Rui
Sá* - Jornal de Notícias, opinião
Confesso
que já tinha decidido escrever sobre Durão Barroso antes da sua nomeação para
presidente não executivo da Goldman Sachs. Nomeação que apenas confirma o que
dele penso e que se insere num percurso que, parecendo sinuoso, foi preparado
ao milímetro e onde o "eu" se sobrepôs, sempre, aos outros...
Pelo
que esta nomeação não me admirou, habituado que estou a esta sucessão de
personagens que passam das "pastas às postas" e, destas, novamente às
pastas, num ciclo infernal de enriquecimento próprio, normalmente à custa do
empobrecimento do país.
Não.
A razão deste artigo prende-se, isso sim, com o papel que Durão, tal como
Portas (outro que também está em fase das "postas"...), desempenhou
na invasão do Iraque, em 2003.
É
que um relatório britânico, mandado fazer por Gordon Brown, sucessor e do mesmo
partido de Tony Blair - o primeiro-ministro britânico que levou os ingleses
para a segunda guerra do Golfo -, e divulgado esta semana, confirma o que já se
sabia: não havia armas de destruição massiva no Iraque, não estavam esgotadas
as possibilidades de negociação da redução do arsenal iraquiano, foi lançada
uma deliberada campanha de intoxicação pública baseada em mentiras sobre a
ameaça que o Iraque representaria para o "Ocidente", e havia vários
indícios de que o derrube de Saddam Hussein seria meio caminho andado para o
caos em que, efetivamente, se transformou aquela zona do planeta.
Apesar
disto tudo, Blair decidiu que os ingleses deveriam participar na invasão, onde
morreram 179 soldados britânicos - cujas famílias o ponderam processar porque
perderam entes queridos por causa de uma mentira!
Mas,
neste processo, Durão Barroso, então primeiro-ministro português, teve um papel
fundamental, ao acolher, na ilha Terceira, a cimeira que envolveu Bush, Blair e
Aznar e que decidiu a invasão do Iraque. Também em Portugal Durão (e Portas)
conduziram uma inflamada campanha diabolizando Saddam e as suas "armas de
destruição massiva".
Hoje,
quando sabemos que morreram centenas de milhares de iraquianos, que o Iraque foi
fortemente destruído, sendo que não existe uma estrutura de Estado. Hoje,
quando sabemos que a invasão do Iraque deu mais força ao radicalismo islâmico e
constituiu o rastilho para o estado generalizado de guerra que se vive na
região - de que a Síria não é exemplo único -, o que tem causado um brutal
êxodo de refugiados. Hoje, quando se vive, em todo o Mundo, com o receio de
ataques terroristas perpetrados pelo Daesh - filho direto destes erros
crassos!...
Hoje,
face a isto, esperava-se que Durão Barroso (tal como Portas), no mínimo,
pedissem desculpa! Mas, para isso, era necessário que tivessem uma coluna menos
mole!...
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