíram o 26 de Julho, Dia da Rebeldia e o 4 de Fevereiro que deu início à Luta Armada contra o colonialismo português por parte do MPLA.

A indissolúvel amizade Angola-Cuba tem tudo que ver com essa saga comum, forjada em momentos difíceis e sacrificados, sempre marcados por decisões rebeldes, corajosas e decisivas, em benefício dos povos, que se refletem até hoje.

2 – A decisão que levou ao assalto ao quartel Moncada em 1953 tendo o Comandante Fidel de Castro à frente dos rebeldes revolucionários cubanos, teve e tem muito que ver com muitas outras decisões que foram tomadas pela Revolução Cubana e pelo Movimento de Libertação em África, muitas delas em comum, ao longo de largas décadas.

Em Angola este 26 de Julho foi justamente comemorado com algumas iniciativas conjuntas entre as comunidades cubanas em cada Província e alguns Governos Provinciais ciosos da história do país e menos envolvidos nos impactos desmobilizadores da terapia neoliberal.

O Governo Provincial de Luanda associou-se às comemorações do 26 de Julho e no seu programa, para além do acto solene e cultural de 26 de Julho no Cine Tivoli, houve visitas ao monumento que assinala a vitória de Quifangondo e ao Memorial Agostinho Neto.

Em Luanda o acto central realizou-se no cinema Tivoli, sito ao Bairro Azul, à Samba, com casa cheia, com intervenções que salientaram muitos aspectos do trajecto comum sucedâneo do 26 de Julho de 1953 e do 4 de Fevereiro de 1961 e com finalização músico cultural que integrou interpretações da Orquestra Sinfónica Infanto-Juvenil do Libolo e duma banda cubana.

3 – Uma das decisões comuns historicamente mais marcantes entre Angola e Cuba, resultou da Operação Carlota, imediatamente antes da independência angolana e da constituição da República Popular de Angola.

Para além de garantir a independência, era necessário que a nova República ganhasse sustentabilidade económica e financeira, ainda que numa conjuntura tão hostil como a que se registou em prejuízo de Angola em finais de 1975.

Para esse efeito foi o Comandante Fidel de Castro que insistiu na necessidade de defender Cabinda, para onde se deslocaram importantes contingentes de instrutores das Forças Armadas Revolucionárias de Cuba, sob comando General de Corpo de Exército, Ramón Espinosa Martin, que se implicaram imediatamente na formação das Brigadas das FAPLA e na defesa do território face ao ataque das Forces Armées Zairoises e mercenários brancos, em artificioso suporte da FLEC.

No seu depoimento no seu livro “La batalla de Cabinda”, o General Ramón Espinosa Martin explica:

“Para as FAR, Angola é um teatro de operações não explorado, ao contrário de Cabinda, essa sim, familiar.

Conhecem a geografia do enclave, a ambição do Zaíre na sua anexação e a riqueza petrolífera, decisiva nos primeiros anos para a emergência do estado independente.

Valorizando essas características, o Comandante-em-Chefe indica que Cabinda requer uma atenção especial.

Isso explicou o número de instrutores enviados para aquela Província, quase metade do total, assim como o reforço em artilharia de diversos calibres.

A distribuição desigual de instrutores e o armamento pesado não foi, de momento, compreendido pela direcção das FAPLA, que expressa – o fundamental é salvar Luanda (…) se perdermos Cabinda recuperá-la-emos depois (…).

Fidel discorreu em profundidade – se por acaso se perde Cabinda, será muito difícil recuperá-la e Cabinda é a base económica imediata para o nascente estado independente.

Há que salvar Cabinda e Luanda”…

O Presidente Agostinho Neto concordou em pleno com o argumento do Comandante Fidel de Castro e o MPLA reagiu a contento, impedindo inclusive as manobras do então Governador do Distrito, Themudo Barata, um oficial português que depois do 25 de Abril deu cobertura a uma outra solução para o enclave.

4 – As decisões tomadas então foram de ordem estratégica e influem ainda hoje na conjuntura interna de Angola:

- O Presidente Agostinho Neto decidiu a implantação de blocos no onshore e offshore angolano de produção de petróleo e gás, atraindo a essa fórmula as poderosas multinacionais interessadas a longo prazo na exploração do crude angolano;

- As multinacionais permitiram a gestação de “lobbies” a favor de Angola, junto aos governos onde estavam e estão implantados seus interesses de raiz;

- A derrota das SADF na Operação Argon, que visava destruir Malembo em Cabinda, possibilitou assim uma reviravolta na posição norte-americana em relação às suas apreciações e abordagens para com a África Austral e Angola;

- A persistente influência das multinacionais norte-americanas contribuiu para o reconhecimento do governo angolano por parte dos Estados Unidos;

- O governo angolano tem procurado a todo o transe manter o sector energético como um sustentáculo de desenvolvimento indispensável para a promoção da paz em Angola, no Golfo da Guiné e na Região Central dos Grandes Lagos.

Estes ganhos em benefício de Angola e de seu povo, capazes de dar origem a alargados consensos, de outra maneira teriam sido muito mais difíceis de obter e por isso, reconhecer as decisões estratégicas que foram tomadas em 1975 pelo Comandante Fidel de Castro no âmbito da Operação Carlota como da Libertação de Angola e pelos Presidentes Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos que se refletem até aos nossos dias, fazem parte da cultura do rumo que se conseguiu conferir a Angola, em relação ao qual é imprescindível dar-se continuidade.

A SONANGOL, no âmbito do estado angolano e de seus interesses estratégicos, foi afetada quer pelo choque, quer pela terapia neoliberal, perdendo-se a certa altura, a possibilidade duma gestão rigorosa, digna e respeitadora de todo o povo angolano, ao ponto de, por exemplo, contribuir para o esbanjamento, o luxo inadequado, a corrupção e até um certo “apartheid social”, com a criação de condomínios que fomentam elites mal paradas, cujo comportamento pode colocar em causa o próprio rumo de Angola.

A defesa do estado angolano honrando a história e esse rumo, obriga que seus servidores sejam muito mais rigorosos na gestão da “coisa pública”, avaliando os impactos negativos que redundam das políticas do choque e da terapia neoliberal, a fim de com isso saber-se “separar o trigo do joio”.

Efetivamente, muitos que desempenharam ou desempenham cargos relevantes no estado angolano têm demonstrado que não honram o estado angolano, nem a história de seu país, nem com dignidade dão sequência à saga da Libertação Nacional em benefício de todo o povo angolano.

A ausência de rigor, fazendo prevalecer interesses pessoais ou de grupo, quantas vezes ferindo as próprias leis em vigor, constituem a outra face da moeda da desestabilização de que Angola tem sido vítima antes e depois de 2002 a esta parte!

É esse “joio” comprometido quantas vezes com interesses vindos do exterior, que fornece o combustível que alguns, sob a bandeira da luta contra a corrupção, utilizam de facto contra o estado angolano, sintomaticamente a partir do exterior e com barricadas mais evidentes em Portugal (por tabela na União Europeia) e no Brasil!

As decisões estratégicas assumidas por Angola a partir do 4 de Fevereiro e de Cuba a partir daquele já longínquo 26 de Julho, merecem ser honradas hoje no vigor de medidas que, ao defender os interesses legítimos dos estados angolano e cubano, defendendo a amizade entre os dois povos, defendam os interesses de cada um deles e o rumo rigoroso que se nos impõe hoje em função da trilha de Libertação dos povos oprimidos de todo o mundo!
  
*Reportagem fotográfica do acto central comemorativo do 26 de Julho, Dia da Rebeldia, em Angola (cine Tivoli, em Luanda).

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